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Ele disse, ela disse: O seu preço.

| Desfavor | | 22 comentários em Ele disse, ela disse: O seu preço.

O tema de hoje não exige muitas explicações: Somir afirma que todas as pessoas tem seu preço, Sally discorda totalmente. Porém, uma ressalva deve ser feita: Não se considera aqui chantagem ou coação, apenas a troca direta de bens e vantagens materiais por alguma ação que a pessoa em questão se recusaria a executar numa situação normal.

Tema de hoje: Todo mundo tem seu preço?

Sim, todo mundo tem seu preço. Obviamente que os preços não são equivalentes, mas existe um ponto de “quebra” em qualquer pessoa, dados os incentivos e condições ideais para tal. Desde, ÓBVIO, que a troca seja vantajosa.

É bom eu começar explicando uma característica importante minha: Eu penso sobre assuntos que normalmente incomodam outras pessoas. Eu penso na morte, e acho que não há problemas em se contemplar a própria finitude. Eu penso em situações horríveis que podem acontecer comigo ou com as pessoas que eu me importo, já que pensar nessas coisas não influencia a probabilidade delas acontecerem.

Se a própria idéia de ter um preço te incomoda, eu já te aviso de antemão que isso é um bloqueio na sua mente, uma espécie de expectativa irracional de que se fechar os olhos os monstros desaparecem. Contemplar a própria corruptibilidade pode ser tão doloroso como contemplar a própria morte para algumas pessoas. Basta ler o texto da minha CARA.

E como qualquer pessoa acuada, ela provavelmente vai tentar apelar. Outras pessoas com o mesmo bloqueio vão bater palmas e tentar excluir o pária aqui do que se considera comportamento aceitável “em público”. Só espero que essas pessoas se lembrem que conhecer seus defeitos é a melhor forma de evitá-los.

As pessoas tem seu preço. Não é uma verdade conveniente, mas conveniência não anda de mãos dadas com a vida real de qualquer forma. Exemplos de seres humanos que se corrompem em troca de bens materiais não faltam por aí. Recentemente vimos o caso dos policiais que liberaram suspeitos de matar um dos líderes do movimento Afroreggae em troca de uma jaqueta e um par de tênis. Se começarmos a fuçar pela história, o que não vai faltar é casos de pessoas agindo contra o esperado em troca de alguns trocados. Temos o famoso caso das personagens Judas e Jesus no livro de ficção anti-científica mais conhecido do mundo… O preço humano é parte integrante do nosso dia-a-dia.

Óbvio que pode argumentar-se que apenas pessoas sem moral e ética aceitariam corromper seus valores em troca de dinheiro, poder ou fama. O problema disso é que é uma visão bem simplificada das coisas, na melhor das hipóteses. Não existem pessoas exclusivamente boas ou ruins, não existem mocinhos e vilões tão bem definidos assim na realidade. Temos a capacidade de agir de formas surpreendentes quando nos deparamos com situações inusitadas. Ter um preço não significa automaticamente ser uma pessoa ruim ou fraca, até porque nem todas as coisas que não faríamos normalmente dependem de nosso senso do que é certo ou errado. Vivemos de acordo com nossas escolhas, e essas escolhas tem o seu valor e o seu custo. Quando eu escolho me expressar sem fazer pose de pessoa certinha na internet, estou aferindo um valor à minha liberdade de expressão, valor que suplanta os custos de não ser exatamente querido pelo público de acordo com os temas que abordo. (Ok, não é exatamente um custo, mas vocês me entenderam…)

E é assim que as coisas funcionam: Nossas escolhas tem valores, custos… preços. Se menciono valores abstratos aqui, nada impede que valores concretos (bens materiais) possam entrar na equação, com sua devida importância relativa. Se me pagassem bem, eu escreveria belos textos de auto-ajuda dizendo que todos nós somos seres de luz, ao invés de macacos pelados altamente corruptíveis. Eu acharia uma forma de compensar e recuperar um pouco da valiosa sensação de expor minhas verdadeiras idéias.

Quando afirmo que todo mundo tem seu preço, obviamente me refiro às trocas vantajosas. (Sally vai ignorar completamente esse ponto em sua sanha de vencer essa discussão, prestem atenção.) Trocas vantajosas são aquelas em que se termina melhor do que se começou, oras. Eu não poderia ser pago para matar meu melhor amigo, por exemplo. Não há compensação financeira que substitua essa pessoa. A troca não seria vantajosa. Eu não poderia ser pago para fazer sexo com outro homem. Não há dinheiro que baste para que eu tenha de lidar com isso, não seria vantajoso.

O que não quer dizer que não existam preços para os exemplos acima, contanto. Quer dizer apenas que não existe compensação disponível que valha uma troca. O preço existe, mas é alto demais.

Mas as pessoas fazem juízos de valor distintos nessa vida. Onde eu enxergo um custo alto demais para tornar a transação vantajosa, outra pessoa pode enxergar uma oportunidade bacana de ganhar um extra. Reconhecer que existe preço para tudo não significa aceitar qualquer oferta recebida.

Sair bradando por aí que não pode ser corrompido nada mais é do que tapar os ouvidos e gritar que não está ouvindo o que te incomoda. Pensar nessas coisas impensáveis é o que coloca valores e custos nas suas idéias. É o que as pode tornar mais reais, é o que o pode colocar um padrão de caráter bem definido em sua vida.

Por que fazer da forma mais difícil? Contabilize a diferença entre custo e benefício de uma situação para entendê-la mais facilmente. Não é pensar nas coisas de forma fria e calculista que vai te fazer um sociopata, é ter o seu senso de valores distorcido que vai… Juízos de valor distintos. Pessoas distintas.

Ter preço é uma coisa absolutamente natural. Mas tem que ser vantajoso para valer.

Eu só espero que minha CARA não tente usar algum exemplo insano como matar a família em troca de um passe de ônibus. Isso deixaria claro a sua vontade de vencer a qualquer custo. (há)

Para me oferecer dinheiro para continuar escrevendo no desfavor, para me oferecer dinheiro para não continuar escrevendo no desfavor ou mesmo para dizer que eu não valho nada: somir@desfavor.com


Todo mundo tem seu preço? Eu não tenho. Não existem bens materiais que me façam fazer algo que me cause repulsa. E lamento por quem tem, mas isso para mim é uma forma de prostituição.

É fácil pensar em um exemplo de um filme, em um exemplo light, onde um Robert Redford te paga uma grana violenta só para te tratar como uma princesa, mas se a gente visualizar qual é a realidade de se vender, acaba percebendo que a coisa é muito mais feia do que parece.

Ainda que não seja em troca de sexo. Não importa do que você está abrindo mão, na minha cabeça não deixa de ser prostituição. Tudo bem que cada um de nós provavelmente já transigiu em alguma coisa na vida por causa de dinheiro (um emprego chato, um chefe pentelho…), mas não é sobre isso que estamos falando.

Trato aqui daquelas situações onde você é pressionado a fazer uma coisa completamente repulsiva dentro da sua escala pessoal de valores. Algo que para você é inconcebível. Você se sujeita a uma violência desse tamanho por dinheiro? Eu não. Sabe porque? Porque é um estrago que não tem reparo. Eu me sentiria mal comigo mesma para sempre. Repito: não estou falando de sexo, e sim das coisas que cada um de nós julgam importantes, cada um te sua escala de valor.

Eu acho engraçado Madame assumir que todo mundo tem um preço. Gostaria de saber o que ele diria se estivéssemos namorando e eu fosse dizer que teria um preço se outro homem quisesse fazer sexo comigo. ACHO que isso não seria muito bem recebido. Entretanto, ele presume que qualquer mulher que esteja com ele faria sexo com outro homem por alguma quantia a ser determinada em dinheiro. Muito triste.

E vou além. Eu pergunto aos meus leitores Cuecas: tudo tem preço? Você tem preço? Então respondam:

POR QUANTO DINHEIRO NESSE MUNDO VOCÊ DARIA SEU CU?

Sinceramente, a resposta que eu espero ouvir de quem está a meu lado é “Por dinheiro nenhum neste mundo, nem ao menos hipoteticamente, nem em tese, nem de brincadeira eu daria meu cu”. Da mesma forma que eu responderia “Por dinheiro nenhum neste mundo, nem ao menos hipoteticamente, nem em tese, nem de brincadeira eu faria sexo com outro homem enquanto estiver com você”. Fazer o quê, em alguns momentos eu ainda sou uma romântica que acredita que homens não dão seus cus nem por todo o dinheiro do mundo.

Muitas pessoas realmente tem preço. E não vou julgá-las. Quem quiser se vender, se venda, desde que seja feliz com isso. Mas eu não tenho. E não vou admitir que digam que eu tenho. Só porque Madame tem, não quer dizer que todas as pessoas do mundo tenham. Alguns de nós tem valores que estão acima do dinheiro (tipo as pregas do cu).

Em algumas coisas eu posso até fazer concessões por dinheiro, mas nada que eu considere grave dentro dos meus princípios. Por exemplo, até engulo um ou outro desaforo por dinheiro, mas jamais trabalharia com um chefe apalpando a minha bunda, mesmo que meu salário fosse algo astronômico.

Conheço muitas pessoas (aliás, procuro me cercar delas) que não tem preço, que não topam tudo por dinheiro. Eu teria medo de ficar ao lado de uma pessoa que tem preço. Ainda que o preço fosse alto demais e nunca ninguém pudesse pagar, a idéia de se vender, ainda que mentalmente, me provoca preocupação. É aquela história, quem rouba um real ou quem rouba um milhão é ladrão. Quem se vende por um real ou por um zilhão de reais, é prostituto, no sentido amplo da palavra.

Você mataria por dinheiro? Mataria sua mãe? Seu filho? Seu amigo? Você torturaria por dinheiro? Você se suicidaria por dinheiro?

Sinceramente, o que tem preço é mercadoria. Gente não tem, ou ao menos, não deveria ter. Cada um faz o que quer, incentivado ou não pelo dinheiro, mas daí a dizer que dinheiro é capaz de comprar qualquer atitude humana, é demais para minha pobre cabecinha.

Eu não tenho preço. Se tivesse, não estava trabalhando, esta muito bem de vida sem ter que levantar um dedo, levando uma vida de dondoca. Eu não tenho preço. Se tivesse, não estava aqui postando de graça, estava escrevendo uma coluna para uma revista feminina fútil e ganhando uns trocados com isso e com livro publicado. E apesar de todas estas provas (e de outras), ainda vem esse infeliz aqui em cima e me escreve que todo mundo, inclusive EU, tem preço. Só matando…

Para dizer que Somir não passa de um Moleque Piranha e deve ser um sustentado por uma coroa de 89 anos, para dizer que você tem preço para quase tudo, porém não para tudo e para dizer que aposta que por derreau, uma coxinha, um refresco e uma bala Juquinha Somir me vende para o primeiro leitor que pedir: sally@desfavor.com

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