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Ele disse, ela disse: Superior?

| Desfavor | | 20 comentários em Ele disse, ela disse: Superior?

Boa, campeão!

Numa sociedade cada vez mais competitiva, um diploma universitário se tornou exigência mínima para grande parte dos postos de trabalho da economia moderna. Em tese, deveria provar que seu portador é capaz de exercer a função complexa a qual se propõe. Na prática, já virou um pedaço de papel sem significado para muita gente que nem assim consegue meios para o próprio sustento.

Sally e Somir tem visões diferentes sobre a importância do diploma na vida de uma pessoa, assim como na sociedade como um todo. Ela ainda acredita no valor da formação, ele… nem tanto.

Tema de hoje: Diploma universitário serve para alguma coisa hoje em dia?

Serve sim. Serve para fazer gente complemente despreparada colocar mais umas linhas no currículo. Estava conversando com a Sally e descobri que nem aquela história de cela especial serve para muita coisa na prática…

Eu sou o primeiro a defender o aumento do conhecimento médio da população, uma série de problemas sociais que vivemos dependem quase que exclusivamente de ignorância e falta de oportunidades geradas pela falta de preparo. Forçar o cidadão “comum” a passar pelo menos mais uns dois anos estudando não pode fazer mal para a população como um todo.

Mas daí a dizer que uma pessoa diplomada tem uma vantagem tão expressiva assim em relação ao grupo já é viver no passado. Hoje em dia qualquer um pode fazer um “supretivo” e cursar uma faculdade particular. Inclusive este que lhes escreve fez justamente isso. (Por mim o argumento acabava aqui… Game, set and match, bitches!)

Vivemos a era dos “dipromas”. O negócio do ensino superior para pessoas de camadas sociais inferiores bombou nas últimas décadas, e hoje o que não falta por aí é Escola Superior de Venda de Dipromas. Junte um pouco de dinheiro, passe um aperto, parcele em um zilhão de vezes… Aí só basta freqüentar um pouco as aulas para adentrar o seleto grupo de futuros garis bacharéis.

A idéia da universidade como centro de excelência intelectual provém de outros tempos, e é cultivada de forma romantizada por pessoas saudosistas e principalmente pela própria indústria de venda de dipromas. O Zé das Couves não vai se sentir tão compelido a comprometer boa parte de sua renda pelos próximos anos se perceber que diproma de hoje é o equivalente de “segundu gral compreto” no mercado profissional há algumas décadas.

A demanda de compradores de diplomas universitários é tão grande que as também grandes redes de universidades particulares colocam virtualmente qualquer um para dar aula. Eu já recebi um convite. QUALQUER… UM!

Óbvio que ainda existem verdadeiras universidades e verdadeiros cursos superiores de qualidade por aí. Mas sejamos honestos: Grande parte das públicas está sucateada e grande parte das particulares está totalmente voltada para rotatividade de alunos. Não é nesse ambiente que vai se desenvolver uma grande gama de conhecimentos… Existem inúmeros casos de pessoas que completam um curso e nunca mais trabalham com nada que “aprenderam”. E a cada dia que passa o número é maior.

Estão comprando dipromas só para dizer que tem diplomas. Se são poucos os cursos de qualidade, são poucos os diplomas com algum valor. Digam-me qual a utilidade de se ter um diproma de direito hoje em dia… Dizer que vai processar com algum conhecimento de causa? Pior que nem assim, o pessoal que sai de um curso de direito vai fazer a prova da OAB e 10%, com sorte, passam. ELES APRENDERAM O QUÊ? Está na cara que compraram um diproma. Pior… imaginem só um cidadão que consegue um diproma de Turismo? Ou um de Publicidade? Sério… o que essas pessoas vão fazer? Não é à toa que a disputa por uma vaga de gari está cada vez mais recheada de diplomados.

E o mais importante: Um curso superior não deve ser apenas uma forma de aprender uma profissão. Se você não convive com um corpo dicente e docente de alto nível intelectual, está fazendo apenas um curso técnico demorado. E é isso que afunda boa parte da população: “Aprenda uma função, repita-a e não preste atenção na trolha que leva todos os dias de quem tem dinheiro e poder.” É isso que quem manda em você quer… Especialização econômica sem capacidade de pensamento crítico.

Especialização NÃO vai te fazer subir na escada social. Sucesso na vida depende de muitos outros fatores, tanto que gente que nunca pisou numa faculdade na vida ganha muito mais e é muito mais dona do próprio nariz do que vários doutores e doutoras.

É muito útil que você acredite na santidade do curso superior. Movimenta a economia e te mantém uma peça da engrenagem. Não existe riqueza nesse mundo para todo mundo ao mesmo tempo. Se der para iludir os pobres e ignorantes mais um pouco com uma nova promessa vazia de luz no fim túnel, é assim que vai ser. E dá-lhe incentivar a criação e expansão de tudo quanto é FAFUP da vida. Vamos viver para ver virtualmente todo mundo com mestrado também. É a sequência do negócio.

O ensino em países pobres como o nosso é um embuste desde o primeiro dia. Ricos vão se formar feito ricos. Pobres “iluminados” vão se dar muito bem. O resto do povo vai pegar seu diproma e enfiar numa gaveta (para ser educado…).

Diploma não serve para nada nas mãos de quem não se daria bem na vida de qualquer jeito. E diproma é essencialmente um pedaço de papel. O cidadão que passou quatro anos convivendo com pessoas iguais e tendo poucas aulas com professores que nem queriam estar ali é beneficiado como?

Sim, hoje em dia faculdades mal servem para te colocar em contato com pessoas diferentes. Elas são niveladas por nível social, localização e muito focadas nos cursos específicos. Ambiente estimulante? Só se for no puteiro da esquina. (Putas que provavelmente estão tentando pagar seus cursos superiores para sair dessa vida.)

E se não bastasse… Existem dipromas mais inúteis que outros. Com a enxurrada de pessoas apresentando curso superior nos departamentos de recursos humanos, uma prática muito comum é simplesmente engavetar currículos de pessoas que se formaram em universidades conhecidas por serem vagabundas. (Engavetar = Picador de papel.)

As universidades brasileiras estão soltando milhares de maus profissionais. Ou vocês acham que o problema de sobrar empregos que exigem alta qualificação surgiu do nada?

Para me dizer que sempre imaginou que tinha feito “supretivo”, para reclamar que seu “diproma” de direito vale para fazer concurso, ou mesmo para reclamar que eu tenho preconceito contra pobre(wat): somir@desfavor.com


É muito comum escutar que no Brasil “diploma não vale nada, só serve para ter direito a prisão especial”. Em momentos de raiva todos nós dizemos essa frase. É um clichê, quase que um desabafo.

Porém, não acho que essa frase seja verdadeira. Primeiro porque não é bem assim que a banda toca juridicamente falando. Ter um diploma te garante a suposta “prisão especial” apenas enquanto você não for condenado em definitivo, ou seja, enquanto você puder recorrer. Depois que a sentença condenatória se consolida você vai para a vala junto com geral.

“Mas Sally, então nem pra isso diploma serve?”. Calma, Leitor. Serve sim. Talvez não lhe seja dado o devido prestígio ou moral que ele merece, mas ele ainda tem sua utilidade.

Para começo de conversa, você precisa de um diploma para exercer uma profissão que o demande. Não pode fazer uma obturação quem não tem diploma de dentista (ao menos não legalmente). Não pode construir um prédio quem não tem diploma de engenheiro. Claro que tem aquelas profissões tão furrecas que qualquer um pode fazer, mesmo sem conhecimento técnico específico, mesmo sem diploma, tipo publicidade, mas isso é pseudo-profissão… hahaha (DAVT).

Além do direito de exercer a profissão dentro da legalidade, o diploma também te confere uma série de benefícios inerentes à classe. Uma classe específica, como os advogados, os médicos ou os veterinários tem piso salarial próprios, tem direitos próprios e tem prerrogativas próprias. Um advogado, por exemplo, só pode ser preso na presença de um membro da Ordem dos Advogados do Brasil. É lei. E ao contrário de 99% da população, quando eu abro minha boca para dizer que uma coisa é lei, eu mato a cobra e mostro o pau: Lei 8.906, de 04 de julho de 1994, art. 7°, inciso IV.

Um diploma também te diferencia socialmente. Quando alguém te pergunta o que é que você faz da vida, traça um perfil mental sobre você ao ouvir a resposta. Claro que não se trata de uma opinião definitiva e claro que existem pessoas sem diploma que fazem coisas muito interessantes, brilhantes e geniais, bem como pessoas com diploma que só fazem porcaria, mas não deixa de ser um diferencial, um indício em um primeiro momento.

E o próprio processo de ter cursado uma faculdade é enriquecedor. O convívio, os prazos apertados, as festas, enfim… é uma experiência de vida. Costumo brincar que no colégio fiz meus melhores amigos e na faculdade aprendi a ser esperta. Porque sim, a escola social que se passa quando se tem que conviver por quatro ou cinco anos com os mais diferentes tipos de pessoa, que geralmente estão competindo com você, te tornam mais atento.

Ouvir ensinamentos de professores mais experientes também é uma experiência boa. Convenhamos que professores de colégio falam sobre muitas coisas que não nos interessam. Em uma faculdade, os assuntos são mais específicos. Vendo bons profissionais dando uma aula maravilhosa nasce uma vontade grande de aprender e de um dia ser tão bom quanto aquele que está ali de pé, prendendo a sua atenção. É inegável que alguns professores universitários inspiram. Conheço mais de uma pessoa que descambou para determinada área de atuação em sua profissão por causa de um professor que a inspirou.

Além disso, o sentimento de ser de uma “classe” é acolhedor. Ver vários semelhantes agrupados lutando por direitos e garantias, ainda que no Brasil isso seja muito discreto, dá uma sensação de poder. É mais fácil ser ouvido como classe.

E tem também o seu sindicato, que te representa e te ampara em eventuais defesas jurídicas. Sem contar o órgão da classe, como CRM, CREA, OAB e outros, que até o seu enterro paga! Sim, os profissionais tem planos odontológicos, planos de saúde e uma série de outros benefícios que muitas vezes eles mesmos desconhecem.

Por mais que não seja a única maneira de vencer na vida, um diploma na mão continua sendo o primeiro passo clássico para isso. Te separa da grande massa. Não garante nada, sem dúvidas, mas é um primeiro passo. Você passa a ser visto como mão de obra minimamente qualificada (o que nem sempre é verdade, mas ao menos há uma presunção). Depois deste primeiro passo compete a cada um estudar e se aprofundar para ir se aprimorando profissionalmente.

Por isso, fica meu conselho a quem não tem diploma: tenha. Curse uma faculdade, não importa a sua idade. Não dá? Ok, seja extremamente batalhador e criativo para compensar isso, porque sim, é possível vencer na vida sem diploma.

Para me dizer que o discurso é muito bonito mas que você usa seu diploma para forrar a gaiola do seu canário, para me dizer que tem diploma em oboé e isso nunca te ajudou em nada, muito pelo contrário, quando foi preso apanhou mais ainda e para me dizer que seu diploma da Estaçio di Ça te enche de orgulho: sally@desfavor.com

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