Flertando com o desastre: Transexual.

Boa, campeã!

Transexual, em um resumo bem simplificado, é aquela pessoa que possuí uma identidade de gênero diferente daquela que lhe foi atribuída no seu nascimento, apresentando sensação de desconforto, impropriedade ou inadequação em relação a seu sexo anatômico. É aquele discurso de ser “uma mulher presa no corpo de um homem” (ou vice versa). Não confundir com os homossexuais, que estão muito contentes com seus corpos, apenas sentem atração por pessoas do mesmo sexo (mil perdões pelas simplificações banalizantes, é que tenho um limite pequeno de páginas para escrever).

Transexualidade ainda é classificado como um “transtorno mental”, porém alguns países como a França já não encaram mais a transexualidade como “doença”, o que a meu ver, é um enorme avanço. Quem foi que disse que uma pessoa de fato não pode ter nascido com o sexo mental diferente do físico? Só porque não aconteceu comigo ou porque eu não entendo, não quer dizer que não exista ou que seja doença. Transexuais existem. Não adianta ficar discutindo aqui o que a gente acha ou deixa de achar da pessoa ser transexual. É uma realidade e é preciso lidar com ela. O foco da discussão não é o que nós pensamos dos transexuais e sim como lidar com a questão na prática.

E não é uma “novidade” dessa vida moderna, de uma geração “perdida” e “sem valores”. Eles existem desde sempre. Um imperador romano (salvo engano, seu nome era Heliogábalo) casou com um escravo e ofereceu metade do seu império para o médico que conseguisse modificar seu sexo cirurgicamente. Há fortes evidências de que o Papa João VIII era na verdade uma mulher travestida de homem. O rei Henrique III, da França, se vestia que nem mulher. Como este, tenho dezenas de exemplos para dar. Então, para aqueles que acreditam que se trata de uma “desgraça dessa nova geração”, pensem duas vezes.

Até mesmo em tribos isoladas da vida “civilizada” há relatos de transexualidade e até mesmo rituais de mudança de sexo. É inerente a alguns seres humanos, em qualquer época, em qualquer contexto social e antropológico. Só porque você não compreende, não quer dizer que não aconteça e que não seja real. Não é loucura da cabeça das pessoas, não é sintoma de doença, não é trauma de infância. É realidade. Pessoas nascem com uma personalidade de um sexo e corpo de outro.

Quando devidamente comprovada a condição de transexual, e por devidamente comprovada, estamos falando de um laudo médico, a lei brasileira autoriza que seja realizada uma cirurgia de Reatribuição Sexual (ou Redesignação Sexual). Entretanto, esta cirurgia só está disponível de forma satisfatória para os homens (sim, isso mesmo, corta fora). Não gosto do termo cirurgia de “mudança de sexo”, pois para os transexuais, eles não estão mudando de sexo, estão apenas corrigindo seus corpos, que não correspondem a suas mentes, suas almas ou qualquer outro nome que se queira dar. Para as mulheres, salvo engano, ainda não é possível realizar cirurgicamente a redesignação sexual.

Eu costumo brincar dizendo que os avanços da medicina são ótimos para a minha vida, mas para a minha profissão são um caos. Porque avanços médicos fodem com o direito. Criam uma lambança nas normas pensadas para situações onde estes avanços não existiam. Fico feliz que exista a cirurgia de redesignação sexual, mas ela criou uma série de dificuldades formais que passo a expor, e peço a opinião de vocês. Não vou entrar em termos técnicos nem aprofundar o assunto, porque isso aqui não é um blog jurídico. Vocês sabem o esquema do Desfavor: conversa como se fosse em uma mesa de bar.

O primeiro problema diz respeito à documentação da pessoa que fez a cirurgia de redesignação sexual. Um transexual chamado Wanderlei que faz a cirurgia e “muda” de sexo, evidentemente não pode continuar com um documento de identidade onde se lê o nome “Wanderlei”, porque puta merda, isso seria vexatório. Imagine o constrangimento que essa pessoa passaria. Imagine uma bela mulher de cabelos longos e seios fartos esperando em uma fila de um repartição pública qualquer, quando um funcionário chama “WANDERLEI DA SILVA!” – e ela tem que se levantar sob os olhares curiosos dos demais presentes. Não pode. Desumano, a meu ver. Acho que deve ser permitida a troca de nome nos documentos. E vocês?

Também me parece extremamente preconceituoso mudar o nome de Wanderlei para Wanderléia e dizer no documento que se trata de uma pessoa do sexo masculino. Daí sempre vem um espírito sem luz dizer que transexual não é mulher, porque não tem útero nem ovário. Ora, se for assim, uma mulher que fez uma histerectomia total deixa de ser mulher? Mudar apenas o nome e deixar o sexo como “masculino” fere igualmente a dignidade da pessoa, concordam?

Tem aqueles que dizem que pode mudar nome, pode constar como “sexo feminino” mas deve constar algum registro na documentação de Wanderlei dizendo que um dia ele foi homem. Porra, que constrangimento! Porque a pessoa se submete a uma cirurgia complicadíssima para se sentir mais adequada, se vai continuar marcada em seu documento de identidade? Acho um absurdo sujeitar uma pessoa a isso. Mas tem quem defenda que isso preservaria o resto da sociedade, numa vibe meio “não levar gato por lebre”. Geralmente são os homens que usam este argumento. Eles tem medo de um dia sair com a bela Wanderléia e depois de um tempo de namoro descobrir que ela já foi Wanderlei. Gente, vamos abrir a cabecinha? Nos apaixonamos por SERES HUMANOS. Faz tanta diferença se Wanderléia já foi Wanderlei?

Mais uma polêmica: o Estado deve disponibilizar esta cirurgia de forma gratuita? Na minha opinião, nem tem o que pensar. Se o Estado gasta rios de dinheiro tratando imbecilóides que VOLUNTARIAMENTE fumaram a vida toda detonando seus pulmões, POR PURA IMBECILIDADE E FALTA DE FORÇA DE VONTADE, porque não tratar alguém que não concorreu em nada para seu problema? O Estado gasta fortunas com gordinhos que enchem o cu de doce e acabam com artérias entupidas e diabéticos, por pura preguiça, mas não pode amenizar o sofrimento de alguém que não tem culpa de seu sofrimento? O Estado faz redução de estômago em pessoas que estão do tamanho do Balão Mágico porque não tem a força de vontade de parar de comer feito porcos e não quer gastar dinheiro com pessoas que estão batalhando para se adequarem à sociedade?

E tem mais um questionamento. Como eu disse, ainda não se inventou uma cirurgia de reatribuição sexual efetiva para mulheres que se sentem homens. Então, todas as mulheres transexuais estão condenadas a ter em sua identidade o nome de mulher, mesmo se vestindo e se sentindo como um homem? Mesmo fazendo tratamentos hormonais que as deixa com aparência de homem? Seria a cirurgia condição absoluta para a troca de nome na certidão de nascimento e na identidade? Isso criaria uma injustiça, porque todos os homens transexuais poderiam ter a chance de mudar de nome e sexo e as mulheres não, por culpa da medicina que não é capaz de lhes dar esta cirurgia.

Ao mesmo tempo, se a gente admitir a possibilidade de mudança de nome e sexo da pessoa sem a cirurgia, poderíamos criar a seguinte situação: Wanderléia, certidão de nascimento e carteira de identidade constando sexo feminino, tem pênis. Estranho. Ser injusto ou ser incoerente? Escolha difícil.

E vem mais um problema: Wanderlei tentou abafar sua condição de transexual por medo da reprovação social. Casou e teve filhos. Um dia, não agüentou mais sufocar sua verdadeira identidade e decidiu fazer a cirurgia de redesignação sexual. Depois de operado, mudou seus documentos. Como fica a certidão de nascimento do filho de Wanderléia? Seria correto mudar o nome do pai para um nome feminino? Isso é nocivo para a criança? Deixa como Wanderlei na documentação da criança e como Wanderléia na documentação do transexual? Não pode. Ou muda tudo ou não muda nada. Que porra é essa de uma pessoa ser mulher em um documento e homem no outro? O que fazer?

O Judiciária brasileiro vem aceitando adoção de crianças por casais em união homoafetiva. Então, se um casal de homossexuais pode adotar uma criança, constando na documentação da criança dois pais ou duas mães, porque não mudar o nome se o pai se mostrar transexual? Tem quem diga que isso iria expor a criança. Olha, quando seu pai usa salto 12, coloca silicone no peito, usa batom e corta fora o bilau, não tem muito como esconder essa transformação da criança, portanto, não sei bem se isso é algo do qual a criança possa ser “poupada”. É uma realidade, quanto mais naturalmente ela for aceita, melhor.

A lei brasileira ainda não tem respostas seguras para todas essas questões que eu coloquei. Os entendimentos variam. O certo é que se busca sempre preservar a dignidade da pessoa humana.

Eu sei que muitos de vocês estão torcendo o nariz para mim agora. Mas vamos ter um pingo de humanidade? Nada como se colocar no lugar dos outros para emitir uma opinião. Já pensou como deve ser DIFÍCIL PRA CARALHO você se sentir de um sexo e seu corpo ser de outro? Já pensou? Se muitos acham um tormento conviver com detalhes do corpo com os quais não se sentem bem, como um nariz feio ou seis pequenos, imagina a merda que é você não gostar do seu corpo como gênero?

Porque se uma patricinha não gosta do seu nariz de batatinha ela pode ir ao cirurgião corrigir seu nariz de porquinha (a ainda ostentar isso), enquanto que uma pessoa que sofre uma sensação de inadequação mil vezes maior não pode ter um conforto para amenizar seu sofrimento? E muitas vezes nem mesmo a cirurgia ameniza o sofrimento, é necessário mais para uma vida minimamente digna: cirurgia + mudança de toda a documentação, sem que conste em nenhum lugar nenhum registro de que um dia a pessoa foi do sexo oposto.

Daí vem sempre alguém dizer que não podemos brincar de Deus e que se começarmos a mudar o sexo assim vamos acabar criando situações aberrantes. Primeiro que a gente brinca de Deus o tempo todo. Se a medicina não brincasse de Deus, eu mesma não estava aqui, teria morrido aos 25 anos. Mantemos vivas pessoas que, pelos ditames da mãe natureza, deveriam estar mortas. Modificamos corpos até que percam sua aparência humana (Michael Jackson? Oi?). Escolhemos características de bebês geneticamente, criando um supermercado de gente… etc, etc. Mas, na hora de conferir condições dignas a um ser humano em sofrimento por não se sentir adequado a seu gênero, as pessoas pedem moderação? Não, por favor não. Não posso com esse discurso.

“Mas Sally você gostaria que mudassem o sexo ou o nome do seu pai na sua certidão de nascimento?”. Se meu pai se vestisse como uma mulher, falasse como uma mulher, e se sentisse como uma mulher, SIM, POR FAVOR! Ou por acaso eu quero estar com meu pai, uma loira gostosa, no aeroporto na fila do embarque e ouvir alguém chamando ele de Wanderlei?

Já vi gente propondo criar um terceiro gênero de banheiro público além do Feminino e do Masculino: Transexual. Gente, se o homem CORTOU FORA O PRÓPRIO PAU, vocês acham mesmo que ele vai ficar manjando mulher no banheiro feminino? Tem dó de mim! A coisa tem que caminhar para a inclusão, para a compreensão e para a aceitação, e não reforçar a discriminação com um banheiro que mostra à sociedade que a pessoa é transexual!

Para aqueles que estão se contorcendo na cadeira e pensando que isso não é uma coisa “natural”, lamento. A cirurgia de redesignação sexual é uma realidade e vem sendo realizada no Brasil. Aceitem. Aceitem a escolha alheia. Pensem, sem dar nomes, classificar como “doença”, “aberração” ou qualquer outra definição preconceituosa. Apenas PENSEM NA SITUAÇÃO: você, se sentindo de um sexo, em um corpo de outro sexo. Pensem como deve ser difícil viver assim. O peso que essas pessoas carregam é por si só suficiente, não precisam de julgamentos, preconceitos e discriminação. E muitas vezes, mesmo com este complicador enorme, elas são melhores pessoas do que nós, aqueles ditos como “socialmente adequados”.

Façam um exercício de imaginação comigo. Supondo que todos pudessem modificar seus sexos e documentos de identidade. Supondo que você descobrisse hoje que a pessoa que você AMA já foi do sexo oposto. Você largaria essa pessoa? Se alguém respondeu “sim”, vou ficar muito desapontada.

O ser humano é complexo, é diverso, é inclassificável nesses rótulos fixos ultrapassados. Somos todos SERES HUMANOS, foda-se o que cada um faz com seu corpo ou com a sua sexualidade. Muito fácil julgar a sexualidade DOS OUTROS, quando esta se torna pública e a nossa continua privada. Se a sexualidade de TODOS fosse pública, garanto que descobriríamos que os heterossexuais também fazem coisas que podem ser objeto de preconceito e discriminação. Se a sua sexualidade, suas preferências, suas práticas, se tornassem públicas… será que parte da sociedade não te discriminaria? Pense nisso. E pare de jogar pedras naquelas pessoas cuja sexualidade se tornou pública por total falta de opção.

Para dizer que nunca mais volta no Desfavor e depois voltar e ficar metendo o malho na gente, para dizer que transexual é quando se trata de uma pessoa da sua família, porque se for o vizinho é um viadinho e para perguntar ao Somir se ele anda feliz com os temas que eu venho escolhendo: sally@desfavor.com

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Comments (22)

  • Sally me desculpa mas eu me preocupo sim se a Wanderléa ja foi Wanderlei. Acho que o direito dele de se sentir mulher acaba quando eu tenho o direito de ter preferência apenas por mulheres e ponto final. Se eles querem ser respeitados então que respeitem o meu direito e minhas preferências. Não ia gostar nada de ser enganado.

    • Meu querido, você vai saber assim que tirar a roupa da Wanderléia. Por mais que a ciência avance, uma buceta falsa está longe de parecer com uma buceta real.

  • Jorge, acredito que quando estamos em uma situação sobre a qual não temos escolha, merecemos mais compreensão e cuidados do que quando estamos em uma situação onde apenas colhemos a merda que plantamos.

    Não é pena, é consideração e respeito. E eu não respeito quem se destrói. Não é castigo, é consequencia previsível de seus atos.

    Pessoas que plantam merda, colhem bosta. Me recuso a passar a mão na cabeça de quem voluntariamente se faz mal. Pessoas assim não tem meu apoio e com certeza não tem o meu respeito.

  • Jorge Leite Jr

    OLá Sally,
    concordo 100% com seu tratamento humano no caso das pessoas transexuais. Só não entendi sua agressividade e preconceito (ódio? Ignorância? Desumanidade?) ao se referir às pessoas obesas e fumantes, chamando-as de imbecis e preguiçosas. Parece-me que as transexuais são pessoas que, por não "terem opção", merecem "piedade" e as pessoas gordas e fumantes, por "não terem força de vontade" ou agirem "voluntariamente" merecem desresoeito e castigos. É isso?
    Abraços e faço votos que sua louvável "humanidade" para com as transexuais se estenda a todos os seres humanos,
    Jorge Leite Jr

  • Fico muito feliz em saber que você aprovou meu texto, Homer.

    Anseio por um mundo que classifique as pessoas com base em coisas mais importantes do que a forma como elas fazem sexo, se vestem ou se chamam. Um ser humano é "tão mais" do que isso!!!

  • Olá Sally,

    Primeira vez que esbarro no seu blog, atraído pelo tópico da postagem.

    Parabéns pelo texto e por levantar o assunto. E além: por perceber o respeito ante a maioria dos comentários.

    Eu em sendo um homem transexual -entenda-se fem. para masc. – casado há quase dez anos, vivendo minha vida, hoje de forma tranquila, socialmente inserido sem medos ou desconfianças, fico feliz em ler textos assim.

    Não sou militante de dar cara a tapa, mas sempre tentei ajudar no que estivesse ao meu alcance, e hoje mantenho um blog, a princípio para homens trans, mas que muitas vezes, como você bem colocou, alcança a todos porque alguns assuntos falam ao ser humano e não as diferenças que todos temos.

    Vou linkar seu blog no meu e convido a quem quiser a dar uma olhada.

    Talvez vocês se surpeendam, porque eu ainda creio na capacidade do ser uma humano de surpreender-se e transcender.

    [[]]

  • Willian Divino

    Queria dizer que eu concordo totalmente com o que a Sally disse…faço parte de um grupo de estudos sobre genero e sexualidade e queria que todos me ajudassem…
    Preciso saber quais são os países que consideram e quais não consideram o trans-sexualismo uma patologia metal…
    Agradeço desde já a tod@s!!!!

  • "Anônimo: eu entendo que faça diferença, mas a ponto de largar a pessoa"?

    Pois tenho de concordar com o anônino, Sally.

    Faz, ainda mais se tiver mentira no meio ou as coisas não ficaram claras desde o início.

    As coisas são assim, é um caso no qual porta-se se valendo das regras(i.e, quem nasce homem, vive como homem e quem nasce mulher, vive como mulher), não das exceções(i.e, transexuais). O desafio é como incluir a "exceção" juntamente com a "regra" da melhor maneira possível, p/ ambas as partes.

    Transexuais são uma "exceção" à uma "regra", segundo a qual, cada um vive e convive com o sexo q nasceu.

    A gente se apaixona por seres humanos… Só q nesses "seres humanos" entra uma coisinha chamada SEXO. Se alguém se apaioxona/ama/tem atração por alguém do mesmo sexo ou do sexo oposto, por exemplo, e por aí vai – ainda mais q sabemos q a sociedade humana naturalmente se pauta pelo sexo fenotípico(q na esmagadora maioria das vezes, está relacionado com o genético), não "social"(i.e, o sexo com o qual uma pessoa QUER se apresentar p/ a sociedade)

    Qdo se leva em conta a parte genética então, a coisa complica mais ainda. O fato do sexo "nato" não equivaler ao "sexo social" – a natureza dessa problemática no tema e do paradoxo transexual – já é outro fator complicador. Daí concluo q faz diferença mesmo – qdo se quer namorar alguém q presume-se viver com o sexo q nasceu. E assim, mais uma vez, enfatizo a importância de se deixar as coisas claras desde o início, p/ não dar confusão. Pq uma mulher q "era homem" não será como se tivesse NASCIDO mulher, nem vice versa(a menos q troque (além dos genitais e da aparência em geral) TODO o seu sistema genital(interno e externo!), endócrino, hormonal e cia ltda, mas ainda tem a questão genética.(e a coisa se complica ainda mais se for uma mulher querendo ser homem, com pênis e tudo.)

    Enfim… Por mais q nos preocupemos com a condição humana de pesssoas assim, existem coisas para as quais não existe muita opção, infelizmente.

  • Brigada, Sally! ;)

    Então, sobre a dignidade das pessoas transexuais X o direito dos outros de não ser enganado, penso da seguinte forma: É a velha máxima q diz q o direito de um termina qdo começa o direito do outro. A dignidade deve, então, perpassar os 2 lados dessa moeda. Acontece q, p/ situações como a q apresentei, não vejo lá outra saída senão a verdade sobre os fatos, isto é, o pretendente saber, desde já, quem é quem nessa história, saber das coisas é sempre bom, e daí, se o outro lado não vê problemas em namorar um transexual ou não. É q a verdade dói, mas, no final das contas e com o frigir dos ovos, livra de muita confusão, tanto p/ quem é, qto p/ quem não é.

    Claro q a dignidade e o direito do transexual de ser quem ele quiser – ou se sente ser – deve ser respeitada, não tenho a menor dúvida qto a isso. Mas, se no meio do caminho, tiver o direito de alguém q quer namorar um ser nascido no sexo oposto, aí a coisa muda de figura. Claro q se a verdade sobre a transexualidade tiver de aparecer, q apareça sem o menor constrangimento p/ ambas as partes, daí, considero necessário q tal situação já esteja bem clara desde o início: P/ q assim, uma pessoa q quer namorar com alguém q não seja "trans" não seja "traída pelo desejo", e alguém q seja "trans" namore então alguém q, efetivamente, não veja problemas em namorar alguém na situação sexual na qual se encontra.

    Enfim, q todos se saiam bem e sejam felizes.

    ;)

    ;)

  • Sally, PARABÉNS pelo tópico intrigante e muito bem argumentado.
    Sinto-me orgulhosa de um dia poder chamá-la de "colega de profissão" – estou estudando para isso.

    Sobre o tema em questão, concordo (em parte) com o que expôs e também com o que MORENA FLOR comentou. Entendo serem opiniões que se complementam.

    A dignidade do transexual deve ser repeitada e valorizada ! Imagino que até o momento de realizar uma cirurgia de correção sexual, possivelmente, a pessoa passa por todo um processo que envolve questionamento, medo, indecisão, sofrimento, preconceito etc. Acredito que devamos incentivar as pessoas a lutar por seus objetivos, em busca do alívio para tanto incômodo, inadequação, estranheza.

    Dito isto, contudo, não podemos esquecer que é característico do ser humano sua sociabilidade. Sabe aquela frase: "Ninguém é uma ilha". Pois é a isto que me refiro.

    Creio que o preconceito deva ser combatido, sim. Ou, melhor, ELUCIDADO, uma vez que considero preconceito sinônimo de ignorância (desinformação). Mas como seres pensantes, nunca iremos CONCORDAR com tudo, até porque opiniões divergentes geram discussões SAUDÁVEIS e devem ser fomentadas.

    Quando a temática é de natureza particular, então, a coisa fica mais densa e DELICADA: não iremos chegar a um consenso NUNCA. Cada um tem uma criação, uma experiência de vida e opiniões estruturadas conforme a vivência. Por isso mesmo não existe denominador comum em temáticas como essa.

    Pensei sobre todas as questões por você levantas:
    – Acho, sim, que a cirurgia em questão é uma realidade e traz alívio àqueles que dela dependem para melhor conviverem com seu próprio corpo;
    – Não creio que os custos desta cirurgia se tornarão encargo governamental tão cedo. Primeiro porque, sinceramente, não creio que tenhamos recurso para isso (o básico do sistema de saúde brasileiro já é precário) e, agravante, a sociedade ainda a enxerga como SUPERFICIAL (como a tal plástica no nariz da patricinha). Penso que devemos discutir um pouco mais esse assunto em nossos próprios núcleos sociais, levando informações e conscientizando os demais;
    – A documentação deve ser alterada de forma a ficar condizente com a sexualidade do possuidor. Agora, trocar, por exemplo, a Certidão de Nascimento de Joãzinho porque seu pai virou Wanderléia é mais complicado… Joãozinho tem pai. Não é filho de chocadeira. Por mais que seu pai tenha alterado drasticamente sua vida e genitália, Joãozinho é seu fruto e tem direito a uma Certidão que reflita isso. Por que não colocar uma observação no documento sobre mudança de documentação e nome do pai de Joãozinho? Ou o melhor seria mesmo não mudar a Certidão? Mas ai como cruzar os dados e identificar que Wanderléia é, na verdade, Wanderley, pai de Joãozinho? É uma questão complicada e não pode ser encarada de forma tão SIMPLISTA. Muita reflexão e poucas linhas…
    – Agora, particularmente falando, acho que o transexual que venha a se envolver com um hétero deve ser HONESTO quanto a seu passado. Claro que ele não vai sair contando pra todo mundo, indiscriminadamente… Mas se se propôs a um relacionamente, deve ser franco. É DIREITO do outro optar se aceita ou não um relacionamento com um transexual.
    – Ok, se eu amo Wanderley não deveria me importar se um dia ele foi Wanderléia. Mas entram outras questões aqui: e se eu quiser ter filhos? Obviamente deverei procurar alternativas, pois meu namorado não produz espermatozóides… Se eu quiser montar um álbum com nossas fotos de infância, imagina o impacto que não terei ao ver a bebêzinha que um dia foi meu namorado… Entram outras questões mais e menos sérias.

    Não iremos esgotar o assunto aqui. É polêmico e controverso. Mas nos faz pensar sobre o assunto e, mais, nos sensibilizarmos com a causa dos transexuais.

    Interessante de verdade. Parabéns!

  • Morena Flor, seus argumentos são perfeitos, entendo quem pensa assim e acho que se houvesse uma forma de proteger as pessoas de eventuais enganos sem ferir a dignidade dos outros, teria que ser feito.

    A questão é, em uma ponderação de interesses, o que deve ter prioridade: a dignidade de um ser humano no seu dia a dia ou o direito do outro de não ser enganado quanto a condição essencial de seu parceiro?

    Entendo quem discorde, mas eu acho mais importante a dignidade da pessoa humana. Afinal, tantos parceiros enganam a gente sobre coisas tão piores… Prefiro alguém que já foi de outro sexo um dia do que alguém sem caráter.

    Anônimo: eu entendo que faça diferença, mas a ponto de largar a pessoa?

    Mais uma vez: muito feliz por ter debates nos comentários. Vocês me matam de orgulho.

  • "Gente, vamos abrir a cabecinha? Nos apaixonamos por SERES HUMANOS. Faz tanta diferença se Wanderléia já foi Wanderlei?"

    Faz.Faz sim.

  • Sally,

    Defendo sim q pessoas tem liberdade sobre o q fazer com seus próprios corpos, bem como escolher ou optar assumir o q lhe é peculiar(embora às vezes me questione sobre a natureza da transexualidade, não taco pedra em quem "se vê" da maneira divergente do q a morfologia da natureza lhe reservou, nem me sinto no direito de tal coisa, pelo contrário, sempre procuro me colocar no lugar de quem sofre preconceito por ser assim).

    Só q existem situações q podem se tornar embaraçosas qdo as coisas não estão exatamente bem claras com relação à transexualidade de alguém. Explico: Por ex, se um transexual for arrumar um namorado(ou namorada, se for o caso). Aí, a coisa complica, se o pretendente quiser alguém NASCIDA mulher mesmo, não "uma-mulher-presa-em-um-corpo-de-homem"(ou vice versa), e por aí vai. Claro q se o pretendente não ver problemas com isso, então maravilha. Se tiver, não acho q este deva ser achincalhado pelo "politicamente correto", visto q aquele q exclui transexuais de suas pretensões amorosas merece tanto respeito qto o próprio transexual, cada um tem suas escolhas e deve ser livre p/ se orientar por elas.

    Longe de mim julgar ou condenar alguém por ser o q é. Só acho q deve-se ter em mente q vivemos em sociedade, e q existem situações sociais para as quais certas coisas devem estar devidamente explicadas com detalhes, p/ não dar confusão.

  • Teve um Papa que era mulher, já ouvi essa história, mas a Igreja abafa o caso. Não acho que o Brasil tenha dinheiro pra fazer essa mudança de sexo gratuita, só teria dinheiro se acabasse a roubalheira. Aqui só tem dinheiro pra os políticos enfiarem na cueca, nunca que vão fazer isso pro povão.

  • É por isso que eu amo o Desfavor!

    Infelizmente a maioria das pessoas acham que suas vidas são referência para todos e não param nem por um segudo pra ver determinadas situações por outro ângulo.
    Eu sempre me pergunto por que essas pessoas que dizem que ninguém tem o direito de brincar de Deus não deixam de se consultar com médicos e apenas rezam quando ficam doentes?

  • Estou impressionado, nunca vi a Sally tão humana.

    Eu gosto de conhecer pessoas, fazer amizades, aprender sobre o ser humano… acabei fazendo amizade com uma pessoa chamada "Millena", mas que têm em sua certidão de nascimento o nome "Eduardo".

    Ela realmente se sente como mulher, pensa como uma, gosta de homens heterossexuais que procuram uma mulher. Nunca usou o pênis para algo além de urinar.

    Antes de ontem, exatamente, ela iria no exército retirar sua reservista, não sei como foi… mas posso imaginar o constrangimento.

    Não acho que um ser humano mereça sofrer por apenas ser diferente.

    Então… sou à favor dos pontos que a Sally levantou, concordo plenamente com a irmã da Tilikum.

    Ps, a Millena é de Campinas.

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