Ele disse, ela disse: Os opostos se opõem.

Quebra!Sally e Somir conseguem discordar até dos motivos que os fazem concordar sobre muitas coisas. Enquanto ela acha que a relação de entendimento (na medida do possível) entre os dois é resultado da compreensão das diferenças, ele propõe que na verdade é uma expressão das semelhanças.

Muito mais do que esperar pitacos dos leitores, a coluna de hoje tem por objetivo definir se são as diferenças ou as semelhanças que fazem uma relação entre um casal funcionar bem.

Tema de hoje: Complementaridade ou Similaridade?

SOMIR

Diferenças superficiais “temperam” uma relação, diferenças estruturais acabam com ela. Por mais que eu seja um defensor da graça de estar numa relação onde as duas pessoas não se curvam demais aos desejos do outro, não vai ser isso que vai efetivamente manter as coisas funcionando.

Seres humanos são complexos. Se você se resumir a analisar apenas as exteriorizações de sua personalidade, tende a simplificar demais a pessoa. Pode-se categorizar alguém por suas atitudes e gostos, mas isso não quer dizer que você conhece mesmo essa pessoa. Sim, é mais fácil se lembrar daquele cara que era fã de heavy metal ou daquela garota que só vestia roupas cor-de-rosa, são formas simples e de baixo investimento intelectual de manter alguém na memória. (E o cérebro se agarra nessas oportunidades de economizar espaço…)

Mas oriundo dessa forma totalmente compreensível de definir outras pessoas vem o fato de que tentamos simplificar até quem convive diariamente conosco. Como se alguns hábitos e manias fossem bons indicadores da forma como essa pessoa se enxerga no mundo.

Já escutei gente dizendo que tinha “tudo a ver” com seus parceiros por causa de coisas como gostos e hobbies. E na prática a proporção de separações nas relações dessas pessoas dava quase que na mesma que em qualquer outro caso. Não é o fato de fulano e fulana serem fãs de heavy metal que vai mudar alguma coisa. É um interesse comum, é divertido compartilhar, mas basicamente é só isso. Ninguém vai perdoar um chifre, por exemplo, só porque a outra pessoa gosta das mesmas músicas que ela.

E na contramão disso, também já ouvi que “apesar” de um dos dois adorar uma balada e o outro ser mais caseiro, as coisas deram certo porque ambos cederam um pouquinho. As pessoas apontam essas variações de costumes e hábitos como se fosse o enredo de uma história de amor proibido que floresce contra tudo e todos… Não foi uma vitória sobre as diferenças (ambos continuam pensando diferente), foi uma expressão de idéias parecidas: Ceder um pouco ajuda uma relação.

Essa demora para entrar no assunto é para explicar o motivo pelo qual eu não contabilizo semelhanças e diferenças superficiais (exteriorizações de personalidade que usamos no dia a dia para categorizar pessoas) como as verdadeiras agentes numa relação de sucesso.

A forma como uma pessoa pensa e age está fundada numa série de ideais sobre a vida que normalmente “crescem” com a pessoa. Pessoas que vem de famílias mais estáveis e menos dadas a demonstrações de afeto bregas acabam priorizando uma espécie de gostar menos espalhafatoso e mais sólido em sua base. Só que vivenciou esse tipo de criação entende o que é isso de verdade.

Por exemplo, eu sei que eu e Sally temos essa semelhança. A forma como buscamos essa base de relação de sucesso é muito parecida. Eu posso dizer por experiência própria que não consegui achar o que queria em mulheres que enxergavam um modelo de relação diferente, e aposto que ela também tem vários exemplos de por que não funciona. A nossa relação funcionou (e de certa forma ainda funciona) por causa de várias semelhanças estruturais, sendo uma delas a sobre a qual falo agora.

O que não quer dizer que enxerguemos tudo numa relação de forma parecida. A partir da base, a experiência de vida faz as pessoas tomarem caminhos distintos. Eu sei que enquanto ela enxerga a passionalidade do ciúme como boa forma de demonstrar interesse, eu espero a mesma coisa vinda de demonstrações de exclusividade, “comprometimento com a causa”, causa que no caso, sou eu.

Mas são dois lados da mesma moeda. Num modelo de relação aparentemente (ênfase no aparentemente) mais frio, a grande preocupação é não deixar tudo presumido demais. São formas diferentes de se demonstrar a mesma coisa. De demonstrar a mesma base.

Eu sofri uma mudança de visão de vida muito séria depois que conheci minha CARA. Mas não foi porque eu encontrei uma pessoa completamente oposta, e sim porque eu consegui enxergar que não estava fazendo o único caminho possível em direção aos objetivos que tinha em mente. Se ela estivesse caminhando em outra direção, eu simplesmente não teria enxergado o que enxerguei nela.

Uma relação não pode ser um choque, tem que ser um encontro. Pelo menos para mim. Eu não quero mudar meus caminhos, eu quero alguém que já esteja indo pro mesmo lugar. Acho brega e maluca essa idéia de que um casal vai criar um “caminho novo” e começar a agir como se duas pessoas fossem apenas uma. Ou a idéia de rumo é parecida, ou os dois saem perdendo.

Complementaridade em questões ESTRUTURAIS da personalidade de duas pessoas significa que ninguém vai chegar onde quer. Se cada um ficar puxando para um lado, ninguém avança. A não ser que alguém aceite mudar totalmente seus objetivos em detrimento de outra pessoa. Mas aí é questão de gosto. Minha base diz que eu não vou mudar dessa forma, e pior ainda, vou gostar cada vez menos de quem resolver mudar tanto assim. Não estou tirando da cartola não, aconteceu de verdade. E não foram semelhanças superficiais que mudaram alguma coisa.

Ou a base é essencialmente parecida, ou nada feito. Depois fica numa relação ruim sem odiar a outra pessoa e não sabe o porquê.

“Eu deveria gostar de fulana(o), mas está faltando algo, uma química, sei lá…”

Pense de novo. Hábitos e gostos não definem ninguém de verdade.

Não é uma característica ou outra que quase sempre passa por “charme da diferença” que valida a idéia de complementaridade. Numa relação, os dois tem que estar caminhando na mesma direção, mesmo que um corra e o outro se arraste (A idéia é que as velocidades se equilibrem). São formas distintas de se fazer a MESMA coisa.

Similaridade. Eu já aprendi a minha lição.
O buraco é BEM mais embaixo.

Para dizer que eu sou um romântico e perceber que eu já não caio mais nessa trollada, para dar chilique dizendo que conhece bem as pessoas com as quais convive por causa de meia dúzia de bobagens, ou mesmo para me dizer que está feliz por ser muito diferente de mim: somir@desfavor.com

SALLY

Complementaridade ou Similaridade? O que é melhor para fazer uma relação funcionar? Claro que quando falamos de pessoas emocionalmente saudáveis, bem resolvidas e seguras, é provável que qualquer combinação dê certo. O que está em questão aqui é QUAL DELAS FACILITA uma relação a longo prazo.

Madame acha a Similaridade melhor, alega que a Complementaridade só funciona com diferenças superficiais como gostos e interesses. Nas palavras dele: “Tem que ter muita semelhança estrutural para funcionar”. Não concordo. Acho que a maior parte das falências nos relacionamentos vem da monotonia, da mesmice, daquele mimetismo cretino onde dois se tornam um só. Ô coisa chata!

Prefiro a Complementaridade. E prestem atenção na palavra: Complementaridade. Ou seja, diferenças que SE COMPLEMENTAM – e não diferenças incompatibilizantes. Evidente que o básico todo mundo tem que ter: caráter, honestidade, afeto, comprometimento etc. Não é disso que estamos falando. Estamos tratando das diferenças dentro de um grau mínimo e possível de Complementaridade.

A novidade faz manter a chama acesa. É.bacana aprender novas formas de funcionar, aprender com o outro novas formas de ver o mundo, de pensar e de se relacionar – tudo isso acrescenta. Quão mais “fácil” seria ficar com uma pessoa bem semelhante a você? Tão fácil que se torna chato e enjoativo a longo prazo. Previsível. Monótono. Eu prefiro pessoas diferentes, lembrando sempre que dentro de um grau mínimo de compatibilidade, onde posso ter uma troca maior. O conhecido é mais seguro, mas o desconhecido é mais emocionante e gratificante.

E mais uma vez eu devo repetir, Madame: tua piscina tá cheia de ratos, tuas idéias não correspondem aos fatos. Alguém aqui acha que Somir e Eu andamos de mãos dadas com a Similaridade? Alou? Desde as escolhas mais banais, como música ou animais de estimação, passando pela personalidade, até escolhas mais profundas como projetos de vida e prioridades, são regadas a Complementaridade. Basta ver que durante mais de um ano, uma vez por semana a gente discorda ferrenhamente aqui, na frente de todos vocês. Se isso não bastar, basta ler Siago Tomir.

Mesmo sendo tão diferentes, eu acredito que a nossa relação foi uma relação que deu certo, apesar de ter terminado, diga-se de passagem, por motivos alheios à vontade de ambos. Se não desse certo a gente não mantinha contato diário e não mantinha um blog em parceria. Muito menos cogitaríamos um dia retomar a relação. Pergunta pra ele se ele cogita retomar o casamento dele?

Populares são burros, mas de vez em quando eles soltam umas pérolas de sabedoria que, por se mostrarem verdadeiras, acabam sendo divulgadas de geração para geração: dois bicudos não se bicam, os opostos se atraem e assim por diante. É fato, tirando um mínimo necessário para qualquer relacionamento saudável, quanto mais diferente melhor, mais enriquecedor para a relação e menor o risco de monotonia, de acabarem ambos como dois amiguinhos que de vez em quando fazem sexo.

Eu considero que aprendi muitas coisas convivendo com o Somir e com seus pensamentos diferentes. Aprendi não só a não me importar com o que pensam de mim como ainda a me divertir horrores quando pensam algo equivocado. Aprendi que o silêncio dói mais do que qualquer merda que eu possa falar para alguém. Aprendi que o Somir não divide comida por mais que ame a outra pessoa.

Acredito que quando você firma uma relação com alguém com muita Similitude, cria um círculo vicioso das suas neuroses, que são reforçadas e validadas pelas neuroses da outra pessoa. Coloque uma pessoa introspectiva, ranzinza, anti-social e auto-destrutiva com um parzinho similar e veja ambos se afundando trancafiados em casa. Coloque esta mesma pessoa com outra expansiva, geração-saúde, hiperativa e extrovertida e veja o equilíbrio nascendo.

Casais acabam absorvendo um pouco de seus parceiros em relações duradouras. Quão medíocre é querer absorver aquilo que você já tem? Eu procuro a Complementaridade, para conviver e absorver coisas novas, porque acredito que posso melhorar acrescendo coisas diferentes daquilo que sou. Já Madame, acha que o que ele é seria a perfeição e quanto mais daquilo ele puder acrescer melhor. Ele é anti-social. Se puder ficar Hiper-Anti-Social ele vai achar lindo!

Nada melhor do que ter uma pessoa com outros pontos de vista, com outros caminhos. Claro que o fim deve ser sempre o mesmo, mas o caminho a ser tomado pode ser diferente, porque não? Eu seria uma pessoa bem medíocre se não tivesse aprendido tantas coisas convivendo com as pessoas com as quais me relacionei. E se o caminho do outro for melhor ou mais legal que o seu? Porque não tentar?

Parece melhor uma Similitude? À primeira vista pode ser, mas reparem nos casais que vocês conhecem que estão juntos por muito tempo e me digam se a maior parte deles é regido por Similitude ou Complementaridade! Yin-Yang não tem metade de um símbolo preto e a outra metade branco à toa. Até a sabedoria oriental está do meu lado hoje.

Lembrei de uma coisa agora… Sempre que Somir e eu brigávamos, um dos dois estava calmo e o outro extremamente nervoso. O curioso é que nós sempre conversamos sobre isso dizendo “Ainda bem que tem sempre um dos dois que se mantém calmo”. Pois é, imagina se fossemos regidos pela Similitude e as mesmas coisas nos tirassem do sério, já que teríamos os mesmos valores? Talvez um dos dois já estivesse morto. Talvez? Não, não. CERTEZA.

Vou além: tenho certeza que as características que meus parceiros, por toda a minha vida, mais admiraram em mim, são justamente aquela que eles não tinham.

Em resumo, não quero um igual. Não quero o conhecido, o seguro. Quero o diferente – porém compatível. Quero sim alguém que me complemente, que sobre onde me falta e falte onde me sobre, assim ambos podemos fazer do outro uma pessoa melhor. Equilíbrio é isso, né?

Para dizer que não vai se dar ao trabalho de comentar porque não quer nem saber de relacionamentos sérios com ninguém tão cedo, para dizer que mais uma vez Somir foi o lado romântico do Ele Disse, Ela Disse e para perguntar quando vai ser a Semana Comemorativa das 500 postagens: sally@desfavor.com

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Comments (13)

  • Essa é uma equação sem fim…ainda bem, pois resolvê-la torna desafiante ou evolutiva (para os quanticos)
    Sejam eles similares ou complementares, a natureza fez o favor de colocar em nossas mentes / almas (seja lá o que for)- " Ah.. não sei bem o que eu quero" E quando acha que sabe o que quer nunca está satisfeito.

    bjs aos dois

  • "Pois é, Anônimo… você descobriu o meu segredo. Confesso, sou gorda (123kg)"

    Que isso, você está muito bem. Gorda sou eu (200 kg). Nâo é à-toa que o Somir não se interessou por mim quando nos encontramos…

    Suellen

  • Kd a postagem de hoje?
    A minha avó dizia o seguinte: "Mulher que não tem sorte com os homens, não sabe a sorte que tem!"
    Bjoks a todas as gordinhas e seus vibradores sexies!
    Haha

  • Pois é, Anônimo… você descobriu o meu segredo. Confesso, sou gorda (123kg)

    Não sabia que falar em complementaridade provocaria uma presunção de não saber o que é amor.

    Adoro quando me rogam pragas em Caps. Ganhei o dia.

    obs: morrer solteira não é praga, é prêmio, mas eu sei que foi dito na intenção de rogar praga…

  • Pois é, Anônimo… você descobriu o meu segredo. Confesso, sou gorda (123kg)

    Não sabia que falar em complementaridade provocaria uma presunção de não saber o que é amor.

    Adoro quando me rogam pragas em Caps. Ganhei o dia.

    obs: morrer solteira não é praga, é prêmio, mas eu sei que foi dito na intenção de rogar praga…

  • EU ACHO QUE VC É UMA GORDINHA MAL AMADA.
    VC NÃO SABE O QUE É AMOR, NUNCA E NUNCA VAI SABER, PENSANDO ASSIM VAI MORRER SOLTEIRA.

    BOA SORTE COM SEU VIBRADOR!

  • O Deja é tão românticooo… haha

    Concordo com a Sally e é bem como ela disse, tem que ter complementaridade! E tudo o que complementa é com compatibilidade… se não é assim, aí o negócio desanda que é uma beleza…

  • Leio o blog há pouco tempo e nem sabia que vocês não estavam mais juntos.Mas isso não muda o fato de vocês serem meu "casal modelo". ahaha

  • Tem que ser parecido, senão não vai ter como fazer um programa em comum. Já tive um ficante gostosíssimo, mas ele era do tipo de acordar cedo, gostar de torrar no sol da praia e eu sou da noite, ficar navegando na internet, acordar quando o sol se põe. Imagina eu só gostar de comida italiana e ele querendo só coisas naturais. Onde a gente ia saír juntos? Onde a gente ia comer juntos? Eu curtia comédia e ele filme de ação (eca!).

  • Homem e Mulher já são, de cara, essencialmente opostos e complementares.

    Eu estou com a Sally.

    Toda a química tem base nos elementos que se complementam, a química do amor não é diferente.

  • No fim, o que segura uma relação é o quão bem ela faz sexo oral.

    Ps.: Somir no fundo no fundo, um romantico incorrigível.

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