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Ele disse, ela disse: A menor safadeza.

| Desfavor | | 46 comentários em Ele disse, ela disse: A menor safadeza.

Sally e Somir divergem sobre censura etária não é de hoje, mas existe mais uma área dessa discussão prestes a ser explicitada por aqui: O papel dos pais na hora de lidar com o acesso de adolescentes de 14 a 18 anos à pornografia.

Tema de hoje: Pais devem permitir que seus filhos adolescentes vejam pornografia?

SOMIR

Sim. E eu sou bem xiita em relação a isso: Pra mim não deveria ter censura etária NENHUMA, como já disse em uma postagem anterior. Argumentei que além de não valer quase nada na vida real, ainda sim os efeitos negativos da exposição a material impróprio eram muito mais explicáveis pela criação errada por parte dos pais.

A sanha de escapar da responsabilidade pelos próprios atos faz muitas pessoas criarem culpados na indústria da mídia e do entretenimento, como bodes expiatórios para atitudes incoerentes e pouco eficientes as quais expuseram seus filhos. Videogame vira culpado pela violência, pornografia vira culpada por irresponsabilidade sexual…

Vamos prestar atenção ao enunciado do tema de hoje, ênfase na palavra “permitir”. Permitir não é incentivar, permitir não é forçar, permitir não precisa nem mesmo ser uma postura consciente… Quem cala, consente. Permissão pode ser uma atitude direta ou indireta. Proibição, por sua vez, só pode ser direta.

Não estou pirando ou tomando vocês por mais tapados que o de costume, faço questão de explicitar que fazer vista grossa é sinônimo de permitir porque isso poderia devastar um argumento golpista de minha CARA. Não é como se uma pessoa com filhos de 14 a 18 anos não soubesse que pornografia existe e sempre está em alta demanda com o público-alvo cheio de hormônios que engloba suas crias…

Ou os pais tomam atitudes para proibir o acesso, ou estão permitindo. Estamos de acordo? Bacana. E como estamos falando de proibição, não sou só eu que levanto os perigos de leis arbitrárias na criação de um(a) jovem. Responder “por que sim” pode quebrar o galho quando o filho é pequeno, mas começa a cobrar seu preço quando o rebento já tem capacidade de contra-argumentar. E mesmo que esse filho não se abra sobre sua discordância, ainda sim vai fazer essa argumentação mental e decidir que os pais estão falando merda.

Agir como se pornografia fosse algo horrível e tomar atitudes para cercear o acesso do adolescente a esse material exige boas razões. E é aí que estão elas: As razões nunca se mostraram sólidas. Pornografia com certeza não é a primeira opção para uma sessão pipoca com pais e filhos adolescentes, mas o mesmo pode ser dito dos Teletubbies. Tem coisas que não combinam mesmo…

E como pornografia está intimamente ligada com masturbação, faz sentido que se trate dela como algo de foro mais íntimo. Não aprendemos a usar o banheiro sozinhos? Isso não quer dizer que cagar vai fazer mal para um adolescente…

Sem moralismo cretino aqui: Levanta mais preocupação o adolescente que não consome pornografia e se masturba do que o que não o faz. E sim, estou incluindo mulheres aí. Se é um fato da vida, ainda mais numa sociedade como a nossa atual, onde pornografia está AMPLAMENTE disponível para qualquer faixa etária, quão esquizofrênico é achar que existe ponto ou vantagem em proibir?

Comportamentos negativos relacionados à intimidade sexual são TOTALMENTE relacionados com o tipo de educação proporcionada na casa. Falta de bom-senso de se masturbar em ambiente privativo não é resultado de acesso a vídeos de pessoas fazendo sexo, é resultado de casa de gente porca que caga de porta aberta e gente doida que não entende o conceito de privacidade.

O adolescente que assiste um vídeo pornô na sala de casa com todo mundo por perto é ponto fora da curva. Ou está querendo chamar atenção mesmo. Poderia ter chamado todo mundo para ver o tolete que soltou no banheiro… É a criação. São os exemplos de casa. Não culpe atores e atrizes de uma obra de ficção por sua incapacidade de oferecer um ambiente salutar para seus filhos.

Pode-se argumentar que não tomar nenhuma atitude para coibir o acesso do adolescente à pornografia pode levar a um comportamento compulsivo. Pode-se. Da mesma forma que dizer que deixar uma geladeira cheia pode levar o adolescente a se tornar obeso. O excesso é o problema, não o que se abusa. Uma pessoa que fica viciada em pornografia tem problemas bem maiores do apenas ter a possibilidade de acessá-la.

E sobre o acesso, vamos entender o ano em que estamos. Pornografia é um bicho completamente diferente do que era quando eu e muitos de nós aqui éramos adolescentes. No meu tempo, dava trabalho conseguir uma Playboy. Hoje em dia uma criança precisa de acesso a internet e meio minuto para ver coisas MUITO mais gráficas. Não dá mais nem para saber se proibir funciona, acabou essa era. O segredo é saber como lidar com isso.

Não precisa ser aqueles pais estranhos que tentam tratar do assunto com intimidade excessiva, não precisa perguntar para o filhão se aquele vídeo rendeu uma punheta, oras bolas! É tão invasivo quanto ficar perguntando se a bosta estava marrom quando ele sai do banheiro… Bom-senso! Lidar com o assunto é interferir somente quando necessário e compreender que são questões íntimas.

Compreender a naturalidade da pornografia não significa também financiar ou incentivar o consumo dela. Vivemos numa NOVA realidade em relação a isso… O adolescente vai conseguir acesso a basicamente o que quiser, quando quiser. Se um aparecer te pedindo dinheiro para alugar um filme pornô, tente se beliscar: Você está sonhando com pelo menos uma década atrás.

E se você vai argumentar algo sobre como pornografia incentiva sexo inseguro e aumenta risco de doenças e gravidez indesejada: Essas coisas acontecem com mais frequência em camadas pouco favorecidas da sociedade. Camadas onde a proporção entre consumo de pornografia e sexo real funcionam de forma inversa à classe média “computador no meu quarto”. O problema é a criação.

Até porque é proibindo o acesso teórico que se incentiva as experiências reais mais… completas nessa idade. Quando as regras ignoram a realidade, o que a realidade faz com as regras mesmo, Sally?

Para dizer que só não bate palmas para o texto porque está com uma mão ocupada, para se dizer que prefere ignorar que já foi adolescente, ou mesmo para dizer que putaria mesmo é o que eu escrevo: somir@desfavor.com

SALLY

Pais devem permitir que seus filhos menores de idade (entre 14 e 18 anos) vejam pornografia? NÃO. Só faltava essa. Ter benção do papai e mamãe para se masturbar! Permitir é o caralho, esse assunto nem deve ser levado aos pais

Ninguém aqui é idiota a ponto de não saber que se os filhos quiserem eles terão acesso a pornografia. Já se conseguia antes da existência da internet, quem dirá hoje em dia. Normal. Até saudável eu diria. Porém tornar a pornografia algo bem vindo na sua casa, com a benção dos pais, me parece uma atitude duvidosa e de péssimo gosto. É mais ou menos como sexo na casa dos pais: se for fazer, que seja discretamente e que ninguém perceba. Esperar por um aval oficial é forçar demais a barra. É quase que falta de respeito.

Certeza que muitos aqui devem estar se preparando para me esculhambar nos comentários, mas antes que o façam, quero propor um exercício mental: sua filha, aquela princesinha que você criou com tanto carinho, atualmente com 14 anos, volta da locadora com um filme nas mãos. Na caixa do filme, um ator pornô sarado com o corpo besuntado a óleo, pau duro e o título “Long Dong John”. Ela entra em casa, vai até a sala e diz: “Olha, Pai! Olha o que eu aluguei!” e se tranca no quarto com o filme. Tem certeza da sua permissividade agora?

Não estou propondo uma “caça” à pornografia. Coisas como vasculhar armários, mochilas e histórico de computador e dar castigos são palhaçada. Seus filhos, depois de uma certa idade, verão pornografia. A questão é: vai ter a benção dos pais para isso? Não me parede adequado.

Em tese é fácil responder, porque todo mundo se coloca no lugar de um adolescente e tende a decidir com base no que gostariam que tivesse sido feito à sua época de punheteiro. Mas o papel dos pais não é ser bacanas com os filhos e sim fazer aquilo que julgam ser melhor para eles. Pornografia não é algo abertamente aceito na nossa sociedade e é muito questionável se é bom para a saúde mental. Ao tornar a pornografia abertamente aceita na sua casa você cria uma expectativa irreal e alarga os limites de privacidade que serão socialmente aceitos.

Sem contar que mesmo quando a pornografia não é oficialmente permitida ela já consome um bom tempo do adolescente, imagine então se houvesse free pass. Que adolescente entre 14 e 18 anos dedicaria horas a estudo tendo a possibilidade de acesso a pornografia escancarada em sua casa? Além disso, você acha apropriado entrar no quarto do seu filho ou filha e ver pornografia espalhada, de forma ostensiva? Adolescentes de 14 anos não tem maturidade nem discernimento para lidar com uma liberdade desse tamanho. Proibir pornografia não, mas permitir de forma escancarada também não, é o outro extremo, tão prejudicial quanto. Tolerar, eu diria, é o máximo.

Passar para o seu filho ou filha a mensagem de que no seu lar pode ser ostentado pornografia sem problemas pode criar uma série de confusões futuras. Fica a lição de que dentro de casa pode ter pornografia e que isso não é um problema e quero só ver se mais tarde, quando em um relacionamento sério, isso não vai gerar algum mal estar. Convenhamos que a maior parte das pessoas não tolera que seu parceiro se divirta com pornografia de forma livre declarada.

Convenhamos que a maior parte da sociedade não reage bem quando alguém assume em alto e bom som que é chegado em pornografia. Convenhamos ainda que é inconveniente e sem noção compartilhar qualquer preferência de cunho sexual com terceiros. Esta noção de privacidade se perde quando os pais abençoam a pornografia dos filhos.

Neste ponto muitas pessoas devem estar me achando hipócrita, porque afinal, todo mundo faz, então porque não liberar oficialmente na sua casa? Meus Queridos, hipocrisia seria o pai proibir terminantemente pornografia tendo uma caixa repleta dela em algum canto (provavelmente dentro do seu computador). Se o papai tem que dar um jeito de fazer as coisas discretamente porque é inconveniente e constrangedor ostentar pornografia, o filho também terá que fazê-lo. Onde já se viu um filho poder mais do que um pai na hierarquia da casa?

Sem contar que alguém de 14 anos dificilmente terá renda própria, logo, permitir abertamente pornografia na sua casa é também abrir espaço para que você a banque. Realiza a cena: sua filha de 14 anos te pedindo dinheiro ou te pedindo para comprar um filme pornô para ela. Você compraria? Sejam sinceros, vocês acham isso apropriado? Ou então pior ainda, filhos gêmeos, um menino e uma menina, ambos de 14 anos, ambos pedindo filmes pornográficos. Faz o que? Compra apenas para o menino?

Você pode achar pornografia bacana, mas é fato que entre a maior parte das pessoas ela é considerada ofensiva. É algo que deve ficar na esfera do privado. Seu filho caga, certo? Você não o impede de cagar, mas se o seu filho decide cagar no meio da sala você vai aceitar? Existem coisas que devem ficar na esfera privada e muitas vezes não podem ser compartilhadas com ninguém, ou apenas com poucas pessoas. Esta lição é muito mais valiosa para um filho do que a satisfação de um desejo de momento facilitando seu acesso a pornografia.

Se eu tivesse filhos, deixaria bem claro que não podem contar comigo para obter pornografia e que se eu visse, me sentiria ofendida, que é algo que eu espero que eles mantenham na esfera privada. Da mesma forma que eu não gostaria de saber qual é a posição sexual favorita da minha filha ou do meu filho, eu também não gostaria de ser participada de atividades envolvendo pornografia. Não é puritanismo, é noção de privacidade. Eu brigaria da mesma forma se visse um filho meu cagando de porta aberta. Acho importante ensinar noções de privacidade, pois pessoas sem ela costumam ser constrangedoras e inconvenientes. Beira à falta de educação.

Permitir expressamente pornografia na sua casa para filhos menores de idade a meu ver extrapola os limites de privacidade da casa. E mais: se não está preparado para aceitar isso vindo da sua filha, então, por questão de equidade, também deve ser vetado ao seu filho.

Eu acho pornografia uma indústria indigna que explora e degrada mulheres, não contem comigo para endossar ou avalizar esse tipo de coisa, nem para filhos, nem para ninguém.

Para me chamar de conservadora e similares, para dizer que não sabe o que pensar ou ainda para dizer que o argumento da filha quebrou as suas pernas: sally@desfavor.com

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