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Ele disse, ela disse: Passado a limpo.

| Desfavor | | 66 comentários em Ele disse, ela disse: Passado a limpo.

Relacionamentos começam e acabam. Cada pessoa tem o seu histórico, com casos e namoros que precedem o atual. Sally e Somir concordam que excesso de informação nesse aspecto não faz bem para uma relação, mas a sintonia se perde quando o passado acaba passando por perto.

Tema de hoje: Avisar para o(a) atual que você já teve algo com alguém próximo do casal?

SOMIR

Não. Entendo o valor da honestidade numa relação, não mentiria se fosse perguntado, mas se eu aprendi uma coisa nessa vida é que existe um abismo entre o que as pessoas precisam saber e o que acham que precisam saber.

Antes de qualquer coisa, vamos separar a ideia de não contar para a sua namorada que você já teve um caso com uma mulher conhecida dos dois da ideia de traição. Não há nenhuma relação direta entre omitir esse fato e agir de forma a consumar uma traição. Quem quer trair, trai. Independentemente de marcação cerrada da parceira.

É uma ilusão achar que é só “ficar esperto(a)” para evitar levar chifres. A decisão de não te trair não fica nas mãos de outra pessoa. O máximo que você pode fazer é incentivá-la a se manter fiel agindo de forma a manter seu relacionamento interessante. E mesmo assim existem casos de gente que escolhe “comer fora”. Sua namorada (ou namorado, vou manter tudo no feminino por simplicidade de escrita) é outro ser humano, e pode apostar que você não vai conseguir controle absoluto sobre ela.

O que é até uma coisa boa, não ser traído porque a outra pessoa não consegue trair é algo bem sem graça. Valor mesmo tem escolher se manter fiel e agir de forma condizente com isso. Se você acha que olhar feio e fazer cena toda vez que sua namorada conversa com outro homem uma forma de proteção, tenho péssimas notícias para você.

Quem quer trair, trai. É o velho ditado: “Água morro abaixo, fogo morro acima, mulher quando quer dar… Ninguém segura.”. Fidelidade é um esforço pessoal e intransferível, portanto, o máximo que você pode fazer é incentivar oferecendo uma relação “cara demais” para ser substituída ou arriscada.

Posto isso, posso dizer que mesmo que minha namorada fique sabendo que eu já tive um caso com uma conhecida ou colega atual, ela não vai ganhar nenhuma ferramenta extra para me manter fiel. Só vai arranjar algo para a cabeça… E eu sou justo: Idem no sentido oposto. Se eu souber que um homem próximo dela já “esteve lá”, eu só vou ficar irritado e enciumado, sem ter nada de prático para fazer.

Mesmo que você esteja num casal onde pedir para a mulher se afastar de alguém por ciúme não signifique começar a terceira guerra mundial, ainda sim vai ficar uma situação chata e NÃO vai reduzir a chance de ser traído. As pessoas não vivem grudadas, o ser humano consegue ser muito criativo quando quer…

O que eu pergunto aqui é simples: Precisa? Precisa saber dessa informação para manter um relacionamento saudável? Porque o lado negativo desse conhecimento existe e se faz presente toda vez que você tem que interagir com esse fantasma do passado ou mesmo quando você sabe que sua namorada vai ficar por perto dessa pessoa.

E se esse ex for seu chefe? Ou chefe dela? As pessoas tem cargos de poder e influência nessa vida. A animosidade natural (mesmo que disfarçada) pode gerar problemas ainda maiores que o reflexo irracional de competição gerado pela informação. E quando uma relação gera problemas além da relação, no campo profissional ou familiar, ou mesmo com os amigos e amigas da outra pessoa, a coisa tende a desandar.

Todo mundo se acha super maduro e capaz de lidar numa boa com a situação, mas a verdade é que até mesmo seres que abominam passionalidade sobre racionalidade como este que lhes escreve acabam se rendendo ao menor denominador comum de tempos em tempos. Alguma coisa vai escapar, e mesmo que não seja uma pancadaria com o Zé Ruela que te precedeu, vai ser algum comentário torto ou patada, às vezes até mesmo para cima da sua parceira.

E como é algo que jamais pode ser desfeito, não tem dessa de perder o significado com o tempo. Uma vez que você conta isso, está contado. E vamos concordar que a memória feminina para essas coisas é praticamente infinita. Ela VAI lembrar de te pentelhar sobre isso a cada chance que se apresentar numa discussão. Mulher adora dizer que quer a verdade sempre, mas não se toca que tem uma péssima forma de lidar com ela. Mulher VAI punir o seu namorado se ele disser a verdade sem filtros.

Homem vai arranjar para a cabeça se contar e vai arranjar para a cabeça se não contar. A única chance de evitar o problema é contar com a possibilidade dela nunca ficar sabendo. E não me venham com esse papinho que omissão é mentira… Não é humanamente possível contar para outra pessoa tudo o que ELA julga importante. Muitas coisas acabam omitidas, mesmo que passivamente, durante uma relação.

O que aconteceu antes do namoro não configura traição, por mais que algumas mentes paranóicas insistam em dizer o contrário. O presente da pessoa é o que efetivamente interessa. E se você acha que está sendo traída por uma relação passada e acabada, vamos concordar que não faz o menor sentido esperar ser tratada feito adulta caso uma situação dessas se apresente, não?

Agora, se me perguntar, quer dizer que a pessoa percebeu algo. O que pode significar que tanto eu como a “ex” estamos agindo de forma incompatível. Se for esse o caso, faz sentido como forma de aviso. Todo mundo pode errar a mão numa situação dessas e demonstrar intimidade excessiva. É saudável para o casal que ambos tenham a abertura de dar uma “puxada de orelhas” eventual, mas desde que essa chamada esteja apoiada em uma situação real.

Passado é passado. A maior prova que não estamos vivendo nele é o presente. Não seja sincericida, sua relação agradece.

Para dizer que não liga para o que é melhor para o casal e prefere mesmo é achar algo para pentelhar a outra pessoa sempre que pode, para reclamar que você consegue evitar traição “marcando em cima”, ou mesmo para dizer que para você é mais fácil contar para o namorado ou namorada quem você não traçou: somir@desfavor.com

SALLY

A situação é a seguinte: você tem algum tipo de relacionamento não estável com um(a) Fulano(a), incluindo sexo com ele. Anos depois, você começa a namorar uma pessoa e depois de um tempo de namoro descobre que aquele Fulano(a) é conhecido, mero colega, do seu namorado(a). O que você deve fazer: contar ao namorado que já teve alguma coisa com seu colega ou omitir esta informação até ser perguntado?

Eu contaria, porque acho uma bosta saber disso por terceiros. Sabe aquela sensação de ser o último a saber? Não gosto de me sentir assim, me sinto com duas orelhas de burro na cabeça. É o tipo de coisa que não cola dizer que não contou porque não foi perguntada, ninguém fica perguntando se você já fez sexo com cada um dos seus conhecidos (ao menos não deveria). Acho que é o tipo de informação que se espera que a pessoa compartilhe, não porque ela te deva alguma satisfação do que ela fez no passado e sim porque passado e presente se cruzam e se ela ignorar a informação pode acabar passando por alguns constrangimentos.

Por mais que a gente adore pensar que não, tanto homem como mulher costumam ser linguarudos. Não tem jeito, as pessoas falam, comentam com os amigos. Mesmo que não entrem em detalhes, quase sempre soltam alguma coisa. Se as pessoas do meu meio social sabem de alguma particularidade sexual do meu parceiro, eu gostaria de ser informada disso, não gostaria que esse assunto fosse tema do meio em que eu frequento nas minhas costas. Sabendo que existe a possibilidade de pessoas estarem comentando esse assunto minha postura seria outra e eu gostaria de ter a opção de adotar essa nova postura.

Também muda a postura em relação ao próprio colega (não vou ficar mudando o gênero a cada vez que exemplificar, entendam como homem ou mulher, conforme o caso). Já pensou se por razões circunstanciais você acaba desabafando alguma coisa, por mais inofensiva que seja, com a pessoa que fazia sexo com seu atual parceiro? Muito bizarro, eu gostaria de ser poupada desse constrangimento, estando na condição de parceira ou na condição de ex-ficante da pessoa. É uma situação horrorosa que faz com que o atual parceiro se sinta um idiota.

Via de regra eu gosta da política “don’t ask, don’t tell”. Passado sexual é passado e ninguém tem nada que ficar contando o que fez ou o que deixou de fazer, muito menos perguntando o que o outro fez ou deixou de fazer. Mas isso vale para passado. Quando a pessoa cruza a vida do casal, vira presente e o que você fez no passado gera consequências e desdobramentos hoje. Acho pertinente informar que já teve um “alguma coisa” com uma pessoa que está por perto do seu atual namorado sem dar maiores detalhes.

Um entre muitos exemplos do quanto isso pode ser constrangedor. Vamos pensar em um homem imaginário, que não existe. Vamos supor que suas iniciais sejam ST, por assim dizer. ST teve um caso com uma colega do antigo trabalho, mas depois que saiu de lá e abriu sua própria agência de publicidade nunca mais a viu. ST começa a namorar uma carioca e um dia é convidado para uma festa da ex-empresa, porque por razões incompreensíveis ainda é muito querido por ali. Sua namorada carioca tem que sair mais cedo da festa pois tem voltar para o Rio e cria-se uma situação onde a equação mais lógica é a namorada de ST vá embora e ST volte de carona com a colega X com a qual ele já teve um caso. ST tenta escapar da situação mas a namorada carioca, que nem desconfiava que ele tinha um caso com a colega insiste em que seja feito desta forma, pois é a coisa mais lógica e a colega, adorando aquilo, também insiste. Alguém merece passar por isso? Não, não merece. Com todo mundo vendo, todo mundo percebendo o que estava acontecendo. É falta de respeito.

Se você vai expor seu parceiro ao convívio com uma pessoa com a qual você já fez sexo, acho de bom tom informar, porque seu parceiro pode querer assumir uma postura diferente perante essa pessoa. Não digo destratar nem olhar de cara feia, mas talvez não se aproximar muito ou não insistir para que você pegue uma FUCKIN’ CARONA com a pessoa. E mesmo que seu parceiro não queira adotar nenhuma postura diferente, dê ao menos a chance a ele para decidir. Já pensou se numa dessas seu parceiro se dá super bem com a pessoa e acaba engatando uma amizade? A omissão vai acabar ficando cada vez maior, tomando forma de mentira, virando uma enorme bola de neve.

Relacionamentos sérios envolvem a obrigação de prestar algum tipo de satisfação. Não é pedir autorização nem permissão, é apenas ter a consideração de informar ao outro situações que lhe dizem respeito. E pessoas com as quais você fez sexo dizem respeito a seu parceiro quando você o expõe a essas pessoas. Não quer que ele saiba? Porra, então seja digno e não o exponha a estas pessoas. Simples assim. A partir do momento em que você escolhe juntar em um mesmo ambiente seu atual e seu ex-alguma-coisa, você cria para si a obrigação de informar a seu atual sobre essa parte do seu passado. Não estou pedindo que dê detalhes e conte pormenores, basta dizer “Tá vendo aquela pessoa ali, então, anos antes de sonhar em te conhecer eu tive um rápido envolvimento com essa pessoa”. Ponto. Não precisa dizer se fez sexo ou não fez, as posições nem os apelidos pelos quais se chamavam. Apenas o necessário para que a pessoa possa escolher como quer se posicionar, em vez de soltar o asqueroso “que eu me lembre não” ou apenas se omitir.

Muita gente deve estar pensando que daria uma tremenda dor de cabeça passar ao outro esse tipo de informação. Bem, mentira tem perna curta e mais dor de cabeça ainda vai dar quando a pessoa descobrir que você mentiu. Dor de cabeça e presunção de alguma coisa errada. Sem contar que se a pessoa com a qual você está é neurótica a ponto de fazer um escândalo por se deparar com um ex, francamente, o que você está fazendo com ela? Uma escolha de parceiro um tanto quanto curiosa para quem se preocupa tanto em evitar problemas!

Sem contar que a justificativa de não falar qualquer coisa “para evitar briga” é muita covardia, parece criança que esconde boletim por medo de esporro da mamãe. É seu direito ter um passado e você não precisa se desculpar por ele, se comportar como se ter um passado fosse algo errado é bater palmas para maluco dançar.

As pessoas tem que aceitar de uma vez por todas que o passado só é passado quando não cruza na sua vida presente. E também tem que aceitar que dar satisfação é inerente a relacionamento. Basta se colocar no lugar da pessoa: você gostaria de estar sentado em uma mesa batendo papo e fazendo amizade com um sujeito que comia a sua mulher sem ter ciência disso? Trataria ele da exata mesma forma se soubesse que ele comia sua mulher? Duvido.

E mesmo que tratasse, você tem o direito de ter a escolha, de decidir como quer conduzir aquela situação. Vou além: mesmo que não tenha rolado sexo, só de ter acontecido um “alguma coisa”, uma ficada que seja, tem que contar, porque isso pode mudar a forma como seu parceiro vai ver e vai interagir com a pessoa.

Para concordar comigo em tese mas na prática continuar escondendo, para dizer que seu passado é tão extenso que você teria que apontar para todo mundo que conhece e isso sim traria problemas ou ainda para dizer que não gostaria de admitir as barangas que já encarou: sally@desfavor.com

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