Skip to main content

Colunas

Arquivos

Ele disse, ela disse: Olha o gás!

| Desfavor | | 43 comentários em Ele disse, ela disse: Olha o gás!

Aqui no Desfavor nos preocupamos em trazer à tona discussões edificantes para toda a Nação. Sally e Somir discordam sobre que tipo de peido é mais constrangedor em público, e não vão torcer o nariz para suas opiniões, impopulares.

Tema de hoje: Qual o peido mais constrangedor: silencioso e fedido ou barulhento e inodoro?

SOMIR

O silencioso e fedorento. Entendo que a opinião mais comum seja a de que é mais vergonhoso peidar de forma barulhenta na frente dos outros, mas permita-me oferecer um ponto de vista alternativo, baseado na ideia de que a maior parte da nossa comunicação ocorre de forma não verbal. Mesmo que você seja uma pessoa que fale pelos cotovelos, ainda sim vai passar muita informação pela linguagem corporal.

E isso é importante aqui porque de certa forma (de ceeerta forma) o peido barulhento e inodoro é uma analogia com a fala. É uma mensagem que você passa para outros seres humanos, transmitida através do som. Calma, não presuma nada ainda, apesar de cu e boca serem extremidades do mesmo sistema, não estou fazendo apologia ao peido comunicativo, estou só constatando uma semelhança.

Um peido barulhento que não fede é como um grito. Somos relativamente bons (como espécie) para identificar a direção de um som, então quase sempre o culpado do peido sonoro fica evidente para todos ao seu redor. A pessoa provavelmente não queria se comunicar dessa forma, mas aconteceu, escapou… Não vai ter mistério. Todos ao redor do(a) peidorreiro(a) vão ter as informações necessárias para reagir.

Agora, respondam-me: Você tem mais sucesso para resolver situações complicadas conversando ou fazendo cara feia e ficando quieto(a)? Não é senso comum que temos que ser diretos para resolver nossos problemas? Estamos partindo do ponto que a pessoa já peidou. Não tem como sugar de volta, oras. A partir do momento em que se peida na presença de outras pessoas, surge um problema para resolver: A reação alheia.

E em ambos os casos, a reação alheia VAI acontecer. O peido barulhento mata qualquer suspense no berço. O peido silencioso e fedido é apenas o começo de um thriller de mau gosto que vai durar enquanto o gás metano não se dispersar. E nesses casos de constrangimento, quanto mais rápido o evento embaraçoso terminar, melhor. O “silencioso, porém mortal” é como aquela namorada chata que fica com cara de bosta o dia inteiro e responde “Nada!” quando se pergunta o que aconteceu. Só piora a situação.

Constrangimento acumula. E quando as pessoas não conseguem se expressar de forma clara para desarmar a situação incômoda, fica o famoso (e relevante como nunca) “cheirinho de merda no ar”. O cheiro ruim gera repulsa, é a natureza nos dizendo que metano não é uma substância que queremos por perto. E é aqui que eu posso também argumentar sobre egoísmo: Pergunte para qualquer um se prefere ouvir um barulho ou sentir cheiro de merda. É EVIDENTE qual o peido menos problemático de verdade numa situação social. O peido barulhento é vergonhoso, mas… não deixa de ser engraçado. O peido fedorento é repulsivo por natureza.

E essa coisa de achar que peido silencioso é crime perfeito só vale se ele não tiver cheiro. No exemplo de hoje, vai feder sim. E onde existe fedor, existe a procura pela fonte. É humano, oras! Queremos evitá-lo. Lembram que eu falei sobre linguagem não corporal no começo do texto? Vai achando que quem soltou esse peido fedido e silencioso não se entregou, vai… Quem peida sem emitir som faz uma cara muito característica: A expressão neutra. A expressão neutra pode até passar despercebida se ninguém estiver prestando atenção, mas com as narinas sob ataque de um intestino, todo mundo fica mais ligado.

E para quem não sabe o que é expressão neutra, tente fazer uma cara que não demonstre nada, segure-a e vá até um espelho. Você vai ver como é muito menos natural do que você estava imaginando antes de ver. E ainda tem toda a tensão do “espalhamento”. Como cheiros são invisíveis, quem peidou nunca consegue definir exatamente como o fedor está viajando pelo ambiente, e por isso inconscientemente fica procurando pela primeira cara feia. E pode anotar aí: Na maioria das vezes, quem peidou foi o primeiro ou o último a notar o cheiro. Quem avisa primeiro tenta disfarçar que está envergonhado, quem nota por último está tentando iludir os outros a achar que o cheiro não pode ter se originado de perto dele. Ah, bônus de burrice para quem diz que não está sentindo.

De boa? As pessoas SABEM que você peidou, mesmo sem barulho. O que você consegue disfarçando é no máximo a presunção de pessoa dissimulada ou escrota se botar a culpa em outra pessoa. Ah, espero que todo mundo saiba que botar culpa em animal de estimação é confissão de autoria de peido. Se você sempre desconfia mais de quem botou a culpa do que do animal, porque você acha que as outras pessoas pensam diferente?

E não podemos esquecer que peido fedido não costuma vir sozinho. O barulhento e inodoro deve ser apenas acúmulo de ar, mas o fedido? O fedido é metano quase puro, e isso só pode vir do intestino. Eles tem o péssimo hábito de vir em sequência. Se não te pegarem no primeiro, vão pegar nos próximos.

Quem acha que peido fedido e silencioso é mais fácil de esconder também deve achar que só ele(ela) é esperto(a) e todo mundo é otário. Constrangedor, não? Deve ser reconfortante, pelo menos.

E agora, um pequeno adendo sobre homens e mulheres:

Sim, é mais fácil reagir a um peido fujão se você for homem. Entre amigos próximos, peidos são respondidos com broncas, risadas ou mais peidos. O constrangimento some quando não tem elefante na sala. Não posso afirmar que entre amigas seja exatamente o mesmo (princípio da incerteza: se eu estiver observando, a amostra está contaminada) , mas é muito provável que seja parecido. O ponto é que não adianta tapar o peido com a peneira, quanto mais rápido lidar com isso, melhor. Até mesmo se for para evacuar o ambiente…

Para dizer que eu consigo fazer até peido perder a graça, para reclamar que eu sou porco por não preferir cheirar merda alheia, ou mesmo para gravar seu peido como uma resposta válida: somir@desfavor.com

SALLY

O que é pior em termos de constrangimento: um peido barulhento e sem odor ou um peido silencioso e fedido? Evidentemente que um peido silencioso é menos constrangedor.

Antes de mais nada gostaria de dizer que tenho plena consciência que peidar na presença de outros seres humanos é uma merda, uma escrotidão, uma coisa nojenta. Pessoas com consideração se afastam para peidar, mesmo que não seja até o banheiro, ao menos até um local onde outras pessoas não sejam afetadas. Evidente que o melhor é não peidar perto de ninguém. Mas esta não é a opção hoje. A opção é: o que é pior em termos de constrangimento, um peido barulhento e sem odor ou um peido silencioso e fedido? Então, não me venham com comentário mandando ir peidar no banheiro, atenham-se à proposta de discussão: BARULHENTO E INODORO ou SILENCIOSO E FEDIDO?

Um peido silencioso sempre deixa margem para manobras, se não há barulho, não há como identificar exatamente de onde veio o peido. É o ruído que dedura o dono do peido. Um peido silencioso pode ter sido de qualquer pessoa presente na sala, pode ter sido até mesmo do cachorro, do gato, do furão ou de qualquer animal presente. Para ser sincera, o mero cheiro de merda nem ao menos precisa ser um peido. Mesmo que só exista você e outra pessoa no local, ainda há esperanças.

Um simples cheiro de merda que paira no ambiente pode vir de fora, de um esgoto qualquer que tenha estourado, do encanamento do prédio, do cocô de algum animal que alguém tenha pisado ou de tantas outras explicações possíveis. Sim, há diversas possibilidades para explicar, mesmo que não sejam muito plausíveis. Quem se importa? Nessas horas a pessoa finge que acredita e encerra o assunto, pois ninguém gosta desse constrangimento. O simples fedor não é batom na cueca, pode até pairar uma desconfiança de peido, mas não há certeza. Eu mesma já morei em um apartamento onde, eventualmente, subia um cheiro de merda horroroso dos ralos de forma aleatória. Um fedor repentino é algo que pode acontecer independente de um peido.

Já o peido barulhento… não tem disfarce. A menor que você esteja usando uma calça de couro e rolando em um sofá de couro, dificilmente esse ruído poderá ser explicado. Além disso, o fato de não feder não apaga o fato de que você peidou. Todo mundo ouviu de onde saiu aquele barulho, não tem como justificar ou culpar fatores externos. O cheiro é algo mais discreto, mais fácil de ser ignorado, de fingir que não percebeu. Um peido sonoro, daqueles estilo lambretão fica quase que ridículo de ignorar, grandes chances de que a pessoa caia na gargalhada ou de que fique um climão constrangedor.

No geral, seres humanos riem de barulho de peido. Procurem um vídeo da Pixar chamado “Jurassic Fart” (http://www.youtube.com/watch?v=gLP4QkflB-o) e me digam se conseguem assistir até o final sem rir. Já no primeiro peido do Tiranossauro eu estava rolando no chão de rir. É natural achar graça de som ostensivo de peido. Justamente por isso é mais difícil disfarçar uma reação de riso do que uma reação a um mero cheiro ruim. Um cheiro ruim difuso dá margem para um comentário como “Nossa, que cheiro horrível que está vindo da rua!” e já limpa a tensão do ambiente, já um peido lambretão deixa bem claro que aquela desgraça saiu do seu cu para o mundo. Sim, a falta de educação é maior no caso de um lambretão, pois você nem ao menos se preocupou em esconder a autoria.

Digo isto porque existem artifícios para evitar o peido barulhento. Se você comprimir seu cu (não a bunda, o cu) em uma superfície macia, fofa, abafa o lambretão, que como já vimos em um Desfavor Explica (não lembro se era sobre cu ou peido), nada mais é do que uma banda batendo na outra. Daí ainda pode dar aquela soltadinha de leve, só de uma nota, para ver se vai sair barulhento ou não. Vai dizer que você não consegue dar um pré-peido de teste? Se não consegue, você é um cu frouxo, nem fale mais comigo porque eu te desprezo. Enfim, pessoas normais tomam precauções para evitar aquele barulho de bexiga de aniversário sendo esvaziada. Peidar barulhento é quase que escolha. Não controlamos o fedor, mas podemos ao menos tentar controlar o barulho. Se você não se preocupou em controlar o barulho, seu peido é duplamente humilhante: peidou barulhento deixando claro a autoria e é um sem noção por não ter tomado os cuidados para que isso não aconteça.

Peidar não é escolha, todo mundo peida. Porém se levantar e ir até o banheiro ou até um local afastado na hora de peidar é escolha e quem não o faz é mal educado. Se você peida ostensivamente próximo a outros seres humanos você é um porco, mal educado e sem consideração. Ciente de que estas são as regras de boa educação, quanto mais declarada fica a autoria do peido, mais desagradável a situação fica para o seu autor. Sem contar que em eventuais circunstâncias atípicas e emergenciais, um peido fedido pode ser resolvido com um mero riscar de fósforos, já o barulhento dificilmente poderá ser contornado depois que sair do cu. Ao peidar barulhento você diz à sociedade: “Eu sou tão filho da puta escoto que não me preocupei em dar vinte passos e me afastar de vocês para poupá-los disso”. Ao peidar fedido, deixa apenas esta dúvida pairando no ar.

Como eu já disse, você não controla o cheiro que o seu peido terá, mas você pode controlar o ruído. Ter a opção de controlar o ruído e ainda assim soltar um baita peido britadeira é de uma falta de educação e burrice sem fim. Além do constrangimento normal que um peido ruidoso provocaria por si só, tem ainda aquele constrangimento “eu não acredito que essa pessoa foi sem noção a ponto de fazer isso”. Denota uma falta de cuidado, uma ignorância das normas mais básicas de convivência em sociedade e, porque não, uma arrogância. Quem você pensa que é para ter a permissão de peidar ostensivamente onde quer? Apenas crianças e idosos desfrutam deste benefício, e por limitações físicas. Peidar barulhento mostra que você se acha acima das normas básicas de educação, fazendo ostensivamente algo socialmente condenável.

Apenas uma pessoa muito sem vergonha na cara pratica abertamente um ato considerado socialmente repulsivo e acha isso menos pior do que uma outra versão mais discreta, que não o incrimine inequivocamente. E se alguém está pensando em desvirtuar a discussão deste texto para tentar me convencer que peidar publicamente não é socialmente repulsivo, nem perca seu tempo, vá para o cantinho da vergonha com os cus frouxos e também não fale mais comigo. Quando cometemos um crime, uma infração, uma contravenção ou violamos de alguma forma alguma norma (ainda que de boa educação), é preciso ter em mente aquele efeito Dexter: primeira regra: não ser pego. As chances de não ser pego com o peido silencioso são muito maiores. O cheiro é constrangedor? Talvez. Mas e aquele barulho de frasco de xampu quase no final, é o que? Constrangedor e meio!

Francamente, imagine-se em uma reunião de trabalho, em um motel, em um ambiente fechado em silêncio, nas mais diversas situações formais e pensem nas duas opções: peido silencioso e fedido ou peido barulhento e sem cheiro. Vai dizer que o lambretão não é pior?

Para reclamar porque estava comendo quando leu esta texto, para dizer que para sua desgraça seus peidos são barulhentos e fedidos ou ainda para dizer que peidões devem tomar Luftal antes de sair de casa e não peidar: sally@desfavor.com


Comments (43)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Relatório de erros de ortografia

O texto a seguir será enviado para nossos editores: