Publiciotários: 2012 Style.
| Somir | Publiciotários | 15 comentários em Publiciotários: 2012 Style.

No ano em que um músico coreano alcançou um bilhão de visualizações no Youtube, espalhando seu hit grudento (em coreano) pelo mundo todo, com aparições de destaque até mesmo na mídia americana… ainda dá para dizer que a internet não é o veículo de mídia principal do mundo?
A minha resposta para essa pergunta é… Bom, primeiro falemos do vídeo. Vejam bem, não pretendo discutir aqui se a música em questão é boa ou não, é um hit pop. Qualidade ou inovação nunca foram exatamente fatores decisivos para definir se algo faz sucesso ou não. Posso afirmar que desde a primeira vez que vi o vídeo de Gangnan Style, do coreano Psy, percebi o potencial. Não apenas pela combinação de “grude” do refrão com o estilo bem humorado, mas também pela forma como eu acabava encontrando o vídeo relacionado com basicamente qualquer outro vídeo que assistia no Youtube.
E olha que eu sou nerd, me amarro em assistir documentários (independentes ou não), palestras científicas, biografias e coisas do gênero, raramente me aventurando para a parte de entretenimento do maior site de vídeos do mundo. Mesmo assim, nunca faltavam oportunidades para clicar no thumbnail do vídeo e adicionar mais uma visualização para a já inflacionada contagem oficial.
Isso sim me chamou muita atenção. A estratégia de divulgação “tradicional” de empurrar uma música ouvido abaixo do máximo de pessoas possíveis adaptada para o mundo conectado na internet. Acho que hoje em dia nem precisa mais explicar isso, mas, para não dizer que não falei: O mercado musical de “alta performance” depende demais de inserção paga nas grandes mídias. Música que faz sucesso quase sempre depende mais da saúde financeira de quem a promove do que da música em si.
Claro que intérpretes sexualmente atraentes para sua faixa de público alvo, adequação de letras e melodias para mantê-las familiares para a grande massa e vários outros truques comuns da área ainda tem seu efeito nessa equação de divulgação, mas nada vale mais do que DISTRIBUIÇÃO no mercado musical. Tem que ser fácil para qualquer um consumir o material divulgado. E quanto mais gente for exposta, melhor.
Há apenas dez anos atrás, trabalhar com essa distribuição ainda significava gastar quantias assombrosas de dinheiro, e apenas com artistas que já demonstrassem capacidade de retorno desse investimento, ou com aqueles “criados em laboratório” para fazer sucesso. Tinha que pagar rádios, televisões, revistas, jornais e tudo o mais para que seu artista aparecesse o máximo possível, considerado o seu potencial de retorno financeiro.
Mas nos dias atuais, a internet subverte essa ideia de gastos quase que desenfreados para tornar seu artista num ser midiático. O coreano em questão gozava de relativo sucesso em sua terra natal, também calcado no modelo mais tradicional de “pagar para aparecer”. Mas a explosão de sucesso com seu hit Gangnan Style veio sem “subornar” quase ninguém. Veio a partir de uma estratégia de emboscada numa mídia já muito bem estabelecida, mas ainda subutilizada (sim, em 2012!).
O que eu vou começar a escrever a partir de agora vai soar como total heresia se você achar que eu estou comparando a música, então lembre-se que estou falando apenas da parte de comunicação e divulgação, ok?
Os Beatles foram alçados ao estrelato mundial de forma muito parecida, nos anos 60. Eles conseguiram aparecer demais numa mídia subutilizada para o mercado fonográfico: A TV. Artistas já apareciam, Elvis já fazia sucesso, mas a emboscada publicitária dos Beatles na TV americana foi um divisor de águas na forma como o meio musical enxergava a caixinha bestificante instalada nas salas de estar da maioria das famílias americanas (e mais tarde, as famílias do mundo todo).
A apresentação dos Beatles num famoso programa local foi o estopim de uma febre que acometeu milhões de fãs e preparou o terreno para a monstruosidade midiática que a banda se tornou com o passar dos anos. O interesse em mostrar os Beatles era tão grande que simplesmente não poderia ser mero resultado de investimento financeiro de sua gravadora. Ninguém tinha dinheiro suficiente para “criar” os Beatles. A emboscada deu certo: A banda apareceu sem parar, começou a fazer filmes, clipes e a moldar todo o modelo de divulgação musical que durou até poucos anos atrás.
Com o passar do tempo, não tinha mais “bobo” na TV. Eles tinham noção do seu verdadeiro tamanho como máquina de divulgar e vender música. Tanto que logo depois dos quatro rapazes de Liverpool, poucos artistas chegaram perto de se tornarem fenômenos tão poderosos na mídia estabelecida. Quem “bateu na trave” foi Michael Jackson, que soube explorar uma mídia derivada da TV com a explosão dos canais especializados, nominalmente a MTV.
Mas já nessa era do videoclipe, começa um processo de fracionamento da atenção que nunca mais parou de se expandir. Logo depois de MJ, a MTV ajuda a tornar o Nirvana uma banda mundial. Seria ridiculamente caro dar essa exposição ao expoente do movimento grunge se valendo apenas da mídia mais estabelecida: A televisão tradicional, generalista. Mas a TV específica, a TV a cabo, essa ainda estava suficientemente “barata”.
Quando a internet começa a fazer alguma diferença no quadro geral das coisas, mais e mais artistas também se aproveitam dessa “era da inocência comercial” para ganhar projeção global. Só que aí o fracionamento da atenção já é um fator importante: Diversos estilos musicais ganham figuras de destaque, e mesmo assim elas vão se alternando. O movimento pop do final dos anos 90, por exemplo, viu vários grupos de garotos afeminados ascender e desaparecer em um curto espaço de tempo.
Mas mesmo assim, mesmo desde os Beatles, ainda sim tinha dinheiro correndo solto para conseguir a exposição necessária nas mídias mais bem estabelecidas. E é isso que começa a mudar com a atual “segunda era” da internet. A era das redes sociais. O fracionamento de atenção é tão grande que temos um fenômeno mundial por mês, às vezes até mais. E com tanta gente conectada, as mídias mais bem estabelecidas começam a convergir para dentro da grande rede. Existem inúmeros atalhos e truques para conseguir grande exposição sem gastar muito dinheiro, e as pessoas já perceberam isso.
E num ritmo mais lento, o mercado também. Grandes empresas adoram dizer que estão à frente do grande público nas tendências do gosto popular, mas um artista coreano basicamente desconhecido até seis meses atrás enfiou uma trolha enorme na maioria dos artistas pop alimentados por milhões de dólares de suas gravadoras. Psy roubou um ano de protagonismo mundial da indústria fonográfica, gastando não muito mais do que um artista regional faria.
Isso não vai passar despercebido. E é aqui que eu respondo a pergunta do primeiro parágrafo: Não, não dá mais para ignorar que a internet é o meio de comunicação principal do mundo que gasta dinheiro com entretenimento. Um tapa de um bilhão de visualizações na cara de uma indústria acostumada aos bilhões em faturamento deve causar o mesmo efeito que “profissionalizou” a distribuição musical no rádio, TV e TV fechada depois de seus grandes momentos.
O “truque” de distribuir música por vídeos relacionados no Youtube está escancarado para quem entende de comunicação. Isso VAI ser monetizado nos próximos anos (quem sabe até nos próximos meses). Internet virou mídia principal para bilhões de pessoas e já está claro para todo mundo que presta atenção nessa área.
Uma das piadas sobre o fim do mundo que deveria ter ocorrido há alguns dias atrás é que Nostradamus “previu” a visualização de número um bilhão do vídeo do Psy. E que isso seria sinal de uma grande mudança no mundo. Uma potencialmente negativa, porque Nostradamus era um pessimista do caralho… Talvez isso tenha um fundo de verdade…
Já faz algum tempo que os grandes conglomerados de mídia e comunicação em geral estão ensaiando cobrar pelo conteúdo da internet, num modelo meio parecido com a da TV a cabo, separando os sites em pacotes e cobrando pelo acesso específico. Se minha visão futuróloga das consequências do vídeo mais famoso do ano de 2012 se confirmarem, estamos vivenciando a era da profissionalização da internet. Os líderes de acesso do Youtube já são milionários, normalmente se valendo de uma câmera no tripé e uma ideia copiada na cabeça.
Bacana para eles, mas isso não deixa de ser um sintoma da era onde se “amarrava cachorro com linguiça” na internet. As barreiras de entrada para se tornar um sucesso de público sempre foram altíssimas, com exceção dos breves momentos onde uma mídia está em crescimento. E esses momentos sempre acabam. Teve gente que esteve viva para ver o mundo antes e depois do rádio, teve gente que esteve viva para ver o mundo antes e depois da TV, e nós estamos aqui para testemunhar a ascensão final da internet como mídia dominante.
Os pioneiros da grande rede estão chegando na terceira idade, a era do idealismo já acabou faz tempo. Por incrível que pareça, é cada vez mais caro ficar famoso na grande rede, por mais que você enxergue “virais” por todos os lados. O fracionamento da atenção já chegou ao ponto onde é NORMAL conseguir milhões de visualizações num vídeo de Youtube, sendo inclusive modelo de negócio estabelecido para vários profissionais que ganham a vida assim. Quando se torna fácil conseguir um determinado número de pessoas para apreciar sua ideia, quer dizer que isso não vale mais muito dinheiro.
Já passou da hora de colocar em perspectiva essa coisa de vídeo viral e “sucesso de internet”, não estamos mais na mesma conjuntura do mercado de mídia. As apostas estão bem maiores, o custo para fazer um novo Gangnam Style só vão subir com o passar do tempo. Não deveria surpreender mais, mas o funcionamento das mídias e a mecânica para distribuir conteúdo são mais ou menos cíclicos. E quem não perceber isso logo corre o risco de tentar entrar nesse mercado sem a noção do tamanho atual da internet.
O dinheiro gasto em publicidade e divulgação em geral na TV hoje em dia já tem que começar a vazar para a internet. A TV JÁ é o novo rádio. Quem aproveitar a oportunidade mais rápido vai ganhar mais.
Até, é claro, surgir o novo grande meio de comunicação de massa.
É por texto deste tipo que não deixo de ler o Desfavor.
Bom ponto de vista, mas eu seria mais pessimista. A saturação de um modelo não é o pior que pode acontecer a internet. Ela é completamente diferente do rádio e tv.
É, realmente, neste ponto que o Somir tocou no texto não há que se desconsiderar. A internet hoje é sim o maior meio de comunicação em massa, ela tem voz, e não deve ser ignorada. Vejamos também o exemplo (e poder) das redes sociais: lembram no começo do ano sobre o suposto estupro na casa do bbb? Há também outros exemplos menores como o caso do julgamento do mensalão ou mesmo os feitos heróicos do papa homofóbico mas enfim… é um fato! Internet hoje é uma arma, e violenta se não souber usar…
Ae, Tomir.
Aprenda maquiagem para homens com este video do Rafinha bastos!
https://www.youtube.com/watch?v=46VeA1BuXCA
hahahahahaha
O vídeo é sensacional! Eu nunca tinha visto tanta coreana bonita junta. O garoto do início é fantástico. E o Psy mesmo sendo gordinho tem um molejo de dar inveja, fora que dança muito e não é viado.
Também concordo com o Marciel, pode ter coisas muito ruins vindo por aí.
Uma das que podem ser questão de tempo é o fim da neutralidade da internet. Atualmente os provedores devem tratar todas as transferências por igual, sem diferenciar quem está baixando um vídeo pornô amador de quem está acessando o site do governo, mas eles poderiam ganhar muito dinheiro se pudessem dar preferências. Já tentaram fazer isso, provavelmente vão tentar de novo. Seria o caso dos provedores serem pagos para quem tentar acessar o site “X” receber tratamento vip em relação a quem tenta acessar o site “Z”, o portal G1 abrir em 5 segundos e o Desfavor levar mais de 5 minutos…
Devem existir muitas outras maneiras de prejudicar/diminuir/matar a concorrência, imagino que os que lucram com atenção, visitas e cliques estejam estudando maneiras de fazer isso.
O Somir usou o rádio como exemplo de mídia ultrapassada… mas até hoje é uma briga para quem tenta criar uma rádio pirata/comunitária, são tratados como criminosos, a mídia faz propaganda contra eles e não raro recebem visitas nada amigáveis das autoridades e da polícia. É claro que incomodam: cada pessoa ouvindo uma rádio dessas é uma a menos para ouvir as rádios “oficiais” ou assistir TV.
Essa consciência da internet como principal mídia pode trazer também isso, maior necessidade de controle e maior necessidade de tirar a concorrência do caminho…
A questão da “preferencialidade” que pode ser ou não o “fim” da neutralidade de rede é o menor dos males.
No que diz respeito aos conglomerados que ganham em cima da parada dos direitos autorais, eles até fazem ocasionalmente a sua “caça as bruxas”, mas não vão sair procurando a torto e a direito até porque é uma coisa que daria muito trabalho e implicaria em ônus financeiro seja com o setor jurídico, seja com a área técnica.
Eu diria que os políticos, em especial os lotados nos governos pelo mundo afora, tem uma preocupação maior com a internet em si do que as corporações. Além disso, tem todo um aparato burocrático a seu favor que pode ser usado sem problemas no controle de material pela rede afora.
É fato que tanto os políticos quanto os grupos no alto das corporações tem grande preocupação com a questão da imagem, mas as semelhanças param por ai, uma vez que no caso dos políticos, a preocupação maior é com a governabilidade enquanto que no caso das empresas a preocupação maior é com os resultados.
A tendência é que a ação das empresas seja no sentido de tentar manter uma relação amigável com o seu eventual consumidor, enquanto que o governo por seu lado tenda a utilizar de sua influência no meio para tentar controlar e reprimir a divulgação daquilo que porventura possa colocar em risco a governabilidade ou mesmo a posição dos grupos políticos hegemônicos no jogo do poder.
Escala de Preocupação: Empresas 1 – Governo 2 – Empresas e Governo 3.
Esse sujeito coreano lembra um certo proctologista que a Sally conhece…
Você acha?
Se for quem eu penso, o proctologista precisa perder um bom peso. Alem do mais não consigo imaginar ele dançando…
Nem eu
hahahaha é que o coreano é tosco e gordo, então…
Olhando por esse lado… sim
Para a profissionalização da internet, ainda se tem a valência de um ponto importante, que é a estratégia.
Há a discussão de além de se ter a cobrança ainda se dar o controle a nível local dos conteúdos propagados na rede, o que tende a redundar em uma liberdade mais cerceada a nível político, com menos abertura para posicionamentos que se contraponham ao status quo.
Acho até mais provável que essa segmentação “por país” saia do papel do que a segmentação e o fracionamento da cobrança por conteúdo. Claro, por um lado tem as empresas que trabalham principalmente com direitos autorais, mais o destaque vem sendo as empresas de telecomunicações que dão estrutura a propagação tais materiais.
A probabilidade de que tenhamos versões mini-mim do “grande firewall chinês” em um futuro próximo em nossa internet é bem alto, o que ao fim tende a jogar muita gente hoje na rede “formal” na Deep Web, correndo mais riscos em nome de uma maior “liberdade de expressão”, mas correndo riscos também com isso.
Falhei… É “mas o destaque…” Desatenção do caralho.