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Sally Surtada: Interesse.

| Sally | | 100 comentários em Sally Surtada: Interesse.

Dentre as muitas coisas nefastas e/ou medíocres que homens fazem e que tem o poder de minar um relacionamento, hoje quero falar da incapacidade de olhar para sua parceira e prestar a atenção que ela prestaria nele. Mulheres conhecem bem seus homens, participam e tem ciência dos seus projetos, sabem do seu jeito de pensar. Já homem… pffff! Homem se assusta com muitas reações da sua mulher, que ele julga ser “imprevisível”, que ele nunca sabe o que esperar, pelo simples fato de não se dar ao trabalho de conhece-la.

Até no campo profissional o desleixo com a parceira contrasta com o cuidado que a mulher tem com o parceiro. Pode reparar: uma esposa de um advogado certamente sabe algo sobre leis, mas o marido de uma advogada provavelmente não sabe porra nenhuma. Isso vale para qualquer profissão. Uma esposa de médico acaba aprendendo algo por osmose, mas o marido de uma médica pode nem saber colocar um band-aid. Porque? Porque dá trabalho se interessar pelo projeto dos outros. Ouvir dá trabalho. Compreender o modo de pensar de outra pessoa dá trabalho. Trabalho que é bom Zé Ruela não quer.

Se um homem escreve um blog, pode contar que a mulher dele (ou que estiver interessada nele) vai ler aquela merda todos os dias, mesmo que seja sobre um assunto que não lhe seja tão familiar. Se for o inverso, se a mulher for autora do blog, terá sorte se de vez em quando o sujeito passar lá para dar uma conferida por alto. Universo Umbigo. Porque homem é assim. Mas o pior não é ser assim, o pior é nos ofender com a pior desculpa do universo: “ando muito ocupado, estou sem tempo”. É, porque nós temos tempo de sobra, ninguém aqui trabalha, cuida da casa, se exercita, pinta o cabelo, depila e faz o caralho a quatro. A gente só dá uma olhada nos projetos e nos planos deles por SOBRA de tempo!

“Estou sem tempo” quer dizer “Não me interessa o suficiente para que eu abra mão de algo inserido na minha rotina para poder me aprofundar no assunto”, que por sua vez quer dizer “Seus planos e projetos me são indiferentes, se vira aí”. Dificilmente você vê uma mulher se portar assim com um homem, muito pelo contrário, o clichê é super verdadeiro: por trás de um grande homem tem sempre uma grande mulher. Uma mulher que o aconselha nos momentos de dúvida profissional, que o ajuda a antever puxada de tapete, que lhe sugere estratégias, que o acalma quando ele está nervoso e que o incentiva quando ele precisa de um gás. Cadê que eles fazem isso de volta pela gente? NÃO FAZEM.

Pior do que não fazer é não fazer e super achar que faz. Porque tem disso, os filhos da puta acham que fazem. Só porque uma ou duas vezes na vida se dignaram a OUVIR a mulher chorando e reclamando de algo (muitas vezes apenas dando conselhos genéricos do tipo “deixa isso pra lá”) eles se acham o “porto seguro” de suas esposas e namoradas, o grande pilar de sustentação da relação. Porque não vão tomar no cu três vezes? Sério mesmo, tem muito homem que nem ao menos sabe a ÁREA em que sua esposa ou namorada trabalha, sabe a profissão (advogada, engenheira, médica) mas não sabe exatamente a área. É o cúmulo do desaforo e do desinteresse. Duvido que uma mulher não tenha na ponta da língua o que seu parceiro faz. Já o homem… “sei lá, ela trabalha com uns troços aí de construir casa, não sei direito o que é”.

Uma mulher, espontaneamente, ajuda o parceiro a se aprimorar profissionalmente. Se vê que ele está saindo de casa com uma roupa cagada, orienta. Vocês acham que a gente nasce sabendo como um homem tem que se vestir? Não Senhores! A gente se interessa, procura saber, justamente para ajudar o parceiro! Uma mulher pensa no parceiro dezenas de vezes por dia e pensa em como pode ajuda-lo a melhorar, a se aprimorar. Já homem pensa em sexo, carros, sexo, futebol, sexo e sexo. E o sexo nem é com sua parceira.

Se uma mulher percebe que seu parceiro comete equívocos estratégicos na sua jornada profissional, ela o aconselha. Mesmo que eventualmente erre, ela gasta tempo e cérebro tentando ajuda. Porque ela OLHA para o outro, percebe o outro. Homem não, homem só dá conselho se pedir (e quem erra não pede porque não sabe que está errando, se não, não errava) e mesmo assim, não parece gostar muito de se inteirar dos planos da pessoa supostamente mais importante de sua vida.

Um exemplo fácil: converse com escritores. Veja a discrepância quando a escritora é a mulher e quando é o homem. Toda esposa de escritor que eu conheço lê seus livros antes que eles sejam lançados e faz comentários e sugestões, por mais desinteressante que lhe seja o tema escrito. Já o inverso é bem mais difícil. Ou o homem não lê declaradamente (isso quando não verbaliza seu desinteresse pelo assunto) ou então passa os olhos rápido e logo volta a focar na SUA vida, nos SEUS interesses. Se o livro estiver bacaninha, ele manda um joinha. Cadê que ele quebra a cabeça para ajudar a aprimorar aquilo mais ainda? Nem pensar, ele tem seu umbigo para cuidar. Eles são ocupados, eles não tem muito tempo. E eles tem mais é que se foder, desculpem a sinceridade.

Não me admira que até hoje homens sejam mais bem sucedidos no mercado de trabalho, afinal, eles tem um backup emocional, uma pessoa que os ajuda e os guia em momentos difíceis, uma pessoa sempre pronta para trocar opinião (com argumentos e não com palavras monossilábicas ou com evasivas como “tanto faz”, “pode ser”, “bacana” ou “o que você achar melhor”). Verdade verdadeira? O homem só veste a camisa do projeto da sua mulher quando ele também participa do projeto, se não, dá uma rápida pincelada ou um passar de olhos e se desinteressa. Se as mulheres tivessem o backup que os homens tem, dariam de mil a zero neles no mercado de trabalho.

Vamos fazer um exercício imaginativo. Vamos supor que Somir e eu casamos (não um com o outro, mas sim com pessoas diferentes). O que a esposa do Somir pensaria ao ler o Desfavor? Além de me achar uma piranha filha da puta (suuuper normal) ela pensaria “Olha! Um blog onde eu tenho a oportunidade de conhecer meu marido melhor, onde ele escreve o que ele pensa! Que legal, vou ler tudo!”. O que um suposto marido meu pensaria? “Bacaninha” (na melhor das hipóteses), leria o primeiro parágrafo de uma postagem por semana e depois iria cuidar da sua vida. Eu estou tão convicta disso que coloco meu discurso em prática e me dou ao luxo de escrever um manual de instruções (vulgo Sally Surtada) na cara de pau, sabe porque? Porque ninguém nunca vai ler. Mulher investe no homem, em conhecer o homem, em compreender o homem. O homem investe nele mesmo e, no máximo, no seu carro.

Uma mulher sente interesse em um assunto pelo simples fato dele ser importante para seu homem. Você vê mulheres acompanhando seus namorados e maridos em jogos de futebol, feirão do automóvel, pesca ou qualquer outro passeio CAGADO (e põe cagado nisso) que ele queira fazer. Se o cara gosta de um autor, a mulher vai lá e lê um livro do autor. Se gosta muito de um filme, a mulher vai lá e vê o filme. Sabe porque? Não é para puxar o saco ou agradar, é porque ela tem interesse em conhecer a pessoa melhor, para compreendê-la e construir um relacionamento profundo, afinal, ALGUÉM tem que fazer isso.

O homem não. O homem mal sabe o filme favorito da sua mulher. Aposto que o Somir não sabe o meu e muito leitor que nunca nem viu meus cornos sabe. SE, eu disse SE o gosto do homem bater com o da mulher, pode até ser que o sujeito se aprofunde, mas se não bater, nem por um caralho ele vai se interessar em estudar, se aprofundar e tentar compreender porque a mulher gosta tanto daquilo. As coisas que você gosta dizem muito sobre o que você é e a que você veio ao mundo. Mas não, o homem não se dá a esse trabalho, ele não faz questão de te conhecer melhor. O nome e aquelas informações superficiais e periféricas básicas já estão de bom tamanho.

Daí o que acontece? Este mesmo filho da puta que não se dá ao trabalho de te conhecer melhor erra o tempo todo com você: faz surpresas que você não gosta, faz coisas que você abomina, cruza linhas éticas que você condena etc, etc. O resultado? Brigas. O discurso? “Eu hein, que mulher maluca, se estressou toda só porque eu fiz isso, isso e aquilo”. Pois é, Filho. Se você se desse ao trabalho de CONHECER a pessoa que está ao seu lado, saberia que o “isso, isso e aquilo”, dentro do nosso contexto, é algo reprovável, condenável e horrível. Mas não. NÃÃÃÃÃO! Eles são a referência mundial única e impecável de bom senso e bom gosto, vão se dar ao trabalho de conhecer os detalhes da personalidade de outra pessoa para que? A mulherada aceita essa relação CAGADA E DESIGUAL, onde ela conhece o homem como a palma da mão e o homem não sabe quase nada dela, então, eles continuam se portando assim.

Você, Amigo Cueca, ponha a mão no coração e me diga: você observa sua parceira? Do que ela gosta e do que ela não gosta? O mais importante: PORQUE ela não gosta? Sabendo e compreendendo o PORQUE, você consegue depreender diversas outras situações que a aborreceriam. Eu sei, eu sei, essa cabecinha cheia de testosterona não lida bem com abstrações, vamos levar para o plano concreto para vocês me compreendam, seus Cabeças de Estrume. Usemos um personagem ficcional chamado Alicate como exemplo.

Alicate vai ao cinema com a sua namorada. Alicate fica tagarelando no meio do filme. A namorada de Alicate lhe pede para calar a porra da boca. Alicate cala a porra da boca tal qual um cachorro atendendo a um comando. Nunca mais se toca no assunto. Se Alicate tivesse perguntado porque ela se irritou tanto com isso, ela poderia ter explicado que tem muita dificuldade de concentração e que por isso quando está executando uma tarefa que demande concentração precisa de silêncio absoluto. Com isso, Alicate depreenderia que cada vez que sua namorada estivesse estudando, trabalhando, escrevendo, calculando ou fazendo qualquer merda que demande concentração, seria de bom tom manter o silêncio no ambiente.

Mas não. Alicate apenas cala a boca e não se preocupa em conhecê-la melhor. Resultado: paunocuza a infeliz errando sistematicamente dentro da mesma categoria, incomodando-a em vários momentos em que ela precisa se concentrar, gerando inúmeros desgastes desnecessários por sua total falta de interesse. E ainda pensará: “se ela quer que eu fique em silêncio, ela que me peça e explique porque”. É assim, eles querem um manual de instruções pronto e mastigado, nem pensar em se interessar, em perguntar, em fazer uma porra de um esforço para conhecer melhor quem está a seu lado por iniciativa própria. Vai que vai tocando, enquanto der deu. É por isso que tem esses caralhos de casamento que duram seis meses, um anos, dois anos. Neguinho não se preocupa em olhar para o outro e conhece-lo.

Você sabe a comida favorita da sua namorada? Você sabe o filme favorito da sua esposa? Você sabe qual é o maior medo da sua parceira? Você sabe o que ela não suporta comer? Você sabe qual foi o pior trauma de infância dela? “Mas Sally, para que serve esse tipo de enquete?”. Não é enquete, ANIMAL, é a junção de todas estas pequenas coisas (e de mais outro milhão de pequenas coisas) que fazem a pessoa ser o que ela é hoje. E nem sempre a pessoa tem total consciência do que é e do porque é assim. Coisas que muitas vezes a própria pessoa não consegue perceber sozinha.

Algumas vezes é bem vindo que outra pessoa, vendo de fora, te ajude a perceber e entender alguns mecanismos de funcionamento, te ajude a se conhecer melhor. Isso se chama acrescer, uma pessoa que te ajuda a se conhecer melhor te acrescenta. Mas não, homem não tem tempo. Homem trabalha muito. Homem só acrescenta uma coisa à mulher: porra. Acrescer na esfera emocional é “besteira”, “frescura” e “coisa de quem está querendo arrumar motivo para brigar”. Olha, tem homem que está com a mesma mulher faz anos e nem ao menos sabe qual é a posição sexual favorita dela. É muito triste.

Você sabe o que faz a sua mulher chorar? Foda-se se você concorda ou não. Foda-se se ela chora quando vê uma criança passando fome ou uma centopeia manca, você sabe o que a comove, o que a faz chorar? E você sabe o porque? Olha, se você está respondendo “não” sucessivamente a várias das minhas proposições, espero que ao menos tenha a decência de estar sentindo uma puta vergonha junto. Qual é o seu problema? Você se meteu em um relacionamento porque? Para ter alguém fixo para fazer sexo? Isso não é relacionamento, se você não conhece a pessoa, como caralhos pode dizer que está apaixonado por ela? O que a pessoa te mostra é a ponta do iceberg, cabe a você desvendar o resto. Gente não vem com manual de instruções, exceto eu, vide todos os Sally Surtada que nunca ninguém que se relacione comigo vai se dar ao trabalho de ler.

O que eles não percebem, é que essa moeda tem dois lados. Se por um lado é um pé no saco uma pessoa que não consegue te ver, te perceber, te conhecer como a palma da sua mão, por outro eles também podem se foder redondamente nessa equação de serem conhecidos sem conhecer. Uma mulher esperta, que conhece bem seu homem a ponto de olhar para a cara dele e já antever o que ele está pensando, além de levar seu homem pelo nariz se tiver jeitinho, também faz muito mais falta do que um idiota que só serve para te acompanhar no cinema. Na hora do vamos ver, do pé na bunda, a mulher encontra outro igual a esse em qualquer esquina. Já o homem vai sentir muita falta de alguém que olhe para ele, que o conheça, que o aconselhe, pois por mais que encontre outra mulher disposta a isso, conhecer alguém demanda tempo, anos eu diria.

É por essas e outras que tá assim óóó de homem que, quando a relação termina e se depara com o choque de realidade que é ficar sem aquela mulher companheira que o conhece bem, surta e quer voltar para a mulher feito um louco. Não é fácil andar sozinho quando você se acostuma a alguém que te dá um ombro amigo para você se escorar nos momentos difíceis. Nós mulheres marchamos sozinhas por falta de escolha, salvo honrosas exceções (inclusive vislumbro algumas exceções aqui mesmo no Desfavor). Para a gente, tanto faz como tanto fez, não dói voltar a andar sozinhas, porque de verdade, nunca estivemos verdadeiramente acompanhadas.

Fica meu pedido a você, Amigo Cueca Impopular, que só por estar aqui já presumo que tenha algum diferencial: OLHE para sua parceira. Tome tempo e dedique atenção para CONHECER sua parceira. Sim, isto será um esforço, mas tem que ser feito. Não presuma as coisas, PERGUNTE e ouça a explicação. Se não entender, pergunte novamente. E se não entender mais uma vez, diga “não estou entendendo, me explique como se eu fosse uma criança de cinco anos” (sim, eu dizia isso ao Somir). Apesar desse imediatismo cagado em que vivemos, tudo nessa vida se consegue com base em ESTUDO. ESTUDE a pessoa que está ao seu lado, e só depois disso se sinta no direito de reclamar ou cobrar algo, porque até então, você não fez a sua parte.

Tirem um pouco a porra do peso das nossas costas, caralho! Nós mulheres já fizemos a nossa parte e tiramos um pouco do peso de vocês das suas costas, entrando no mercado de trabalho e nos desdobrando para ajudar na renda familiar. Que tal devolver a gentileza e investir um pouco no relacionamento? Façam esse favor, que na verdade nem sequer é um favor, deveria ser algo inerente a um relacionamento. Enquanto você não conhecer bem a sua mulher, não participar dos projetos dela na mesma intensidade que ela participa dos seus, não compreender seus mecanismos de funcionamento e não ouvir da boca dela respostas para os seus achismos, desculpe, mas você não está em um relacionamento de verdade. Na melhor das hipóteses está passando o tempo com alguém e na pior está perdendo tempo com alguém.

Para me pedir para parar de colocar minhocas na cabeça da sua namorada, para reforçar aquela frase de sempre e dizer que eu vou morrer encalhada ou ainda para parabenizar o Somir por ter dividido o mesmo teto com uma pessoa pau no cu feito eu: sally@desfavor.com

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