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Ele disse, ela disse: Não é você, sou eu.

| Desfavor | | 83 comentários em Ele disse, ela disse: Não é você, sou eu.

eded-fora

Relacionamentos acabam, alguns numa boa, alguns com uma boa dose de drama, mas na maioria dos casos, acabam com uma das partes contrariada. É aqui que entra a discussão desta coluna: Na hora do fora. Os impopulares não precisam se sentir rejeitados e podem opinar livremente.

Tema de hoje: É menos pior levar ou dar um fora?

SOMIR

Sei que minha opinião vai contra a da maioria, mas essas costumam ser as melhores opiniões. Pra mim é pior ter que dar um fora. Pode até parecer inconsistência com minha habitual síndrome de universo umbigo, mas por incrível que pareça, rejeitar me incomoda mais do que ser rejeitado.

Ver a cara feia do término pelos olhos de outra pessoa adiciona uma… sobriedade… desconcertante ao processo. Quando você está do lado que leva o pé na bunda, o momento vem acompanhado por um estranhamento da realidade, uma espécie de defesa inconsciente da pancada que seu ego está levando. Pode-se traçar um paralelo com os estágios da perda, pois não deixa de ser uma.

Quando é você que apanha, sua mente vai te guiando pelo processo com diversas artimanhas para aliviar o impacto do golpe. Até que eventualmente, mesmo com uma boa dose de fuga, a situação acaba sendo aceitável. São várias sensações que mascaram a sensação ruim de um término. Agora, quando você está do lado que entra com o pé…

Pelo menos em tese, quem quer terminar tem uma motivação racional. E não vai achando que todas elas são inapeláveis… Às vezes você quer terminar por motivos egoístas ou fúteis. Direito de cada um, claro, mas ver sua vontade refletindo negativamente outro ser humano dificilmente é uma experiência agradável. No caso ESPECÍFICO da outra pessoa ter te sacaneado de forma indiscutível, pode até ser mais fácil, mas convenhamos, a não ser que você se relacione com gente muito podre, dificilmente seus términos virão acompanhados de justificativa inabalável.

Para quem está achando que terminar SEMPRE quer dizer que a outra pessoa te deu motivos sólidos a ponto de não ser mais sequer escolha sua, mas dela, acorde para a realidade. Raramente é o caso. Todos temos o sagrado direito de buscar o melhor para nossas vidas, mas isso não te exime de nenhuma responsabilidade sobre quem “ficou pelo caminho”. É comum ignorar os fatos e acreditar que está 100% certo e a outra pessoa 100% errada. Mas se você não se rende a auto-enganação com todas suas forças e pelo menos TENTA pensar um pouco, vai ver que as coisas não são bem assim: Terminamos com pessoas ruins e com pessoas boas. Não era o momento, você achou que podia mais, sei lá… Mas não tente se enganar achando que neste caso só existem traidores e escrotos do outros lado. Ou pelo menos não espere que eu vá considerar ignorância seletiva como argumento contrário…
Você acaba enxergando tudo isso com pouca ou nenhuma “proteção inconsciente”. É tudo ao vivo e a cores, é assumir a responsabilidade pela decisão, decisão que raramente temos certeza absoluta que é a melhor. Mas você é a parte que está terminando, se vacilar, só vai piorar as coisas. E quando falo de vivenciar o desgosto alheio com grande nitidez, não é argumento sentimentalóide, viemos “de fábrica” com a capacidade de empatia. Faz parte do pacote básico da maioria dos humanos. É muito provável que a tristeza ou revolta de quem levou o fora reflita em você.

E tudo fica pior se você tiver aquela mania “Jack do Lost” de querer resolver tudo. O impulso de consertar as coisas tende a quebrar ainda mais o momento de um fora… Uma palavra errada pode virar esperança, raiva ou desespero na outra pessoa. Todas situações ainda mais difíceis de lidar. Quem leva o fora está perdoado de qualquer “falha” no momento. Presume-se que a pessoa vai falar merda, que vai barganhar, que vai tentar reverter, que vai reagir mal em geral… Mas quem está dando o fora tem pouca margem para errar sob o risco de alongar o processo ou mesmo não conseguir o resultado desejado. Sim, dá para dar fora e a outra pessoa não entender. Vai dizer que nunca vivenciou ou ouviu falar disso? Tem gente que não se toca, tem gente que se faz de sonsa, tem gente que simplesmente te ignora… Foras podem se tornar um processo longo e frustrante. Levar fora é uma cacetada só, e se der merda, culpa-se a outra pessoa. Simples assim.

E olha que eu estou considerando até agora que quem está levando o fora não pirou… Porque isso acontece. E quando a pessoa resolve encarnar em você, prepare seu saco. E olha que encheção de saco é um dos resultados mais amenos possíveis, tem gente que perde a vida depois de apresentar seu pé para a bunda do(a) ex. Quem leva o fora, por mais que não goste no momento, pode ficar bem mais seguro que a outra pessoa não vai voltar para “assombrar” seu futuro. Levar o fora é mais certeza do fim de uma relação do que dar o fora.

E isso é importante porque quem dá o fora corre o risco de se arrepender. Porque isso acontece, pessoas se arrependem de dar o fora. E aí é uma batalha “morro acima” para reverter a situação. Se a outra pessoa já usou a relativa certeza do fim da relação para seguir em frente, quem se arrependeu tende a passar pelas duas fases: A de dar o fora e de tomar o fora. Vai dizer que não é gratificante dizer um “não” para quem te rejeitou anteriormente?

E não podemos esquecer da reação pública. Quem dá o fora fica visto como monstro insensível, muito mais se quem der o fora for homem, mas mesmo assim, é comum que as pessoas se bandeiem para o lado de quem “perdeu”. Vai ter de lidar com o fim da relação e gente te enchendo o saco porque você quis terminar a relação. Isso quando a parte chutada não une as tropas da paunocuzação e te transforma em inimigo público número um.

E até na esteira dessa reação possível (e provável), quem dá o fora acaba com o pinto pequeno ou frigidez, dependendo do sexo. Uma reação comum de quem se sente rejeitado é desdenhar de quem o fez. Se tinha alguma foto comprometedora em posse de quem você deu o fora, ela ganha uma probabilidade enorme de aparecer na internet. E ai de quem reprimir comportamento vingativo de pessoa rejeitada, é socialmente aceitável bater em quem dá fora. Quem deu o fora fica “proibido” de reagir.

Se você quer saber exatamente com quem estava dormindo, dê um fora nessa pessoa. E além do alívio do fim de uma relação que você não queria mais manter, a partir daí não tem mais nada de positivo para acontecer: Ou você descobre que a pessoa era uma merda mesmo com sua reação negativa, ou a postura ética e digna dessa pessoa te deixa ainda pior… é sempre ruim causar tristeza em quem a gente respeita.

Parece que sempre fica algo mal resolvido depois de dar um fora. Levar um fora é uma merda, não discuto isso, mas pelo menos é um fim. Só se arrasta se VOCÊ quiser arrastar. A vontade de outra pessoa é sempre alheia à nossa capacidade de controle, não tem como evitar levar um fora de quem quer realmente dar um fora. Estar do lado “terminado” dá números finais à fatura. E mesmo que pouco, ainda é uma forma de controlar a situação. Ei, estamos discutindo o que menos pior, não?

Para dizer que gostou muito do texto, mas agora está pensando em ler outros; para dizer que não sou eu, e sim as merdas que eu escrevo; ou mesmo para afirmar que empatia é para os fracos: somir@desfavor.com

SALLY

O que é pior: levar um fora de alguém ou dar um fora em alguém?

Evidentemente é muito pior LEVAR um fora de alguém. Pelo simples fato de que dando o fora você tem o domínio da situação: se quiser dá, se não quiser não dá, a escolha é sua. Levando um fora você não escolhe, você tem que se submeter à vontade do outro, corresponda ela ou não à sua vontade. A coisa pode ser colocada da seguinte forma: que é melhor, fazer o que você quer ou fazer o que o outro quer?

Eu sei que muitas vezes pode ser duro dar um fora em alguém, se sentir responsável de alguma forma pelo sofrimento alheio não é fácil, mas porra, melhor o sofrimento alheio do que o nosso, não? Além disso, é meio narcisista esse sofrimento extremo por dar um fora em alguém e pensar no quanto está fazendo a pessoa sofrer: ninguém é inesquecível, você não é tão importante e a outra pessoa vai te superar com mais facilidade do que você imagina. Pois é, você não é a última bolacha do pacote.

Sem contar que algumas vezes é extremamente divertido dar um fora em alguém que o fez por merecer. Nem sempre o momento do fora é um inocente sendo magoado por uma pessoa que se enganou. Muitas vezes o fora tem caráter pedagógico que faz muito bem a ambas as partes. Em qualquer dos casos, dar um fora em alguém não é nada tão grave para que a pessoa pose de mártir dizendo que prefere sofrer do que fazer sofrer.

Todo mundo um dia vai levar um fora e todo mundo vai se recuperar. Fora não mata, ao menos não se você for uma pessoa com sanidade mental. Ciente disso, dar um fora não tem que gerar grandes culpas ou remorsos. Culpa tem que sentir quem fica com outra pessoa por pena, enganando-a, fazendo-a crer que ainda gosta dela e que ainda quer investir em um futuro a dois. Isso sim é escroto: fazer a pessoa perder tempo.

Quem dá o fora tem o privilégio de poder escolher a melhor época para fazê-lo, o dia e a hora que mais lhe convém. Também pode escolher o modo e o local onde isso vai ser feito e pode conduzir a situação da forma que achar mais favorável. Tem coisa mais agradável do que ter o controle da situação e fazer tudo do seu jeito no seu tempo? Sem contar a questão principal: rejeição dói, é muito mais fácil ser quem rejeita do que quem é rejeitado. O processo de cura e de superação costuma ser mais rápido para a pessoa da qual partiu o término.

Dar um fora implica em UM mau momento: aquele onde você olha no olho da pessoa e diz que não quer mais. Só isso. Depois é vida que segue, sua decisão está tomada, hora de começar uma vida nova. Levar um fora implica em uma infinidade de maus momentos: negação, revolta, tristeza, tentar uma reconquista, se perguntar onde errou, chorar, sentir falta, sentir ciúmes, etc. São semanas de agonia por uma situação que não está no seu controle e que você não pode fazer nada para mudar.

Quando você decide dar um fora em alguém, você tem tempo para se preparar e se quiser, para preparar a pessoa também. Ensaia o que vai dizer, pensa na melhor forma, se programa. Quando você leva um fora, é pego de surpresa, não consegue pensar direito, argumentar direito e muitas vezes mal consegue compreender direito o que aconteceu. É muito melhor agir quando você já amadureceu a ideia e planejou a melhor forma de coloca-la em prática. Nada como poder se preparar para um evento, de modo a passar por ele com a maior serenidade possível.

Se você decide dar um fora em alguém ainda tem a faculdade de se arrepender. Nem sempre dá certo, mas muitas vezes dá. É possível se retratar, se desculpar e desfazer o fora. A taxa de sucesso é muito maior do que a da pessoa que leva um fora e tenta reverter o quadro. Quem leva um fora tem como única esperança ficar calado, ouvir em silencio e nas semanas seguintes mostrar que está levando uma vida digna (com compostura, sem ostentação). Se pedir para voltar, já era. Sem contar que quem dá um fora tem o consolo de pensar que as coisas estão como estão por escolha própria.

Dar um fora pressupõe algum erro alheio que fez a relação desandar. Levar um fora pressupõe algum erro seu que fez a relação desandar. Nem sempre é isso, mas é essa a sensação que fica. A sensação de fracasso e responsabilidade é muito maior recebendo um fora do que dando e por consequência, sofre-se mais, já que além da dor de ficar sem a pessoa amada, tem o peso dos próprios erros que fizeram com que ela se afaste de você.

Até socialmente falando, quem dá um fora sai por cima e quem leva um fora é um rejeitado, incompetente ou até mesmo um coitado digno de pena. As pessoas tem uma tara estranha, ao descobrirem que um relacionamento terminou, costumam perguntar quem terminou, meio que para estabelecer papéis: quem leva um pé na bunda vira o chutado, o rejeitado, o coitado. Não há muita dignidade social para quem levou um fora, há até quem presuma que algo de errado tem com aquela pessoa para ter sido chutada, coisa que nem sempre é verdade, mas acontece.

Quem termina é digno, quem leva um fora é digno de pena. É inegável, ter a decisão nas mãos confere um poder fictício e é muito melhor ser quem detém esse poder do que ser aquele que se sujeita ao poder alheio. Quem termina dá as cartas, o faz no seu tempo, da sua forma e tem condições de se preparar para isso. Sua situação é muito mais confortável e fácil. Quem leva um fora tem que improvisar alguma dignidade em meio ao susto desta decisão e ainda assim vai ter muito mais trabalho catando os cacos do seu ego.

Basta observar os casais que você conhece após um rompimento: quem se recupera primeiro ou melhor, quem deu um fora ou quem levou um fora? Geralmente aquelas pessoas que se perdem, ficam stalkeando, se humilham e passam vergonha são as que levam e não as que dão um fora. Dar é muito mais fácil do que levar um fora, quem já passou por ambas as situações sabe disso.

Para tirar onda e dizer que nunca levou um fora na vida, para dizer que não saberia responder porque só leva fora ou ainda para dizer que melhor mesmo é sumir sem avisar nada: sally@desfavor.com

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