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Ele disse, ela disse: Sigilo familiar.

| Desfavor | | 45 comentários em Ele disse, ela disse: Sigilo familiar.

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Imaginemos a seguinte situação: Você está num relacionamento estável e um dos parentes PRÓXIMOS do(a) seu(sua) companheiro(a) dá em cima de você. Sally e Somir discordam sobre qual o rumo correto de ação para com a outra parte do relacionamento depois de um acontecimento assim… Os impopulares contam como reagiriam.

Tema de hoje: Se um parente do(a) seu(sua) namorado(a) dá em cima de você, deve-se contar para ele(a)?

SOMIR

Hahaha! Claro… claro que não! Numa analogia com um jogo de cartas, contar para a namorada (vou usar só o feminino por praticidade, mas vou tentar ser o mais genérico possível) que um parente próximo dela deu em cima de mim é mais ou menos como apostar todas suas fichas na pior mão da noite…

É questão de bom-senso: Não precisa entrar em pânico e jogar tudo ao acaso só porque aconteceu algo de ruim. Nem sempre o que você acha certo dá certo. Honestidade é uma qualidade louvável, sempre que possível diga a verdade, mas dizer a verdade SEMPRE é jogar sua vida na mão da sorte. Não sei quanto a vocês, mas eu não quero transformar minha existência num grande jogo de azar.

A situação joga contra quem fizer a “denúncia”. Não estamos falando de um caso onde se tenha uma prova irrefutável do acontecido, estamos falando de palavra contra palavra. E por mais que sua namorada/esposa goste de você, é complicado fazer uma disputa dessas contra a família dela. Sério, imagina dizer para ela que a MÃE dela fez algo assim? Não é uma acusação leve, é quebra de confiança séria.

E o tipo de ser humano que faria uma coisa baixa dessas dificilmente vai ter o menor pudor de mentir descaradamente quando confrontado. A vida não é seriado policial americano, onde bandido sempre confessa! E para “engordar” a mentira, a parente da sua namorada ainda vai dar um show para convencê-la que você que está mentindo, seja partindo para a agressividade, seja partindo para a vitimização. Pergunto: Precisa disso? É uma situação sebosa dessas que vai melhorar a vida de qualquer um dos envolvidos?

E antes que venham com romantismos do tipo: “se me ama acredita em mim”, lembre-se que do outro lado teoricamente tem alguém com tanto ou mais presunção de confiabilidade que você. A situação tem que ser muito ideal (ideal no sentido da sua namorada vir de uma família fodida o suficiente para duvidar automaticamente da honestidade de parentes tão próximos) para isso pender para o seu lado.

Pior que mesmo se for o caso da sua companheira acreditar em você sem muitas dificuldades, ainda sim não é uma atitude tão nobre contar: Você vai estar esfregando sal nas feridas de uma pessoa querida. Se ela já sabe que a família faria algo assim, deve ter um histórico de coisas horríveis que ela deve carregar. E tudo isso volta numa ocasião dessas… Sério que só pela satisfação pessoal de ter dito a verdade vale a pena cutucar as feridas dela? Isso é coisa de quem só defende o próprio lado, doa a quem doer.

E outra: Pode ser que tenha sido um escorregão eventual. Não estou dizendo que é algo facilmente perdoável, mas essa parente da sua namorada pode nunca ter feito algo parecido, mas num momento de vulnerabilidade/burrice desligou o bom senso e deu em cima de você. Como garantir que é uma pessoa tentando “passar a perna” nela ou se é alguém que fez uma besteira? Não sou partidário de usar “errar é humano” como escudo para qualquer comportamento errado, mas não estou falando de um julgamento moral e ético, estou falando de praticidade.

Se foi algo eventual, mesmo que prove um caráter danificado, ainda sim não vale a pena causar todo o drama de contar se não acontecer mais nada depois. É uma questão de risco e recompensa, oras. Fazer sua companheira lidar com algo escroto assim não é algo trivial… Algumas coisas você leva para o túmulo, não porque quer proteger o bandido, mas para proteger a vítima! Na balança de prioridades, sua namorada/esposa tem que vir acima do desconforto de guardar um segredo desses.

Foda-se se omitir te incomoda, quando a omissão PRECISA acontecer para o bem dela, o mínimo que você faz é engolir o sapo e seguir em frente. E olha que eu estou argumentando até agora considerando que a pessoa deu em cima mesmo!

Nada mais comum que ler errado sinais de atração alheios… Tem gente que parece que vai te agarrar a qualquer momento e não está interessada, tem gente que fica quietinha e está muito interessada! Não estamos falando aqui de uma situação onde essa parente reconheceu firma no cartório da cantada. Ainda existe muito espaço para presunção nesse jogo.

É leviano sair acusando baseado apenas no que você acha nesse caso… Tem famílias e famílias… Uma mais acostumada a contato físico e intimidade forçada pode gerar pessoas que se metem em situações parecidas com as do flerte para quem vem de uma criação mais fria, por exemplo. É fácil errar na leitura dos sinais da atração em outras pessoas.

Você pode jurar que foi assediado, a mãe ou irmã da sua mulher pode jurar que nunca fez isso, e de certa forma, ambos os lados podem estar certos. E mesmo que tenha sido uma cantada, a outra pessoa pode se convencer que não foi depois… E tem mais… tem gente que passa cantada e flerta por puro esporte! Mesmo que você respondesse positivamente ao avanço dessa parente dela, ainda sim não quer dizer que essa pessoa estava REALMENTE disposta a fazer aquilo. Eu acho escrota a pessoa que faz esse tipo de joguinho, mas elas existem.

São muitas variáveis aqui para considerar que contar é a solução correta. É por isso que eu estou perguntando seguidas vezes se vale a pena. Porque é acender o pavio de uma bomba que pode destruir um relacionamento amoroso, um relacionamento familiar ou mesmo ambos. Isso também é questão de responsabilidade pessoal… Você tem que escolher fazer isso e estar plenamente disposto a encarar o resultado.

Se você acha que dizer o que acredita ser verdade é uma regra imutável e universal para resolver todos os problemas, sinto te dizer que a realidade é mais complexa do que isso. Até para dizer a verdade tem que valer a pena…

Para dizer que esta coluna está virando um embate eterno entre mentiroso e sincericida, para dizer que não considerei o fato de ser a irmã ou a mãe(milf?) serem mais gostosas, ou mesmo para dizer que sabe o que fazer mas não vai contar: somir@desfavor.com

SALLY

Se um parente próximo do seu parceiro, como por exemplo mãe/pai ou irmã/irmão, der em cima de você, qual é a coisa certa a se fazer: contar ou não contar? Estamos falando de relacionamentos sérios, monogâmicos, duradouros e baseados em confiança e cumplicidade.

Desculpa mas quem não deve não teme. Eu conto. Porque se não contar e a pessoa descobrir depois vai parecer que eu estava gostando ou alimentando a situação de alguma maneira. Eu conto mesmo e se tiver dúvidas se a pessoa vai acreditar em mim. Mas conto. E se ainda assim não acreditar em mim, foda-se, não me merece.

Eu não conseguiria manter um relacionamento com uma pessoa escondendo uma falha tão grave de caráter de um parente próximo. Porque eu acredito que dar em cima da namorada ou esposa do seu irmão ou do seu filho pelas costas seja uma puta falha de caráter. Até por uma questão de consideração e lealdade com a pessoa que está ao meu lado eu não a deixaria fazendo esse papel de otária, de conviver de boa com um parente filho da puta. Quem ama não deixa o outro fazer papel de otário, mesmo que para isso tenha que se meter em algum tipo de confusão.

Nada como se colocar no lugar dos outros… Fico pensando se minha irmã desse em cima de um namorado meu e se ele não me contasse como eu me sentiria. Certamente não seria capaz de compreender essa omissão e talvez até presumisse que essa omissão estaria relacionada ao fato dele estar gostando ou estar mal intencionado. Amar é proteger a pessoa que a gente gosta de filhos da puta, sejam eles parentes ou não. Quem deixa um filho da puta enganar a pessoa amada merece perder essa pessoa.

Uma situação dessas é realmente muito desagradável e delicada. Uma pessoa do nada te coloca como cúmplice de uma mentira sem que você tenha concorrido para isso. Aceitar esse tipo de imposição é burrice. Topar esse joguinho perverso e mentir para seu par é ser cúmplice de um filho da puta que está tentando apunhalar a pessoa que você ama pelas costas. Prefiro mil vezes que me xingue e não acredite em mim e até mesmo que me dê um fora, porém saindo digna, com a consciência tranquila. Melhor isso do que manter um relacionamento às custas de uma mentira/omissão suja dessas.

Mesmo para quem acredite que seja uma mera omissão, não custa lembrar que quando o que se omite é grave a omissão passa a ser muito grave também, talvez tanto ou mais do que uma mentira em si. Existem informações que são essenciais e que por uma questão de ética e caráter não podem ser sonegadas. Uma pessoa que “omite” da outra que é HIV positivo e contamina seu parceiro não faz uma coisa grave? Claro que faz. É hora de derrubar esse mito que omissão é menos do que mentira. Não sei quem foi o idiota que lançou essa ideia de que omissão pode e mentira não.

Quando seu parceiro está sento traído, apunhalado, sacaneado, existe sim a obrigação moral de adverti-lo. Eu não falto com a minha obrigação ética por medinho de que isso acabe respingando em mim. O desenrolar da história não tem que ser determinante para a decisão de contar e não contar, a coisa certa a fazer independe do desfecho da história. A coisa certa a se fazer a gente busca dentro dos nossos valores morais e éticos e não visando salvar o próprio pescoço.

Quem está empenhado em alertar seu parceiro faz por onde encontrar uma forma de dar a notícia que seja adequada à personalidade dele: com jeitinho, com delicadeza, com franqueza, com provas, com verdade nua e crua… foda-se o jeito com o qual se vai falar, o importante é que se fale. Falar é questão de respeito, consideração. Transcende a obrigação de um casal. É uma obrigação ética de pessoas com vergonha na cara e que não tem medo de fazer a coisa certa.

“Mas Sally, é um problema de família, eu não vou me meter em um problema de família”. Foi mal, mas já te meteram nesse problema. Você já está 100% dentro dele. Uma merda, eu sei, mas não adianta fugir. Fugir só consolida o problema e te deixa escrava dele. Efeito bola de neve: quanto mais tempo você demora para contar, mais grave a coisa fica. Quando uma pessoa próxima ao seu namorado dá em cima de você de forma descarada e inequívoca o problema já está criado e não há mais como fugir dele. Problema de família é o divórcio do seu cunhado, isso é um problema SEU, que te envolve diretamente.

As chances de algo respingar em você são grandes? Enormes. É uma situação de merda. Mas gente que encara situação de merda de frente é gente de respeito. Correr porque pode respingar merda é feio. Nada como lidar com um problema falando a verdade… pena que nem sempre isso é possível. Aproveite essa oportunidade, onde a verdade está do seu lado, e seja honesto. Coisas boas acontecem para quem é honesto e sincero, mesmo que essas coisas boas sejam se livrar de alguém que não te merece.

Olha, se um parente próximo do seu namorado foi imbecilóide a ponto de dar em cima de você descaradamente, pode até ser que estejam te testando. Talvez o parente, para saber se você presta e se vai abençoar o relacionamento, talvez o próprio namorado, querendo promover um teste de fidelidade e caráter caseiro. Já pensou nessa hipótese? Escroto gente que te testa, mas só podemos gritar isso na cara deles se passamos no teste, caso contrário estaremos tão errados como eles e sem moral alguma.

É uma situação de merda, você vai sair respingado com um pouco de merda por mais habilidade social que tenha, mas é algo que deve ser encarado de frente, pois é grave demais para varrer para debaixo do tapete. Muito medo de gente que consegue conviver com uma mentira desse tamanho e nesse grau de incômodo…

Para perguntar se ainda mantenho minha postura quando o pai da sua namorada dá em cima de você, para dizer que não se importa porque, no caso, é você quem dá em cima das namoradas do seu irmão ou ainda para dizer alguma frase machista revoltando como “onde come um comem dois” e me ouvir xingar: sally@desfavor.com

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