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Ele disse, ela disse: Discussão palatável.

| Desfavor | | 103 comentários em Ele disse, ela disse: Discussão palatável.

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O tema é simples, só que não. Comida é o combustível da vida e cada decisão pode mudar seu destino. Os impopulares estão convidados a alimentar a discussão.

Tema de hoje: Frito ou cozido?

SOMIR

Frito. Evidente que existem exemplos de alimentos saborosos preparados por cozimento, evidente que preferir algo não exclui totalmente as outras opções… Mas se tiver que expressar uma opinião entre as duas coisas, tem que ser muito cara de pau para dizer algo além de frito.

Fritura é a opção menos saudável, isso já é muito bem sabido. Mas o tema não é esse, é? Estamos decidindo o que é melhor, o que agrada mais. Frito é sexo, cozido é masturbação. Masturbação é mais segura, tem sua graça, mas… não é sexo. Sexo te expõe ao risco de doenças, te deixa numa situação vulnerável, e pior de tudo: pode gerar filhos! E a analogia se sustenta ainda quando pensamos que não precisa desistir de uma coisa para ter a outra… Masturbação é saudável, sexo é arriscado. E aí, vai dizer que prefere qual? Mesmo a outra opção sendo mais segura?

Frito é mais gostoso. Você está aqui nesse mundo para sofrer? Para ficar se privando de prazeres para atrasar uma morte inevitável? Sério? Frito é mais gostoso! E olha que pessoalmente meus alimentos preferidos são quase todos assados/grelhados. Não precisa dedicar sua vida a comer só coisa frita, não precisa desenhar um pentagrama de batatas-fritas no chão e adorar uma entidade oleaginosa, basta reconhecer que entre alimentos cozidos e fritos, os fritos costumam ganhar de goleada!

As pessoas caíram de tal forma nesse discurso paranoico sobre saúde – inventado por publicitários e executivos para fazer o povo se sentir culpado sobre tudo o que come – que agora as pessoas não tem mais nem coragem de admitir o ÓBVIO de que comidas que fazem mal são mais interessantes. Fica essa negação bisonha da realidade, cidadão ou cidadã olhando para aquela merda deprimente de legumes cozidos no vapor e dizendo para todo mundo que acha uma delícia! Só para se sentir menos culpada por estar viva!

Tudo faz mal. Oxigênio vai te matar sem falta se você não conseguir se detonar antes. Viver mata. É tudo uma questão de como você vai lidar com seu tempo nesse mundo: Tem coisa que faz mal mais rápido, tem coisa que faz mal mais devagar. O discurso de vida saudável tem mais a ver com coagir o cidadão médio a fazer a economia girar. Saímos de uma época onde se podia anunciar cigarros para crianças para outra em que se pode enfiar culpa goela abaixo de qualquer um e dar um preço para se livrar dela. Tudo tática de venda. Quando o povão começa a enxergar uma, é só criar outra, e foi justamente o que aconteceu.

Desde que você se sinta uma merda por não imitar hábitos de consumo de outras pessoas, tudo bem! É só isso que interessa. Propriedades “saudáveis” de alimentos são basicamente propaganda de xampu: Quem está vendendo inventa sem dó nem pena e ninguém corre atrás para saber se é verdade. Sério, inventa-se isso e ri-se de quem compra. Sabe porque o ovo passa de vilão a herói da saúde de tempos em tempos? Porque ignoram solenemente a intenção dos cientistas que fazem as pesquisas para vender mais jornal. Os cientistas não falam se faz bem ou se faz mal, os jornalistas e publicitários que o fazem, e ninguém vai ler os estudos originais… É assim que funciona. Não quer acreditar? Divirta-se com sua culpa artificial. A minha pelo menos é orgânica.

Ser mais gostoso é um argumento sim! Frito é mais gostoso que cozido. A vida não é uma prova de resistência, quem chega mais longe não necessariamente tem recompensa maior. O que vale é aproveitar bem o tempo bom que temos. Cozidos aumentam sua vida em alguns anos miseráveis onde você vai se arrepender de não ter comido mais coisa frita.

E, porra, chegamos onde chegamos para regredir? Fritura é um processo complexo, fruto da engenhosidade humana aplicada geração após geração! Ela tem seu visual, cheiro e som próprios, coisas que nossos antepassados matariam para experimentar da forma como podemos hoje em dia. Milhares de anos de evolução para você cozinhar uma vagem e se achar muito avançado? Vai abraçar uma árvore, hippie! Preferir alimentos cozidos é cuspir na cara de quem nos trouxe até aqui.

Fritura pode te fazer mal em excesso. Assim como tudo mais… o corpo humano tem seus limites, oras. Não estou advogando que você deixe de comer alimentos cozidos, alguns são bons! Agora, renegar a fritura como se isso fosse te salvar de alguma coisa além de refeições deprimentes? A natureza é sábia, ela nos dá dicas valiosas sobre o que é um desperdício do curto tempo que temos aqui. Se parece sem graça, surpresa: É sem graça!

É só usar seu “cérebro réptil” para desarmar o golpe que é essa coisa de vida saudável: Se fosse minimamente agradável ou te fizesse uma pessoa mais feliz, você já teria notado. Tem que te empurrar caminhões de culpa goela abaixo, tal qual uma mãe condicionando a sobremesa a comer os legumes cozidos. “Frito” é mais do que escolher uma forma de preparo de alimento, “frito” é enxergar além de truques baratos para te empurrar produtos e serviços e assumir as responsabilidades pelas suas decisões. Frito é mais perigoso.

E voltando à analogia do começo do texto: Uma pessoa tem todo o direito de preferir masturbação ao sexo, mas que pelo menos entenda que para a maioria das outras pessoas não é bem assim que funciona. Frito é mais gostoso.

E no final das contas, não é isso que interessa?

Para me chamar de gordo, para dizer que prefere se empanturrar de culpa, ou mesmo para ficar revoltado(a) com minha analogia: somir@desfavor.com

SALLY

O ser humano foi desenvolvido para ter uma atração fatal por gorduras. Isso porque lá na época das cavernas, quando tinha que caçar para sobreviver, quem tinha o maior estoque de gordura no corpo era quem mais tinha chances de prosperar. Em períodos de vacas magras, como um inverno rigoroso ou uma semana de caça fracassada, quem tinha gordura estocada sobrevivia e quem não tinha morria sem reservas de energia. Sim, era uma questão de sobrevivência. E para assegurar a sobrevivência, a mãe natureza fez com que a gordura seja muito instigante ao paladar humano, justamente para incentivar seu consumo e garantir uma reserva em caso de imprevistos.

Porém o tempo passou e hoje temos fontes de gorduras mil disponíveis ao alcance da nossa mão. Não temos mais que caçar, correr e suar para obtê-las. Basta tirar dinheiro do bolso e adquirir em qualquer lanchonete, restaurante ou supermercado alimentos impregnados de gordura. Só que seu corpo não sabe disso, seu corpo continua com o bom e velho mecanismo de estoque de gordura, achando que os tempos das vacas magras podem voltar. Resultado: uma explosão química inebriante toma conta do seu cérebro quando você bota gordura para dentro, ativando centros de recompensa, fazendo com que você ame estes alimentos e os coma cada vez mais, porém sem gastar este estoque de reserva. O problema é: normalmente, não gastamos tanto quanto comemos.

Em tese, o ser humano é racional. Assim se espera. Que exista um mecanismo primitivo no seu corpo te pedindo por alimentos calóricos e gordurosos não quer dizer que você tenha que comê-los. Ciente de que é um mecanismo evolutivo para sobrevivência da espécie, você pode, em resposta, criar seus próprios mecanismos para ignorá-lo, já que ele não é mais necessário, muito pelo contrário, é prejudicial. Ter vontade é uma coisa, fazer é outra.

Gostar é uma coisa, não conseguir evitar é outra. Eu gosto de muita coisa que não posso fazer todos os dias, graças a uma decisão racional voltada para meu bem estar a longo prazo. Está claro que a rotina dos dias de hoje não permite que se coma o tanto de gordura que seu corpo “pede”, até porque ele sempre pede mais. Logo, a opção inteligente a fazer é, ciente desse padrão de funcionamento traiçoeiro, evitar gordura sempre que possível, reservando-a para ocasiões especiais. Nessa hora entra o cozido. Se puder escolher entre o frito e o cozido, escolha o cozido.

Alimentos cozidos não são necessariamente desagradáveis ao paladar. Podem não ser tão estimulantes quanto alimentos fritos, mas quem troca cinco minutos de prazer em cada refeição por uma vida de doenças e mal estar? Um alimento cozido bem preparado, temperado com azeite de oliva, ervas, alho, cebola, pimenta ou que quer que seja do agrado da pessoa, pode ficar sim muito gostoso. Não vai despertar o “frenesi” da fritura, mas, cá entre nós, se você precisa, se você troca sua saúde por esse “frenesi”, é hora de repensar na sua vida. Busque prazer de outras formas: se exercitando (no período pós-exercício ocorre a liberação de hormônios que trazem sensação de bem estar), execute hobbies que te tragam prazer, ria, se divirta. Não faça da comida a responsável pela sua cota de prazer diária. É mais fácil, mas a longo prazo custa muito caro: sua saúde. Decisão escrota para com você mesmo e para com todos que te amam.

O erro reside em esperar que o alimento cozido, se estiver bem preparado, desperte a mesma sensação de bem estar e conforto que o frito. Não, isso nunca vai acontecer, o prazer em comer fritura é um mecanismo de recompensa cerebral criado para estimular a sobrevivência do ser humano. O acerto consiste em buscar essa sensação de bem estar em outras fontes que não comida, já conhecidas pela neurociência que efetivamente podem gerar esse bem estar. Um beijo na boca, um filme de comédia, brincar com um animal de estimação…a lista é enorme e pode variar de acordo com cada pessoa. O fato é que fazer da fritura uma fonte de prazer é um perigo, pois fomos programados para “viciar” em gordura. Acaba dando merda.

Assim como pessoas racionais evitam usar algumas drogas porque sabem que o corpo humano tem uma violenta propensão para o vício nelas, acredito que também seja necessário ter um cuidado especial com o que se come. Quanto mais gordura você come, mais gordura seu corpo vai pedir. E nem todos tem a capacidade de dizer “não, agora chega”. Logo, melhor priorizar aquilo que não te vicia e que não te faz mal. Mas, o ser humano, em sua eterna arrogância, acha que para a hora que quiser. Não para. Aí bate aquele síndrome de abstinência, aquela fome da madrugada e quando a pessoa percebe, comeu uma porcaria. A pessoa aprende a funcionar usando a comida para se sentir melhor quando experimenta algum desconforto emocional (ansiedade, medo, tristeza, angústia ou o que quer que seja) e depois sofre para sair desse círculo vicioso.

A pessoa passa a funcionar assim, mesmo sem se dar conta, e depois não consegue romper esse padrão de funcionamento. Sim, é difícil romper padrões de funcionamento, é um esforço cerebral enorme e um trabalho a longo prazo. Quando se dá conta, está escrava daquilo. Não seria melhor ter a consciência de que, por ser humano, por ser falível, por ser viciável, é melhor segurar a onda na hora de comer fritura? A tentação de buscar conforto em uma comida é enorme, ou você cria mecanismos para evitar isso, ou pode acabar, em algum momento da sua vida, caindo nessa armadilha.

Paladar se condiciona. Quem se acostuma a comer grelhado alcança um patamar em que, a longo prazo, o corpo chega a recusar excesso de fritura, porque passa mal. Nós educamos nosso corpo, é escolha nossa. O que você quer, ser responsável pelas decisões ou deixar que seu corpo decida por você? É perfeitamente possível mudar esse padrão e priorizar alimentos cozidos, deixando para buscar prazer em outros lugares que não à mesa, a ponto do seu próprio corpo parar de te pedir fritura. Só depende de você. Reprograme seu corpo e seu cérebro.

Para dizer que eu sou dramática, para desacreditar as informações aqui postadas porque elas não te convém ou ainda para dizer que a atual sociedade aniquilou as outras possibilidades de prazer e bem estar: sally@desfavor.com

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