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Ele disse, ela disse: No trono.

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Se você não gosta de Game of Thrones ou nunca ouviu falar, vai ficar boiando hoje. Lembrando que estamos falando exclusivamente sobre a série, não sobre o livro. Somir está no time anão, Sally no time dragão.

Tema de hoje: Qual a melhor personagem de Game of Thrones?

SOMIR

Eu gosto dessa coisa hipster de não gostar das mesmas coisas que a maioria, mas tenho que me render: Vou escolher uma personagem (personagem é feminino, Sally que é rebelde) que muita gente também deve achar a melhor: Tyrion Lannister. Sim, o anão. E não vamos reduzi-lo apenas à condição de sarrista boêmio. O que falta em altura sobra em personalidade.

Pra começo de conversa, Tyrion é uma personagem e não uma “powertrip” genérica como a escolhida por Sally. Daenerys até que traz cenas interessantes para a série (principalmente quando está sem roupa), mas não é nada mais do que fantasia aspiracional para mulheres. Finalmente uma mulher poderosa, não? Nada contra, juro. Acho que faz falta mesmo ter mais personagens poderosas para inspirar as mulheres.

Mas é mais do mesmo. É a mesma coisa do herói invencível que come todos os inimigos na porrada e come as mulheres na… bom, vocês entenderam. Daenerys segue aquela linha previsíííível de pobre oprimida que se dá bem na vida. É um arco clássico em histórias e cria personagens muito carismáticas para o público em geral. Lógico, é uma personalidade meio vazia que pode ser preenchida pelas aspirações e fantasias de quem assiste. Sério, Daenerys é meio picolé de chuchu… ela mais reage do que age. Quase sempre com cara de cachorro que caiu do caminhão de mudança, esperando que alguém resolva as coisas por ela (e recebendo os louros por essas decisões alheias).

Agora… Tyrion? Um anão renegado num mundo onde politicamente correto não existe? Duvido que seja a aspiração ou a fantasia de muita gente. Tyrion tem que ser uma personagem interessante no que pensa, diz e faz para angariar a simpatia que tem. Não vou mentir que a ideia de que pária social muito mais inteligente que a média não traz à tona algumas fantasias de superioridade intelectual minhas, mas ser Tyrion não é uma aspiração.

Ele é apresentado como um bon-vivant irresponsável e amargo com a rejeição da família, mas vai se livrando dessas amarras roteirísticas com o decorrer da série. Ele poderia muito bem ser puro alívio cômico e fazer aqueles comentários que todo mundo queria fazer durante as cenas. O caminho da personagem da voz da razão sarcástica está muito bem pavimentado e não seria nenhum absurdo concentrá-lo nessa área da história.

Mas a história foi além. Enquanto Daenerys é a mocinha sofrida genérica, Tyrion é um anti-herói que segura basicamente sozinho o pouco de simpatia que a sua casa tem entre os fãs da série. Ele evita, basicamente sozinho, que os Lannisters sejam vilões ainda mais genéricos, cofiando os bigodes e colocando mocinhas nos trilhos de trem. Tyrion humaniza seus parentes escrotos e faz a família toda se parecer mais com uma família.

Vai dizer que você nunca riu sozinho e achou o máximo nas inúmeras vezes que ele botou o rei-pirralho-mimado Joffrey no seu lugar? Quando ele consegue ruir a pose dos irmãos incestuosos, ou mesmo quando consegue arrancar a verdade do pai? E tem algo brilhante na personagem, principalmente com a escolha do ator. Ele acaba sendo a caricatura perfeita do seu irmão mais popular, um tapa na cara das pretensões de perfeição da família.

Personagens tem que ter significado. Tem que influenciar de verdade as pessoas ao seu redor. Tem que refletir seu ambiente. Não só ir para lugar X e fazer coisa Y (como uma certa mãe dos dragões). Não é para escolher quem você queria ser, é para escolher quem é a melhor personagem.

E quando a coisa engrossa, ele não espera a sorte ou um cavaleiro de armadura brilhante intervir, Tyrion usa sua inteligência e poder de convencimento “dourado” para se proteger e para resolver problemas. Cada vez que ele aparece em cena, parece estar planejando alguma coisa. Cada conversa dele pode e será usada no momento certo. Porra, até mesmo o Mindinho e o Eunuco sabem que não é para baixar a guarda perto dele.

Mesmo assim, ele tem um compasso moral. Tyrion age de forma ética na medida do possível, o que convenhamos que é um feito dentro do universo onde ele foi criado. Uma coisa é ser oprimido e perceber as injustiças do mundo, outra bem mais complicada é usufruir dos espólios da opressão e mesmo assim desenvolver essa empatia. Ser pária da família ajuda, claro, mas ele poderia muito bem viver cercado apenas de bebidas e prostitutas indefinidamente. Tyrion escolheu mais.

Tudo bem que estamos falando da série, mas só para deixar registrado: Essa coisa de ficar apaixonadinho pela puta é coisa só da TV. Público feminino dá dinheiro, sabem como é. Mas mesmo levando essa desvantagem para a discussão, pelo menos mostra que ele tem seus pontos fracos e pode ser explorado, gerando alguma tensão. Quer dizer, mais do que a habitual da série.

E falando em pontos fracos: Ele é um anão. Ele reconhece isso e não fica com frescura. Nada a ver com Lockes da vida. Ele sabe que tem limitações, sabe o que pode fazer e sabe onde pode tirar vantagem disso. Não fica querendo ser o que não é… Mesmo quando tem que agir de forma mais heroica e direta, concentra-se em traçar estratégias e fazer outros lutarem por ele. A ideia de explodir os barcos com fogo selvagem foi dele, quem organizou a defesa da cidade real foi ele… E só quando a única coisa que podia salvar o dia era ir para a linha de frente ele deu uma de exemplo de superação. Finalmente alguém que pensa antes de agir numa história dessas!

Além, é claro, do senso de humor e da vocação para falar umas verdades. Mas isso tudo mundo percebe. Ah: E de tão bom que é o ator que interpreta Tyrion (Peter Dinklage), na série ainda dão mais atenção para ele do que se esperaria numa adaptação fiel do livro. Daenerys é interpretada por uma mulher bonita que aceitou fazer várias cenas sem roupa.

Para dizer que gosta mesmo é do Hodor, Hodor, Hodor: hodor@hodor.hodor

SALLY

Se você não assiste Game of Thrones, não tem nada para você aqui hoje. Passa amanhã que tem uma postagem minha bacana e aproveita para começar a assistir a série ou ler o livro, porque você não sabe o que está perdendo. É o primeiro pornô-nerd da história, justificado por uma trama muito bem escrita e surpreendente. Mas vamos ao assunto: Qual é o melhor personagem de Game of Thrones? Daenerys Targaryen.

Por mais que eu nutra uma afeição incondicional pelo Tyrion Lannister, o anão debochado, bêbado e pervertido, por mais que ele me divirta horrores e me faça rir, não tenho como negar que ele seja um personagem fácil. É um daqueles personagens responsáveis pela vertente cômica, para “aliviar” a trama em seus momentos mais tortuosos. É manjado, é fácil demais. É o Hugo “Hurley” Reyes do Lost, é o Richard Fish do Ally McBeal, é mais do mesmo. Tiradas sarcásticas, expressões faciais engraçadas e ironias muito ou nada sutis divertem sim, mas não fazem de um personagem o meu favorito, apenas o mais engraçado. Precisa um pouco mais do que isso para ser personagem favorito.

Minha escolhida, até aqui, é Daenerys Targarian pela forma como a personagem evoluiu. Enquanto Tyrion nasceu em berço de ouro e desde sempre teve uma vida de luxo com acesso a livros, informação e infraestrutura, Daenerys era uma coitada oprimida pelo irmão cosplay de Legolas, só que do mal. O Legolas malvado tripudiava, a tratava mal e forma violenta. A entregou para se casar com um bárbaro de temperamento agressivo sem a menor preocupação com a irmã, uma menina amedrontada e de baixa autoestima. O que Daenerys fez? Pegou o limão e fez uma limonada.

Encarou o casamento com o bárbaro Khal Drogo e mesmo sem falar o mesmo idioma que ele deu seu jeito de conquistá-lo. Aos poucos foi conquistando também toda sua tribo, os Dothraki e se adaptando a seus costumes, muito diferentes de tudo que ela já havia vivenciado. Logo no primeiro ano (ou no primeiro livro) a personagem dá um salto e cresce mais do que qualquer outro. Mas ela não se acomoda, mesmo tendo colocado no bolso um marido poderoso e do tamanho de um armário, ela não se resume ao papel de esposa. Mesmo quando seu marido mata de forma totalmente inusitada seu irmão, uma constante ameaça, ela não se acomoda. Daenerys não é apenas a esposa de alguém.

Mesmo quando todo tipo de desgraça acontece com ela, a menina continua firme e forte. Tentam envenená-la quando ela está grávida, depois “matam” seu marido, depois seu filho morre de uma forma bizarra, depois seu exército lhe vira as costas… nada disso importa, Daenerys vai e conquista tudo novamente. Daenerys é gente que faz. Mais do que isso: Daenerys é gente que teima. Ela quer o trono de volta e mesmo nos momentos em que está mais fodida não deixa de acreditar e tentar. Ela vai dar o jeito dela, ela sabe disso e faz todo o resto acreditar.

Daenerys é fisicamente muito fraca e ainda assim não faz questão de regalias nem foge das batalhas. Daenerys, ao contrário de todos os outros personagens, ainda não tem nada a oferecer para quem decide lutar ao seu lado, a não ser promessas. Quem o faz somente o faz por amor a ela. Daenerys é carismática, querida e respeita todos os seus subordinados, ela lhes dá a opção: são todos livres, fica ao lado dela quem quer. E ainda assim eles ficam. Vai desculpar, mas essa mulher é interessante demais para perder para um piadista.

Ela virou uma mulher confiante, corajosa, mas sem esquecer a merda que é ser maltratado quando se está por baixo. É uma líder que respeita seus liderados, coisa rara para pessoas com esse perfil, que tendem a repetir os maus tratos que sofreram. Sabe ser dura com seus inimigos quando estes jogam sujo, mas também sabe ter compaixão por aqueles que merecem. Daenerys é uma mulher justa.

Ao contrário dos demais líderes que habitam Game of Thrones, os seguidores de Daenerys tem verdadeira admiração por ela, a enxergam como uma verdadeira mãe, ela é querida e respeitada. Sem contar os dragões, seus “filhos”, que são uma prova viva do quanto ela é especial. Deve ser um sonho ter um dragão no ombro onde quer que você vá. Se fosse eu viveria na base do “Dracarys”. Ouviu funk alto no ônibus? “Dracarys!”. Peidou no elevador? “Dracarys!”. Meus dragões chegariam exaustos ao final do dia, ia ser “Dracarys” a toda hora. Mas ela não, ela usa o “Dracarys” com sabedoria.

É nos detalhes que se entende a magnitude desta personagem. Em pequenos gestos, sejam eles de extrema crueldade merecida, sejam eles de extrema bondade pura. Daenerys não teme a opinião pública e é muito segura do que faz. Seu carisma, senso de justiça e coragem de fazer o que tem que ser feito a deixam cada vez mais próxima do trono que ela tanto merece. Sim, eu torço por ela no final das contas, apesar de simpatizar com o anão e com John Snow. Quem sabe os três, já que suspeito que John Snow e o anão sejam filhos de Targaryens e já que eles costumam andar em trios… Seria lindo de se ver.

Uma personagem que tinha tudo, até mesmo a aparência física, para ser frágil, desprotegida e vítima, já meteu o cacete no macharéu e já desbancou muita gente poderosa e inteligente. O contraste de uma menina magrinha, branquinha, loirinha com atitudes audaciosas e muitas vezes cruelmente necessárias torna a personagem algo atípico quando comparadas às demais mulheres do contexto. Esse Elfo Way of Life é totalmente apimentado por uma pegada guerreira e meio primitiva que não se espera de uma menina doce como ela.

E não me venham falar da inteligência e das estratégias do anão, porque Daenerys também é inteligente e estrategista, só que por méritos próprios. Ela não nasceu em berço de ouro nem teve toneladas de livros e tempo livre à sua disposição, ela é esperta mesmo. E muitas vezes arma emboscadas e surpreende seus inimigos, como aconteceu quando adquiriu os Imaculados. A moça sabe armar uma cilada para quem se coloca no seu caminho. Também sabe negociar e principalmente antever seus problemas, para chegar preparada em cada ocasião.

O anão é muito engraçadinho, dá uma leveza necessária à trama com seu humor sarcástico, é muito bacaninha, mas eu prefiro uma personagem com mais densidade. Alguém que vem crescendo ao longo da trama, se superando, se transformando, nascida na adversidade e ainda assim metendo o pau em quem veio de berço de ouro. Daenerys tem méritos próprios, o anão tem apenas a oportunidade.

Para dizer que gostou da ideia do “Dracarys” no dia a dia, para dizer que se mérito é critério então vamos nos curvar a John Snow ou ainda para dizer que odeia quando a gente fala sobre assuntos nerds que você desconhece: sally@desfavor.com

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