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Ele disse, ela disse: Maior que a tela.

| Desfavor | | 99 comentários em Ele disse, ela disse: Maior que a tela.

eded-ciname

Mesmo questões de gosto acabam discutidas por aqui. Na hora de decidir se vale a pena ir ao cinema, Sally e Somir não conseguem manter um roteiro coerente. Experiências diferentes, argumento diferentes. Os impopulares complicam a trama com suas opiniões.

Tema de hoje: Vale a pena ir ao cinema quando se pode ver o filme de graça em casa, no seu computador?

SOMIR

Não. Tudo bem que eu me preparei melhor para ver filmes no computador do que a maioria das pessoas e tudo bem que a experiência do cinema é quase impossível de se imitar em casa… mas quem disse que sala de cinema é o MELHOR jeito de se ver um filme?

Tenho plena consciência que desta vez vai ser uma batalha morro acima, as pessoas estão muito acostumadas a frequentar cinemas e tem muita gente que nem lê os textos antes de concordar com a Sally… Que seja! Tem gente que prefere mesmo ver filmes no conforto de sua casa ao invés de encarar o programa que envolve a sessão de cinema.

Cinemas costumam ficar em shoppings nos dias de hoje. Eu faço questão de não dar dinheiro para shoppings (até porque shopping é coisa de pobre, não sei diferenciar quem está lá para consumir ou para fazer rolezinho…), mas mesmo pessoas menos radicais vão concordar que só de pisar num lugar desses seu bolso já sofre. O que dirá sua paciência… Trânsito, filas, taxas de estacionamento… Brasileiros médios para todos os lados.

E depois de encarar mais fila para comprar o ingresso, o preço! Os cinemas perderam completamente a noção do ridículo: Cada deveria vir com um crachá de otário. Não há recompensa para um custo absurdo desses!

E pelo menos no meu caso não é necessariamente pão-durice. Com certeza é mais barato em casa, ainda mais pirateando; mas se essa economia virar um sistema mais avançado para assistir filmes – depreenda-se computador forte o suficiente para rodar filmes em qualidade Blu-Ray, conexão rápida o suficiente para baixar os arquivos nessa qualidade, monitor e/ou TV com boa profundidade de cores (sem aquela merda de contraste dinâmico) e um sistema de áudio com mais do que “duas caixinhas” – só quer dizer que você trocou uma experiência pela outra.

No cinema você vai lidar com outros seres humanos, e outros seres humanos é sempre algo problemático. Como Hollywood e similares só querem saber de fazer dinheiro, quase todos os filmes que saem não proíbem a entrada de menores de idade na sala. Se você for ver o novo Robocop, sorria: Adolescentes espinhentos e barulhentos VÃO estar na sua sessão. Se for classificação livre então… Entra CRIANÇA!

Só vai aliviar esse fator estranhos paunocu se você quiser entrar numa sessão de Ninfomaníaca, por exemplo. E convenhamos que filmes assim não são tão comuns.

É gente falando, usando celular, comendo e bebendo de forma porca… Tudo ao seu redor. E se você quiser comer alguma coisa, muitos cinemas proíbem que você consuma algo além de suas estupidamente caras ofertas alimentícias. Pipoca temperada com Foie Gras, só se for! E aproveite ainda mais a experiência pagando preço de show até por água. Não gosta do seu dinheiro? Manda pra mim!

Ver filme no conforto do seu lar elimina todos esses problemas e ainda te entrega vantagens como som compreensível (estourar todas as caixas não configura bom som), imagem com resolução decente (nem mesmo os projetores digitais andam prestando) e a incrível capacidade de ir mijar na hora que der vontade! O filme para para você, você pode voltar e prestar atenção numa cena… Você pode até parar e pesquisar no Google uma referência que passou batida. Eu prefiro ter controle sobre as mídias que consumo.

E nem comece com essa merda de 3D. Estou esperando até essa moda passar DE NOVO. O que tem de cena cagada hoje em dia só para enfiar um elemento 3D na cara da plateia não está escrito! E mesmo que você goste disso, ainda temos monitores e tvs que já vem com o efeito habilitado.

E se você está achando isso uma ode ao comportamento anti social, não se esqueça que ver filmes acompanhado não é exclusividade de cinema. Até filme ruim fica divertido quando se pode juntar uns amigos e ver sem aquela obrigação social de não fazer piadinhas MST3Keanas de cinco em cinco minutos. E você ainda come e/ou bebe o que quiser.

Confesso que cada vez menos tenho interesse nos FILMES que passam nos cinemas, a internet me mostrou uma infinidade deles que jamais passariam nos cinemas “de turma de shopping” e que necessariamente precisam ser baixados para consumo. Pode até parecer que estou saindo do cerne da questão, mas com tanta merda sendo lançada nos cinemas, a chance de você sair de lá com a certeza de ter visto um filme bom é cada vez menor.

É uma aposta que fica cada vez mais cara. A sensação de traição fica menor quando você pirateia o filme ruim (não o filme bom de tão ruim). Se você souber onde baixar e tiver conhecimento (e equipamento) suficiente para preparar a exibição, a qualidade acaba sendo ainda maior do que a do cinema. O foda é baixar filme do fuckin’ eMule em um formato bisonho de arquivo do tipo RMVB para assistir no laptop e dizer que a qualidade é ruim!

Seria a mesma coisa que entrar num cinema sem manutenção há 10 anos projetando uma cópia danificada numa tela suja e pequena e dizer que cinema é algo horrível!

Se você souber como aproveitar o material que a internet te providencia, cinema fica obsoleto. A não ser que você queira um programa pré-motel… Mas aí é outra discussão.

Para dizer que nerd pão-duro deve fazer um sucesso tremendo com a mulherada, para dizer que não se sente otário pagando os preços abusivos dos cinemas, ou mesmo para dizer que tem filhos e vai com eles no cinema só para sacanear mesmo: somir@desfavor.com

SALLY

Vale a pena ir ao cinema quando se pode ver o filme de graça em casa, no seu computador? Eu acho que sim.

Ir ao cinema é um programa que não se resume apenas a ver o filme. Ir ao cinema é lazer, é um entretenimento e, na pior das hipóteses, são duas horas no ar condicionado. Ir ao cinema não é nada de muito trabalhoso nos tempos atuais, afinal, se pode comprar ingresso pela internet e existem poltronas numeradas, o que poupa uma longa fila de espera. O que dizer das salas VIP, que tem até garçom trazendo champanhe e pipoca aromatizada e poltronas gigantes e reclináveis?

Não digo que todo filme valha uma ida ao cinema, mas alguns certamente o valem. Filmes com bons efeitos especiais pedem uma tela grande. Eu ficaria triste de ver um filme de Peter Jackson em casa, ainda que fosse na tela da televisão. Gosto do ritual do cinema, da pipoca, da reação da plateia ao filme. Sim, eu gosto de ir ao cinema. Aquela tela grande me faz feliz.

Além disso cinema é multiuso: cinema é um ótimo programa para se fazer em um primeiro encontro pois o escurinho é um alívio enorme para o constrangimento do primeiro beijo, cinema é um bom recurso para entreter crianças e também é o lugar perfeito para passar um tempo ou fazer uma hora quando se tem um compromisso logo depois. É uma fórmula que deu certo, por isso sobrevive a tantas décadas, apesar da pirataria, apesar da internet.

Sim, cinema pode ter seus inconvenientes, mas eles podem ser contornados também. Crianças mal educadas podem ser evitadas escolhendo um filme de censura 18 anos e um horário avançado, por exemplo. Pessoas mais exigentes podem se programar para ir em horários mais vazios ou em filmes que não sejam o blockbuster do momento. O frio se resolve com um casaquinho. Enfim, contratempos contornáveis em troca de uma qualidade de imagem e som que sua casa não tem. Na minha opinião, compensa.

Cinema talvez seja um dos poucos lugares onde se pode estar em bando, em meio a um grupo de pessoas, com a certeza de que ninguém vai puxar assunto com você. Sensacional. Um lugar onde se reúnem pessoas que devem ficar CALADAS por definição. Onde celular não pode tocar. Tem como não amar? Justamente por isso eu não entendo quem vai a restaurantes (é possível pedir para entregar a comida em casa!) e não vai a cinemas. Se você vai a um lugar onde todos estão falando e enchendo o saco, porque não cinema?

Eu acredito que certos detalhes só se notam ou se aproveitam em uma tela grande. E se for um filme no qual estou muito interessada, vou querer ver todos os detalhes. Além disso, cinema implica, na maior parte das vezes, em programas conexos, como um lanche depois para debater o filme que foi visto, o que eu considero uma delícia. Adoro sair do cinema, sentar, tomar um café e ouvir as impressões das outras pessoas sobre o filme, as interpretações, os comentários. A percepção de uma pessoa sobre um filme me diz muito sobre ela e muitas opiniões podem ampliar minha, abrir minha mente, me acrescentar em algum nível. Parece bobo, mas para mim é um debate valioso.

Um filme visto em casa é uma versão requentada de um filme visto no cinema. Serve para o dia a dia, mas de vez em quando é bom fazer uma refeição em alto estilo. Tanto é que quando reeditam filmes que eu gosto eu vou até o cinema revê-los. O preço? Bem, uma ida ao cinema não sai mais caro do que uma sentadinha em um bar para tomar um chopp, e eu prefiro mil vezes o cinema. Cada um gasta onde lhe dá prazer. Eu particularmente prefiro um local onde todos estão calados e onde não podem falar ao celular. Talvez essa seja minha definição pessoal de paraíso: um lugar de clima frio onde as pessoas não podem falar nem atender ao celular. Delícia.

Sem contar que cinema remete ao meu lazer de infância, e acredito que remeta a muitos de vocês que também tiveram uma boa parte da infância sem videogame, sem computador, sem internet. É um lazer retrô gostoso de reviver. Cinema, quando envolve todos os rituais conexos, é um dos meus happy places: chegar cedo, comer um doce no café, comprar pipoca, ver os lançamentos, ver o trailer e o que vem por aí em matéria de filmes, assistir ao filme, sentar em um bom café ou restaurante e debater as percepções sobre o filme. Talvez para quem apenas sente a bunda na cadeira, veja o filme e vá para casa não seja tão legal. Eu prolongo o momento e amo isso. Uma ida ao cinema comigo, do jeito que eu gosto, dura muito mais do que duas horas.

É possível fazer o mesmo em casa? Acho difícil. Eu levo filme a sério e hoje em dia a maior parte das pessoas tem a concentração de um peixe dourado. Dá pause no filme para fazer xixi, para responder mensagem que chegou no celular, atende ao celular no meio do filme, sente fome no meio do filme e levanta para comer ou se sente no direito de falar durante o filme pela ausência da repressão social (apesar de eu gritar SHHHH!)… Tudo isso me aborrece. Eu sou meio Sheldon Cooper com cinema. Gosto que a pessoa sente e preste atenção do começo ao fim. Pouquíssimas pessoas tem esse grau de interesse ou comprometimento com qualquer tarefa hoje em dia. Cinema te obriga a isso.

Um filme, para mim, só tem graça se for visto com um mínimo de comprometimento e de forma corrida. “Vamos almoçar, depois a gente vê o resto” é, para mim, como se a pessoa interrompesse o sexo falando “Vou cagar, depois a gente continua”. Não, não continua. Está tudo arruinado. Acabou, matou o evento para mim. Chame de TOC, chame de loucura, talvez eu leve a vida muito a sério, mas tudo está esculhambado demais para o meu gosto e não estou disposta a transigir com essa esculhambação em filmes nos quais eu esteja realmente interessada.

Cinéfilos me entenderão. Adoradores de Peter Jackson me entenderão. Nerds me entenderão. Só os pão-duros é que talvez tenham alguma dificuldade para captar a sutileza dos benefícios, que pagam com folga o preço dos ingressos.

Para se surpreender achando que as opiniões seriam trocadas entre Somir e eu, para dizer que ver certos filmes em uma tela de computador é um pecado ou ainda para dizer que prefere cervejinha no bar do que cinema: sally@desfavor.com

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