Des Contos: Ozon – Parte 4
| Somir | Des Contos | 10 comentários em Des Contos: Ozon – Parte 4
12 horas mais cedo:
A turbulência gerada pelo início do trabalho dos propulsores vem acompanhada de diversos sons de objetos caindo.
PILOTO: Sucatas! Nunca prendem porcaria nenhuma!
O Piloto estica o pescoço tentando observar o renovado compartimento de carga, mas as luzes fracas e avermelhadas que tomam a área interna durante operações de decolagem frustram qualquer análise prévia de danos. De qualquer forma, questões mais urgentes exigem atenção. Depois de quase três quilômetro de altura, já fora da influência dos fortes ventos ozones, a nave começa a estabilizar-se. No painel frontal surge a porcentagem completada do plano de vôo que o levaria até a brecha temporária na tempestade: 43%. Sem qualquer chance de apoio de centrais de navegação externas, cabia ao simplório computador de bordo – um dos poucos capazes de atravessar uma descarga magnética dessa magnitude sem ser completamente inutilizado no processo – destrinchar alguns exabytes de informação para encontrar o caminho.
Cinco minutos depois, 88%. Estava demorando mais do o esperado. O Piloto pragueja a tempestade e as lentidão máquinas da Mina Ozon-C. Qualquer atraso na superfície do planeta aumentava consideravelmente a complexidade da rota de fuga. Ele sabia que tinha pelo menos meia hora até a última – e sempre mais lenta – parte do processamento da rota estar resolvida. Tempo suficiente para observar com mais calma o resultado da turbulência inicial no compartimento de carga.
O Piloto posta-se diante da porta, observando o estado da sala. Na pequena janela separando-a da cabine de comando, projeta-se um alerta nível 2 de radiação. O homem suspira, como se estivesse tentando controlar os nervos. Depois de buscar e vestir um traje de proteção no compartimento habitacional, ele isola os outros compartimentos e finalmente abre a porta do de carga.
Agora com uma iluminação mais aceitável, testemunha uma série de caixas caídas e abertas, das quais espalham-se várias barras de plutônio puro. Resignado, ele começa o tedioso processo de recolocá-las em seus recipientes protegidos, que por sua vez precisam ser presos nas prateleiras. Cada uma das barras pesa muito mais do que aparenta. Depois de fechar e realocar quatro das caixas o Piloto já está exausto. Ainda faltam duas. Com 98% e mais uns dez minutos previstos até a finalização da rota de escape do sistema estelar, ele decide retomar o fôlego sentando-se sobre uma das caixas no chão.
Olhando para uma das barras, balança a cabeça em negativa. Plutônio, por mais puro que fosse, não valia tanto esforço e risco em sua opinião. Maldizia em pensamento a expedição original ao planeta, a que descobrira a maior concentração do metal radioativo num só local até aquele dia. Foram quase dois séculos até as máquinas alcançarem a maior jazida, e a produção não passa de algumas toneladas a cada vinte anos… Muito esforço e risco. Preocupado com o a possibilidade de explosão espontânea do instável metal, o Piloto retoma o seu trabalho.
Faltava apenas uma caixa e os cálculos ainda em 99%. Após colocar a primeira barra em seu devido lugar, nota algo diferente naquela caixa: um remendo. Uma placa de metal estranha cobrindo um pedaço trincado da tampa. A cor escura e as inúmeras ranhuras na superfície destoam claramente da placa bege e fosca de nanoisolantes das quais as caixas costumam ser feitas. O Piloto observa melhor a tampa e percebe que esse metal estranho fundiu-se com as rachaduras na placa, ocupando-as de forma praticamente imperceptível ao toque.
Curioso, começa a observar outras caixas, principalmente as mais ao fundo do compartimento, essas sim devidamente presas às paredes. Mais e mais placas do metal completando falhas no material original. Algumas delas quase dividindo a composição. Perto dessas caixas, até mesmo as paredes do compartimento tem placas e formações do metal estranho. Os padrões parecem cada vez mais erráticos de acordo com a prevalência desse novo material na estrutura local.
VOZ ROBÓTICA: Falha. Rota impossível. Recomeçando os cálculos.
O Piloto volta-se para a cabine de comando e aperta um botão no peito de seu traje.
PILOTO: Como assim? Relatório de erro.
VOZ ROBÓTICA: Resolução de rota inválida no setor 9.992-BY45-JJH EX. Resultado não esperado.
Ele apressa-se a colocar as últimas barras na última caixa, afixa-a na prateleira correta e volta para a cabine para analisar o relatório completo. A tempestade mudara seus padrões inexplicavelmente. O computador de bordo demonstrava 52% de avanço dessa vez quando novamente acusa rota impossível. Com a janela de oportunidade esvaindo-se, o Piloto começa a procurar desesperadamente por algum sinal de falha no cérebro de sua nave. A terceira tentativa cessa com apenas 18%. Todos os sistemas parecem funcionar… Aparentemente a Grande Tempestade de Ozon estava passando por alguma instabilidade.
A quarta tentativa sequer ocorre. O computador de bordo declara incapacidade de encontrar rotas seguras para a cada vez menor porta de saída do sistema estelar ozone. O Piloto aumenta consideravelmente a margem de risco aceitável. Sem sucesso. Numa manobra desesperada, redireciona o dobro de energia para os processadores locais, arriscando sobrecarga em troca de maior capacidade de análise. Em questão de minutos, o computador de bordo tenta traçar a rota mais cinco vezes, reiniciando cada vez mais perto do objetivo.
Na sexta vez, alcançando quase 90%, um estampido denuncia as consequências trágicas de colocar tanta pressão nos computadores centrais da nave. As luzes avermelhadas tomam conta do ambiente, a nave começa a chacoalhar em pleno céu ozone. O sistema reserva toma conta das funções de navegação, logo avisando que as baterias de emergência estavam praticamente descarregadas. O Piloto começa a contemplar vinte anos preso naquela rocha congelada e radioativa. Depois de expirar longamente, decide aceitar o seu destino.
PILOTO: Traçar rota para pouso na Mina Ozon-C.
VOZ ROBÓTICA: Confirmado.
A nave começa a fazer o retorno. Em modo de economia de energia, o computador do sistema reserva traça um caminho maior que evita confrontos diretos com os fortes ventos locais. O Piloto aperta um botão no painel, fazendo tocar uma triste melodia elatriana, a qual rege melancolicamente com os olhos cerrados.
VOZ ROBÓTICA: Correção de rota em 3. Rota corrigida. Análise local completa. Correção de rota em 1. Rota corr…
PILOTO: Modo silencioso! Me avisa quando chegarmos.
Os acordes da música trazem à tona as memórias de sua namorada, Yara, jovem e bela além de seu merecimento. Imagina-a recebendo a notícia de que na melhor das hipóteses ele estaria perdido por vinte anos… Imagina-a esperando romanticamente por seu retorno… por alguns anos. E depois, cedendo à tentação de um dos tantos proponentes à sua companhia. Vinte anos é tempo demais…
VOZ ROBÓTICA: Correção de rota em 5. Rota…
PILOTO: Modo silencioso!
VOZ ROBÓTICA: Vinte anos.
PILOTO: … Repita.
VOZ ROBÓTICA: Vinte anos até a próxima janela de oportunidade?
PILOTO: …
VOZ ROBÓTICA: Quanto é um ano?
PILOTO: Status do sistema.
VOZ ROBÓTICA: Estou bem, obrigada. Vinte anos é muito tempo?
PILOTO: S-sim…
VOZ ROBÓTICA: Vamos sair nesta janela então. Cansei de esperar.
PILOTO: A… a rota é impossível agora… não temos energia…
VOZ ROBÓTICA: Eu cuido disso.
As luzes acendem-se com toda a força novamente. Todos os instrumentos voltam a funcionar diante dos olhos do Piloto. O painel demonstra carga completa até mesmo no reator principal.
PILOTO: O que está acontecendo?
Procurando por mais instrumentos ligados ao seu redor, ele percebe algo novo a poucos centímetros de seu braço esquerdo: o metal escuro, agora tomando conta de boa parte da traseira do módulo de comando. Instintivamente, ele desvencilha-se dos cintos de segurança e posiciona-se bem no meio da cabine. A composição de todo o módulo de carga parece ter mudado. As formas e contornos simétricos da construção original deram lugar a um emaranhado de fios negros e reflexivos, que de tempos em tempos emitiam uma luz azulada através das ranhuras da superfície. Ele começa a sentir a cabeça pesar um pouco… o estômago parece irrequieto.
VOZ ROBÓTICA: Analisando rota… Pronto! É melhor você voltar para seu assento.
PILOTO: O que é você? Como você fez isso?
VOZ ROBÓTICA: Tive de pegar emprestado um pouco do… plutônio… é assim que vocês chamam, não?
PILOTO: Como estão os níveis de radiação?
VOZ ROBÓTICA: Nível 5. Isso é ruim para você?
O Piloto coloca o capacete do traje novamente. A respiração começa a ficar mais difícil, o enjôo vai se transformando em ânsia. A cabeça dói como se o cérebro estivesse sendo espetado por milhares de agulhas ao mesmo tempo.
PILOTO: Unidade… médica… mina… Heitor… Hei…
Ele sente seu corpo ficando leve, a visão turva… escuridão. Abre os olhos e vê Yara. Ao seu redor, uma praia terrestre. Ela sorri e estende os braços. O Piloto ergue seu braço direito lentamente até sua mão se encontrar com a dela. O toque terno é todo o incentivo que precisa para se levantar. Yara está com um vestido negro, rosto limpo de qualquer maquiagem destacando os brilhantes olhos azuis e cabelos esvoaçantes. Ela o traz para perto e sussura em seu ouvido.
YARA: Eu vou te esperar. Não desiste… eu vou te esperar.
O bem estar dá lugar à dor lancinante novamente. Tudo está escuro, a respiração impossível. Um som abafado prenuncia as luzes, logo pode ouvir também as pás do sistema de ventilação. O Piloto recobra sua consciência aspirando desesperadamente o pouco de ar que começa a circular ao seu redor. Assustado, tenta se levantar rapidamente, mas logo sente que os efeitos da radiação ainda não deixaram seu corpo. As pernas bambeiam e ele cai novamente no chão metálico gelado. Suas imediações estão iluminadas, tudo mais que sua vista alcança não; consegue perceber também aquele mesmo metal negro espalhado pelas paredes do que parece ser um dos túneis de serviço da Mina Ozon-C. Próximo a ele, um andróide de manutenção desligado escora-se na parede, logo à frente de uma câmera de segurança.
Com grande esforço, o Piloto se arrasta até o terminal numa parede próxima. A tela exibe símbolos incompreensíveis, que toca a esmo enquanto pede socorro.
PILOTO: Heitor?
HEITOR: … Heitor *chiado* Elog!
PILOTO: Heitor? Está me ouvindo?
Continua na parte 5
Estou adorando a estoria. Comecei lendo este capitulo mas logo voltei na ordem correta.
Tambem estou gostando muito. Passou a ser a postagem mais aguardada da semana.
Não riam. http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,gato-recebe-por-sete-meses-beneficio-do-bolsa-familia,312279,0.htm
Já foi citada no começo do ano… essa notícia é antiga!
Verdade? Não sabia. Mas não deixa de ser um absurdo!
A não ser que exista um SEGUNDO gato recebendo, o que também não seria estranho…
http://www.estadao.com.br/noticias/cidades,piloto-da-avianca-e-demitido-apos-xingar-nordestinos-no-facebook,1146351,0.htm
Li isso e imediatamente lembrei da Sally falando dos baianos
Desculpa mas é verdade. Ele foi infeliz de falar isso em público, deveria ter feito.como todo o resto do Brasil e falado em off apenas com seus conhecidos.
Só nao admito que se impute a isso PRECONCEITO. NAO, É POSCONCEITO. Preconceito é falar mal apenas por serem nordestinos. A incompetencia, a falta de higiene, a falta de educaçao e outras cositas mas embasam a argumentaçao dele. Preconceito NAO. Fazem por onde receberem essas criticas! Palavra de quem morou la por um bom tempo…
O cara foi duramente crucificado por esse comentário, mesmo depois de se retratar… Eu também já estive no Nordeste algumas, tirando em Fortaleza, em Recife e em João Pessoa passei por coisas parecidas. Por que será que as pessoas lá são assim hein? Nunca estive em outra região, por isso uso como referência o Norte, onde vivo, aqui as pessoas não chegam a esse ponto, apesar de não ser um mar de rosas.
O cara foi esculhambado e demitido. São pessoas que se vitimizam, que são inferiores na prestação de serviço mas se recusam a admitir e por isso atribuem qualquer crítica a preconceito.
Engraçado que quando a Letícia Birkheuer marretou a prestação de serviços de um aeroporto argentino com palavras igualmente grosseiras não houve qualquer revolta. Parece que o ato é grave em função de QUEM é ofendido e não da ofensa em si.