Ele disse, ela disse: Garota interrompida.

eded-aborto

Abortos são uma realidade, quer você concorde com eles ou não. Sally e Somir costumam concordar bastante sobre o tema, interrompidos apenas quando falam sobre assumir ou não o acontecido. Os impopulares geram suas opiniões e as colocam no mundo…

Tema de hoje: Uma mulher deve assumir publicamente um aborto?

SOMIR

Sim. Claro que estamos falando dos intencionais, os que correm o risco de reação negativa da sociedade. Mas antes de qualquer coisa, vamos entender melhor esse enunciado: não estou advogando que mulheres sejam obrigadas a vir à publico para dividir sua intimidade, seria totalmente incoerente com tudo o que digo normalmente. O “deve assumir” funciona como o inverso de “deve mentir” aqui. Estamos discutindo qual seria o melhor caminho, e não propondo alguma medida autoritária maluca…

Dito isso, considere-se chamado de burro quem usar o ângulo da obrigação como antagonismo à minha opinião. Acredito ter sido explícito o suficiente. Pois bem… faz sentido o que Sally provavelmente vai dizer sobre as consequências de dizer a verdade numa sociedade infestada por imbecis, mas nivelar por baixo tem sua dose de problemas e quase nenhuma recompensa. Quanto mais mulheres assumirem seus abortos intencionais, melhor o mundo fica.

Convenhamos: passamos do ponto no que diz respeito à reprodução humana. O crescimento exponencial da população no último século colocou-nos diante de uma série de problemas sociais e ambientais de difícil resolução. Muita gente disputando recursos finitos. Sociedades que só conseguem um mínimo de equilíbrio com desigualdade galopante e danos cada vez mais irreversíveis para o ecossistema. Não é único problema, mas é um dos maiores, senão o maior: tem gente demais no mundo.

Previsões otimistas dizem que pararemos de crescer depois de 2050. Pode ser tarde demais… E mesmo assim, vai ter ainda mais “gente demais” para dar conta. Está mais do que na hora de desmistificar o “milagre da vida” e começar a pensar feito animal racional. Praticamente todas os códigos de conduta ancestrais que influenciam religiões e legislações na nossa história privilegiam uma mentalidade de multiplicação humana. Homossexualidade e controle de natalidade são inimigos de povos desesperados para fazer mais gente (principalmente gente pobre para servir).

O problema atual é que ainda não percebemos (como um todo) que muitas das leis de outrora caducaram; soterradas sob o peso de bilhões e bilhões de pessoas. Ei, povos da antiguidade, vocês ganharam! Deu certo, a humanidade vingou! Mas agora precisamos de novos planos. Seria ótimo se as pessoas presas em séculos e milênios passados parassem de atrapalhar o desenvolvimento de toda uma espécie…

Conviver e discutir com a Sally nesses anos todos ajudou-me a entender melhor essa coisa de não ignorar leis só porque não gosta delas. É receita de atraso, e até arrogância de querer que o mundo funcione de acordo com o que você acha correto. Tudo bem. Compreendido. Mas mesmo assim há de se haver um espaço aí para evoluir essas leis. O status de legalidade do aborto em países como Brasil é um tapa na cara do bom senso e da compreensão mais básica da realidade. O mundo chegou num ponto onde perseguir e recriminar mulheres que escolhem o aborto é um absurdo. Não é que eu pessoalmente não gosto dessa lei, é que ela está em desacordo com a realidade atual.

E é aí que a desobediência civil vem a calhar. Assumir que fez aborto publicamente é mostrar a realidade para muito mais pessoas. É crime? É. Mas em dado ponto de nossa história, adultério também foi. Leis incompatíveis com a atualidade devem ser contestadas! E não é como se só umas vinte mulheres tivessem abortado filhos indesejados (mesmo que apenas temporariamente indesejados), tem aborto acontecendo aos montes por aí, em clínicas clandestinas e sob os cuidados de todo tipo de açougueiro. Os babacas que dedicam sua vida a atrapalhar a vida alheia ainda se escondem sob a ilusão de que pode-se controlar os abortos!

Acabou essa fase da história humana. Claro que a mulher deve admitir, chega de viver com essa culpa desnecessária, chega de sofrer para agradar confessos inimigos da vida humana (porque quem é contra redução do número de seres humanos na Terra hoje em dia advoga contra toda a espécie). Evidente que eu tenho mais argumentos sobre toda a parte da escolha pessoal e da bizarra ignorância científica e humanista de quem diz que a vida começa na concepção, e muito mais sobre a parte de que só deve ter filho quem pode cuidar de filho… mas esse nem precisa ser o ponto deste texto.

O direito de se calar ou de se proteger de represálias dos imbecis nossos de cada dia não pode ser extinto, evidente. Mas tem muita gente por aí que pode se dar ao luxo de enfrentar a opinião alheia. Que as mulheres que podem dizer a verdade comecem a dizer primeiro. Que comecemos a ruir as bases dessa proibição arcaica e danosa… precisa sempre de umas corajosas na frente, é sempre assim. Difícil pregar e acreditar numa revolução instantânea, mas pensando nisso como um processo fica claro que a liberação do aborto pode seguir os mesmos passos de outros movimentos que tiraram restrições sobre a liberdade das mulheres nas últimas décadas.

Sem contar que aborto já é uma experiência traumática (tenho até minha opinião terrivelmente insensível sobre isso, mas fica para uma outra situação), precisa carregar a culpa desnecessária sobre ter cometido um crime nas costas? Admita e diga que não é crime coisa nenhuma. Em muitos casos o aborto é até um gesto de amor para com o prospecto de filho. Sem condições (ou mesmo vontade) de criar um, é melhor não colocá-lo no mundo mesmo.

E deixemos os cães ladrarem. Tem muita gente no mundo, a realidade é essa e nem todo o bebê é sagrado. Tem sim o argumento que redução de natalidade custaria caríssimo a médio prazo quebrando as previdências sociais, mas alguém vai pagar a conta pela superpopulação! Essa conta VAI chegar, e quanto mais demorarmos para pagar, mais juros virão.

A mulher deve assumir sim. Pode ter sido algo triste, mas de forma alguma foi crueldade ou egoísmo. Os tempos mudaram…

Para dizer que eu sou hipócrita (opa! vivo abortando…), para dizer que é contra o aborto e não é uma pessoa ruim (é sim), ou mesmo para reclamar que é fácil falar (exatamente!): somir@desfavor.com

SALLY

Uma mulher que já tenha feito um aborto deve admitir publicamente que fez um aborto? Não. Na minha opinião é o tipo de informação que não se comenta publicamente.

Um aborto é algo muito pessoal, independente de você achar grave ou inofensivo. Não é o juízo de valor sobre o ato que determina a privacidade. Se você cagou um tolete enorme hoje, deve saber que não há a menor reprovação social no quanto ao ato de cagar e ainda assim eu insisto que isso não deve ser dito publicamente. Você conta o tamanho do seu tolete para alguém que pergunte? Portanto, não tem nada a ver com reprovação moral. Certas coisas só dizem respeito aos envolvidos, entre elas toletes e aborto.

Independente do julgamento moral, hoje, infelizmente, fazer um aborto no Brasil é crime. Não acho prudente alardear que cometeu um crime publicamente. Novamente não me refiro ao julgamento social, e sim a algum desdobramento infeliz estimulado por pessoas oportunistas que tenham a intenção de prejudicar quem faz esta confissão. E não me refiro necessariamente a um processo criminal, fazer um aborto, por exemplo, pode ser motivo para demissão dependendo de onde se trabalhe. Até ser ateu é motivo para demissão no Brasil, basta ler jornal para saber disso.

Se existirem filhos então, o cuidado deve ser maior ainda. Uma informação dessas que chega truncada a uma criança pode causar um belo sofrimento, coisas como: “sua mãe matou um irmãozinho seu que estava na barriga dela”. Não é uma frase inventada, é uma frase que todo mundo falava para um coleguinha de escola da minha sala depois que se espalhou que a mãe dele tinha feito um aborto. Desnecessário fazer seu filho passar por isso, não acha? Uma criança pode não compreender uma coisa dessas dependendo da idade. Vai saber o estrago que isso causa.

É um erro pensar que não contamos algo necessariamente pelo medo do que os outros vão pensar. Existem outros motivos pelos quais não se conta: para preservar terceiros, para preservar o emprego, para preservar a privacidade, para se poupar de aborrecimentos e outros. Também é um erro pensar que algo é grave apenas por ser omitido. Nunca vou compartilhar com ninguém a cor do meu cocô e nem por isso esta é uma informação relevante.

Minha opinião pessoal é de que o aborto não deveria ser crime, faz quem quer. E o fato de uma pessoa desejar que não seja crime não quer dizer que ela é a favor ou que faria um acordo. Ela é a favor do direito de escolha. Mas, para que caminhemos nessa direção, não pretendo fazer as mulheres que se submeteram a isso de boi de piranha. Não é peitando a sociedade e se expondo individualmente que se consegue esse tipo de mudança. Colocar a responsabilidade dessa mudança nas mulheres que fizeram aborto é responsabilizar a vítima. Não acho exigível colocar as coisas dessa forma, como se a obrigação de compartilhar estivesse relacionada com cidadania.

Todos estes argumentos seriam perfeitamente válidos em qualquer contexto, mas, só para reforçar, gostaria de lembrar que vivemos na República das Bananas, um local onde pessoas perdem emprego por causa de ateísmo, roupas são responsabilizadas por estupros e suspeitas bastam para torturar uma pessoa. Dentro desse contexto específico, alguém acha exigível que uma mulher evada sua privacidade dessa forma? Quem respondeu “sim” não tem muita noção de causa-consequência ou não tem muita noção da crueldade de julgamento com a qual mulher é tratada nesse quesito.

Curioso como algumas pessoas, geralmente homens, tratam o aborto. Parece que é algo divertido: vamos falar sobre isso! TEM QUE falar sobre isso. Parece que o simples fato de FALAR no assunto e trazê-lo à tona não é doloroso por si só: “Tem que falar! Tem que falar!”. Pois é, Madames, para muitas mulheres é doloroso demais falar no assunto, ainda que seja para receber apoio do interlocutor. Não TEM QUE falar porra nenhuma, falar vem sendo o grande mal da sociedade moderna. Há momentos onde é melhor calar. A menos que a mulher queira muito falar, se estiver na dúvida (se não há dúvida, nem tem o que discutir), melhor calar. Afinal, quem cala sempre pode mudar de ideia e falar, mas quem fala não pode “desdizer”.

Como homem não engravida, não posso dar um exemplo exatamente igual, mas vamos pensar em algo que provocasse muito sofrimento a um homem? Vamos imaginar que um homem foi estuprado por outro homem e não quer contar para ninguém pois só o fato de lembrar disso é doloroso. Só o fato de mais alguém saber o humilha. Será que gostariam de ler uma mulher escrevendo sobre a importância de falar para a evolução da sociedade? Será que gostariam de ser colocados na posição TEM QUE falar? Quando se passa por algo doloroso e pessoal, foda-se o mundo, tem que fazer o que for menos doloroso para a pessoa.

É uma vergonha viver em um país onde a Presidente da República é MULHER que toda a vida se disse A FAVOR DO ABORTO e ainda assim aborto ser crime? Sim, é mais uma das vergonhas extremas às quais Dilma nos sujeita. Mas para mudar isso não tem que pressionar a coitada que fez um aborto. Para mudar isso se pressiona quem está no poder e se combatem argumentos idiotas como “se liberar vai ser usado como método anticoncepcional”, como se mulher optasse por fazer um procedimento sofrido, perigoso e incapacitante desse regularmente como escolha de vida. Ignorância se combate com informação, com educação, não com evasão de privacidade.

Fazer um aborto é uma decisão de caráter íntimo do casal, eu honestamente acho que não tem que ser conversado com mais ninguém, até porque expõe o seu/sua parceiro(a), que pode não querer ver isso compartilhado. Sair falando sobre aborto que fez me parece desconsideração com cônjuge e falta de adequação social. É quase como contar que tem herpes ou alardear uma prática sexual. Sério mesmo, ninguém quer saber. Guarde esta informação para a intimidade do lar ou para poucos e bons amigos confidentes.

Uma pessoa que bate de frente com a sociedade não muda o mundo, é trucidada. E uma pessoa que passou por um baita dano emocional (não é fácil para NINGUÉM fazer um aborto, estejam avisados) não merece ser trucidada. É uma decisão que muitas vezes assombra a mulher para o resto da vida, tudo que ela não precisa é ganhar de brinde vários dedos apontando para ela e julgando, muitas vezes dedos que também fizeram um aborto mas optaram por não contar. Então, vamos pensar primeiro no bem estar de quem passou por algo traumático, pode ser? Como eu disse, não vai mudar o mundo, só vai chatear os envolvidos.

Se homem engravidasse, aborto não só seria permitido como ainda seria incentivado.

Para encher o saco com um discurso moralista pau no cu religioso, para provar que o Somir está certo e contar, mostrando seu nome real, sobre um aborto que você fez ou ainda para dizer que hoje em dia não se deve contar nada a ninguém, apenas conversar sobre o tempo: sally@desfavor.com

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Comments (63)

  • Não sei se alguém já comentou sobre isso, mas a ex namorada do jogador Adriano, se não me engano o nome é Joana, assumiu publicamente no programa da Ana Hickmann que fez um aborto. Era um quadro em que algumas pessoas faziam perguntas para os participantes da “A Fazenda”. Achei até estranho o fato de não ter dado polêmica… eles ainda perguntaram se ela estava consciente de que era crime e ela respondeu que sim. A justificativa dela foi bem direta e sincera: não era um bom momento.

    • Deve ter sido a Joana Machado. Essa moça tem um historico de vida beem complicado. O fato dela ter se exposto assim só confirma que isso nao se deve fazer.

  • Sou totalmente a favor. E me dá nojo machistas de plantão reclamando ´que o pai deve ser consultado´ mas na hora de chegar junto e apoiar e criar o filho some. Há sim homens diferentes mas não importa o quanto eles realmente sejam parceiros a vida que muda por causa de uma gravidez e de um bebê é a da mulher.
    E para os que apelam pra deus pra tudo sempre digo que ´está na bíblia´ não é argumento. Se o aborto fosse legal evitaria-se milhares de mortes de mulheres em clinicas clandestinas, milhares de reais seriam economizados em tratamento de complicações de abortos e principalmente tenho certeza que a ´Fundação casa´ hoje não estaria tão lotada, pois uma criança não desejada em um ambiente sem estrutura vai resultar em que?

    • Sissy, você consegue olhar mais além do que a média dos brasileiros e antever tudo isso. Eles não. Eles tem o cérebro de um peixinho dourado e só conseguem pensar no imediatismo de SUPOSTAMENTE “tirar uma vida”.

  • Tem gente que acha que se o aborto for legalizado tudo que é mulher vai querer engravidar todos os dias e abortar todos os dias. E para quem acha que o aborto é o assassinato de um bebê prq jura que a vida humana começa na concepção é só pensar que pode acontecer da mórula que era única se dividir e cada parte evoluir pra um blastocisto diferente e em casos raros pode acontecer a blastodiérese e um ou nos dois blastocistos e gerar tri ou quadrigêmeos. Onde já se viu um ser humano se dividir em duas ou mais pessoas?

    • Por favor… uma mulher que faz um aborto fica incapacitada por pelo menos uma semana e é doloroso física e mentalmente. Ninguém vai usar como método contraceptivo! Só homem pode pensar uma coisa dessas…

      • (Já vi mulher falando isso, acreditem.)
        Sou a favor da legalização do aborto.
        Não dá pra falar sobre aborto com BM, não dá. Eles sempre vão usar o argumento ad nauseam de que é “tirar uma vida”.
        Eu há pouco tempo discuti isso com uma amiga de uma amiga minha, que é BM, e ela só faltou me engolir.

        • Fosse só o argumento “tirar uma vida” (ou a derivação “só Deus tem o direito de tirar uma vida” ) eu entendia. Mas daí vem aquela contradição de querer matar bandido. O tamanho da incoerência me assusta.

      • Pior que não. Já vi mulher falando que se o aborto for legalizado só vai dar “infanticídio”. Tem que ser forte pra não excluir o face nessas horas.

  • PQP, camisinha não é método contraceptivo, é só pra DST. Conheço pessoas que engravidaram usando camisinha! Não protege 100%.
    Não concordo que se deva falar que se fez um aborto, é como a Sally disse, há muitos prejuízos.
    Certa vez um professor de inglês chegou pra conversar comigo, e eu perguntei se ele era ateu, ele respondeu que sim, mas que não falava sobre isso porque podia perder o emprego. Sim, é triste viver num país onde ser ateu pode te fazer perder o emprego, imagina se falar que fez um aborto… é perigoso!

    • Mas AI DE VOCÊ se discriminar um evangélico ou um católico! O MUNDO te ataca! A crença deve ser respeitada, a não crença pode ser execrada…

      • O único método que protege 100% é a castidade (e olha Virgem Maria aí pra me desmentir, hein? hahahaha)
        Mas então…
        COMO algo que protege de DSTs que são vírus e bactérias não serviria pra contracepção (que é uma célula)?
        Sinto muito, mas camisinha funciona pra contracepção tanto quanto pra proteção de DSTs.
        A questão é que as pessoas usam errado, e isso aumenta demaaaaais o índice de falha. Mas falar que camisinha não é método contraceptivo é MUITO errado!

  • Se todo mundo fosse adepto do “cada um cuida da sua vida”, essa questão nem existiria. Não só em relação ao aborto, mas em relação à 99% da nossa vida, que compete só a nós mesmos e a quem convive com a gente. Não fico falando nada de mim para os outros. Pra que neste universo eu faria isso?

    • O problema é que as pessoas se acham no direito de “salvar” vidas de inocentes porque acham que aborto é assassinato. Um amontoado de células não pode ser descartado porque “a vida é sagrada”, mas um ADULTO que furtou um celular tem que morrer, porque bandido bom, é bandido morto. Tem diálogo com gente assim?

      • Nesse caso, o BM vai te responder que aquele amontoado de células (que pra eles é um ser humano já) é inocente, ao contrário do adulto que roubou. O problema é o BM entender que não tem milhões de mini seres humanos dentro do saco do homem e nem um mini ser humano dentro da mulher, que apenas cresce e ponto final.

          • Para brasileiro médio, qualquer coisa é motivo para matar, bater, xingar a mãe e ainda clamar a pena de morte pra “fazer uma limpa”, como já ouvi falar..
            Vou usar essa frase do ovo. Pena que duvido que entendam…

  • Daqui há umas 5 décadas poderá se falar. Uma colega minha caiu na asneira de falar lá no serviço que já fez aborto e ficou conhecida como “a aborteira”
    Se fez guarda pra si, porque se falar vai ser discriminada.

  • Lembrei desses relatos:

    http://escrevalolaescreva.blogspot.com.br/2011/02/guest-post-fiz-um-aborto-e-nao-sofri.html

    http://escrevalolaescreva.blogspot.com.br/2011/08/guest-post-aborto.html

    Anonimato talvez seja o “jeitinho” brasileiro de fazer o assunto ser exposto e discutido, ajudar a quebrar o tabu, ao mesmo tempo evitando as conseqüências a nível pessoal. Não que deixe de ser problemático para a mulher, caso do segundo link, mas já é alguma coisa.

    • Nessas horas eu penso em quem está sofrendo: falar faz bem? Fala. Não falar faz bem? Não fala. Falar anonima ajuda? Fala. Vale tudo

  • A respeito do enunciado:não.
    Porque?
    Camisinha-0,12 (preço da comprada pelo governo federal e distribuída).
    Aborto clandestino-de R$100 (dois citotecs,dá pra comprar pela net) a R$5.000,00 , fora quando complica e o governo gasta mais outros 5 mil para curetagem,acompanhamento,etc.
    Pessoalmente? só posso fazer contra alguém alguma coisa que fizeram contra a minha pessoa.
    Ora se a minha mãe não me abortou,qual direito que eu tenho de abortar minha filha/o?
    não, não sou religioso, pelo contrário , mas quem atende aborto clandestino na emergência pode falar sobre o assunto com outra visão.
    Sem ser piegas,mas o aborto é uma violência absurda, o feto abortado muitas vezes tenta sobreviver,ensaiando uma defesa , uma respiração.
    Muitas vezes na curetagem,vc retira uma cabecinha,uma perninha destroçada.
    devia ser matéria escolar a partir de uma certa série educação sexual,com vídeos e fotos, mostrando as vantagens da pílula,do DIU,da camisinha,mesmo a pílula do dia seguinte é menos cruel.
    lembrando de novo,sem pieguice;
    Valeu , mãe! pela sua coragem,pela sua honestidade comigo,mesmo antes de eu nascer.

    • Métodos contraceptivos falham, principalmente camisinha, que se não me engano tem um índice de falha acima de 10%

      • Mas Sally , e a pilula do dia seguinte, eu não citei só a camisinha,custa pouco mais de 16 reais, e se tomada do modo correto é bem eficiente.
        A camisinha é essencial,não só pela concepção,mas por DST’s também.
        A camisinha se bem orientado o uso é menos de 1% de falha, acredito que também vai restringir abortos na mesma proporção.
        Vou no papo reto: falar para uma menina de 11,12 anos que abortar é o ideal é uma violência brutal.
        Feminóides de cabeça feita , mulheres maduras bem balanceadas psicologicamente são uma coisa.
        Uma mente em formação é outra.As cicatrizes emocionais , a posterior esterilidade é muito pior.
        A discussão sobre aborto é vazia de propósitos enquanto houver desinformação, enquanto houver esta educação de merda.
        É o mesmo que discutir sobre pena de morte com este sistema jurídico falido e interesseiro.
        Comparando: é querer construir uma casa sem fundação.
        Lógico que mesmo uma pessoa esclarecida,amante da sua liberdade de escolha,com uma educação diferenciada ,pode ser suscetível a propaganda governamental de eugenia.
        Sério…a pessoa é educada, tem um grau de instrução elevado, acredita piamente que está defendendo a liberdade das mulheres de decidir,mas não percebe que se influencia pela eugenia contra a ‘gente marrom’.
        Afinal, a maioria das mulheres pensantes tem acesso a camisinha,DIU, Pilula do dia seguinte, e mesmo clinicas abortivas de primeiro mundo ( o aborteiro chique daqui da região anda de porsche caienne , e o outro é prefeito!).
        Mas por outro lado, lá no fundo ela sabe que quem vai ser abortado é o ‘marronzinho’ , o filho do BM,pior o filho do BB ( o brasileiro de baixa renda).
        mas o governo PeTralha , vai vender como liberdade de expressão e vai vender como : o corpo é da mulher.
        Não é este o conceito , o corpo é da mulher,mas ela está sendo usada como massa de manobra eugenica.
        mais barato abortar pelo SUS do que fornecer educação,dar guarida,etc.
        Pense nisso.
        (ei- eu não quero brigar com ninguém,não, mas passar um pouco do contato que tenho diário com este problema)

        • Você sabe que pílula do dia seguinte só pode ser tomada em determinadas circunstâncias, por determinadas pessoas e em determinados intervalos de tempo, né? E camisinha não falha apenas quando arrebenta. Ocorrem falhas não perceptíveis. Pílula também falha. DIU também falha. Até VASECTOMIA falha, e a pessoa só descobre quando está grávida. Estuda um pouco mais sobre métodos contraceptivos…

          • Sim , eu sei, mas trombose e outras complicações de coagulação representam menos de 1% com repetições semanais,se houver um pouco de interesse e educação é bem eficiente.
            Teve dúvida? misture os métodos .
            Pra mulheres com ciclo regulado ,tanto a pilula, como a pós coito são quase 100% seguras.
            Vasectomia falhar é virtualmente impossível se bem efetuada.
            Temos dois métodos, um retira parte do canal deferente, outra faz uma ‘amarração’ . o primeiro método em mais de décadas de operações nunca falhou.
            Veja, falar de exceções não é o caso aqui, acho que podemos aceitar as exceções , estamos falando de limpeza étnica aqui e não de abortos esporádicos.
            Estamos falando que a falta de educação sexual é interessante tanto as feministas quanto ao governo.
            desculpe se te ofendi, o ‘estude um pouco mais’ pareceu uma resposta a uma ofensa e não foi esta a intenção.

              • Rosemblach… talvez você seja médico, talvez profissional de saúde… Já atendeu pacientes em situação de abortamento… Estima-se que no Brasil sejam feitos anualmente por volta de 1 milhão de abortamentos/ano (OMS) em um mundo perfeito na minha cabeça nenhum desses ocorreria… metodos não falhariam, pessoas não errariam e não engravidariam ser querer… mas isso não é o real! O abortamento não é situação agradável ou desejável para ninguém mas se eu quiser vou no médico que conta 5 mil e faço com segurança! Quem não faz com segurança (e você falou em “eugenia” é a mulher pobre (homens nunca sofrem consequências de abortamentos inseguros, claro!) Que faz com a “curiosa” e acaba chegando nas emergências em situação de risco. Essa lei é injusta por isso… acaba prejudicando somente mulheres e pobres! Fiquei me segurando para comentar esse assunto todos os dias mas não aguentei o argumento de eugenia. É cruel… quanto a contar ou não, não contaria nem em emergência de hospital. A ignorância está espalhada demais…

                • Lica, eu respeito todas as mulheres, pobres ou não e atendo do melhor jeito possível,e como a Sally disse , nem tudo é infalível.
                  Veja, mesmo nas clinicas ditas ‘ de classe rica’ não é difícil aparecerem complicações e aí vai pro SUS na emergência.clinicas chiques de aborto não toleram retorno em emergência.
                  vamos ver se as mulheres daqui conseguem me entender, já que vc reduziu os homens a meros espectadores .
                  A falta de educação sexual apropriada ,leva a aborto muito,mais muito mais do que falhas de método contraceptivo.
                  mesmo que surja uma lei facilitando o aborto,a saúde pública na situação que está receberia mais de um milhão de casos por ano, mas muito por baixo.Se a lei amparar o aborto vai escancarar, como é normal no BM , e aí vão de novo para aquela fila, aquele “tendimento horroroso , aqueles cubanos versados em “pies doentes”.
                  No fim a eugenia vai continuar,matando brasileirinhos ‘marrons’ e mães pobres.
                  Sinceramente? a educação é mais barata, mais benéfica,cria condições de desenvolvimento,etc.
                  O aborto deveria ser quando realmente ocorre um acidente de percurso , não metodo contraceptivo.
                  E quem deveria tomar esta decisão não seria a Lica (que pode pagar clínica) ,mas a BM média, esclarecida das opções.
                  Não sou religioso, acho que entro na igreja só em casamento de amigos.Não sou tradicionalista.
                  Mas , analisando o esforço do nosso querido Governo de implantar o metodo , conjugado com a falta de investimento na saúde e na falta de investimento no básico de educação familiar e sexual, também combinado com a invasão de outros povos, que fazem muitos filhos, como haitianos, chineses, arabes,bolivianos,coreanos (aqui em Piracicaba é lotado) , a gente chega a conclusão que querem escancarar não por direito da mulher,nem para evitar ‘curiosas’ , mas para eliminar uma geração de barrigudinhos , afinal um aborto seguro(há) na rede pública é muito mais barto que educar durante anos,pagar cadeia, pagar faculdade , arrumar emprego,etc.
                  Eu alinho esta discussão com a pena de morte, com a liberação de drogas e outras, que são absurdas sem vc ter uma base para aplicar.
                  resumão: se muitas morrem por abortar,vamos educa-las para terem opção ao aborto,só recorrendo a ele no último caso,ou vamos escancarar o aborto?Aumentando de um milhão para cinco milhões (ou mais) na rede pública, já saturada,horrorosa,etc?
                  Eduque , conserte a saúde , aí vamos para esta discussão.

                  • Rosemblach, OK, claramente não chegaremos a um acordo pois temos posições contrárias estabelecidas anteriormente à nossa discussão. Nenhum de nós voltará atrás pois é próprio do tema. Enquanto discutimos e esperamos a tal educação sexual que faça com que TODAS as pessoas tenham APENAS relações sexuais SEGURAS vamos perdendo mulheres em emergência por abortamento inseguro e aceitando isso como corriqueiro. Aborto é um crime que, no Brasil, admiti-se ser punível com morte. E tudo bem. Deve estar SERTO.

                    • Não dá para trabalhar com presunção de informação, dignidade, segurança e saúde pública no Brasil. A realidade é outra. As pessoas miseráveis não tem acesso a métodos contraceptivos e não sabem usá-los, não tem acesso a exames pré-natal, acabam parindo no meio da rua por falta de médico em hospital, toda semana sai uma notícia assim.

                      Acho necessário encarar essa realidade e estabelecer uma solução para essa realidade enquanto as coisas não melhorem. Aliás, duvido que um dia melhorem…

  • Não é crime e faz quem quer, mas política é política. Pra se eleger vai sempre se dizer que acredita em deus e é contra aborto e tudo mais que os BMS costumam gostar.

      • É crime porque tá na lei, essa lei truncada que nó temos, mas não venham me dizer que é assassinato porque não é! Um ajuntado de células sem cérebro e sem vida própria não é um ser humano. O mesmo zé povinho que é contra a eutanásia é que costuma ser contra o aborto. Pra que manter um corpo em doença terminal causando sofrimento a vítima? Pra que deixar que um embrião crie vida se é indesejado pela própria família? Essa “vida” que tando dizem, na verdade é o cérebro. Quando há morte cerebral, adeus! Qual a diferença de permitir “matar” um adulto que o cérebro acabou e de uma criança que ainda nem sequer tem um cérebro?
        E em caso de estupro é permitido? 2 pesos 2 medidas. Eu tive uma professora de redação, que ela dizia que quase chegava a zerar provas porque os alunos não eram firmes no argumento. Matar um embrião sem cérebro não pode, mas se for caso de estupro pode, mesmo se já tiver começado a formar o cérebro. Lógica passou por longe!

        • Não acho assassinato não. Sou a favor da liberação do aborto. E ainda te dou um argumento melhor do que o que você apresentou: matar embrião sem cérebro não pode, mas matar uma pessoa adulta COM CÉREBRO que teve morte cerebral pode (com base na lei da doação de órgãos).

  • Concordo com a Sally. Sempre penso no que pode acontecer de ruim se uma mulher que fez aborto contar para a pessoa errada… Dá até um nó na garganta em pensar que uma mulher pode ser execrada, até pela mídia, se algo assim passar dos limites de sua casa.
    Entretanto também acho que alguém deveria começar a falar… Mas sobre essa parte ainda tenho minhas dúvidas se seria prudente…

    • Muitas famosas já falaram: Luisa Brunet, Eliane Giardini e outras. Essas eu acho que tem mais “armas” para se expor, talvez estejam mais “blindadas”.

      • Sim, por serem “mães de família”, elas são blindadas na mídia. Mas ainda assim, tem que chegar num certo patamar pra se garantir e contar…

        • E mesmo assim, a dor de relembrar o assunto é muito subjetiva. Para muitas o melhor a fazer é não cutucar a ferida em público. Só a própria mulher pode saber até onde ir.

      • Sim, daí o máximo que acontece são uns comentários babacas em sites de fofocas. Acho que seria um caos completo se houvesse, por exemplo, uma marcha a favor do aborto (já que tem marcha pra tudo..). A igreja meteria o bedelho, a mídia, médicos…

        • Maconha é crime e fazem marcha e todo mundo respeita. Mas se fizerem a favor do aborto vai ter grito de “assassina” para baixo, muitas vezes vindo de Mamãe negligente que joga o filho em uma creche onde ele apanha ou deixa com babá o dia inteiro em vez de educar.

          • Ta aí uma coisa que nunca entendi. Se fumar maconha é crime, por que as marchas são permitidas? Desculpa fugir do assunto, é que sempre esperei uma oportunidade pra te perguntar isso…

            • Pela liberdade de expressão. Em tese a marcha não é PARA fumar maconha nem para vender maconha nem para mandar que os outros fumem maconha. EM TESE a marcha é para pedir que não seja crime fumar maconha. O cidadão pode organizar manifestações pedindo alterações na lei.

  • Concordo com a Sally.
    Este não é um país civilizado, certas coisas simplesmente não se fala e ponto final.
    Nenhuma mulher merece o peso de ser boi de piranha da evolução, não num país como este.

    • Vai bem além de se importar com o que os outros pensam, há prejuízos concretos para a mulher que fala abertamente de aborto

    • Também penso o mesmo viu? Se ao menos o país fosse um tanto “civilizado” acho que até poderia sim se falar no assunto, DESDE QUE também a mulher se sinta à vontade para tal. Agora, é realmente ridícula essa posição [masculina] de “tem que falar” e pronto. Poxa, há certas coisas que devem ser omitidas, é difícil entender isso?

      • Não, Ge. Ser civilizado nem sempre pode ser um requisito para poder tratar do assunto. No Japão, fazer um aborto é legal há décadas e sem qualquer burocracia. Mesmo assim, ninguém fala no assunto para não cair vítima da hipocrisia. Assim como não admite ter mandado seu filho deficiente para um orfanato numa ilhota há centenas de quilômetros da costa.

        Se bem que, no fundo, Japão não é (e nunca foi) prelúdio de civilização…a cada dia, e a cada relato de gente que veio de lá (como o cara que testemunhou um tarado gozar na perna da mulher em um metrô, e os outros passageiros culparem a saia curta dela pelo episódio), me convenço cada vez mais disso…

  • Sally, concordo plenamente com você, principalmente na parte de “hoje em dia não se deve conversar mais nada com ninguém, só falar sobre o tempo.”
    Para os homens, talvez isso não tenha tanto peso, mas pra quem é mulher, cada letra dita é totalmente vigiada e avaliada com um peso enorme. E não, isso não é vitimização, é realidade. Portanto, qualquer informação pessoal dita em público, precisa ser muito bem pensada.

    • Dependendo do que a mulher fale ela é: piranha, histérica, chata, controladora, vagabunda, maluca, neurótica, galinha, stalker, encalhada. Ninguém atribuí nada parecido a homem apenas pelo seu discurso. No máximo chama de viadinho e olhe lá.

      • Um homem pode falar abertamente com pessoas que ele não conhece que se colocarem o lutador José Aldo de boné no balcão de uma lanchonete,este passaria perfeitamente como vendedor de lanchonete. Se uma mulher disser o mesmo vai ser taxada de arrogante, metida, interesseira, elitista, mal educada…

        Uma mulher não pode expressar sua opinião da mesma forma que o homem. Pena que muitos ainda não perceberam isso… Triste.

        • Concordo plenamente. E antes que alguém comece a gritaria, que fique claro: NÃO QUEREMOS CALAR OS HOMENS, QUEREMOS APENAS PODER FALAR TAMBÉM

          • Não é apenas questão de poder falar, é questão de poder falar sem sermos julgadas.
            Mas acho impossível estarmos vivas para presenciar uma mudança como essa…

            • Também acho. Em vez da situação melhorar, parece que piora. Todo mundo é cada vez mais julgado na hora de falar qualquer coisa…

  • Não interessa que isso não exista ou seja invenção de apenas um grupo de pessoas, vou dizer que vcs vão para o inferno, e senti que os ofendi profundamente, ja que estou mostrando que EU não sou assim.

    Em tempo, estou a Sally nessa e a frase do final embora seja clichê é a mais pura verdade – é fácil legislar sobre algo que não pode acontecer contigo.

    • Zaq (o cachorro!)

      É mais fácil… E muito bom!!
      O que vcs queriam? Tipo: ” (gritando) O senhooor! (gritando mais baixo)Senhor! Isso… o senhor mesmo aí com a pipoca! É possível o senhor dar uma palavrinha aqui? Estou fazendo umas entrevistas sobre o aborto e tal, gostaria de uma opinião masculina… – Hã? O que? É sobre mulher? Ah… tomá no cu! Esse assunto é de mulher! Vá falar com uma! – Então o senhor é contra? – Não vou dar minha opinião! É sobre a mulher? Então foda-se!… Mostra o dedo médio pra câmera, dá as costas e sai andando… comendo pipoca!”

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