Ciúmes em você.

Cada qual a sua maneira, Sally e Somir se consideram ciumentos. Mas na hora de racionalizar o comportamento, diferem consideravelmente. Os impopulares não fazem cara feia ao dividir suas opiniões.

Tema de hoje: Ciúmes é uma prova de amor?

SOMIR

Não. E talvez reiterando o coro de “morto por dentro” ouvido em diversos tons e formas diferentes durante minha vida, tenho que começar o texto falando de falsos positivos. Não os da lógica, mas os da medicina: uma das maiores preocupações de um médico responsável é diagnosticar a doença certa. Muitas delas apresentam sintomas parecidos, e qualquer distração pode gerar um desses diagnósticos falsamente positivos.

E como é óbvio pelo exemplo acima, não se trata direito algo que não se sabe o que é. Remédio para gripe pode matar alguém com dengue, por exemplo. Sintomas parecidos não significam a mesma doença. Mantendo as analogias médicas, amor e ciúmes são doenças com sintomas parecidos, mas tratamentos bem diferentes.

Eu acabei de comparar amor com uma doença… começo a entender o que tantas mulheres já me disseram… De qualquer forma, se você souber abstrair um pouco o exemplo, já deve ter entendido aonde quero chegar. É cômodo acreditar que ciúmes são uma medida de amor exagerado, como se fosse apenas uma questão de dosagem até o ponto ideal, mas na verdade ciúmes e amor estão irreparavelmente separados, não importa o quanto você acredite em suas semelhanças.

E vejam bem, não estou aqui para demonizar o ciúme em todas suas formas; quando dissociado da desconfiança até que é uma agradável lembrança de quanto se vale para outra pessoa. Há prazer na ideia que alguém não quer te dividir, como se você fosse único e insubstituível (mesmo que ninguém seja na prática)… É uma ilusão de importância que faz bem para o ego.

Separar ciúmes de amor não é transformá-lo em antônimo. É só evitar que o diagnóstico se torne um falso positivo. O ciúme pode coexistir com o amor, mas não o substitui em nenhuma forma ou condição. Ciúmes provam possessividade, algo que não faz parte do conceito de amor. É muito comum que ambos venham juntos, mas o sentimento de posse não passa de adendo eletivo para se vivenciar o amor.

A não ser que o conceito de amor para você seja indiferenciável de mero querer, há de se entender que ele pode existir em sua forma completa sem os ciúmes. Usar ciúmes como prova de amor é a mesma coisa que usar desânimo para provar depressão. São coisas que existem separadamente, mas costumam aparecer juntas. Só que uma não querendo dizer a outra.

Prova de amor deve ter relação com amor. Não se prova que alguém cometeu um crime mostrando evidências de outra pessoa fazendo, não é mesmo? Provar amor não é ser egoísta ou dramático, é demonstrar na prática a solidez do sentimento. Confiança, fidelidade e companheirismo demonstram amor. O resto é vontade de agradar e/ou ser agradado.

Se você está demonstrando que não gosta de dividir outra pessoa, não está sendo um ser humano terrível, mas também não está fazendo nada de muito diferente de não emprestar um objeto para alguém. São escalas totalmente diferentes de relacionamento entre nós o universo que nos cerca. Às vezes amor é justamente dividir.

Talvez toda minha opinião tenha a ver com a forma como enxergo amor, talvez você discorde totalmente. Da forma como eu entendo, amor é uma ‘música ambiente’, algo que está lá mesmo que outras coisas te exijam mais atenção no momento. Não acredito nele como desejos e impulsos de momento, mas como uma fundação sólida que resiste e se molda a eles. Como um impulso egoísta poderia ser prova de algo assim?

Mantendo a analogia da música ambiente, o ciúme seria um alarme estridente tomando de assalto seus sentidos. Poderoso, mas passageiro. É muito humano sentir a vontade de posse exclusiva. Se a discussão fosse sobre tratar ciúmes como algo horrível e necessariamente tóxico para uma relação, eu até concordaria com a Sally. Mas não é. Estamos falando sobre eles serem uma prova de amor.

E amor não é feito de ciúmes. Tanto que um pode vencer o outro. É essencial saber dosar o que é impulsivo e egoísta, mesmo quando a cabeça vai bem e o ciúme não é sinônimo de insegurança pessoal. O mundo é muito grande e ninguém pode viver em função de você, mesmo que a pessoa queira oferecer tamanha exclusividade. É a velha batalha entre o que se quer e o que se pode ter.

E sabendo separar as coisas, podemos cuidar de cada uma delas com seu devido método. Amor é algo que se cultiva para se espalhar e enraizar, ciúme é uma planta que precisa ser podada e controlada. Amor como uma sólida árvore, ciúmes como ervas daninhas dotadas ao mesmo tempo de espinhos e belas flores. Nada contra quem quer as flores em seu jardim, mas elas vão sufocar todo o resto dada a oportunidade.

São coisas diferentes. Uma jamais pode provar a outra. Tem gente nesse mundo que acha que espancar alguém é prova de amor. E nesse exemplo extremo eu duvido que a maioria de nós tenha dificuldade de separar o que é o quê. Controlar ciúmes não é amar menos. Tê-los não é amar mais. Entenderam a separação?

O amor pouco se importa com arroubos emocionais. Ele é o que faz as pessoas se desculparem, perdoarem, confiarem… Seja lá na medida que estiverem dispostas a fazê-lo. Perdoar traição não significa amar mais, trair não significa amar menos. São elementos externos ao conceito, que por mais que o atravessem, não o tornam mais ou menos válido.

Saber separar as coisas te ajuda a entendê-las melhor. Amor não pode virar impedimento para você respeitar suas visões sobre os assuntos que acabam se misturando nele. Ciúme não prova amor. Ciúme prova ciúme.

E já está de bom tamanho.

Para dizer que tem pena de mim por não viver a mesma montanha russa emocional que você, para definir que amor é o que for mais fácil no momento, ou mesmo para dizer que a analogia das plantas foi gay (é, foi…): somir@desfavor.com

SALLY

Vamos todos tirar dez segundos para prestar atenção na frase:

CIÚMES É UMA PROVA DE AMOR?

Atenção, vamos dissecar para evitar me fazer perder tempo explicando o que deveria ser de conhecimento público nos comentários: ciúmes não é a ÚNICA prova de amor, estou te perguntando se é UMA prova de amor. Ciúmes não se confunde com insegurança, nem com barraco, nem com gritos, nem com escândalo nem com briga. Isso são apenas consequências que podem ou não advir de ciúmes.

Ciúmes é se incomodar que alguém flerte com a pessoa que você ama, ainda que você se incomode da forma mais silenciosa do mundo.É O SENTIMENTO, não as consequências e reações a ele, que demonstram amor. Esqueçam a reação ao sentimento, ela não está em jogo aqui. A reação não é sinônimo do sentimento.

É possível ter ciúmes de alguém mesmo confiando plenamente na sua fidelidade. Ciúme não é insegurança nem medo que tomem aquela pessoa de você, ciúme é o incômodo causado por uma pessoa dando em cima de alguém que você gosta. Infelizmente parece que para o brasileiro médio isso só pode ser externado na forma de briga, barraco e palavrão. Na verdade, é possível sentir ciúmes e lidar com isso de forma madura, na base da conversa, sem briga, sem estresse. Portanto, não confundir CIÚMES com as consequências barraqueiras que esse povo faz nascerem dele. Expliquei, expliquei e expliquei e podem apostar que vai ter alguém nos comentários confundido.

O fato de não externar ciúmes não quer dizer que ele não exista. Uma pessoa pode morrer por dentro e não demonstrar o que está sentindo. Claro que fica bem difícil de conceber isso se você for um barraqueiro que pensa que o resto da humanidade é todo igual a você, mas não é o caso dos nossos leitores. E sim, eu acho que se incomodar de forma significativa quando percebe que estão dando em cima de alguém que você gosta é uma prova de que você gosta dessa pessoa, independente da reação que isso cause. Tanto é que muita gente só se dá conta que está realmente gostando de alguém quando o ciúme dá as caras de forma inesperada.

Sinceramente, se um dia eu me pegar em um relacionamento onde não me desperte nenhum tipo de desconforto o fato de alguém estar flertando com meu parceiro, certamente vou me perguntar se gosto dele. Não acho compatível a indiferença a uma invasão como essa. Posso não falar nada, posso não deixar transparecer, mas se deixar de SENTIR, acharia um forte sinal de que não gosto mais da pessoa. Indiferença costuma indicar isso mesmo. E nada tem a ver com medo, ok?

Um exemplo para ilustrar o que estou tentando dizer: eu ficaria extremamente chateada se um gay desse em cima de um parceiro meu, mesmo tendo a plena convicção de que meu parceiro não é homossexual nem bissexual. Não é medo de perder a pessoa, medo de que “me tomem” a pessoa (como se isso fosse possível). É um mal estar ligado à falta de respeito, ao sentimento de que alguém cruzou uma linha que não deveria ter cruzado. Ciúme não se sente só de loira gostosa. Insegurança talvez, mas ciúmes certamente não é privilégio de investida de pessoas bonitas.

Se eu estou em um relacionamento monogâmico e uma idosa de 99 anos dá em cima do meu parceiro de modo a que eu veja ou fique sabendo, eu vou ficar chateada. Se uma obesa de 600kg que não consegue andar nem sair da cama fizer o mesmo, também. Se outro homem der em cima, também. E se o Papa Francisco der em cima, também. Percebem onde quero chegar? O sentimento se apresenta em função do ato, e não da pessoa. E o que eu escolho fazer com esse sentimento não define o sentimento em si. Diz muito sobre o tipo de pessoa que se é, mas de forma nenhuma vincula o sentimento.

O ciúmes é uma fragilidade nossa, nos lembra do quanto estamos vulneráveis quando gostamos de alguém. Estar em um relacionamento significa que pode vir um terceiro e, por um ato unilateral, nos causar algum grau de sofrimento. O ser humano não gosta de admitir sua vulnerabilidade. Talvez por isso se bata tanto no ciúmes. Já repararam que todo mundo joga pedra nos ciúmes? É sempre uma bosta, é doentio, é prova de que a pessoa é imbecil. Spoiler: todo mundo sente ciúmes, a questão é como cada um resolve lidar com isso.

Algumas pessoas lidam tão bem que conseguem manter relacionamentos abertos. Palmas para elas. Não quer dizer que não sintam, e sim que lidam bem com isso. Outras lidam tão mal que descambam para a agressividade. A forma como se lida com o sentimento é algo bem diferente do sentimento em si. Se um homem te tranca em casa por ciúmes, a culpa não é do ciúme e sim da forma doentia como ele escolheu lidar com isso.

Coitado do ciúme, leva a culpa de tudo sozinho. Chega de injustiça. Assim como estar bêbado não é motivo para trair, sentir ciúmes também não é motivo para trancar ninguém em casa! Ou por acaso alguém fica com raiva da bebida quando leva um chifre de um bêbado? Chega de confundir sentimento com a reação que se tem a ele!

É sim um sintoma claro de apreço por aquela pessoa que te incomode o fato de um terceiro estar se aproximando de forma indevida dela. E não há qualquer coisa de errado nisso se você souber fazer a distinção que eu estou propondo e parar de vilanizar o ciúme. Chega de atribuir características negativas ao ciúme, não é só quem é inseguro, escroto e machista que sente ciúme, é da natureza humana. Os inseguros, escrotos e machistas são os que se sentem autorizados a fazer escrotices em nome do ciúme.

Ciúmes é sinal de posse? Pode ser. Mas também é sinal de amor. A pergunta não é “ciúmes é sinal APENAS de amor?”. Um mesmo sentimento pode ser indicativo de várias coisas, é o conjunto da obra quem vai dizer sobre qual delas estamos falando. Em todo caso, eu acho que ciúmes é uma prova de amor. Não é a única, mas é uma delas. Não consigo conceber amor sem a existência de ciúmes, ainda que muito civilizado, ainda que muito moderado.

Para ignorar toda minha argumentação e dizer que ciúmes é insegurança sempre, para ficar confuso e não saber o que dizer ou ainda para se refugiar no cagado “ambos estão certos” e não contribuir em nada para o debate: sally@desfavor.com

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Comments (47)

  • Cada vez mais, sinto orgulho de partilhar ideias com os impopulares. Leio cada comentario, sem excecao.

    Marina, enquanto lia seus comentarios, os quais discordo, nesta discussao interessante e saudavel, digitei um texto elogiando sua prolixidade genial, clareza, facilidade de formular ideias e estilo notável, (coisa que eu ja tinha notado, mas achei nao ser adequado publicar aqui, afinal, Desfavor nao é lugar de confetes. Sim, concordo. Porem, entro em contradicao (quem nunca?) para destacar seu brilhante talento e aplaudir este seu ultimo comentario de pé). Mas, antes de apertar o “publicar” a bateria do meu smartpeba descarregou.

    Bem, foi bom, pois agora leio voce desencorajando exatamente o que eu tinha passado alguns minutos para escrever. Ainda assim, decidi escrever novamente. Passei mais tempo digitando, até que por fim, iria reler o comentario para publica-lo. Sabe o que aconteceu?

    Ultimamente, o aparelho nao avisa que a bateria esta esvaziando e simplesmente a tela se apaga.

    Bem, admito que quase chorei. Ora, voce fica pensando no que vai escrever, escolhe as palavras, digita, corrige, digita outra, pára, desiste de uma frase, apaga, resume um extenso paragrafo e…tudo se apagaem menos de um segundo!

    Sabe, elogio se distingue da bajulaçao quando é desprovido de interesse, como vc citou. Deve motivar, estimular, animar, etc. Um elogio sincero pelos textos de alguem que se empenha incansavelmente por um projeto que nao lhe da qualquer retorno monetario e em retribuicao, recebe insultos, ameaças e xingamentos faz toda a diferença.
    E elogiar alguem que comenta como se estivesse escrevendo um fascinante prefácio de um livro pode até revelar um potencial que a pessoa nem sabia que tinha… Sim, Marina, pode ser um grupo de autores, ou apenas um, pode até ser você mesmo; além de nao ser este o seu nome, nunca te vi, não te conheço…mas isso nao importa. Faz tempo que notei que você é genial! Olha, sou seu fã.

    Ps: Sally, se nao achar este comentario pertinente ao tema, nao precisa publicar. Mas, peco que o encaminhe a esta sua talentosa leitora.

  • Sally, sei que você gosta mais quando discordam de você, mas puxa vida! Chega a assustar: SEMPRE concordo com os argumentos do Somir. Mas, dai, lendo os seus…ora, nem tinha visto a tal da pegadinha na pergunta. Portanto, minha opiniao: “O ciume é prova de amor?” Nao, nao é. Considerado isladamente, pode ate sere uma patologia…

    Mas ai voce me chama atencao pra um importante detalhe. O bendito artigo indefinido. “O ciume é UMA prova de amor?” Sim, claro. No conjunto da obra, faz toda a diferença. E eu provoco: Você consegue mesmo amar alguem sem sentir ciumes dessa pessoa? Isto é mesmo possivel?

    • Não acho que seja possível, mas as pessoas ligam ciúmes a barraco, a desrespeito e a outras consequências em vez de tratar o sentimento de forma isolada.

  • LindamÁr Silva

    Tudo que é MEU eu posso controlar quando EU quiser.

    QUANDO EU NÃO CONTROLO QUEM ME NAMORA EU DESTRUO TUDO EM VOLTA … E SÓ AÍ ME SEPARO.

    NÃO É INSEGURANÇA É VONTADE DE DOMINAR.

  • Sinto ciúmes, inclusive deste blog (estranho, né?). Não dou escândalo, nem falo nada, apenas reprimo. Às vezes nem é porque gosto é só aquela sensação de que perdendo a atenção de alguém para outro alguém.
    Portanto, não acho prova de amor. É só um ser humano que acha que tá perdendo a exclusividade.

  • Olha, eu sou mega ciumenta… daquelas pessoas finas, que guardam tudo e só fuzilam com o olhar..hahahaha!

    Mas eu tô com o Somir nessa… ciúme não é prova de amor. É possessividade. Eu concordo com toda sua argumentação a respeito do sentimento, Sally… Mas no fim, pra mim, a conclusão é a do Somir!

      • Acho que ciúme é uma consequência de ser possessivo, agora o que você faz com esse sentimento é outra história. Sentir ciúmes é uma coisa e eu mentiria se dissesse que nunca senti, mas manifestar esse sentimento de alguma maneira (agressiva ou não) é sinal de insegurança e fraqueza.

  • Vestibular de chifres

    E quando o amiguinho do namorado dá em cima da mulher descaradamente e o namorado diz que é impressão.
    (a) Tendências boiolísticas
    (b) Voação pra corno
    (c) Todas acima são certas

  • Não é prova de amor e nem deixa de ser. Eu não tenho ciúme, mas me deixa puto que alguém dê em cima da minha mina quando ela tá comigo ou quando sabem que ela tem namorado. Isso é ser folgado, é muita falta de respeito. Teve uma vez que uma sapata cantou ela na minha frente.

  • Difícil explicar… Ciúmes, para mim, é um sintoma de inúmeras “doenças” como comparou o Somir. Mas não consigo relacioná-lo com amor.

    Relaciono com insegurança, relaciono com possessividade, relaciono com egocentrismo, mas não consigo vinculá-lo com amor.

    Acho, independentemente de como você lida com ele, que não é “bom”. Sinto, mas tento mudar. Não acho que o contrário do ciúmes seja a indiferença, mas sim a serenidade. E relaciono amor com serenidade (ao contrário da paixão que acho mais eufórica, mais passional, mais intensa e explosiva).

    • Voce acharia banana um relacionamento onde um cara da em cima de vc, seu namorado sabe, e nao sente qq incomodo com isso?

      • Vou “tentar” desenvolver o assunto, que eu acho particularmente difícil de explicar, então se ficar confuso, peço desculpas antecipadamente. Em um determinado caso eu não me sentiria mal não. Exatamente porque relaciono o ciúme com uma ponta de desconfiança de qual seria a minha reação ou um pouco de possessividade sobre a minha (quase-livre) pessoa. Não consigo traduzir o ciúme como um “gosto de você” sem que tenha outro sentimento “ruim” acompanhado.

        E em “um determinado caso” porque tenho ciência que a maior parte das pessoas tem ciúme quando gosta, já que culturalmente relacionamos gostar com exclusividade e isso costuma passar pelo conceito de propriedade ou posse (o mesmo motivo que não queremos saber o passado do cidadão, gostamos de pensar em como somos exclusivos, únicos e insubstituíveis). Mas existem pessoas que conseguem, mesmo estando em um relacionamento exclusivo, absorver aquele conceito de “eterno enquanto dure”, interessando como o parceiro vai reagir, não a ação de terceiros. Essa pessoa é serena, diferente da maioria, que se não sentisse ciúme demonstraria desprezo ou desinteresse (estes sim me incomodariam a ponto de terminar o relacionamento).

  • Concordo com a Sally. Sempre fui ciumenta, mas nunca fui barraqueira, tanto que imaginam que não sinto ciumes, nunca, de nada… Brasileiro realmente acha que se existe ciume, obrigatoriamente existe barraco, vai entender… Tenho ciumes de amigos chegados, do namorado, mas eu não importuno ninguém com isso. Sou segura com relação à essas relações. Lido com meus demônios sozinha se o alvo do meu apreço nada está fazendo para a geração dessa ciumeira toda. Pra mim é uma franca medida do quanto me importo. E como me importo muito, me seguro, me adestro, e não incomodo meus amados com isso (tenho auto controle), mas o sentimento está lá, sim, admito. Claro que não é a única prova de amor, mas considero que seja uma delas; como também considero que muitas pessoas amam sem necessariamente sentirem ciumes.

  • Um pouco de ciumes mostra que você valoriza, se importa coma pessoa e neste caso pode ser UMA forma de demonstrar amor sim! Como também pode ser UMA forma de insegurança, UMA forma de desequilíbrio mental e etc.

    E quem fala que não sente ciume e que é coisa de gente possessiva está mentindo. Todo mundo sente e nem sempre a sensação é de possessividade. Vejo o ciume como um incomodo, um limite invisível que criamos em nossa mente e quem transpassa ela nos gera uma certa pulga na orelha.

    Cada um tem seu limite…

  • Não, de jeito nenhum.

    Concordo com o Somir. Ciúme não prova amor. Ciúme prova ciúme.

    Ter ciúme do parceiro ou até mesmo de amigos, filhos e pais é sentir-se dono dessas pessoas. Só tem medo de perder aquele que tem ou acha que tem algo ou alguém.

    E ainda que o ciumento seja civilizado e escolha não expressar o que sente, o que motivou o ciúme continua sendo o sentimento de posse. Não tem nada a ver com amor.

    Tanto é que, mesmo quando um casal está se separando e já não se suporta, é difícil ver o ex com outro(a). Não há mais amor, mas ainda há o sentimento de posse. A maioria se incomoda, mesmo que não diga nada.

    Sentir ciúme é muito comum, mas isso não quer dizer que amar seja comum. Não. Amor é raro. Somos, quase sempre, egocêntricos demais para amar pessoas que não sejam nossos espelhos ou que nos contrariem em algum ponto ou que discordem demais.

    O ciúme prova apenas a tendência doentia do ser humano de querer possuir o que desperta o seu afeto.

    Ciúme prova apenas a incapacidade humana de se relacionar com coisas, cargos, bichos e até pessoas sem querer dominar, possuir, controlar.

      • Discordo. Ciúme pode não estar apenas relacionado ao sentimento de posse. Pode haver outros sentimentos que o causam, mas a posse é um deles.

        E a questão não é se eu sinto ciúmes. É se ciúme é prova de amor. Não é.

        • Ué, eu levantei essa questao para voce, duas vezes, porque é pertinente à minha argumentaçao. Vou tentar uma terceira:ja que vc acha o sentimento tao horroroso, voce sente ciumes?

    • O que parece ser a grande verdade é que quase ninguém, senão ninguém, ama de verdade. Porém gostamos de nos iludir. Há até um filósofo que tem esta teoria, de que na verdade sempre buscamos outras pessoas por interesse. Tudo é troca, desde coisas materiais até coisas intangíveis como sentimentos, atenção, carinho etc. Seres humanos são possessivos por natureza. Um pouco de egoísmo e amor próprio é totalmente saudável, confirmado por psicólogos. Mas será que realmente somos incapazes de amar sem NADA em troca?

      • Ahhhhh para! Vai ouvir Legião Urbana e depois enfiar um peixinho dourado no ânus!

        Amor é uma construção de vários fatores, essa coisa de amar sem esperar nada em troca é coisa de hippie que não toma banho e vê gnomos

  • Exatamente, sentir aquele incômodo da vulnerabilidade que o ciúmes provoca é um dos sinalizadores que aquela pessoa importa. Eu tenho ciumes dos meu pais, por exemplo, e não me sinto insegura com relação a nossa relação… vai entender.

    Sentir insegurança com o outro já me desperta o efeito reverso. Não fico com ninguém que me tire a paz nesse sentido. Zero de investimento.

    • É que precisa ser MUITO BEM RESOLVIDO para fazer como você e admitir que sente ciumes. Fodão mesmo é dizer que é ruim, doentio…

      • Discordo, Sally. Isso seria verdadeiro apenas se fôssemos todos iguais. Não somos. Nossos sentimentos são fruto de nossas particularidades mais íntimas. Fomos criados de forma diferente, aprendemos valores diferentes e aprendemos a dar importância maior ou menor para questões diferentes, porque não vemos o mundo com o mesmo olhar.

        Todo olhar é único.

        Sentimentos são inexplicáveis.

        Por exemplo: Eu tenho muitos sentimentos que considero ruins. Muitos deles, com certeza, você não tem. Você, por exemplo, não se ofende se te chamam de argentina de forma preconceituosa. Alguém poderia achar que você está mentindo, se fazendo de “fodona”. Mas você realmente não se ofende. Tudo é relativo. Tudo é contexto

        • Sentimentos são universais, sao retratados pelas artes desde sempre e alcançam a todos. A forma como lidamos com eles é que varia

  • Gabriel Matheus

    Ciúmes é sim uma prova de sentimento afetivo ( nem sempre é amor ), mas que é confundido com a possessividade. Creio que as pessoas que confundem o ciúmes com o barraco, como disse a sally, são justamente as que trespassam o limite do mero ciúmes.
    Eu não o acho doentio ou ruim, creio que seja necessário pra mostrar em algumas situações o apreço que se tem pela pessoa, mas é comum de ele se misturar a insegurança e ai que fica doentio.
    Ah, sla, acho que sou burro demais pra comentar aqui. :p

  • Eu tinha muito ciúme no sentido de ter medo de perder mas depois foi passando. Hj em dia não é mais medo de perder, é só se incomodar com alguém dando em cima de quem eu namoro. De qq forma é sintoma de amor sim.

      • Então o ciúme é ainda pior do que insegurança. O ciumento pode nem ter medo de perder o parceiro para a gorda de 600kg ou o gay, mas ainda assim se incomoda com o simples fato de o parceiro despertar o interesse dos outros ou outras???

        Isso é achar um desrespeito os outros cobiçarem algo que é seu.
        Isso não é prova de amor.
        É apenas sentimento de posse.

        • Nao,se incomoda com a falta de respeito de flertarem com alguém que não está aberto a isso. Se um estranho mete a mão na sua comida voce acha bonito?

            • No caso, era uma metáfora. Mas já que você optou por levar ao pé da letra, eu te pergunto: já que é tao feio, tao escroto, voce nao deve sentir ciumes, né? Porque eu luto contra sentimentos que eu acho feios e escrotos ate me liberar deles…

              • Talvez eu não tenha sido clara na minha argumentação. A questão não é o sentimento ser feio ou bonito, bom ou mau. E nem é se ciúme é tão diferente assim de insegurança.

                A questão que eu quis argumentar (e talvez não tenha sido clara) é que ciúme não é prova de amor. Não precisamos amar uma pessoa para sentir ciúme dela, porque ciúme não tem a ver com o amor, mas sim com outros sentimentos (dentre eles a insegurança, a posse, a necessidade de dominar tudo ao redor, o egocentrismo e a tendência à coisificação das pessoas)

                Quanto à pergunta pessoal:
                Eu não sinto ciúme de pessoas, porque não acho que elas sejam minhas. Eu acredito que o que nos faz humanos é a liberdade de escolha. A liberdade de ficar, de ir embora, de mudar de ideia, de nunca mudar de ideia…

                Pra ser feliz, um ser humano deve estar onde ele deseja estar.

                E tudo muda num segundo. O desejo não é estático. As promessas só duram enquanto dura a intenção de quem as faz. Hoje ele me ama, amanhã não ama mais. Hoje eu o desejo, amanhã não o desejo mais.

                Não dá para ter controle das pessoas, porque elas são livres.

                Mas ainda que a gente se ame para sempre e tenha um relacionamento fechado, os outros de fora também são livres para se interessarem por nós. Por que isso me incomodaria? Só porque incomoda a maioria? Será que as pessoas sentem ciúme mesmo, ou apenas reagem ao que aprenderam que é um relacionamento fechado, monogâmico, possessivo, exclusivo, com desejo suficiente para nunca olhar para o lado?

                Ainda que fosse a Angelina Jolie a se interessar por ele, ele teria o direito de dizer não ou sim para esse interesse. E isso não me incomodaria. Mas isso não quer dizer que eu esteja certa. É apenas uma maneira de olhar o mundo.

                Mas tenho ciúme do meu celular, dos meus livros, do meu quarto e do meu carro. Porque eles são meus. Porque eu paguei por eles. Não gosto de emprestar.

                • Não estou aqui para ganhar atenção, mas para refletir sobre os textos (quase sempre muito bons) e para, quando necessário, ter meus argumentos desmontados. Sim. Para ter a minha ausência de lógica, quando ela existir, apontada. Não pelo que sou, mas pelo que penso. E também pela maneira como organizo esses pensamentos, que pode ser confusa e contraditória. Aqui, o nível das pessoas é muito alto. É gente com muita inteligência, algo não muito comum de se encontrar.

                  O anonimato dos autores do Desfavor é fascinante. Vai contra a ordem natural da busca desenfreada pela fama a qualquer preço, inclusive o de se vender para agradar ao público (o que, inclusive, eu acharia justo).

                  Mas o que eu ganharia com a atenção de anônimos? Sally e Somir podem ser personagens de uma única pessoa ou de várias. Pode ser um grupo de autores. Ou não. Ou pode ser que eles nem tenham as profissões que dizem ter. Pode ser que os sexos dos personagens estejam trocados. Pode ser que nunca tenham terminado o namoro. Ou que nunca tenham namorado. Enfim, pode tudo, inclusive que eles sejam quem dizem ser. E isso tudo é muito legal.

                  Por isso, quem concorda comigo aqui concorda com a ideia, com o argumento, com o sentimento ou com o pensamento e não com “quem falou”. E isso não existe mais em nenhum lugar, dentro ou fora da rede.

                  Só nos sobrou da autenticidade a hipocrisia que ficou.

                  Mas aqui o meu elogio é sincero, porque estou elogiando o texto, não o autor. A discordância também é sincera, porque eu não tenho uma “imagem” a zelar.

                  Aqui é o texto pelo texto.

                  Atenção, aplausos e likes eu consigo fora daqui, com meu nome verdadeiro, que obviamente não é Marina.

                  Aqui não importa quem somos, mas o que pensamos de verdade. Estou em busca dessa verdade. De tanto ter sido adestrada, às vezes não sei se penso o que penso ou se me obrigo a não pensar no que não seria conveniente pensar.

                  Estou aqui (não só aqui. A busca é em todos os momentos)para saber quem eu sou sem o verniz social e as máscaras que sou obrigada a usar. Porque eu não tenho certeza se sei.

                  O Desfavor não é um local para trocar likes e jogar confetes. É para abrir a cabeça. Para refletir sobre o que ninguém mais reflete. Para encontrar saídas. Para compreender melhor o mundo que nos cerca. Para desabafar sobre o que não compreendemos. Para compartilhar a incompreensão.

                  E eu diria mais: os textos aqui são tão bons, mas tão bons, que nos dão mecanismos para sobreviver fora daqui. Para ampliar o conhecimento. Para ficarmos mais espertos. Para sermos menos burros e confiarmos menos na privacidade fake da Internet. Para treinarmos o senso crítico. Para tentar sobreviver. Com dignidade.

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