Skip to main content

Colunas

Arquivos

Direitos Iguais: Pague o jantar!

Direitos Iguais: Pague o jantar!

| Sally | | 71 comentários em Direitos Iguais: Pague o jantar!

Direitos iguais. Essa premissa vem sendo cuspida fora de contexto e deturpada quando se falar de relação entre sexos opostos. Qualquer estudante de direito de primeiro período sabe esclarecer qual é o pilar central da igualdade real de direitos: tratar iguais como iguais, e desiguais como desiguais, na medida da sua desigualdade. Por exemplo, leis trabalhistas estipulam um peso máximo mais leve para uma mulher carregar do que aquele estipulado para os homens, pois nesse ponto, homens e mulheres não são iguais, homens tem mais massa muscular.

É, talvez essa introdução não tenha sido apropriada. Talvez você acredite que este é um texto sério. Foi mal, não é. Mas você ainda está em tempo de trocar de site, vou te adiantar onde quero chegar: homem pagar o jantar, ou motel, ou entrada no cinema ou o que quer que seja para a mulher em um encontro não é machismo, não é gentileza, não é bondade. É O MÍNIMO, considerando o que uma mulher gasta para comparecer ao encontro. Se não estiver nauseado pela futilidade do tema de hoje, vem comigo que eu te provo por A + B que faz sentido. E vou nivelar os preços por baixo…

Vamos falar de padrões mínimos. Ninguém é obrigado a seguir padrões, mas eles são uma tendência válida para me orientar nesse mix de antropologia com economia. É socialmente esperado que uma mulher esteja depilada. Depilação é uma coisa que dificilmente uma mulher consiga fazer nela mesma, primeiro pela dificuldade em alcançar certos recôncavos, segundo porque dói pra cacete.

Então, vamos nivelar por baixo e pensar que pelo menos virilha, axila e pernas devem estar depiladas. Claro que ainda existem as que vão além e depilam outras áreas, mas vamos nos ater ao básico. Dificilmente essa depilação custe menos de cem reais, se feita em um local minimamente seguro e higienizado, em vez de um muquifo que reaproveita a cera usada por outras mulheres. E se forem mais locais a sofrer a depilação, pode passar dos duzentos reais.

Além disso, unhas feitas também são uma exigência implícita. Unhas feias e maltratadas ficam muito aparentes, ainda mais em um país tropical como o Brasil. E sim, eu já vi homem reparar em unha sem fazer e achar feio. Homem costuma ser assim, quando está tudo ok, nem repara, mas quando tem algo ruim vira foco de atenção. Então, vamos lá, mão e pé feitos, o que custa em média unscinquenta reais. Pode ser muito mais caro, principalmente se a pessoa fizer procedimentos mais sofisticados, passando em muito dos cem reais (como o caso de quem rói unhas e quer colocar unhas postiças).

Cabelo. Uma verdade inconveniente: mulher tem sempre algo pendente para fazer no cabelo. Ou tem que cortar por já estar sem corte, ou tingir por causa da raiz ou dos fios brancos, ou fazer hidratação por ter tingido e escaralhado os fios, ou fazer progressiva para que ele não fique metade de um jeito, metade de outro. Enfim, tem sempre algo a fazer, que geralmente é adiado por ser caro e demorado, mas que se faz urgente em um encontro, pois no Brasil é assim: homem grisalho é charmoso, mulher grisalha é velha e não sexy. Dependendo do que seja, pode passar dos mil reais com facilidade, mas, como eu disse, vamos nivelar por baixo e deixar em duzentos contos, que, em última instância, é o preço de um bom shampoo e um bom condicionador.

Maquiagem. Maquiagem boa é uma coisa cara e sim, homem repara quando mulher está sem maquiagem. Na percepção deles “parece abatida”. Com isso não quero me dizer que devemos nos render aos caprichos masculinos e sim que essa exigência parte deles, ao contrário do que muitos homens alegam. A mulher não faz por ela, a mulher faz por ser uma convenção social. É algo que embeleza, e se a maioria faz, quem não o faz fica em desvantagem. Um combo com todos os produtos básicos de maquiagem com um mínimo de qualidade não sai por menos de mil reais, mas eu vou nivelar por baixo e vamos dizer que se gaste cem reais, apenas cem reais.

Tem também o perfume. “A mulher já tinha perfume e maquiagem antes de sair com o homem”, você pode estar pensando. Ok, mas ela GASTA esses produtos quando está saindo com o sujeito. Se gasta, acho justo que entre na contabilidade, pois eles acabam e ela tem que comprar mais. Um perfume bom dificilmente custe menos de cem reais, mas vou dar um desconto e continuar nivelando por baixo. Vamos pensar em cinquenta reais e não se fala mais nisso.

Lingerie. Coisa cara. Tão pequena que nem parece, mas há grandes chances que o que está debaixo do vestido tenha custado mais do que o próprio vestido. Novamente, o homem dificilmente vai reparar se for bonita, porque né, mundo escroto, não é mais do que sua obrigação. Porém, se aparecer com uma calçola cor de pele, certamente vai reparar e achar ruim. Nivelando por baixo, vamos dizer que uma mulher gaste cem reais com lingerie, presumindo apenas calcinha e sutiã.

Tem a roupa em si, pois um encontro pressupõe uma roupa nova para uma mulher. As possibilidades de preço são infinitas, mas arrisco dizer que se estivermos falando de roupa e sapato, uns duzentos reais representam uma boa média. Estou deixando de fora brincos, pulseiras, colares, cintos, meias e outros acessórios, certamente dava para jogar esse valor bem mais para cima.

Método contraceptivo. Geralmente é a mulher quem se encarrega disso, e, vamos combinar, é por causa do homem. Seja pela resistência ou incompetência de alguns em usar camisinha, seja pela eficácia sujeita a falhas desse método. O método mais comum é a pílula, que custa em média trinta, quarenta reais a cartela. Existem métodos de mais de mil reais, como por exemplo um implante de chip ou DIU, mas vamos ficar com a pílula mesmo, e, claro, camisinha também. Tem que andar com camisinha na bolsa, não dá para contar que seu parceiro terá essa preocupação. Total de cinquenta reais.

Tem os cuidados gerais com o corpo. Nessa eu incluo um hidratante corporal e algum outro item pequeno à escolha da mulher (são tantos..). Poderia incluir despesas com academia, bronzeamento artificial, drenagem linfática e tantos outros, mas seguindo a premissa de nivelar por baixo, vamos deixar esse custo em torno de cinquenta reais. Um bom creme ou um creme mais ou menos e mais algum outro produto para o corpo.

Tem um dinheiro extra que a mulher deve sempre dispor quando vai a um encontro. Toda mulher sabe, não se vai a um encontro de mãos abanando: vai que o sujeito não vai, te deixa plantada, é um maluco, é um inconveniente ou sei lá o que. Uma mulher sempre deve estar preparada para voltar de táxi se tudo mais der errado ou para pagar a conta. Ok, nem sempre ela vai gastar essa quantia, mas esse dinheiro deve estar em sua bolsa quando ela sai de casa, logo, é dinheiro que tem que existir para viabilizar o encontro. Bota aí qualquer cinquenta reais. 50.

O somatório, nivelando por baixo? Mais de NOVECENTOS REAIS. Enquanto que o homem usa a mesma calça jeans de sempre e uma camisa qualquer e gasta, no máximo, a gasolina do carro, a mulher gasta quase mil reais para ir a UM encontro. Vou falar uma realidade: geralmente é mais, pois os felasdaputa deixam para combinar o encontro em cima da hora e não dá tempo de conseguir esses itens pelos melhores preços. Tudo urgente é mais caro. E se for em uma grande capital, dobre os valores. Se for no Rio de Janeiro, triplique.

Você pode estar pensando que muitas dessas coisas a mulher pode fazer sem precisar pagar, como as unhas e o cabelo. Só se ela não trabalhar e não fizer mais nada da vida, pois são coisas que demoram, sobretudo quando a pessoa que faz não tem prática. Se você acha que vai chamar uma mulher para sair e, no dia seguinte, ela terá tempo de providenciar isso tudo sozinha, você não sabe nada.

Agora eu pergunto, e gostaria que respondam com sinceridade e bom senso, sem sexismo, sem cabo de guerra, sem estar na defensiva: vocês acham justo a mulher passar por toda essa mão de obra, por toda essa preparação, por todos esses custos e ainda ter que dividir a conta?

VAI TOMAR NO CU, no mínimo paga a porra do jantar! Homem pagar a conta de encontro é direitos iguais SIM, pois a mulher é o lado sobrecarregado financeiramente no evento. E não, ela não faz esses gastos “porque quer”. Não. Homem percebe quando não o faz, acha ruim, acha desleixo. É convenção social, não sejam hippies!

Como vocês, homens, podem ser tão babacas de mesquinhar uma conta dividida quando a mulher gastou quase MIL REAIS para estar ali? Vocês não tem vergonha não?

Vou te dizer o que é direitos iguais, nesse conceito simplório e meramente retributivo que anda sendo alardeado: é para levar ao pé da letra? Então mulher só depila axila com cera quente se o homem também depilar, porque né, “direitos iguais”. Só depila a perna se o homem também depilar! Direitos iguais! Me poupem, o mínimo que um homem pode fazer é a gentileza de bancar o primeiro encontro, se não pelo dinheiro gasto pela mulher com aquilo, ao menos em nome da dor que se passa em uma depilação com cera.

Então, recadinho para a geração pão-dura e deselegante que se escora no pseudo-argumento “direitos iguais”: enquanto não depilar a virilha com cera quente, enquanto não tiver cólicas mensais, enquanto não expulsar um bebê pelo seu cu, não abra a boca para falar de direitos iguais com essa literalidade burra! PAGUEM A CONTA, é a coisa decente a se fazer.

Deixem de ser deselegantes, injustos, mão de vaca e PAGUEM a porra de um jantar para suas mulheres, seus filhos da puta! Seja ela um primeiro encontro, seja ela sua esposa, apenas paguem. Façam essa cortesia, pois ela gasta dez vezes mais do que isso para ser sua mulher.

Para me xingar e acusar de machismo, para me xingar e acusar de feminismo (os tempos andam tão doidos que nem consigo antever qual dos dois será) ou para xingar e me acusar de interesseira: sally@desfavor.com

Comentários (71)

Deixe um comentário para hugo Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado.