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O que mulher passa…

O que mulher passa…

| Sally | | 72 comentários em O que mulher passa…

Não é um texto para reclamar, é um texto para informar. Vocês, homens, não sabem nada sobre o que uma mulher passa na vida. Não me refiro a grandes sofrimentos, temores ou questões sociais. A ótica de hoje é nos pequenos sofrimentos, aqueles que são ofuscados por grandes desgraças e quase nunca são lembrados. Conheçam um pouco mais de perto os pequenos sofrimentos de uma mulher.

Existem dois tipos de sutiã: com bojo e sem bojo. Bojo consiste em uma base de metal que fica abaixo do peito e que lhe dá sustentação. Adivinha qual deixa o corpo mais bonito e qual segura de verdade? O com bojo, pois em matéria de roupa íntima, Deus disse “serás bonita ou serás confortável, ambos jamais”.

O grande problema desta porcaria de bojo é que mais cedo ou mais tarde esse arame do capeta vai furar o tecido do sutiã e entrar em contato com a nossa pele, com a mesma intenção de furá-la. A cada passo, é uma estocada de um arame nas costelas. Aquilo vai irritando de um jeito que deveria ser atenuante em caso de homicídio. E se você espirra em uma situação dessas, é a coisa mais parecida do mundo com levar um tiro.

Menstruação é um tremendo desconforto, disso todo mundo já sabe. Só quero pontuar uma ocasião específica. Um karma chamado: espirrar menstruada. Reparem que quando uma mulher espirra menstruada, seguem-se um ou dois segundos de paralisação. É o tempo que demoramos para lidar com a desagradabilidade da situação, pois entramos em choque.

Parece que você acaba de sentar em um montinho de purê quente. A mulher pensa “tem sangue até meu tornozelo” e olha discretamente para baixo. Se e estiver usando absorvente interno, dá uma olhada marota em volta, no chão, para ver se voou longe. Se nenhum acidente aconteceu, ela permanecerá imóvel por algum tempo, para que não aconteça e também pelo desconforto experimentado, até que o maldito absorvente de fato absorva a hemorragia ocasionada.

Depilação também é um assunto que foi exaustivamente exaurido por mim ao longo destes sete anos de Desfavor, então, não vou me aprofundar. Só quero fazer um rápido comentário. Certamente alguma vez na vida vocês viram uma mulher com agilidade e silêncio removendo pelos da sobrancelha. Parece fácil, né? Parece natural. Pois bem, peço a cada um de vocês que, em algum momento da vida, peguem uma pinça e arranquem um, apenas um mísero pelo da sobrancelha e me digam como se sentem. Sem mais.

Se um dia vocês estiverem com uma mulher que está usando uma blusa ou vestido no modelo “tomara que caia” (spoiler: aquele que não tem alça), tratem muito bem esta criatura. O tomara que caia gera uma irritação dupla. É presumível que ele exige um sutiã igualmente tomara que caia. O que vocês não sabem é que o habitat natural do sutiã tomara que caia é na região da cintura e ele passa a vida toda tentando migrar para lá. A roupa tomara que caia também vai progressivamente caindo, o que obriga a desconfortáveis e constantes puxões laterais, capazes de desencadear uma tendinite tamanha a repetição.

Bem, existe um jeito do tomara que caia não cair: quando é absurdamente apertado, ocasião em que não apenas deixa as banhas saltando (efeito borda de panetone, para fora da embalagem) como também corta nossa circulação causando dormência no rosto, dor de cabeça e fraqueza nas extremidades. É possível observar este efeito quando a mulher tira a roupa e fica a marca na pele, tal qual um salame amarrado no barbante. Podem ter certeza, uma mulher usando um tomara que caia não está feliz. Aliás, uma mulher usando qualquer coisa que não uma camisola de flanela dez vezes maior que o tamanho de roupa que ela normalmente usa, não está feliz.

Além de todos esses fatores de estresse, que são pontuais, existe um permanente. A bolsa de mulher. A bolsa de mulher é sempre pesada, por uma série de coisas que temos que carregar sabendo que não vamos utilizá-las, pelo simples motivo de Lei de Murtphy: você sabe que no dia em que você não levar, aquilo será necessário. Em uma ginástica mental esquizofrênica, acaba que você leva metade da sua casa na bolsa “para não precisar”, pois se não levar, a maldição do precisar se apresenta.

Isso faz com que a bolsa fique excessivamente pesada, o que pode ser constatado pela marca vermelha no ombro da mulher quando ela repousa a bolsa em algum lugar. Além de ser bastante incômodo carregar uma bolsa pesada, isso dificulta a vida da mulher na hora de encontrar qualquer coisa lá dentro. Fato: se uma mulher chegar na porta de casa com vontade quase que incontrolável de fazer xixi, ela vai fazer nas calças, pois até encontrar a chave, a bexiga já explodiu.

Ainda na categoria Bolsa de Mulher, existe uma demência na vida feminina chamada “nécessaire”. Como o próprio nome já explica, é um pequeno estojinho onde deveríamos levar aquilo que é realmente necessário, indispensável. Pequenas coisas úteis para emergências ou necessidades pontuais.

Mas um bug cerebral feminino nos faz, aos poucos, acrescentar itens: spray para limpar o óculos, protetor solar, repelente contra insetos, hidratante para as mãos, hidratante para os lábios, um batom, um espelho, escova de dentes, pasta de dentes, um pequeno perfume, escovinha de cabelo, prendedor de cabelo, um absorvente, lenços de papel e muito, muito mais coisa. Acaba que no final das contas, dá para sobreviver a uma hecatombe nuclear com uma nécessaire de mulher. E quando ela enche e o zíper não fecha mais, em vez de esvaziá-la, compramos outra nécessaire.

A calcinha é um capítulo à parte. A menos que seja do tamanho de uma lona de circo ou que a mulher não tenha bunda, calcinhas entram na bunda. É fato da vida, elas entram e pronto, aceita que dói menos. O problema é que enfiar o dedo e remover uma calcinha da bunda não é socialmente aceitável, por isso, dependendo de onde você esteja, tem que respirar fundo e bancar aquela sensação que é um mix de estupro com assadura. Uma coisa incrível: homem sempre escolhe dizer as coisas mais idiotas e irritantes quando a mulher se encontra nesse estado de pré-surto com calcinha enfiada na bunda.

Unhas. Fazer as unhas é caro, mas não é desagradável, via de regra. O grande problema reside em depois que as unhas estão feitas. Como todos sabem, o esmalte demora algum tempo para secar por completo, estamos falando de coisa de mais de uma hora. E, por uma ironia do destino, é comum que mulheres sejam acometidas de violenta vontade de cagar logo depois de fazer as unhas.

Surge o dilema, o que é menos traumático: que seu cu exploda ou estragar as unhas pintadas, jogar dinheiro fora e passar o resto da semana com mão de mendigo? Nem um, nem outro, a mulher tenta, em um malabarismo digno do Cirque du Soleil, limpar a bunda sem estragar as unhas. E nunca dá certo. A unha estraga e a bunda fica suja.

Tem tanta coisa por falar… Dava para transformar isso aqui em coluna fixa. Homem não tem ideia do que se passa nos bastidores da vida de uma mulher. Se tivesse, provavelmente teriam um pouco mais de cuidado e consideração.

Para compartilhar sofrimentos femininos, para compartilhar sofrimentos masculinos ou para me censurar com sofrimentos de grande porte me mandando não reclamar por bobagem: sally@desfavor.com


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