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Vai-ou-volta.

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| Desfavor | | 21 comentários em Vai-ou-volta.

O mundo dá voltas… e muitas vezes acaba no mesmo lugar. Falando de relacionamentos amorosos, Sally e Somir discordam hoje sobre o que é mais fácil de se fazer, se tentar o novo ou reciclar. Os impopulares voltam para dar suas opiniões.

Tema de hoje: é mais fácil reatar um relacionamento ou começar um do zero?

SOMIR

Pra ser honesto, nada é fácil nesse campo. Mas, se pararmos pra pensar, faz sentido que retornar para um terreno conhecido te deixe mais preparado para lidar com os inevitáveis problemas de um relacionamento. Não nego que a bagagem de um término possa ser pesada, mas é um peso conhecido. Já dá pra começar sabendo se dá pra carregar ou não.

O que nunca é o caso de um novo relacionamento. Surpresas são parte integrante de conhecer e conviver com uma nova pessoa. Nada mais comum do que começar algo com uma pessoa e descobrir depois de um tempo que aquilo não vale mais o esforço. E não tem como prever isso… às vezes passam-se muitos anos até o pacote todo ficar evidente e sabermos se o bônus compensa o ônus.

Nem estou dizendo que não é pra arriscar com uma pessoa nova, todos temos que fazer isso diversas vezes na vida, faz parte do jogo e é claro que muitas vezes as surpresas são boas, mas… não estamos perguntando o que é mais fácil? É mais fácil navegar por um mar que você conhece e tem o mapa ou simplesmente se perder na imensidão azul? Tem gente que deriva muito prazer da novidade, da aventura, mas… convenhamos, não é assim que a humanidade funciona em média. A maioria de nós não está muito empolgada com a ideia de não saber para onde está indo. Pra cada explorador, milhares de pessoas que nunca saíram de suas vilas… é a natureza humana gostar do que é familiar.

O que não podemos esquecer é que toda pessoa vai ter seus problemas, lugares perigosos de se ir, armadilhas, segredos… impossível não chegar na vida adulta sem alguma bagagem problemática. Mas, tudo bem, todos temos nossos defeitos, faz parte de um relacionamento saudável lidar com eles. Ninguém precisa ser perfeito. E pensando nisso, o que é mais simples? Saber onde esses problemas estão ou ter que se virar enquanto eles surgem? Muita gente fica trocando de parceiro(a) numa esperança que existe alguém ideal esperando. Faz parte de amadurecer perceber que ideal é o que fazemos, não o que vai cair no nosso colo.

Todo mundo tem seus problemas. Tem um ditado que eu adoro: “não importa o quão bonita seja uma mulher, tem sempre um cara que não aguenta mais ela nesse mundo…”. Procurar alguém novo não vai evitar os problemas, vai só trocar os problemas. Não deixa de ser uma roleta: pode ser que caia um logo no começo bem fácil de lidar, pode ser que demore cinco anos de namoro pra dar de cara com um que se julga impossível de lidar. O novo não garante nada nesse campo. O conhecido… bom, o conhecido permite uma escolha.

E é disso que eu falo aqui: reatar com um ex não é garantia alguma de evitar os problemas que fizeram tudo acabar pra começo de conversa, mas é entrar na relação com uma escolha. E encarar uma dificuldade por escolha nos faz ter uma força completamente diferente do contexto “reativo” no qual ele surgiu da primeira vez. É normal se sentir injustiçado quando algum ruim cai no seu colo, mas a mentalidade não é completamente outra quando você compra a briga sem a surpresa?

Num exemplo que talvez aliene mulheres: ao invés de lidar com um carro quebrando no meio da estrada, você está comprando um quebrado pra reformar. Não é muito mais fácil lidar com a segunda opção? Porque na verdade, o trabalho de consertar é o mesmo. Mas você já sabe o que é, sabe quanto vai custar… e digo mais, sabe que se der errado, você escolheu aquele risco.

E não podemos ignorar que pessoas estão em constante evolução. Nem estou dizendo que é necessariamente pra melhor, mas se você encontra uma pessoa alguns anos depois, ela já tem algo de diferente pra mostrar. E isso vale para os dois lados: quem disse que somos eternamente incapazes de lidar com algo? O tempo passa, vamos somando capacidades, revendo conceitos… o que parecia impossível de lidar quando se terminou pode ser encarável. O que a outra pessoa tinha pra causar o problema já pode ter sido reduzido ou mesmo eliminado.

E por não ser uma novidade total, dá pra se concentrar no ponto em questão: você já conhece a base daquela pessoa, se tem algo que fez o relacionamento acabar da primeira vez, você pode ir direto ao ponto, não precisa conhecer todo o resto. Cada pessoa reage de um jeito. O ser humano é muito complexo, até mesmo tentar ajudar alguém pode bater numa ferida desconhecida e fazer ela reagir da forma completamente oposta. Mas, quando você sabe os caminhos daquela pessoa, sua energia pode ficar concentrada no que é importante.

E na prática, retomar a intimidade é bem mais rápido. É, querendo ou não, um corpo que já foi aceito uma vez, é uma presença conhecida. Não é pra ter mais reservas sobre sexo ou afetividade em geral, pode até ser meio estranho num momento inicial, mas é um encaixe que já foi testado (com e sem trocadilho). Sempre bacana pular aquela fase meio insegura no começo. E com o bônus que uma retomada provavelmente religa o “doping” de se apaixonar já com as duas pessoas sem vergonha ou restrição.

Sim, é complicado esquecer as merdas que acabam acontecendo numa relação que termina, mas obviamente estamos falando de gente que aceitaria retomar. Se é perdoável ao ponto de considerar voltar, a bagagem pesa o suficiente para ser carregada. Certeza de funcionar ninguém vai ter, nunca. Mas, bobagem ignorar que saber onde se pisa torna as coisas mais simples.

Não estou defendendo que retomar relacionamentos é melhor que procurar novos, porque acho que essa resposta nem existe em geral, mas… se me perguntam o que parece mais fácil…

Para dizer que vai ignorar meu texto e voltar nele depois, para dizer que é mais fácil pegar sem se apegar, ou mesmo para me dizer qual é a definição da insanidade: somir@desfavor.com

SALLY

O que é mais fácil: reatar um relacionamento com um ex ou começar um relacionamento do zero?

Acho mais fácil começar do zero. Sem vícios, sem mágoas, sem bagagem.

Tem seu lado trabalhoso engatar um relacionamento com uma pessoa nova. Aquela odiosa fase onde ninguém se conhece, onde ninguém está confortável e onde todos tentam mostrar e valorizar o que tem de melhor. Mas, passados esses seis meses de teatrinho e joguinhos, é um processo que flui melhor com gente nova do que com ex.

Passados esses primeiros meses, uma pessoa nova te permite construir o que você quer que aquela relação seja. É como um bloco de papel em branco, onde novos pactos, novos projetos serão escritos. Aquela relação pode ser qualquer coisa que você escolher. Já um recomeço não, vem com marcas, cicatrizes e muitas regras preexistentes que precisarão ser revistas.

A neurociência explica que é muito difícil mudar padrões de comportamento, em qualquer área da vida. Quando você se comporta sempre de um jeito, as conexões neurais do seu cérebro convergem para esse ato, criando um atalho, e você tende a repeti-lo por este ser o caminho mais fácil para seu cérebro. É como entrar em uma trilha aberta ou ter que abrir uma trilha nova com um facão em um mato cerrado: a tendência é ir pela trilha que já está aberta.

Retornar um relacionamento antigo é ter que lutar contra essas trilhas já abertas, que provavelmente não são o melhor caminho, dado que o relacionamento terminou. Acho mais fácil abrir trilhas novas do que lutar contra o poder do hábito, contra uma tendência cerebral de repetir um padrão de caminho já aberto. O medo de recair nas mesmas brigas, nos mesmos problemas, nos mesmos estresses me faz achar mais fácil começar do zero. Quem nunca ouviu que dá mais trabalho consertar algo mal feito do que refazer do zero?

Nos primeiros meses, conhecer a pessoa, conhecer seus hábitos e preferências deve tornar uma retomada de relacionamento algo muito confortável. Mas depois… Depois os problemas vem junto também. Problemas que já não puderem ser vencidos anteriormente, em uma primeira fase desse relacionamento. Quem garante que poderão ser vencidos agora? Se o casal fosse mesmo tão funcional, não teriam terminado, teriam superado os problemas. A menos é claro, que tenham batalhado duro para mudar. Mas, quem hoje em dia batalha duro para mudar? Exceções. A regra é erros repetidos, repetidos e repetidos.

Ok, pessoas mudam, pessoas melhoram. Mas, como eu disse, o poder do hábito é forte. Às vezes separadas as pessoas mudam e melhoram, mas juntas se emburacam no mesmo mar de lama de sempre. Neuroses que se complementam podem puxar o que tem de pior em você por mais fundo que você o tenha enterrado. Dá um trabalho desgraçado rever tudo que já foi estipulado pelo casal e entender o que mudou, o que piorou, o que melhorou. É bem fácil ser induzido a erro ou enganado pelas informações anteriores.

Com uma pessoa nova, você pode ser uma pessoa nova. Aquela pessoa não tem referências suas. Seus vexames, seus piores erros, seus defeitos, tudo ainda é um grande ponto de interrogação, a pessoa não te trata pensando em atos e conceitos prévios. É uma chance de recomeçar, de ser melhor do que foi no passado. Por mais que a gente diga que vai tentar, ninguém apaga lembranças, é improvável que qualquer pessoa consiga zerar totalmente as marcas de um relacionamento que não deu certo.

Outro fator importante: com uma pessoa nova não existe o medo. Medo é uma coisinha que sabota a vida da gente. Uma pessoa conhecida desperta medo de que ela repita os mesmos erros, que te magoe do mesmo jeito, que repita tudo aquilo que já te fez mal. Uma pessoa nova ainda não te deu motivos para ter medo, no máximo um medo em abstrato, muito menos poderoso do que um medo concreto e bem embasado. Com uma pessoa nova a tendência é ir de peito aberto, enquanto que com um ex, a tendência é ir com um pé atrás.

Se for uma pessoa nova, você sabe que está ali por interesse na pessoa. Com um ex, sempre pode ter uma armadilha acobertada pelo seu inconsciente: acomodação por estar acostumado com aquela pessoa? Medo de tentar alguém desconhecido? Tendemos a correr sempre para o mais fácil e para o mais seguro, mas não gostamos de admitir e não raro camuflamos nossa covardia com o título de “amor verdadeiro”, para que ela se torne socialmente aceitável.

Os defeitos, as incompatibilidades e até as diferenças com uma pessoa nova tendem a ser mais toleráveis, afinal, você está sendo exposto a aquilo pela primeira vez. Já os defeitos, incompatibilidades e diferenças com um ex tendem a irritar mais, pois são coisas que já te fizeram mal em um passado recente. É como calçar um sapato que machuca quando já se tem uma bolha no pé. Tudo vai doer mais, tudo vai incomodar mais, e, surpresa, você vai ter muito mais intimidade (que descamba para a falta de cuidado em momentos de putez) para reclamar.

Não estou dizendo que retomadas de relacionamento não possam dar certo. Podem sim, quando as pessoas entram cientes do que as espera. O que estou dizendo é que acho mais fácil começar do zero do que remendar cagadas passadas. Pode ser feito? Pode sim. Mas é muito mais difícil de fazer. E justamente por essa falsa sensação de facilidade que a Madame aqui de cima descreveu, tantas pessoas correm para ex com resultados desastrosos. Pensem bem antes de voltar para ex, façam o ex provar com atos que tudo que te incomodava mudou, porque fácil, meus amores, não vai ser.

Para mandar o Somir para o cantinho da vergonha, para dar sua opinião sem ficar em cima do muro apontado prós e contras de ambos os lados ou ainda para dizer que fácil mesmo é ficar sozinho: sally@desfavor.com

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