Último animal.

Hoje a pergunta é hipotética: considerando que fosse possível manter a humanidade viva com a extinção imediata de todas as espécies animais exceto uma, Sally e Somir chegam a conclusões bem diferentes. Os impopulares tentam fazer sua opinião sobreviver.

Tema de hoje: se você pudesse manter só uma espécie viva no mundo além dos humanos, qual escolheria?

SOMIR

Bovinos. Bois e vacas não tocam seu coração como animais de estimação, mas formam com os humanos uma das melhores relações de interdependência da natureza. Claro que diversos outros animais domesticados tem sua importância, cachorros, gatos e outros animais de companhia fizeram muito bem para a “alma humana” até aqui, mas se estamos considerando eliminar todas menos uma, vamos pensar um pouco mais com o estômago do que com o coração, ok?

Confesso que tem muito da cultura na qual fui criado para fazer essa escolha. Outros povos poderiam escolher cabras, ovelhas, galinhas ou mesmo peixes para cumprir essa função. E principalmente no caso dos peixes, estariam mais corretos de um ponto de vista puramente técnico: peixes são mais eficientes para alimentação humana do que vacas. Mas evidente que um tema desses presume gosto pessoal: prefiro ficar sem sushi do que ficar sem churrasco.

Seja na mão de quem caísse essa decisão, eu torceria que fosse alguém que concordasse num ponto central: vegano não é gente. Brincadeira, é sim, mas inferior. Brincadeira, é igual a todos nós, mas caga verde muito fedido e está sempre subnutrido. Brincadeira… não, peraí, dessa vez é sério. A eliminação de todas as espécies animais exceto uma gera o risco imediato de arremessar a humanidade num veganismo forçado sem prazo para acabar. Os únicos especialistas em nutrição humana que argumentam a favor de uma dieta puramente vegetal são justamente os que calham de ser veganos. Há uma mistura ainda irreconciliável entre ciência e ideologia, o que fede a pseudociência. Ser vegano é fazer uma escolha essencialmente emocional de não comer nada que provenha de exploração animal.

O ser humano precisa de proteína para se desenvolver de forma plena, e proteína animal ainda é insubstituível. O próprio leite materno é feito com proteínas animais (animal humano), a natureza não deixou nada ao acaso aqui: humanos precisam consumir proteína animal e não existem provas confiáveis ainda que plantas possam suprir essa necessidade com a mesma eficiência. Escolha o seu gato ou cachorro para sobreviver e a humanidade está condenada a um de dois cenários assustadores: no primeiro, carne e leite estão fora da dieta humana por muitos e muitos anos. Subnutrição em massa e boa parte do potencial intelectual da humanidade vai ser cortado logo na primeira infância. Boa sorte desenvolvendo carne de laboratório com a média do Q.I. humano caindo geração por geração. E só lembrando que embora a tecnologia exista, estamos provavelmente longe de conseguir produzir em escala industrial (não basta fazer, tem que fazer barato o suficiente para popularizar). Demora para fazer e custa caro. Vamos chegar lá, mas demora… enquanto isso, bilhões de pessoas vão ficar subnutridas e emburralh… emburrear… emburrecer por falta matéria prima para desenvolver cérebros saudáveis.

No segundo cenário, o mais provável… vamos começar a comer cachorros ou gatos. Muitos povos já fazem isso. E considerando que não existem desses animais no mundo para suprir a demanda de carne da humanidade (o Brasil produz por ano mais que a humanidade produziu em milênios e ainda não dá conta da demanda, vide os altos preços), podem apostar que vamos criar cachorros gordos em fazendas, que vão se alimentar de outros cachorros para fornecer a proteína necessária… dá para alimentar vaca com soja, mas cachorros vão sofrer muito. Seria uma vida de merda para os melhores amigos do homem (os que não forem cortados vivos em praças públicas na maior parte do mundo pobre, isso é).

Sendo a única carne disponível, as pessoas vão se acostumar a comer. E aí, boa sorte protegendo o seu de pessoas pobres. E de geração em geração, o animal vai deixar de ser visto como um amigo para virar gado. Eu aposto que a humanidade vai preferir proteína animal e acabar traindo o amor dos animais de estimação. Imaginem só as aberrações genéticas gordas que vão ser criadas. Eu escolho a vaca nesse caso porque a espécie já está bem adaptada a ser comida. Com o grande bônus de produzir leite que conseguimos digerir! Não precisaríamos mudar muito a lógica do mundo para continuar comendo carne de vaca, nem precisaríamos sofrer tanto assim com uma dieta sem leite. Os ovos vão fazer falta, mas gordura pode quebrar o galho.

Com vacas ainda vamos ter carne, leite, gordura (é muito útil) e couro. O resto das coisas vai fazer falta, mas não vai ser o desastre que seria se por exemplo só restassem gatos no mundo! E aliás, se sobrasse no mundo um outro animal carnívoro conosco, percebem o problema? Novamente, é mais importante respeitar a natureza: um herbívoro complementa bem o ser humano, não competindo tanto assim pelos recursos alimentares. A única outra espécie que se provou tão válida nesses aspectos de aproveitamento e utilidade no mundo quanto a vaca foi a cabra, mas pelo menos eu acredito que a diferença de sabor é muito favorável para os bovinos. Gosto é gosto, como disse no começo. Tudo é melhor que ficar preso nesse mundo com um animal de companhia que vai ter que ser forçado a virar carne.

Tem mais: se tivesse que escolher três animais, os de estimação ainda não entrariam. Galinhas e peixes entrariam com certeza antes de qualquer animal bonitinho ou dócil. Pode me chamar de insensível por não pensar em animais de estimação, mas humanos podem entregar companhia e afeição numa boa. Não vai ser igual, mas claro que um ser humano consegue compensar um cachorro ou um gato. Seres humanos não dão carne, leite, ovos e couro… quer dizer, talvez num mundo com a escolha da Sally o canibalismo se tornasse popular, mas eu prefiro acreditar que não desceríamos a esse nível.

Se é para sobrar só um além de nós, que seja um que nenhum humano pode substituir. E um saboroso, oras!

Para dizer que hot dog vai mudar de significado, para dizer que prefere deixar todos os outros e acabar com os humanos, ou mesmo para dizer que eu sei que a resposta são as baratas para a alimentação, mas entende que eu queria uma chance de vencer a discussão: somir@desfavor.com

SALLY

Se todos os animais fossem eliminados da face da terra e só fosse possível manter uma espécie, qual você escolheria?

Observação: é uma ficção, uma fantasia, uma pergunta não-técnica. Não me venham encher o saco de escolher “as abelhas porque senão o ecossistema bla bla bla”. É um mundo de faz de conta onde magicamente todos os animais somem e a vida humana continua viável.

Sem dúvida, eu escolheria os cães. Ahhh os dogs, eles alegram o mundo. Sou fã de cachorro, não abro mãos dos doguinhos.

Sim bifes são uma delícia, mas hoje, mesmo sem necessidade urgente, já existe a possibilidade de criar carne em laboratório sem precisar de nenhuma vaca para isso, utilizando dna manipulado, então, imagina o quanto a coisa progrediria se todos os animais fossem exterminados? Rapidamente teríamos todo tipo de alimento de origem animal desenvolvido em laboratório.

Já o que os doguinhos nos dão… não é possível emular em laboratório. E não é aquele papo retardado de mãe de pet de “ninguém vai te amar como um cachorro”. Gatos amam muito seus donos também, só para citar um exemplo, mas não expressam da mesma maneira, o que não quer dizer que amem menos. Eu acho os dogs os melhores animais para os humanos no conjunto da obra mesmo. Não é à toa que uma parceria tão próxima dura milhões de anos.

Um cão pode te ajudar na segurança da sua casa, guiar uma pessoa cega, ajudar uma pessoa com convulsões ou até um idoso. Eles podem nos resgatar de soterramentos, de avalanches e impedir que a gente morra de hipertermia. Um cão pode te resgatar de um afogamento, detectar drogas, explosivos e até câncer em humanos. Um cão reabilita crianças ou pessoas com problemas motores ou mentais. Um cão dá sua vida pelo dono se for preciso.

É uma espécie de anjo da guarda quadrúpede. Se sua casa pega fogo e você não acorda, ele não foge, ele vai lá te acordar. Não é que ele te ame mais do que os gatos, é que essa é a lógica de matilha: por instinto, ele sempre vai fazer de tudo para salvar o alfa, que é quem mantem as coisas funcionando e a matilha segura. Então, ter um animal imbuído deste espírito de sempre tentar salvar você, sempre tentar zelar por você, é o mais perto que eu consigo conceber de um guardião.

Além disso, cães podem desempenhar uma infinidade de tarefas: puxar trenó, levar objetos de um local ao outro, procurar por comida e água, encontrar pessoas desaparecidas e muito mais, basta que alguém se preste a lhe ensinar. O cão, por sua natureza na matilha, estará sempre pronto, atento e dará seu melhor para aprender o que o alfa está pedindo. Mas, é claro, para isso você tem que ser o alfa da relação.

“Mas Sally meu cachorro é muito burro ele não presta pra nada disso”. Não, não é, isso está no DNA de todos os cães. Ele só não te vê como líder, portanto, não vê a necessidade de te obedecer sempre que você dá um comando. O problema nunca está no cão, está sempre no humano, que costuma ser muito permissivo e sem liderança.

Além de tudo que eu já falei, cães são animais versáteis fisicamente falando. Podem ser pequenos, grandes, peludos e até carecas. Portanto, são animais que podem ser criados em todos os climas, em todos os ambientes. Há cães vivendo nos locais mais hostis, como Alasca, Antártida e desertos. Então, manter o cão como O Animal Sobrevivente garante que todos os habitantes do planeta terão a possibilidade de contar com a ajuda/parceria deste animal se quiserem.

Cães são de baixo custo, principalmente se você comparar com o custo de um animal maior, como uma vaca. Cães são de fácil manejo, todo mundo sabe basicamente o que fazer para criar um cão. Será que as pessoas sabem o que precisa para criar gado? É bem mais difícil do que parece. Cães já estão totalmente adaptados ao ser humano, não apenas na convivência, mas na parceria. Cães naturalmente tem o instinto de nos obedecer e proteger. Se isso não é motivo, então eu não sei o que mais você quer de um animal.

A “carne cultivada” ou “carne in vitro” (carne que nunca chegou a fazer parte de um animal vivo completo) tem previsão para chegar ao mercado em larga escala em 2021 e tem o mesmo gosto que o de uma animal de fazenda (ela é criada de forma artificial, mas a “matéria prima”, os genes, são os mesmos). Se fosse o caso de realmente ter que esperar (certamente acelerariam os estudos e a liberação caso todas as vacas morressem) até 2021 eu ficaria dois ou três anos sem comer carne para ter os dogs.

E, não se enganem nem torçam o nariz para a carne de laboratório, em poucos anos é o que todos nós estaremos comendo de qualquer maneira, pois a demanda populacional por carne vai tonar inviável alimentar todas estas bocas com gado. Não tem espaço no planeta pra botar tanto bicho pra pastar. A carne artificial vem com ou sem a morte dos outros animais.

Aprecio demais um animal disposto a cooperar comigo. Não é pelo afeto, pois felizmente eu tenho afeto de sobra via humanos, não “preciso” de um cão para ser fonte disso, é utilitário mesmo: se vai sobrar apenas um, que seja o mais versátil, o que mais coopera e o que está melhor adaptado ao ser humano.

Cães nos fazem bem, está cientificamente provado. Brincar com um cachorro melhora nosso humor, melhora o desempenho do sistema imunológico e muitas vezes chega a evitar doenças como depressão ou crises de pânico. As vaquinhas são bichos queridos, mas porra, quando comparadas com os cães, são um grande bife com pernas que nunca terão a parceria, o vínculo afetivo e a utilidade que o cão tem para os seres humanos.

Quem tem cães vem comigo nessa: só quem já vivenciou o tipo de troca que é possível com este animal e os benefícios diários que ele nos proporciona sabe do que eu estou falando.

Para dizer que você escolheria os gatos, para dizer que você escolheria não sobreviver ao que quer que tivesse matado os outros animais ou ainda para dizer que cachorro também se come: sally@desfavor.com

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Comments (14)

  • Pelo tom pretensioso e arrogante do texto confirma-se a minha ideia.

    Os humanos é que deviam desaparecer.

    Chamou-se ao nazismo peste castanha, pela cor dos uniformes.

    Mas a humanidade é uma peste castanha pela analogia com merda mesmo.

  • Prefiro os cães mesmo! Se eu pensar só em comida não vale! Ainda mais que já vi vacas a lamberem as mãos de seus criadores em um ato que poderíamos descrever como uma tentativa instintiva de afeto por parte do animal irracional para com o animal (RáRáRá)RA-cional!

  • Óbvio que são os bovinos! Carne de laboratório só serve pra enfiar quimica e dar câncer. Se acabar a carne de verdade eu viro vegetariano. E o leite vai ser de laboratório também? Se acabar o leite eu viro vegano, mas essas porcarias não vou comer nem a pau!

    • Carne de laboratório não tem química alguma, meu anjo. É recriada a parte de um animal, tipo clonagem. Só isso.

    • Tem mais porcarias em carne de animais criados do que em carne de laboratório. Não sou vegan mas se der certo comercialmente no futuro estou 100% dentro.

      E nessa estou com a Sally !

      Meio off Topic mas quando essa tecnologia de Lab carne estiver bem desenvolvida, não sei por que mas consigo imaginar restaurantes extremamente exóticos ou para super ricos, servindo algo do tipo “carne de mamute” ou animais em extinção hahahah.( Já que só é preciso uma amostra do tecido do animal com células não )especializadas

      • A carne de vaca que comemos hoje é um mix de antibioticos, hormonios e fezes. Também preferiria uma versão de laboratório.

        Seria interessante provar uma picanha de T-Rex.

  • Carne por carne prefiro os peixes e frangos mesmo… Mas estou com o Somir nessa por motivos de: queijo e manteiga!

    Tenho gatos, tive cachorros a minha vida inteira, mas não escolheria esses lindos pra sobreviver e ficar à mercê de gente faminta!

  • As minhocas. Ajudam na agricultura e são boa fonte de proteínas. Assim o McDonald´s não precisa fechar. Chato será comer queijo humano…

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