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Alerta mantido.

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| Desfavor | | 12 comentários em Alerta mantido.

Continuamos batendo recordes de mortes pela Covid, os hospitais continuam lotados e deixando faltar insumos básicos, mas já tem governos reduzindo as medidas de segurança. Fica o aviso: NÃO ACABOU. Desfavor da Semana.

SALLY

Lembra quando a gente fez um texto dando um “alerta de tsunami”, dizendo que as coisas ficariam muito feias e que o coronavírus ia fazer muito estrago no Brasil? Pois é, considere este texto uma segunda parte.

Por motivos que eu desconheço, muitos estados/cidades estão começando a reabrir ou falar em reabertura e flexibilização. Na atual realidade, fazer isso é suicídio. Acabou sedativo para intubação em vários lugares, o que obriga a amarrar os doentes na cama enquanto eles se debatem pelo incômodo do tubo na garganta, isso parece um sinal de que é hora de reabrir? Tem muito lugar com hospital colapsado, incapaz de prestar atendimento. Tem gente morrendo na fila de espera por um leito. Não faz o menor sentido reabrir nada agora.

Eu vejo gente comemorando que as mortes pararam de subir. Comemorar um suposto platô de 4 mil mortes por dia é doentio. Normalizar isso é ainda pior. Tem container frigorífico em pátio de hospital para conseguirem lidar com a quantidade de mortos. Tá faltando caixão. Tem muito lugar entrando em colapso funerário, incapaz de enterrar seus mortos. Boa parte do país ainda vive um cenário de filme de terror. Ainda assim, o tempo fez com que tudo isso comece a ser normalizado.

Então, este texto é para te lembrar que NÃO ACABOU. Pode ser que na próxima semana, quando as flexibilizações começarem, muitos de vocês tenham a sensação de alguma melhora, de redução de perigo, de diminuição de riscos. Isso não é verdade. O Brasil continua em estado crítico, só que as pessoas provavelmente vão começar a parar de se comportar de acordo com a seriedade do que está acontecendo. Não deixe que a manada correndo para o lado errado te influencie: a situação continua tão perigosa quanto antes, continue com cuidado máximo, não flexibilize porra nenhuma.

Não mande seus filhos para a escola. “Mas Sally, eles sofrem, eles isso, eles aquilo”. Melhor isso do que mortos ou doentes com sequelas. Crianças não sabem o que é melhor para elas, não sabem mensurar riscos. Você é o responsável por proteger seus filhos. Eu sei que adoram te dizer que as chances de contágio na escola são baixas, mas isso se aplica a lugares civilizados, com poucos casos e que seguem os protocolos.

No Brasil tem pais enviando alunos que sabem estar contaminados para a escola, pois precisam sair para trabalhar e não tem com quem deixá-los. No Brasil as escolas não têm o padrão de excelência de fazer tudo que é preciso para seguir os protocolos de segurança. Sem contar que meter uma máscara na cara da criança e esperar que ela não coce o olho em nenhum momento é devaneio.

Esse “as chances são pequenas” é uma canalhice. Se você soubesse que tem uma chance em cem de que um franco-atirador entre na escola do seu filho e saia atirando, podendo baleá-lo, você mandaria a criança para lá? Ou esperaria o franco-atirador ser preso? Se o seu filho fica mal quando está em casa, é seu dever entretê-lo, distraí-lo, estimulá-lo e ensinar o que a escola ensinaria. Pois é, ter filhos não é fácil, é por isso que tem que pensar muito bem antes de ter.

Vamos repetir o que já falamos várias vezes: nosso cérebro tende a ver aquilo que nos é mais agradável acreditar. Você verá no seu entorno muitos movimentos no sentido de fazer parecer que, de alguma forma, o risco diminuiu. Não diminuiu. Só é mais conveniente a quem está no poder que algumas atividades sejam retomadas. Essas decisões foram pensadas de acordo com o interesse de poucos, não de acordo com o interesse do povo.

Não tem ninguém cuidando de você e da sua família, você tem que cuidar de você e da sua família. Semana que vem começam a explodir os casos de contaminação da Páscoa e Semana Santa. Apertem os cintos, pois isso ainda não acabou e está muito longe de estar seguro. Você vai ter que continuar remando contra a maré e relembrando ao seu cérebro que não acabou, que não é seguro lá fora, que o esforço vai ter que continuar. Já existe vacina, o seu esforço tem data para acabar. Não perca o fôlego nessa reta final.

Cuidem-se o máximo que puderem dentro das possibilidades de cada um. Relembrem ao seu cérebro, quando ele quiser relativizar o perigo, que isso é um efeito manada e que é ilusório. Nada deveria estar sendo reaberto, muito pelo contrário, mais coisas deveriam fechar, mas o Brasil está nas mãos de irresponsáveis, ambiciosos e filhos da puta.

Não é hora de ir à praia, à academia, ao bar, ao shopping, a restaurante. Não é hora de lazer. Não é hora de ir a jantarzinho, a encontrinho, à casa de amigos “com todos os protocolos de segurança”. Não é hora. Isso é uma guerra, são tempos difíceis de muito sacrifício. De nada vale sua “saúde mental” se depois você adoecer, morrer ou ficar com sequelas. De nada vale sua “saúde mental” se depois você é o responsável pelo contágio e morte de alguém que você ama, aí sua saúde mental vai pro saco, pra sempre. As consequências são graves e irreversíveis, não atraiam isso para a sua vida.

NÃO ACABOU. NÃO MELHOROU. Mesmo que todo o resto do mundo pareça dizer que melhorou ou se porte como se tivesse melhorado, NÃO MELHOROU. Acho que já podemos dizer com certeza que o brasileiro não sabe o que faz, seguir o lado para onde essa manada corre é furada. Da última vez que o brasileiro se portou como se tivesse melhorado, criou a variante mais letal e contagiosa que circula no mundo até hoje. Não siga a multidão, ela não sabe o que faz. Não siga os políticos, eles só pensam nos próprios interesses.

Ignore qualquer julgamento alheio. Podem te chamar de exagerado, maluco, paranoico. Foda-se. Quem vai acabar enterrando um ente querido é essa pessoa que atribuí exageros a o seu grau de cuidado. Não deixe a pessoa que faz festinha de aniversário para os filhos e depois fica mais de um mês na UTI, em ECMO, tendo hemorragia te envenenar com seu descuido. Não é só para parar de ir em show, é para ficar em isolamento social na sua casa, não receber ninguém, não ir visitar ninguém.

NÃO ACABOU. NÃO MELHOROU. Vocês serão ser bombardeados com informações e atitudes que vão de encontro a essas frases e é preciso que vocês se mantenham firmes: não aconteceu nada, absolutamente nada, que leve a crer que o risco diminuiu. Os mesmos cuidados dos dias que você considerou serem os mais graves devem continuar.

Um bom exercício para colocar em perspectiva a realidade: olhe para países civilizados e observe quais medidas eles tomaram quando o número de casos e mortes estava similar ao do Brasil. Siga as restrições que esses países civilizados impuseram a seu povo, quando eles estavam no mesmo patamar de contágios e mortes. Esqueça as orientações vindas do Brasil, pois são todas pensando nos interesses pessoais de quem orienta, não no povo.

Para dizer que vai procurar outras fontes pois a nossa informação é desagradável, para dizer que entendeu a indireta sobre pessoas que envenenam com seu descuido ou ainda para dizer que continuar em casa será um prazer: sally@desfavor.com

SOMIR

A gente cansa de dizer as mesmas coisas sempre? Cansa sim. Mas é melhor estar cansado do que sendo intubado sem anestesia. A pandemia continua firme e forte, ajudada pela absoluta inépcia da máquina pública brasileira e seu exército de negacionistas.

Não é à toa que se fala do coronavírus com analogias de ondas: elas vêm em vão enquanto não tiver nada para realmente nos isolar desse mar revolto. Porque o mar continua lá. O Brasil continua com uma quantidade altíssima de infecções e ainda há pouca coordenação política ou social para lidar com isso, o que garante que o vírus continua em circulação, passível de mutações ainda mais severas a qualquer momento.

Em novembro de 2020, a primeira onda estava retornando, o que gerou uma desmedida confiança no povo para tentar retomar uma vida mais normal. Passamos quase dois meses num país confiante que o pior já tinha passado. Esses dois meses criaram o desastre humanitário que estamos vivendo agora.

Não estamos dizendo aqui que a humanidade vai acabar por causa do Covid. Nunca dissemos e até que uma prova irrefutável se apresente, não vamos seguir por esse caminho. Estatisticamente, a sua chance de não precisar de hospital continua extremamente alta. Mas definitivamente não estamos vivendo no mesmo mundo de 2019. Algo mudou.

E esse algo torna a ideia de normalidade dos tempos pré-pandemia numa relíquia do passado. Vira e mexe aparece alguém aqui achando que descobriu a roda com o argumento de que algumas pessoas não podem se dar ao luxo de ficar isoladas: isso é óbvio. E essas mesmas pessoas vem nos pentelhar perguntando o que essas pessoas têm que fazer… como se fosse a obrigação de cada um que avisa sobre os perigos da pandemia ter uma solução para cada pessoa impactada por ela.

Porque na cabeça dessas pessoas, ainda há a ilusão de que para voltar ao mundo antigo, basta fingir que a doença não existe. E que as faz lidar com a sua própria irracionalidade é taxado de inimigo, e como inimigo, punido com esse tipo de pergunta cruel. O mundo é cheio de problemas, e alguns não tem solução simples. É como se eu estivesse falando sobre os riscos de fazer sexo sem camisinha e quisessem me obrigar a cuidar dos filhos indesejados dos outros…

Se eu escrevo que é para deixar a opção de ficar saindo de casa por último na sua lista de prioridades, não sou obrigado a traçar um plano de ação para você a partir disso. Se vira, você é adulto. Eu estou te avisando de um problema que o governo fez questão de minimizar e transformar em posicionamento político. Não é coisa de comunista tentar se proteger de uma doença.

Queria poder ajudar todo mundo, mas obviamente é impossível. Como eu consegui manter meu trabalho na pandemia, aumentei a quantidade de doações que eu faço para caridade. Talvez eu possa fazer mais, talvez não. Não tenho certeza, mas alguma coisa eu estou fazendo. E mesmo que o Desfavor não tenha a popularidade de uma rede social ou site de fofocas, estou aqui junto com a Sally falando do tema mais importante do momento.

E avisando, na medida do possível, o que estou enxergando. Agora, eu estou enxergando o clima do final de 2020 começando a se formar novamente. A coisa ainda indo mal, mas como não está piorando de forma absurda a cada dia, criando aquela sensação no brasileiro que está passando o pior… de novo.

Não está. A onda sequer começou a voltar. Estamos vendo políticos cedendo à pressão de quem teve um ano para se organizar e não fez (setor de serviços, estou olhando pra você), por covardia e por interesses eleitorais. Se virmos mais um relaxamento coletivo como aconteceu ano passado, vamos ver mais uma onda estourando com força na nossa sociedade. E dessa vez não vai ter um respiro como tivemos desde a metade de 2020.

Vai vir explodindo em cima de hospitais que tem que escolher entre torturar o paciente ou deixa-lo morrer sufocado. É isso que nos faz dar esse aviso agora: se você deixar de prestar atenção, é capaz de te convencerem que essa segunda onda está passando, mesmo com todos os dados dizendo o contrário. Vão tentar vender a ideia de que as coisas vão voltar ao normal por puro cansaço de não ter uma solução imediata.

E aí, três mil mortos por dia vai ser um avanço dos quase quatro que alcançamos recentemente. Se está diminuindo, talvez um barzinho não seja tão ruim, ir para a praia lotada seja algo negociável “com medidas de proteção”… e quando você vê, está brincando com fogo no MEIO de uma onda da pandemia.

As vacinas vão demorar, a cobertura ainda é baixa e o vírus não está parado esperando ficarmos resistentes. O Brasil fatalmente vai baixar a guarda contra a pandemia nos próximos dias e deixar preparado o próximo desastre. E pior: se não for um desastre ainda maior, vão tentar nos convencer que as coisas estão sob controle. E nessa enrolação, mais e mais pessoas vão morrer por confiarem demais nesse papo furado.

Sim, eu sei que tem gente que não vai ter escolha senão enfrentar a doença, eu torço muito para que elas encontrem algum jeito de se protegerem ou que se nada mais adiantar, que deem sorte de não pegar, ou pelo menos não terem a versão mais grave da doença. Não sei como ajudar todo mundo, mas sei como ajudar os que podem ser ajudados: não acredite que está passando. Não está. Fiquem seguros.

Para nos chamar de alarmistas, para dizer que só nos preocupamos com a doença porque somos de esquerda (hahaha), ou mesmo para dizer que o seu líder do culto à cloroquina te disse que não tem problema: somir@desfavor.com

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