Pela C.U.latra

Há alguns anos, um fantasma assombra o Desfavor. O leitor C.U. ganhou direitos de interferir no conteúdo vencendo um dos bolões anuais, e abusando da incapacidade de Sally e Somir negarem uma aposta, conseguiu se manter presente até aqui. Antes que ele ache alguma outra forma de voltar, queremos saber de uma vez por todas o que vocês acham sobre ele.

Tema de hoje: vocês gostam ou não da intromissão do C.U. no Desfavor?

SOMIR

Sally me disse que a dificuldade desse tema era argumentar sem tentar forçar sua opinião sobre os leitores. Discordo. Não tenho dificuldade alguma: durante anos selecionamos um bando de impopulares que só falam e fazem o que querem. Alguns piram com o passar dos anos, mas prefiro assim: me sinto menos responsável. A gente fala o que pensa e vocês se viram com isso. Funcionou até aqui.

Eu só deixei o C.U. cagar no Desfavor porque tenho certeza que vocês gostam, mesmo que alguns não admitam. Nos primeiros anos de blog, nos divertíamos mais com textos bagaceiros, falando de assuntos escatológicos e de mau gosto. Não que tenhamos evoluído tanto assim como seres humanos nesse meio tempo, mas a única forma de segurar um projeto por mais de uma década é ir se modificando com o passar dos anos.

Meus primeiros textos aqui eram pura provocação. Nem sabia quem estava provocando, mas me divertia horrores falar absurdos e ver os comentários putaços. Ia até buscar gente de fora para vir reclamar da gente. Não vou negar que ainda acho engraçado fazer o mix de confusão e provocação eventualmente, mas a fase passa.

Na sequência, entrei numa fase introspectiva, onde o que me agradava era escrever diarreias mentais pouco me lixando se alguém ia entender ou não. E por um tempo, foi o que me fez ter vontade de escrever. Ultimamente, eu estou mais interessado em fazer análises sobre assuntos recentes tentando entender o “clima social e político” dos anos 20 (já podemos chamar de anos 20 nesse século). Mas, já acho mais graça em ser entendido.

Essa punhetação toda é para falar que no final das contas, não é como se Sally e eu fôssemos reféns de qualquer linha de postagens aqui no Desfavor. Não importa o que aconteça, a gente vai continuar fazendo o que der na telha. E vai mudar o caminho quantas vezes tivermos vontade de mudar. Às vezes nem é questão de mudança pessoal (embora em quase 13 anos elas aconteçam), é mais enjoar de fazer as coisas de um jeito e buscar diversão as fazendo de outro.

Eu ainda gosto de temas escatológicos, de gosto duvidoso e provocativos por puro esporte, só acho que já fiz bastante. Se eu continuasse nessa linha até hoje, já seria uma caricatura, e daquelas bem repetitivas. Agora, se vem um estímulo externo para manter as coisas variadas, não acho tão ruim assim. Vejam bem, o C.U. sugere temas que eu detesto quando me causam problema, mas algumas vezes não posso negar que as ideias cretinas me fazem rir. E como pimenta no dos outros é refresco, quando é a Sally que está sofrendo, eu posso só assistir de camarote o caos instaurado.

É sempre do jeito que eu quero que seja? Não. É do jeito que eu quero metade das vezes? Nem isso. Mas, existe uma graça inerente ao processo. São sugestões de pautas absurdas que chacoalham a lógica atual do Desfavor, mas que não estão totalmente fora de contexto. A gente já teve ideias terríveis sozinhos antes. Só ficou meio repetitivo a gente bolar, por isso foi diminuindo o fluxo com o passar dos anos.

E eu acredito que muitos de vocês, mesmo sem colocar em palavras a ideia da forma que eu coloco, sabem que tem um elemento caótico divertido na participação do C.U. na decisão de pautas. C.U. é o espírito (de porco) de um Desfavor antigo, que de tempos em tempos pode reaparecer, só para garantir que os impopulares não fiquem muito moles.

Eu já disse que uma das graças do blog é que a gente simplesmente deixa de se levar a sério quando é mais interessante agir assim. Talvez pela fase que tanto eu quanto Sally estamos passando nas nossas escritas e escolhas de tema, pode-se passar a impressão que nos achamos bastiões da verdade, mas somos apenas pessoas escrevendo ideias na internet. O Desfavor é uma análise complexa das relações internacionais, é um texto sobre física quântica e é uma discussão sobre olhar o papel higiênico depois de limpar a bunda!

E, francamente, faz parte da nossa identidade também filtrar leitores por gente capaz de passear por todos esses contrastes sem fazer cara feia. Eu quero um(a) leitor(a) que discuta metafísica e ria de peidos, é pedir demais? Banir o C.U. de vez seria uma forma de renegar esse passado baixaria e depender apenas de Sally e eu para relembrar o público dessa alma impopular que temos.

O que vai depender muito das fases pelas quais estivermos passando. Eventualmente, podemos passar meses e meses “comportados”, mas nos conhecendo como conheço, uma hora ou outra vai vir uma escrotidão, e eu temo que sem o reforço externo do C.U., vocês sejam pegos de surpresa. Ou que alguém que espera algo muito sério tenha uma decepção imensa. Já nos basta os malucos que temos atualmente, não queremos novos.

Por isso, o C.U. tem essa função de segurança pública: relembra todo mundo de tempos em tempos que estamos na internet e é para relaxar um pouco. Falamos merda, fazemos o máximo para oferecer boa informação, mas é inevitável que falemos merda de tempos em tempos. Baixarias eventuais mantém um clima mais saudável aqui. E digo mais: não deixa que a gente atraia gente querendo guru, um texto merda aqui e acolá quebra o encanto de quem quer um pastor virtual. Ficam só os fortes, e por fortes, eu quero dizer os impopulares que sabem mesclar seriedade e estupidez de acordo com o momento.

Se você é leitor do Desfavor, tenho certeza que o C.U. está em você. A obrigação de fazer textos mandados por ele acaba logo, mas não acho que precisemos fechar a porta para ele de vez. Enquanto ele continuar tendo boas (horríveis) ideias, tem sua função.

Para dizer que macho sempre defende o C.U., para dizer que isso aqui é um blog de família, ou mesmo para dizer que cagou para essa discussão: somir@desfavor.com

SALLY

Eu sei que a gente já discutiu esse assunto antes, mas continuamos sem entender: se entendêssemos como vocês se sentem, não existiria a discordância de hoje. Afinal, vocês gostam ou não da intromissão do C.U. no Desfavor?

Percebam que a pergunta não é se Somir gosta, não é se eu gosto, é se o leitor do Desfavor gosta. Então, eu não estou emitindo uma opinião contrária ou favorável a ele, eu estou emitindo uma opinião que eu acredito ser a do leitor.

Ok, grandes merda o nosso blog. Mas é nosso. Quem vem aqui quer ler o que a gente produz de conteúdo. “Mas Sally, o C.U. só dá a pauta, vocês continuam escrevendo os textos”. Sim, mas a escolha da pauta é parte importante do que é um blog.

Acredito que ninguém passaria aqui se escrevêssemos textos nazistas, por exemplo, por mais que gostem da nossa escrita. Eu realmente não me importo de escrever sobre os temas malucos que ele sugere, acho até um desafio interessante, mas não acho que o leitor que vem aqui queira ler isso.

Quem ousa voltar aqui dia após dia, apesar das palavras duras que temos por hábito escrever, é por querer ler o conjunto da obra que a gente proporciona: tema, escrita, interação, etc. Se as pessoas quisessem ler o que outros escolhem como tema, leriam o blog dessas outras pessoas. E não reclamariam pra caralho cada vez que tem um texto do C.U.

Seria possível encarar as intervenções dele como um alívio cômico, como uma variável para quebrara monotonia ou até para ser surpreendido pelo inesperado, mas não é isso que vejo. As pessoas parecem achar um saco cada vez que tem texto com intervenção do C.U. Ou isso, ou só quem desgosta reclama, quem gosta está calado, nos passando essa impressão errada.

Como eu não tenho bola de cristal, nem leio mentes, fico com os indícios que o leitor deixa: a maioria não parece achar graça nem querer ver esse tipo de quebra de rotina. Me corrijam se eu estiver errada.

Talvez muitos tenham se “acostumado” com o C.U., que, bem ou mal, já faz intervenções pontuais por aqui faz algum tempo. As pessoas, me parece, mais se conformaram do que gostam de ver ele participar do Desfavor. Vejo uma grande massa indiferente, para quem tanto faz: se o tema for de interesse vão ler, sendo ele nosso ou não, e se não for vão ignorar.

Entre tolerar e gostar existe uma diferença enorme. Tolerar é uma coisa, gostar é outra. Se, amanhã, as postagens em “parceria” com o C.U. fossem totalmente suprimidas do Desfavor para sempre, quantos de vocês de fato sentiriam falta?

Não desgostar não significa gostar. Nunca duvidem da capacidade de apatia e não participação de um público. Para a maior parte das pessoas, seja no Desfavor, seja na vida, o que vier é lucro. Vai levando, vai vendo como fica, deixa o outro decidir, vai recebendo: “faz aí o que vocês acharem melhor” parece ser o mantra. Muitos nem devem saber responder a essa pergunta: você GOSTA das intervenções do C.U. no Desfavor?

“Pode ser”, “Tanto faz” e “Sei lá” não significam gostar. Significam não se meter, não se dar ao trabalho de pensar no assunto. Quem gosta expressa, não fica indiferente. Por isso eu acho que, no caso do tema de hoje, a palavra “gostar” é forte demais.

Salvo uma minoria entusiasmada, temos uma grande massa silenciosa e uma parcela maior que reclama. Somando os dois últimos, eu concluo que a maioria não gosta interferências do C.U. no Desfavor. Ou desgosta ou apenas as tolera com base em um “tanto faz”.

Percebam que não há julgamento: não simpatizamos mais ou menos por quem quer ou por quem não quer a interferência do C.U. É como perguntar a alguém se a pessoa prefere macarrão com molho branco ou com molho de tomate. Sagrado direito de cada um gostar (ou não) de uma coisa.

Hoje é um dos poucos Ele Disse, Ela Disse onde não esperamos ver determinada resposta nem esperamos convencer ninguém. É uma pergunta legítima e a nossa discordância é sobre como vocês se sentem, não sobre o que é melhor para o Desfavor. Sobre o que é o melhor para o Desfavor estamos totalmente alinhados e disso não temos dúvidas.

Não custa relembrar que isso não é uma democracia, a menos não como obrigação. Eventualmente colocamos questões em votação e deixamos o leitor decidir, mas não é o caso hoje. Não estamos pedindo que decidam nada, queremos apenas saber como se sentem: gostam das intervenções do C.U. no Desfavor? O saldo final é positivo?

Por isso, não tenham medo de nos ofender ou ofender o C.U. Não há resposta “certa”, queremos apenas sinceridade de como se sentem atualmente. Pode ser que no ano passado a pessoa não suportasse e neste ano passou a gostar, ou vice-versa. Só muda de ideia quem as tem. É totalmente legítimo e válido passar a gostar ou desgostar de algo.

E, que fique claro: temos um acordo com vigência até dezembro deste ano, portanto, a opinião do leitor pesa daí para frente. Neste ano ainda devemos 4 textos ao C.U. (dois do Somir, dois meus) que serão devidamente pagos. Mas queremos saber como os leitores se sentem, daí em diante.

Vamos saber? Não. Poucos vão responder e metade vai ficar em cima do muro. Mas o espaço para opinar foi aberto, então, estamos fazendo a nossa parte.

Na minha interpretação, se ninguém se mexe para pedir que uma situação transitória se torne permanente é por ela não ser assim tão legal ou tão importante. Se não foi essa a interpretação correta, por favor me deixem saber nos comentários.

Para dizer que ama o C.U. em silêncio por vergonha, para dizer que tudo que me faça escrever menos FAQ é válido ou ainda para dizer que se o C.U tivesse seu próprio blog você estaria lá, não aqui: sally@desfavor.com

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