C.U.radoria de Conteúdo: Beijo Grego

Recebemos uma lista de temas do C.U. para esta coluna, e acredite se quiser, essa foi a menos terrível. Beijo grego, para quem era feliz e não sabia, é o ato de estimular o ânus do parceiro ou da parceira com a boca. Sally e Somir são obrigados a decidir de qual lado é pior estar, do lado da boca… ou do ânus.

Tema de hoje: o que é menos pior, ser o ativo ou o passivo no beijo grego?

SOMIR

Agora eu entendo quando dizem que masculinidade pode ser tóxica… vejam bem: dada e escolha entre colocar ou não a boca no cu de outra pessoa, a minha masculinidade acaba me forçando a colocar. Sim, eu escolho ser o ativo. Eu prefiro não ser colocado numa posição de vulnerabilidade anal, mesmo que isso me coloque numa situação de merda.

Nada contra o que outros fazem ou deixam de fazer com o cu, se é algo que te agrada e você encontra parceiros que também gostem, seja muito feliz brincando de centopeia humana; eu que não acho algo muito condizente com o ato sexual. A natureza teve alguns milhões de anos para projetar órgãos especializados para o prazer sexual, e eu me considero satisfeito com o resultado. Não vejo a necessidade de colocar o sistema (puramente) excretor na jogada.

Mas, ei, esse não é o ponto do texto. Pela premissa que o C.U. nos apresentou, o contato entre boca e cu é inescapável, só nos resta escolher a posição que estaremos durante ele. E é aí que eu decido que o desconforto de entrar em contato com o buraco por onde a mulher defeca é um pouco melhor do que o desconforto de ceder o controle sobre o buraco pelo qual eu defeco.

Minha mente progressista gostaria de não ter essas limitações de natureza sexual, mas o que o coração quer, o coração quer. E no caso, meu coração não me quer “entregue” a outra pessoa dessa forma. Por mais que minha preferência exclusiva por mulheres me coloque numa situação mais segura durante o sexo, afinal, a probabilidade de eu estar com uma mais forte que eu é basicamente nula, ainda sim o beijo grego presume uma posição de total entrega de controle.

Posição na qual eu prefiro não me encontrar. Não só você tem que se posicionar de forma a perder reflexos rápidos, bunda pro ar de uma forma ou de outra, você ainda cede muito da sua capacidade de percepção sobre a mulher em questão. Não gosto de perder o controle sobre meu cu. Quem põe a boca pode tentar colocar mais coisas… e não dá para ficar muito bravo, afinal, você abriu um precedente ao abrir as bandas e permitir aquele contato imediato de terceiro grau anal!

Eu não queria escrever esse texto nem tanto pela baixaria, afinal, não tenho reputação a zelar, mas porque eu ia acabar fazendo um argumento que eu sei que é escroto, mas não consigo pensar diferente: mulher não pode ter muito poder no sexo. Entendam, não é que eu quero oprimir, é que como eu respeito a ideia de pleno consentimento feminino, mulher já tem poder demais no jogo sexual: ela que escolhe se vai ter sexo ou não. Homem só tem querer antes de começar a relação sexual, poder mesmo é da fêmea. Se ela quiser, a coisa avança.

Pra mim, nada mais justo do que retomar o controle após ela tomar essa decisão. E isso implica em não se colocar em posições vulneráveis e/ou passivas. Como eu entendo: assim como homem não respeita mulher que não exerce seu poder de escolha no pré-sexo, eu acredito que mulher não respeita homem que não exerce seu poder no durante. Tudo na vida é sobre sexo, menos sexo… sexo é sobre poder. Ao me colocar numa situação vulnerável assim, eu acredito que não estou cumprindo minha parte.

É uma forma prolixa de dizer que tenho medo que ela enfie um dedo (ou algo pior) no meu cu? Sim. Mas admita, eu sei fazer parecer bem mais profundo sem colocar em risco minhas profundezas. Mas a coisa não termina aqui, temos a mecânica anal da coisa: salvo uma preparação especializada, ânus e fezes quase sempre estão na mesma frase.

Quer dizer que eu estou de boa com entrar em contato com fezes? De forma alguma, só quer dizer que se alguém tiver que passar a vergonha de ter resíduos ou mesmo acidentes anais, que não seja eu. A pessoa com a boca assume o risco de consumir coliformes fecais, mas pelo menos nunca é a pessoa que tem que passar pela vergonha de ter um acidente. Eu não sei como um ser humano pode se divertir sabendo do risco de colocar suas fezes em contato com outro. Eu jamais poderia ficar à vontade nessa situação.

Já do outro lado, o problema é da outra pessoa. Você só pode ser vítima, nunca perpetrador do crime de contaminação. Eu lido mal com vergonha, eu fico com vergonha das coisas ruins que eu faço pelo resto da vida, eu lembro de coisas vergonhosas que eu fiz quando tinha 8 anos de idade até hoje. Memória vergonhosa vai para um lugar de armazenamento permanente do cérebro. Se a vida passa diante dos seus olhos antes de morrer, eu tenho certeza que vai ser 99% vergonha.

Já a memória das vergonhas alheias é muito mais frágil. Mesmo que seja daquelas coisas que te fazem sofrer em conjunto, a famosa vergonha alheia, é o tipo da coisa que você esquece muito mais fácil. Um acidente durante um beijo grego sumiria da minha mente fácil se não fosse o meu cu que o tivesse criado. Senão, seria só mais uma memória eterna de vergonha. Repito: se alguém for passar vergonha, que seja outra pessoa. Eu até sou mais compreensivo com ela pelo alívio de não ser a minha vergonha.

Mesmo que você descubra tarde demais que aconteceu um acidente, é só lavar a boca com um pote de desinfetante bucal e ficar um tempo sem comer mousse de chocolate para não trazer a memória. Pode ser difícil manter uma relação com uma pessoa que te colocou nessa situação? Pode. Mas novamente, pra mim é sempre mais fácil se eu não for o culpado. Se a pessoa que me colocou nessa situação ficar com vergonha, a chance dela pedir repeteco cai absurdamente. Se eu ficar com vergonha, ela provavelmente vai tentar mais vezes para tentar fazer eu me sentir bem de novo, o que seria uma derrota em vários sentidos.

Eu queria ser uma pessoa mais relaxada e menos preconceituosa, mas não sou. O importante na vida é se conhecer e tentar tirar o melhor das suas capacidades. Mesmo que isso signifique ficar cara a cara com as merdas da vida.

Para dizer que o C.U. se superou dessa vez, para começar a me chamar de comedor de cocô, ou mesmo para dizer que essa preocupação anal toda é sinal de coisa mal resolvida: somir@desfavor.com

SALLY

“Se você fosse obrigado a fazer ou receber um beijo-grego, qual dos dois escolheria?”

Este sem dúvida é o pior texto que eu fui obrigada a escrever pelos leitores. É indigno, é baixo é desnecessário. Desde já peço desculpas pelo tema e pela argumentação que vou ter que usar.

Desta vez o C.U. queria escolher um tema para a coluna “Ele Disse, Ela Disse”, alegando que faz muito tempo que não falamos em assuntos escatológicos. Ele enviou uma lista extensa de temas antagônicos e pediu que Somir e eu escolhêssemos um no qual a gente discordasse. Acreditem, este era o tema menos pior.

Não tem nada de bom que possa ser dito aqui, eu dispensaria as duas opções. Você lambe privada? Mesmo que alguém passe um sabãozinho antes? Pois é. Chamem de fresca, mas a ideia de colocar a minha boca em um lugar onde há trânsito diário de merda não me apetece.

“Ain mas colocar a boca em um lugar onde sai mijo tudo bem”. Em minha humilde opinião, entre mijo e merda há uma diferença abissal, sem contar que ninguém coloca a boca (acho eu) dentro do canal de onde vem o mijo. A boca é colocada nas adjacências, no entorno, não no buraco urinal em si.

Então, se a gente for falar em entorno, o equivalente seria lamber a bunda e não o cu. Basta de falsa simetria, isso não será tolerado aqui. É sério, eu estou muito chateada de ter que escrever estas coisas, não vou poder me desculpar o suficiente. Não era isso que eu queria para meu blog.

A questão me afronta de tal forma que eu nem sequer consigo chegar no topo da pirâmide de Maslow e pensar em futulidades, estou no primeiro degrau, no da sobrevivência, no da higiene, no da preocupação em não encher a boca com coliformes fecais. Não me venham dizer se é bom isso ou aquilo, minha prioridade, neste momento, é não comer merda – e me parece uma preocupação bastante razoável.

Se a natureza quisesse que enfiássemos nossas línguas no cu alheio, ela teria feito merda com sabor hortelã. Você faz? Tá joinha, problema seu. Eu não quero, e para não enfiar minha boca em lugar onde regularmente transita merda eu topo a contraproposta do tema. Hoje, meus queridos, não há vencedores, há apenas sobreviventes aqui, lutando por um restinho de dignidade.

A questão para o Somir e para mim, que não apreciamos coliformes fecais, é sobre a opção menos indigna. Na verdade, dignidade não há, pois quando você é obrigado a fazer algo que não quer, a dignidade sai de cena. Eu pensei nessa fascinante questão meio que por exclusão: qual é a opção que me obriga a ter o menor contato possível com o cu alheio?

Provavelmente eu não estou fazendo o menor sentido para você, e peço desculpas pela minha baixa performance argumentativa. Permitam-me tentar explicar o ponto: como eu vejo, sem querer desmerecer quem faz, a escolha aqui é entre porcaria ativa e porcaria passiva. Eu prefiro servir de via do que de agente para algo que considero um atentado à higiene.

E não é apenas de merda que estamos falando, que fique bem claro. Tem a questão do suor. É uma área, digamos, pouco ventilada. É uma área com dobras. É uma área que, em algumas pessoas, têm pelos. Com sorte pode ser uma pessoa limpinha que acabou de tomar banho e que se depila, mas com azar… ah, não me façam começar a elencar o que pode acontecer com azar.

Além disso, um fator que deve ser considerado é o controle de esfíncter alheio. A gente sabe do nosso, nossos limites, nossas reações, mas não sabemos do alheio. Eu não sei se não pode acontecer uma situação sólida, líquida ou gasosa como intercorrência. Eu gosto de supor que todos vão trabalhar para que não aconteça, mas… dá para dizer que é impossível de acontecer?

Outro fato passível de ponderação: a vista não deve ser bonita. Sobretudo quando falamos em aplicar este tipo de atentado contra um homem. Um cu cabeludo, duas bolas cabeludas caídas nas proximidades… não, não, obrigada. Não estou disposta.

“Mas Sally, pode fechar o olho”. E não ver em que condições se encontra o local antes de colocar a minha boca nele? É o tipo de salto de fé que eu não sou capaz de dar. Eu não entro nem no banheiro sem ligar a luz antes e dar uma rápida inspecionada no local, quem dirá no lugar de onde saem as coisas que vão no banheiro.

É um atentado a vários sentidos: visão, olfato, paladar e, dependendo das condições e circunstâncias, à audição e ao tato. É muita coisa para abstrair. Só em um estado zen que desconecte todos os sentidos do corpo e, mesmo assim, em algum momento esses sentidos voltam, e com eles o gosto que ficou. Não tenho condições emocionais de passar por isso.

Não que estar do lado passivo seja digno – a meu ver, longe disso. Mas o trabalho sujo fica com outra pessoa e, em caso de acidentes, imprevistos ou erros de execução, será ela a receber as consequências. Eu deixo o risco para terceiros, obrigada.

E antes que alguém comece com “é bom”, “você que não sabe fazer”, “você é fresca” e similares, gostaria de lembrá-los que gosto não se discute. Cada um faz o que quer. Você gosta? Maravilha. Faça. Depois crie um blog e faça postagens diárias, escreva nele 13 anos e depois deixe o seu leitor mais degenerado escolher a sua pauta, aí você conta que gosta e aponta os lados bons.

Novamente, peço perdão pelo dia de hoje.

Para dizer que está rindo do nosso sofrimento, para dizer que não quer nem ter que pensar nesse dilema ou ainda para perguntar se pode pegar covid assim: sally@desfavor.com

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Comments (14)

  • Puta do SUS versão escatológica

    Gente, e se na hora da lambida a rosquinha está com cobertura de chocolate? Vocês cospem ou engolem? Hahahaha

  • Vcs falam na perspectiva heterossexual, pq viado adora chupar um cuzinho de macho e meter gostoso.

    Segundo dizem os médicos, se aquela região estiver limpinha por fora e por dentro (o cara tem que ter feito a chuva) não há problema algum. Mas outros dizem que o problema mesmo está em usar a saliva como lubrificante, já que não é adequado para aquela região, e há gel específico pra isso.

    De qualquer forma, chupar um cu é uma delícia! Questão de prazer mesmo que as vezes até ultrapassa sim o limite do aceitável, do comum, etc.

    • Nada disso, tem um monte de homem hetero que chupa o cu da mulher e um monte de mulher hetero que chupa o cu do marido. O ato de chupar o cu não faz de ninguém homossexual, o que faz alguém homossexual é se sentir sexualmente atraído por pessoas do mesmo sexo.

  • Nem dar nem receber.
    Nojo máximo até da boca de quem faz.
    Mentira que fazer sexo não tem limite, tem sim, esse é um deles.

  • *lambendo CU (somente esse em específico)
    Eu estava apreensiva, pensando que ia ter free hugs também. Está divertido, CU não estraga nada não.

    E eu duvido que a Sally teria coragem de beijar a boca do cara depois. Se ela parou de usar uma banheira porque o Alicate cagou e depois foi lavada…

  • Eu já tive uma namorada que fazia um beijo grego inesquecível! Pra mim, uma mulher que saiba pilotar um cu é outro patamar. Não curto outros machos e tenho explicação por existirem muitas terminações nervosas no cu. Não sei porque os crentes tem tanta aversão a usar seus cus, já que se o deus deles existisse, deveriam reclamar dessa trollagem de fazer a próstata ser alcançada pelo cu.

  • Argh, que horror! Pela primeira vez em toda a história do Desfavor, eu não tomo partido de nenhuma das duas opções apresentadas. E também não consigo compreender como é que alguém pode ser adepto dessa prática, seja em uma extremidade ou na outra. Ao mesmo tempo, não saquei qual é a dessa foto estranha que ilustra a postagem, de uma pessoa com enormes costuras cirúrgicas no rosto. Mas algo me diz que deve ter a ver com algo repugnante.

  • Ah, ficou pro mês seguinte por causa da coluna de segunda, pensei que o CU tinha furado e já tava pensando em free hugs pra ele. Boca em cu? Nunca botei nem pretendo botar. Se quiser beijar o meu não me importo.

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