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Instinto subvertido.

Instinto subvertido.

| Desfavor | | 6 comentários em Instinto subvertido.

Seguindo o caminho de descaralhamento mental das mulheres, estamos no auge da moda dos bebês reborn. Sally e Somir concordam que é sinal de problemas, mas se comparado com outra forma parecida de utilização do instinto materno em não-humanos, a coisa fica menos harmoniosa. Os impopulares cuidam da polêmica.

Tema de hoje: o que é pior para a saúde mental, ser mãe de pet ou mãe de bebê reborn?

SOMIR

Eu ainda acho pior a versão artificial. Animais de estimação pelo menos são seres vivos, mãe de bebê reborn é sinal de algo muito mais errado com a cabeça da pessoa.

Cuidar de animais não é necessariamente uma versão do instinto materno ou paterno. Claro, os animais mais populares para se ter em casa são justamente os que melhor utilizam características de crianças humanas para gerar afeto, mas não quer dizer que é uma relação análoga a ter um filho.

E isso é importante aqui porque não importa o grau de excesso da mãe de pet, sempre existe um caminho de volta para uma relação mais saudável com o ser vivo em questão. Existem relações não malucas com animais de estimação, e se você passar do ponto, nada te impede de voltar ao lugar mais natural.

Agora, o bebê reborn é problemático na sua essência, não existem níveis seguros de relação com um boneco numa pessoa adulta. A criança que gosta deles vai se desapegando quando começa a ter relações com outras pessoas, o adulto não deixa de brincar com bonecos porque a “sociedade impede”, mas porque o interesse se esvai naturalmente.

Mesmo aqueles cidadãos que têm uma coleção de bonecos de personagens de quadrinhos ou anime ainda lida com eles como uma… coleção. E existem mulheres que mantém coleções de bonecas também sem nenhum dos elementos de relação que as mães de bebês reborn tem. Crianças e adultos gostam de colecionar coisas. Como quase tudo na vida, só é problema quando começa a atrapalhar outras coisas importantes.

Toda a questão do bebê reborn é a relação com o boneco. É relação sem troca, é amigo imaginário. Isso é um problema de verdade. Tratar um animal de estimação como se fosse uma criança é uma espécie de “fio cruzado” no cérebro, mas entendem como ainda é algo dentro da lógica de funcionamento da mente humana adulta?

É relação com algo que pode se relacionar de volta. Animais não tem a complexidade da mente humana, quase todas as características além do básico do bicho são invenções nossas, mas tem algo ali. Tem um coração batendo e tem consequências para suas ações.

A mãe de pet pode deixar o bicho completamente neurótico, mas o bicho responde. Ele suja o chão, ele fica com fome, ele fica doente, ele fica empolgado, cansado, desanimado… errar a espécie e tratar como humano leva a muitos erros, mas o básico da interação entre dois seres vivos está lá. A pessoa ainda está fazendo algo conectado com o mundo externo.

Já cuidar de bebê reborn criar um buraco negro na relação, tudo o que vai para o boneco inanimado desaparece. A pessoa perde a noção de resposta e vai criando uma relação absolutamente desigual. Ser mãe de pet te mantém no mundo, ser mãe de bebê reborn te tira dele.

E essa remoção voluntária da realidade tem toda a cara de ser o mal do milênio. Estamos próximos de ter bonecos capazes de simular interações, só falta a viabilidade econômica da produção em massa. A tecnologia existe. O ser humano já provou que é muito capaz de se enfiar nessas relações sem nenhuma troca por gosto. Não precisa ser nem ser resultado de um trauma ou de abandono total, tem muita mãe de boneca que já tem filhos reais.

De uma certa forma, quando mulheres começam a demonstrar esses comportamentos de “evasão social”, é prova inequívoca que isso faz parte do nosso pacote básico. Quando eram só homens, poderia ser explicado por dinâmicas sociais de exclusão de machos redundantes em animais parecidos com os seres humanos. Realmente precisamos de menos homens que mulheres se a questão é puramente reprodutiva.

Mas quando as mulheres começam a agir dessa forma, tem algo mais profundo aí. E eu acho que o bebê reborn é o canário da mina: se elas começarem a fugir das relações “normais”, é porque é algo que vem de dentro. Uma vantagem percebida em relações sem troca que fica mais e mais interessante para o ser humano com o passar das décadas do século atual.

Então, ser mãe de bebê reborn não só tem o problema interno de ficar numa relação sem troca que te faz menos capaz de lidar com outras pessoas, como também vai normalizando a ideia de viver com essas relações sem troca. Faz mal para a pessoa e para o mundo.

Já a mãe de pet de alguma forma fica dentro da lógica social da espécie, com certeza é alguém que deve olhar para dentro e encontrar uma solução para a fuga de humanizar animais que não são humanos, mas a base da coisa está lá: troca, esforço e responsabilidade.

SALLY

Em matéria de saúde mental, que é pior, Mãe de Bebê Reborn ou Mãe de Pet?

Eu acho Mãe de Pet pior. Não que alguém aqui seja normal, mas a Mãe de Pet causa danos visíveis e insiste na sua postura.

Para fins deste texto, Mãe de Pet não é gostar muito do seu animal de estimação e tratá-lo com amor e carinho. É tratar um animal como um ser humano. Humanizar um bicho é uma violência para o bicho e sempre, sempre vai gerar prejuízos físicos e emocionais para um animal.

E humanizar bicho não é chamar de “filho”. Não faz qualquer diferença para seu pet se você chama ele de “filho”, de “escroto” ou de “sbrubles”. Humanizar é atribuir sentimentos e necessidades humanas a um animal e tratá-lo conforme essas premissas.

Humanizar é, por exemplo, botar um bicho para comer sentado à mesa com talher. É Achar que ele fez algo por “vingança” (um pet não é capaz desse tipo de sentimento). É mantê-lo confinando, não exercitar o animal, não levar na rua. É botar roupinha, pintar a unha, não permitir que ele se comporte como bicho. É atribuir os problemas dele a ele (“não sabe se comportar? Vai ficar trancado”) quando todo problema de pet é sempre responsabilidade do tutor. É esperar que ele se comporte como gente, inclusive no que diz respeito a sentimentos e forma de ver o mundo.

Se você ainda tem dúvidas sobre estar ou não humanizando seu pet, este texto pode te ajudar.

Pois muito bem. Ultrapassada a questão conceitual, vamos aos argumentos.

Ser Mãe de Bebê Reborn é estar muito fodida da cabeça, não tem como atenuar. Não vejo outro cenário que não seja doença mental. Porém é uma dinâmica na qual a pessoa entra e, se não tiver autocrítica, nada a impede de sair. O bebê de borracha não vai dar sinais de não estar gostando daquilo. É mais fácil ficar preso nessa redoma de doideira, não há sinais da outra “parte” com a qual se está interagindo.

Já a Mãe de Pet terá sinais claros de estar fazendo mal a outro ser vivo. O pet fica neurótico, problemático. Late muito, faz xixi fora do lugar, destrói coisa, tem problemas para ficar sozinho, tem problemas de agressividade, lambe demais as patas, não socializa com outros animais, se coça muito, fica nervoso, fica deprimido… eu poderia ficar até amanhã listando sintomas. Se seu pet não é equilibrado, tranquilo e calmo, você o está fazendo infeliz.

Claro que todo animal tem seus momentos de brincadeira, de correr, de gastar energia. Ninguém espera uma almofada com focinho. Mas é isso: são momentos. Não é o dia inteiro. Um cão, por exemplo, que não passeia fora da casa ao menos meia hora por dia jamais será um cão saudável, física e emocionalmente. Será um cão humanizado, pois só humanos conseguem passar o dia dentro de casa, sem estímulos novos, e ficar bem. Mesmo que tenha quintal. Mesmo que seja uma fazenda. O cão tem que sair.

E quando o animal demonstra claros sinais de disfuncionalidade, a tutora atribuí ao seu temperamento: “ele é nervoso”. Atribuí à raça: “raça pequena é assim, late muito” (também temos um texto sobre isso). Atribuí a um trauma do cachorro (quem muda o comportamento por trauma são os humanos, e o cão sente e acompanha). Atribuí a tudo menos a o que realmente é a causa: a carência ou preguiça de estudar, conhecer e cuidar de um cão como um cão precisa. Dá trabalho. É um dreno de tempo. As pessoas acabam não fazendo.

E é isso o que me tira do sério. Foi isso que me fez desistir da faculdade de veterinária. 90% das pessoas não têm a menor ideia de quais são as necessidades reais dos seus pets, apenas dão amor e acham que isso basta. Pet não é gente, eles têm ao menos 10 necessidades básicas que precisam ser supridas diariamente para que estejam emocional e fisicamente saudáveis. Não é o tema deste texto, por isso, não vou me estender. Mas, se você quer saber mais sobre o assunto, recomendo que acompanhe o canal Tudo Sobre Cachorros da Halina Medina (Youtube) ou até que faça um curso com ela.

O ponto deste texto é: pet dá sinal de que não está bem, de que está em sofrimento, de que está desequilibrado e essas Mães de Pet ignoram para que o pet caiba no seu mundo e supra suas carências e necessidades. Isso para mim beira à psicopatia. Escrotizar um pedaço de plástico não tem maiores consequências, colocar um ser vivo em sofrimento diário e levar uma vida assistindo isso e não percebendo esse sofrimento é muito mais fodido da cabeça.

Eu acho menos pior uma pessoa que vive em um mundo de faz de conta no qual um troço de acrílico é seu filho do que alguém que efetivamente causa dano diário a um ser vivo e insiste nisso. Quem é mais fodido da cabeça: quem apenas fantasia algo que não existe ou quem gera sofrimento diário em outro ser e continua, apesar de todos os sinais do sofrimento que causa, acreditando que é amor?

Repito: tudo gente maluca, tudo gente desequilibrada, tudo gente com doença mental. Mas apenas um causa um dano real, sofrimento. E, na minha opinião, quando você, além de tudo, consegue ignorar o sofrimento extremo e diário de outro ser vivo (ou minimizá-lo) você é mais fodido da cabeça sim.

“Ain Sally, mas eu achei que estava fazendo o melhor pelo meu pet”. Então… é justamente isso o que te faz uma fodida da cabeça: não conseguir reconhecer o sofrimento que causa. Maluca e egoísta. Seu pet te diz, do jeito dele, quando ele não está bem. Quem quer ter um pet precisa aprender a entender seu pet. Tem que estudar para atender às necessidades dele, que de forma alguma são iguais às suas. Tem que ter responsabilidade.

Se você tira um bichinho da sua mãe e fica responsável pela vida dele, o mínimo a fazer é entender como dar uma boa vida para ele – e uma boa vida para um pet é completamente diferente de uma boa vida para um humano. Quando um pet estiver infeliz ele não vai chorar, ele vai ficar ansioso, latir muito, destruir coisas, fazer xixi fora do lugar, ter ansiedade de separação, ficar acima do peso, ficar deprimido, ficar agressivo, ficar hiperativo.

O passar por cima da angústia, do sofrimento e dos sinais que um animal te dá, só por não serem iguais aos seus, me parece o auge do probleminha de cabeça. Tem que ser muito egoísta, carente, autocentrado e, por que não, escroto para manter um animal por anos em sofrimento diário e achar que está fazendo o melhor para ele. É doença mental que chama. E pior do que botar roupinha em um pedaço de plástico.

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