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Bíblia Pilhada: Samuel Parte 3

Bíblia Pilhada: Samuel Parte 3

| Sally | | 14 comentários em Bíblia Pilhada: Samuel Parte 3

Hoje entramos no segundo livro de Samuel, o que é intrigante, pois, em tese, o nome do livro corresponde à pessoa que o escreveu e o segundo livro de Samuel conta histórias que aconteceram depois que Samuel morreu. Vamos apenas aceitar e seguir em frente.

Após a morte de Saul, Davi se tornou o rei oficialmente. Aos trinta anos, Davi se tornou rei e reinou por 40 anos. Teve alguma resistência no começo, alguns apoiadores da família de Saul declararam guerra, tentaram tirá-lo do poder, mas como o espírito do Senhor estava com Davi, ele derrotou os inimigos em meio a truncadas tramas envolvendo fofoca, intrigas, negociações e traições. Tudo muito chato, vamos focar nos melhores momentos apenas.

Em determinado momento, Davi mandou trazer sua esposa Mical, que, por ser filha de Saul, agora uma “família inimiga”, havia sido mantida longe dele. E mandou trazer com um argumento maravilhoso: “Entregue-me a minha esposa Mical. Eu paguei cem prepúcios de filisteus para ter o direito de casar com ela”. Tá pensando o quê? Que prepúcio dá em árvore? É uma moeda de troca tão valorizada que é utilizada na hora de reivindicar o produto, no caso, a esposa.

Em outro momento, Davi resolveu amaldiçoar pessoas que fizeram cagada sem consultá-lo. A história não importa, o que merece menção é a maldição, bastante criativa e curiosa: “Que nunca faltem na sua família homens que tenham gonorreia ou doença contagiosa de pele, ou que sejam capazes de fazer somente trabalho de mulher, ou que sejam mortos em batalha, ou que não tenham o que comer!”. A forma como estes quesitos foram equiparados é fascinante.

Em determinado momento, Davi se estabeleceu em Jerusalém e mandou levar a Arca da Aliança para lá. Uma história curiosa sobre o deslocamento da Arca: ela foi levada por um carro de bois e, no caminho, os bois tropeçaram, fazendo balançar a carroça e desequilibrando a Arca. Um infeliz chamado Uzá, percebendo que a Arca ia cair, botou a mão para segurá-la no carro. Deus ficou furioso com a falta de respeito de Uzá de botar a mão na Arca e o matou na mesma hora. Fica a dica: é melhor deixar a Arca cair no chão.

Outro pequeno conflito se deu entre Davi e sua esposa Mical. Quando a Arca chegou a Jerusalém, Davi ficou muito contente e celebrou sua chegada “pulando e dançando em louvor ao senhor”. Sua esposa, Mical, “sentiu por ele um profundo desprezo” e quando ele voltou para casa o desaforo comeu solto.

Mical teria dito “Que bela figura fez hoje o rei de Israel! Parecia um sem-vergonha, mostrando o corpo para as empregadas dos seus funcionários!”. Davi respondeu que não tinha vergonha de adorar e louvar a Deus. Deus, por sua vez, ficou puto com a observação da moça e castigou Mical impedindo-a de ter filhos.

Outro incidente infeliz ocorreu quando o rei Naás morreu e seu filho Hanum assumiu. Davi enviou mensageiros para informar que era amigo de Naás e continuaria amigos de Hanum super de boas, na vibe da amizade, mas, alguns conselheiros sacanas ou mal-informados foram dizer a Hanum que na verdade esses mensageiros eram espiões.

Hanum ficou puto, pois acreditou que estava sendo espionado. Matou os mensageiros de Davi? Não, pois isso seria muito normal. Em vez de matar os supostos espiões, Hanum “raspou um lado das suas barbas, cortou as suas roupas até a altura das nádegas e os mandou embora”. Imagina os tios voltando com metade da barba raspada e a bunda de fora. Obviamente, quando Davi ficou sabendo, convocou seu exército, ordenou um ataque e trucidou todo mundo.

Quando tudo se ajeitou, quando todos os inimigos estavam vencidos, quando o povo amava seu rei, quando as questões urgentes estavam controladas, Davi resolveu que era hora de botar a casa em ordem. Decidiu que a Arca da Aliança merecia um lugar digno para morar, em vez de ficar em uma barraca. Trocou uma ideia com seu profeta, chamado Natã, sobre o assunto. Natã ficou de consultar o Senhor e dar retorno.

Na mesma noite, Deus apareceu para Natã e fez um longo discurso, do qual, a única parte que interessa é um recado para Davi: ele não deveria construir um tempo para a Arca da Aliança, não era o momento. Essa missão seria de seu futuro filho, que se também se tornaria rei, com as bênçãos de Deus. E quando a gente continua a leitura, percebe que realmente não era o momento, dado o esmerdeio que se sucede.

Davi fez uma cagada que desdobraria em muitos problemas para os próximos anos. Um dia, ele estava passeando no terraço do palácio, quando viu uma moça muito bonita chamada Bate-Seba tomando banho. Sim tomando banho. Não me perguntem. Ao que tudo indica eram aqueles banhos com uma bacia e pano úmido.

Davi ficou encantado e “mandou buscá-la” e “teve relações com ela”. Não sabemos se foi consensual. Há quem diga que Bate-Seba estava deliberadamente tentando seduzir Davi. Há quem diga que ela foi imprudente de se banhar em um local onde poderia ser vista. Há quem diga que a coitada não fez nada de errado e simplesmente foi estuprada.

Escolha sua versão. Davi estava errado, independentemente da versão, pois Bate-Seba era casada com um soldado do exército de Davi: Urias. Consentido ou não, ele não deveria ter passado a pica na esposa do rapaz.

Para aumentar a cagada, Bate-Seba engravidou e, como seu marido estava há tempos lutando na guerra bem longe dali, a pulada de cerca ficaria evidente. Davi, provavelmente para camuflar a cagada que fez, mandou buscar Urias, tirando-o das batalhas para que ele “volte para sua esposa”. Se Urias estivesse lá, pensaria que o filho era seu e a sua pulada de cerca compulsória passaria abaixo do radar. Mas, o plano não deu certo.

Urias ficou putão, achou aquilo uma desonra e disse que não ia ficar em casa de boas enquanto todos os colegas se ferravam batalhando e se recusou a ir para casa, dormiu no chão do palácio, em protesto, pedindo que seja mandando de volta para a guerra.

Vendo que o Plano A não iria funcionar, Davi colocou em prática um Plano B: mandou Urias de volta para a guerra, mas, para ocultar a cagada que tinha feito, escreveu uma carta para o comandante das tropas dizendo “Ponha Urias na linha de frente, onde a luta é mais pesada. Depois se retire e deixe que ele seja morto”.

E foi o que aconteceu: Urias foi jogado na linha de frente sem a devida proteção e morreu. Davi mandou avisar Bate-Seba numa de que pena, seu marido morreu e você aí grávida e desamparada, se quiser chega aqui que a gente casa. Sem ter muita opção, ela se casou com ele, fazendo parecer que o filho era fruto de uma união oficial. Deus, obviamente, não gostou nem um pouco disso.

O Senhor avisou a Davi que por causa dessa babaquice “alguns dos seus descendentes morrerão de morte violenta. E também afirmo que farei uma pessoa da sua própria família causar a sua desgraça. Você verá isso quando eu tirar as suas esposas e as der a outro homem; e ele terá relações com elas em plena luz do dia. Você pecou escondido, em segredo, mas eu farei com que isso aconteça em plena luz do dia, para todo o povo de Israel ver”. Dito e feito.

Para começo de conversa, Deus matou o filho que Davi e Bate-Seba tiveram. Sim, uma criança inocente que não tinha qualquer relação com os erros dos pais. Sim, esta é a mesma cartilha que acha aborto um pecado abominável. Deus praticou o aborto pós-gestação. Um Deus que mata criancinhas é o clichê da maldade.

Depois disso, Bate-Seba engravidou novamente e dessa vez o Senhor resolveu não matar a criança. Nasceu Salomão, que no momento não tem relevância, mas será muito importante no futuro.

Mas, conforme a praga de Deus, os problemas com filhos não parariam por aí. O caos/catigo continuou.

Um dos filhos de Davi (Amnon) armou um elaborado plano para estuprar sua irmã virgem (Tamar). Outro irmão (Absalão) ficou sabendo e não gostou nem um pouco disso. Um tempo depois, Absalão assassinou Amnon, o que gerou mais um conflito familiar, com direito a intrigas, banimento e vingança. Esse conflito escalou até cumprir todas as danações que o Senhor havia prometido a Davi por sua gracinha com Bate-Seba.

A coisa escalou até Absalão meter um golpe e destituir Davi, seu próprio pai, do poder, obrigando-o a fugir para uma floresta. E esse evento, obviamente, foi regado a baixarias. Por exemplo, Absalão montou um palco no terraço do palácio, onde teve relações sexuais com todas as concubinas do pai, para demonstrar seu poder. Foi um pornô ao vivo para todo o povo da cidade. Esse trecho ninguém encena nas escolas, não é mesmo?

A história teve seus momentos emocionantes, mas o final foi meio fraco: Absalão vai para a floresta caçar e matar seu pai quando “montado numa mula, e, ao passar por baixo de um grande carvalho, a sua cabeça ficou presa nos galhos. A mula continuou a correr, e Absalão ficou pendurado”. Foi rapidamente morto pelos homens de Davi, que apesar de tudo, havia ordenado que não ataquem o filho, ficou desolado quando soube que ele morreu.

Porra, roteirista! 24 capítulos de brigas, intrigas, traições e embates para acabar assim? Pelo visto a estrela desse livro é a previsão do Senhor concretizada, foda-se o desfecho, o importante é que tudo que Deus disse que ia acontecer, aconteceu. Frustrante.

Depois de outros eventos desimportantes, fechamos com o evento final do livro, que é, no mínimo, curioso. Começa assim “o Senhor ficou muito irado com o povo de Israel e levou Davi a prejudicá-los. Deus disse a Davi: Vá e faça a contagem do povo de Israel e de Judá”. Davi, seguindo estas ordens, teve um trabalho enorme para contar o povo.

Percebam que Deus “levou Davi a prejudicá-los”, então, estamos mais uma vez diante daquela situação na qual o Senhor te obriga a fazer algo e depois te pune por algo que ele mesmo te obrigou a fazer.

E, curiosamente, por razões que eu desconheço, isso irritou o Senhor, em que pese e a iniciativa ter partido de uma ordem Dele: “Mas, depois que Davi fez a contagem, a sua consciência começou a doer, e ele disse: Ó Senhor Deus, eu cometi um pecado terrível ao mandar contar o povo. Por favor, perdoa-me! O que fiz foi uma loucura”.

É isso. Essa é toda a explicação que recebi. Por qual motivo o Senhor ficou puto? Foda-se, a Bíblia não vai te contar. Consultando pessoas mais entendidas do que eu, obtive duas respostas: uma dizendo que fazer a contagem do povo requeria algumas formalidades que Davi não respeitou (algo sobre pagar uma taxa de resgate) e outra dizendo que contar o povo era uma falta de confiança no Senhor, pois quem está com Deus não precisa saber quantos homens aptos para a guerra tem, pois pode vencer independente disso.

Eu sei qual é a versão verdadeira? Óbvio que não. Se alguém souber, deixe nos comentários. Tudo que eu sei é que Deus mandou Davi fazer a desgraça da contagem e depois que ele a fez, Deus ficou muito puto e resolveu puni-lo por fazer algo que lhe havia sido ordenado.

Então, ainda muito puto, o Senhor disse ao profeta Gade, o vidente de Davi: “Vá e diga a Davi que eu dou a ele o direito de escolher uma de três coisas; aquilo que ele escolher eu farei”

O Senhor permitiu que Davi escolha seu castigo dentro das seguintes opções: 1) três anos de forme nas suas terras ou 2) três meses fugindo dos inimigos ou 3) três dias de peste na sua terra.

Davi escolheu os três dias de peste, usando como critério o fato de que, se tem que ser punido, que o seja pelas mãos do Senhor e não dos homens. Morreu muita gente, muita gente mesmo. Cenário apocalíptico, papo de anjo descendo e trucidando pessoas.

Com este final alto astral, terminamos o segundo livro de Samuel. Mês que vem voltamos com o livro de Reis.

Nomes para animais de estimação: Ainaã, Abigail, Isbosete, Abner, Joabe, Zeruia, Abisai, Asael, Amnom, Quileabe, Absalão, Macaá, Talmari, Adonias, Hagite, Sefatias, Abital, Itreão, Eglá, Rispa, Aías, Baaná, Recabe, Rimom, Mefibosete, Abinadabe, Uzá, Natã, Hadadezer, Reobe, Toí, Josafá, Ailude, Zadoque, Aitube, Aimeleque, Abialtar, Seraías, Benaías, Joiada, Ziba, Maquir, Amiel, Mica, Hanun, Naás, Josafá, Ailude, Aitube, Zadoque, Benaías, Hanun, Bate-Seba, Eliã, Urias, Tamar, Jonadabe, Simeia, Talmai, Amiúde, Aitofel, Sobi, Barzilai, Seba, Bicri, Isbi-Benobe, Safe, Josebe-Bassebete, Dodo, Aoí. Nossa sugestão é o nome Amiúde para qualquer pet bem pequeno.

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