Seu sustento.
| Sally | Des Aprenda | 24 comentários em Seu sustento.
Vejo muita gente romantizando as diferentes formas de trabalho, repetindo bordões que hoje não são mais verdade e tomando muitas decisões erradas por conta disso, então, como pessoa que teve experiência e trabalhou em várias dessas modalidades, queria desmistificar algumas bobagens que se repetem por aí. A intenção é que todos possam tomar decisões mais bem informadas sobre o que será menos sofrido para conseguir seu sustento.
Vamos começar com o queridinho do Brasil: concurso público. O que a gente mais escuta é pessoa querendo fazer concurso público por causa da remuneração. Concursos grandes, como por exemplo, para juiz, pagam bem, mas, se você teve capacidade, competência e estudo para chegar lá (é bem difícil), provavelmente você ganharia mais na iniciativa privada, pois seria uma pessoa com muito empenho e muitas horas gastas na sua profissão. O grosso do dinheiro está na iniciativa privada.
Olha, tem que ter estômago para ver todo mês o Estado tomar um quarto do seu salário no contracheque e não se perguntar como seria se você não fosse obrigado a pagar. Tem que ter estômago para ver que seu salário chegou no teto e por isso você não pode ganhar mais ou crescer além disso, enquanto colegas da iniciativa privada ganham o dobro e estão constantemente aumentando seus rendimentos. Tem que ter estômago para ser impedido de trabalhar na iniciativa privada se quiser complementar a renda. São coisas que as pessoas geralmente só descobrem depois que passam.
Também se almeja estabilidade em concurso público, o que de fato é uma garantia constitucional. Sempre acontece? Sinto informar que não. A maior parte dos ambientes é enxarcado de politicagem, jogos de poder e baixaria. Se você não for uma pessoa que sabe compor com o poder estabelecido, com os interesses de cima, pode acabar exonerado sim, e injustamente. Principalmente se, por seu temperamento, você bater de frente. Eu mesma fui ameaçada de exoneração mais de uma vez por não querer compactuar com certas coisas que aconteciam.
Então, se você for flexível, bom de convivência e estiver disposto a fazer vista grossa para coisas erradas, você não vai ter nenhum problema e terá sua estabilidade garantida. Porém, se essa não é a sua índole, você pode sim levar um puxão de tapete e perder seu cargo. Sempre vai ter quem testemunhe contra você e, quando a máquina está contra você, não adianta ter razão.
Temos ainda o mito de almejar concurso público para “ter autonomia”, por não querer ter um patrão. É parcialmente verdade, pelos mesmos motivos do parágrafo anterior. Por mais alto que seja seu cargo, sempre vai ter algum direcionamento vindo de cima que terá que ser observado, em maior ou menor grau. Sempre tem um telefonema que te tira totalmente a autonomia, te obrigando a agir como ordenado. Nenhum concursado tem total autonomia, se você está esperando por isso, pode esquecer.
Por fim, o último mito do concurso público é o de que é garantido que você vai trabalhar pouco. Geralmente, qualquer novato, até mesmo concursado, tem que ralar muito para conseguir algum respeito e privilégios. Não é incomum que concursados trabalhem muito e que inclusive comecem trabalhando nos piores lugares possíveis, seja em localização geográfica, seja em material humano.
E mesmo trabalhando muito, todo mundo vai te ver como um acomodado que mama nas tetas do governo. Dificilmente você trabalhe tão pouco como todas as pessoas vão presumir que você trabalha. Vai ter muita responsabilidade e pouco reconhecimento. Talvez concurso sirva para dar algumas carteiradas, mas a opinião pública costuma ser bem negativa para com aqueles que trilharem esse caminho. Funcionário público é sempre visto com desdém, isso quando não é visto como inimigo, como o burocrata que está ali para ferrar com a vida das pessoas. Só concursando admira concursado.
Falemos agora sobre os mitos de ser empregado, ou, como tem se dito pejorativamente, ser “CLT”. Ainda tem quem ache que essa modalidade vale à pena, pois o empregado não sofre com os riscos do negócio, se for mal, se der errado, a coisa estoura nas mãos do patrão. Não é bem assim. Se der errado o patrão se ferra sim, mas você se ferra junto, pois acaba demitido ou sem trabalho pela falência da empresa. E provavelmente não vai nem receber suas verbas trabalhistas. Então, a pessoa se ferra e sem poder decisório para evitar que o desgraçamento aconteça. É como assistir um acidente de carro em câmera lenta.
Tem quem se sinta atraído por não ter que tomar decisões importantes, o patrão apenas diz o que fazer e a pessoa obedece, vivendo assim uma vida de menos pressão e responsabilidades. Em tese seria bom, na prática, no Brasil, é desesperador. A maior parte dos empregadores não tem qualificação para o cargo que ocupa e faz seus funcionários trabalharem de forma descoordenada, contraproducente e até beirando a escravidão. É uma sequência de péssimas decisões, perda de tempo e de dinheiro.
Não ter poder de decisão quando quem te comanda é um a) idiota; b) ultrapassado; c) filho da puta ; d) burro ou e) todas as hipóteses anteriores não é um conforto, é apenas um desespero. Receber ordens de quem não é capaz de te dizer o melhor a fazer é desesperador. Ser guiado a caminhos errados, que te fazem trabalhar o dobro para ter metade da produtividade é angustiante. Então, a menos que você tire a sorte grande e tenha um gestor extremamente capaz, competente e correto, não é um alívio, é péssimo não ter poder decisório.
Também vejo gente dizer que ganha-se mais dinheiro na iniciativa privada do que nas outras modalidades. É possível, acredito que seja o caminho onde estão as mais altas remunerações do mercado. Mas 1% das pessoas conseguem isso, e geralmente tem que sacanear muita gente. Como regra, a maioria trabalha muito e com uma remuneração inferior a aquilo que merecia.
E, mesmo que você chegue lá, mesmo que consiga subir sem fazer nada errado, mesmo que você seja os 1% que ganham extraordinariamente bem, saiba que você não vai ter vida nem tempo para gastar esse dinheiro, pois iniciativa privada também é o caminho que mais se trabalha e que mais consome tempo e disponibilidade da sua vida. Por mais que você trabalhe muito em qualquer outra área, você não sabe o que é se matar de trabalhar enquanto não trabalhar para uma multinacional.
Outro equívoco que vejo é gente falando que quer ter férias remuneradas e direitos trabalhistas, como se fosse algo muito tranquilo. Nem sempre é. A maior parte das pessoas que tiram férias ou licença maternidade na iniciativa privada o faz com o cu na mão de que a pessoa que a está substituindo pegue seu lugar de forma definitiva, seja por trabalhar melhor, seja por aceitar trabalhar pela metade do seu salário. É quase sempre um risco de perder o emprego. E muitas vezes você leva uma pernada e nem recebe como deveria seus direitos trabalhistas.
Mais um equívoco comum: achar que na iniciativa privada se sobe por meritocracia, que se você for bom, vai subir. Tomara, mas nem sempre. Você tem que estar preparado para ver gente menos qualificada do que você subir por ser puxa-saco, por ter sobrenome com pedigree, por fazer sexo com o chefe e por outros motivos ainda menos nobres. Achar que esse é o melhor caminho para ser reconhecido é pedir para se frustrar.
Vamos agora ao universo dos autônomos, que parece algo muito tranquilo, se visto de longe. A maior vantagem alardeada é “não ter patrão”, como se isso fosse sinônimo de fazer o que quer quando quer. Meus amigos, cliente é mais patrão do que qualquer patrão, com a diferença que é leigo, então, consegue dar ordens ainda mais bostas. E se você não cumprir, não recebe. Simples assim.
Você não vai fazer o que você quer quando você quer, muito pelo contrário, pois o cliente tem sempre razão. E ele vai se meter no que não sabe e te dizer quando e como fazer. Eventualmente você pode ter um cliente sensato que entenda que é melhor deixar decisões importantes a cargo do profissional que estudou o assunto, mas, acreditem, esse tipo de cliente é uma exceção.
Para que você alcance um patamar no qual pode mandar cliente passear ou pode dizer na cara dele que não vai fazer do jeito dele, demorarão décadas, isso se você conseguir. Além disso, mesmo que o cliente aceite, ele vai te encher o saco demais por não fazer o que ele quer.
Outro mito que envolve quem trabalha como autônomo é você fazer sua carga horária, sua quantidade de trabalho, sua agenda. Pode acontecer se você for uma referência na sua área, mas, nos primeiros dez anos (pelo menos) você não vai ter muita pouca autonomia no que diz respeito a quanto e quando trabalhar. Você vai ter que pegar o que aparecer e dar graças a Deus se aparece, pois certamente lá na esquina tem mais três dispostos a fazer o que você faz, com a mesma qualidade e pela metade do preço. E geralmente aparece gente com pressa, com pedidos em cima da hora e com alterações urgentes no seu trabalho.
Tem ainda uma ilusão de que o autônomo pode tirar férias à vontade, viajar quando quer e tirar dias de folga quando quer. Em tese, sim. Na prática, é bem mais difícil, pois se você não trabalha, você não recebe. Então, tem que ter um bom pé de meia para ter dinheiro guardado para algum imprevisto (spoiler: eles sempre acontecem) e ainda sobrar dinheiro para pagar todas as contas da casa sem receber nada naquele mês e também pagar uma viagem. Não é tão fácil quanto parece.
Por fim, o último grande mito do autônomo é que ele vai poder trabalhar sozinho, sem colega de trabalho para encher o saco. Quase nunca é assim. Dificilmente alguém sozinho consegue dar conta de tudo, ao menos no começo. Geralmente precisa dividir o espaço com outros (é muito caro bancar sozinho), fracionar o trabalho com outros profissionais (é muito difícil no começo saber fazer tudo sozinho) ou fazer qualquer tipo de combinação que envolva outras pessoas para conseguir mais clientes e/ou reduzir os custos. Demora para um autônomo se dar ao luxo de não ter que conviver com mais ninguém – e nem todos chegam lá.
Vamos agora para a escolha pelo empreendedorismo. A pessoa que montar seu próprio negócio. Seja uma clínica, uma franquia ou uma barraquinha de churros, não importa, ela quer empreender. É uma iniciativa muito bem-vista atualmente, mas muito romantizada também: parece que só depende da sua aptidão, quando não é verdade. No Brasil, o Estado joga contra o empreendedor, acumulando uma série de medidas burras contra ele, seja em matéria de impostos, seja em matéria de burocracia a restrições.
Não é fácil como fazem parecer. Não basta uma boa ideia e muito esforço. Mais da metade das empresas fecham após o primeiro ano no Brasil. É preciso muito mais do que boas ideias e esforço. É indispensável algum conhecimento de administração, contabilidade e economia, mesmo que você contrate esses serviços por fora, pois é esse mindset que vai te fazer tomar decisões saudáveis para o seu negócio.
O retorno também não é tão rápido quanto nas outras modalidades, por sinal, é bem provável que nos primeiros dois anos não sobre dinheiro e você ainda tenha que injetar do seu bolso. E mesmo quando entra algum lucro nos primeiros anos, ele tem que ser reinvestido no negócio se você quiser que ele cresça. Você consegue ficar dois anos sem salário trabalhando feito um maluco? Pense nisso.
Mais um mito: “como o negócio é meu, vai ser do meu jeito e eu vou me aborrecer menos”. Não. Você vai se aborrecer mais. Primeiro pela questão que já conversamos lá nas desvantagens dos autônomos, do cliente ter sempre razão, segundo, você vai ter que contratar funcionários e não tem nada mais insalubre, infernal e desgastante do que lidar com funcionários. Se prepare para todo tipo de desgosto e indignação.
Além de encontrar bons funcionários (demora), treiná-los (demora) e manter um salário bom para que eles não te troquem por outra empresa, você ainda tem que manter eterna vigilância. Sem o dono por perto fatalmente as coisas desandam. Com sorte um dia você acha um gerente bom e confiável para dividir esse fardo com você, mas o olho do dono tem que estar sempre ali. Uma vida confortável em casa enquanto os outros trabalham para você? Esquece.
Vamos agora para outra categoria: o meio acadêmico. Para quem tem essa vertente, parece lindo, mágico, admirável. Mas para o resto das pessoas… não. O primeiro erro é pensar que vai ter prestígio. No Brasil não tem. Quem é de fora não entende a importância do que você está fazendo e muito menos a dificuldade. Quem é de dentro está mais preocupado em competir, te detonar, te sabotar do que em te admirar. Você simplesmente não vai ser valorizado quase nunca no seu país. Nem mesmo pelos seus colegas.
Outro mito comum é o de que pessoas competentes nessa área alcançam “grandes descobertas”, algo que não funciona assim. Se você sonha em virar pesquisador imaginando seu nome entrando para a história como a pessoa que descobriu “a cura para o câncer”, saiba que não é assim que a banda toca. Dificilmente alguém faça uma grande descoberta sozinho, o que acontecem são várias pequenas descobertas com nomes incompreensíveis para leigos que, somadas, podem levar a um passo para a humanidade.
E essa coisa de filme, de cientista com laboratório top de linha, no Brasil não corresponde à verdade. Na real, é uma das áreas mais difíceis de monetizar, pois o país não prestigia pesquisa científica e se você quiser, como alternativa, se tornar divulgador científico online, vai atrair o que há de mais podre do chorume humano para te atacar, desde símios tomados pelo efeito Dunning-Kruger até religiosos obtusos. É viver uma enxurrada de hate para conseguir cem seguidores que te admirem.
Tem também a ilusão de conseguir criar algo que melhore seu país ou seu povo, que não é tão difícil assim, já que tanto país como povo estão muito fodidos. Um país no qual metade da população não tem saneamento básico pode ser ajudado com muito pouco. Pois bem, desculpa te dizer, mas dificilmente vai acontecer, pois existirão forças poderosas para que tudo continue como está (vulgo “pessoas dependendo de benesses governamentais”) e o Poder Público dificilmente investe em algo que não lhe gere um suborninho de cashback. Então, por mais legal que seja sua ideia, ela provavelmente será descartada.
Talvez a única forma de ganhar dinheiro de verdade seja trabalhar para uma grande empresa, uma multinacional, por exemplo, que venda remédios ou coisa do tipo. Mas as coisas que você vai ter que pesquisar, que assinar e que atestar lá dentro nem sempre te permitem dormir à noite com a consciência tranquila.
Por fim, vamos à última categoria: ganhar a vida com o corpo, com a aparência, com a juventude. Entram nessa categoria perfil no Only Fans, arrumar um Sugar Daddy, casar com uma pessoa rico por golpe, ser influencer, se prostituir e coisas no estilo. Felizmente nunca fiz, mas já tive contato próximo com pessoas que o fizeram e, meus amigos, é um horror.
Vamos começar por esse mito do Only Fans e plataformas simulares. Poucas pessoas realmente ganham um bom dinheiro com isso, e quando ganham, geralmente fazem programa ao vivo. Só rebolar para câmera parou de dar dinheiro tem mais de uma década. Quem diz que ganha muito está flertando com o crime no que faz ou galgou um degrau na prostituição e está atendendo ao vivo. Mas, mesmo que fosse lucrativo: em questão de poucos anos, qualquer Zé Ruela vai conseguir pedir que uma IA realize visualmente suas fantasias e de forma muito mais barata, então, é uma fonte de renda que está condenada.
Depender de outra pessoa ao, com é o caso de se casar por interesse ou ter um Sugar Daddy, vivo é pior ainda. É uma das coisas mais humilhantes e desastrosas que podem te acontecer. Primeiro que fazer sexo ou ter momentos de intimidade com uma pessoa que você não gosta, não se sente atraído(a) ou não tem afinidade mata sua alma, mesmo que você tente se convencer que não.
Segundo que é uma vida de escravidão, de dependência do outro, é simplesmente degradante. Quem paga as contas dá as cartas, você nunca vai poder realmente peitar, discordar ou se impor. E terceiro, esse tipo de dinâmica se baseia em juventude. E juventude acaba. E quando a sua acabar, você será descartado como uma fralda suja e terá que aprender a se virar já burro velho.
“Mas Sally, se eu casar e tiver filhos eu tenho uma renda garantida”. Não. Só se for subserviente à pessoa. Se algum dia bater de frente, a pessoa bota os melhores advogados, toma a guarda dos seus filhos de você e te paga porra nenhuma, pois os filhos vão morar com ela. Depender dos outros tem que ser sempre sua última opção.
E ser influencer, meus amigos, é o caminho mais curto para detonar sua saúde mental. Depender da admiração dos outros para ter seu sustento é o inferno na Terra. Ter que acordar todos os dias e estar arrumada, maquiada, apresentável, tirando do cu coisas interessantes para mostrar é terrível. Precisar criar interesse nas pessoas o tempo todo, várias vezes por dia, é um suplício.
Ninguém é tão interessante. Chegará o momento no qual a pessoa precisará começar a mentir, maquiar, camuflar. E é muito fácil acabar vivendo uma vida de mentira com o pretexto de que tem que pagar as contas. Uma vida na frente das câmeras é mais insalubre do que trabalhar em uma multinacional, pois ao menos na multinacional você sempre ganha bem quando trabalha o dia inteiro.
Bem, espero que este choque de realidade ajude alguém a fazer uma escolha melhor para sua vida. Qualquer escolha tem lados positivos e negativos, optamos por falar nos negativos aqui, pois estes são os ninguém conta. Pense neles antes de tomar decisões sobre seu trabalho.
Este é um texto que está salvo comigo e releio de vez em quando…
Depois que me desiludi com a área da docência, na qual atuei por quase 2 anos, tenho pesquisado alternativas, e devo dizer que este texto me ajuda bastante a refletir sobre onde/como quero me sustentar.
Em particular, meu entorno (e creio que o de alguns impopulares também) a todo instante fica insistindo na tecla de fazer concurso/seletivo, sempre soltando a cartada da estabilidade. Como já expliquei que esse caminho não é uma preocupação para mim agora e ainda assim continuam batendo nessa tecla, resta ressignificar.
Em tempo: eu gostaria de ler mais desse “lado negro dos concursos”, me bateu a curiosidade e também é uma coisa que quase nunca encontro pesquisando na internet – eu já desconfiava que concurso não é essa coisa toda que andam falando.
Posso fazer um texto sobre o assunto, agora que não moro mais no Brasil
Excelente!
Aguardo ansiosamente por tal texto, Sally.
Por favor, escreva, Sally.
Esse texto me dá um mixed feelings que olha… Não sei bem o que comentar, só sentir! rs
Eu já sonhei com a vida acadêmica, mas desisti por inúmeros motivos. Penso em concurso público, mas sempre fico na dúvida sobre qual prestar, e só de pensar que seria mais um ofício que não me traria prazer nenhum, apenas estabilidade, olha…
Empreender até já pensei numas coisas, mas haja grana pra isso! E retorno que é bom…
Só resta aceitar ser CLT mesmo e esse gosto ruim de pessimismo pairando por todos os lados.
Você pode fazer o que você quiser fazer. Não se limite.
Todas as dificuldades podem ser contornadas de alguma forma.
Sugeriria prestar um concurso público que lhe permitisse ter uma segunda ocupação. Muitos colegas optam por trabalhar 4h, 6h por dia (com vencimentos proporcionais) para ter tempo livre para outras atividades. No âmbito federal, a Corregedoria Geral da União já dispõe de diretrizes gerais que permitem a um servidor ter uma segunda ocupação (preferencialmente de forma autônoma), e passou a avaliar casos concretos mediante consulta em portal, concedendo autorização (até mesmo para algumas situações durante o expediente). Conheço gente que ganha o dobro com tradução do que recebe com o cargo público.
Bom saber.
Aliás, com relação a concurso público tenho uma relação de amor e ódio. Tenho vontade de passar em um concurso mas não tenho a disciplina e mentalidade que esperam de um concurseiro abitolado, em que até pra sair um minuto para ir ao banheiro é considerado tempo perdido que eu poderia estar usando para os estudos. Simplesmente não consigo ficar numa mesa tentando enfiar na cabeça leis e conceitos e relembrar regras de português, além de matemática e raciocínio lógico. Porém, tem as questões de estabilidade e um salário razoável mas eu me pego pensando se isso vale a pena pois aparecem questionamentos como “Será que vou estar gostando de fazer esse serviço?” ou “E se aparecerem situações em que vão me obrigar a fazer algo não ético?” (nas carreiras de policial sempre tem disso). Enfim, foi um desabafo meu já que esse texto me apareceu quando eu estava decidindo se queria mesmo investir em concurso público…
Passar em um concurso bom requer disciplina, não doença mental. Essa coisa de não poder perder um segundo é doença mental. Mas sim, você vai ter que estudar (e estudar não é ler, estudar é ler e absorver o conteúdo) pelo menos oito horas por dia, por muito tempo. Se você não consegue fazer isso (e é normal, muita gente não consegue), desapega da ideia de concurso, pois não é para você. Nada pior do que ser aquele eterno concurseiro em tese, te impede de correr atrás de outras opções.
Eu mudaria aquela frase do Seu Madruga “Não existe trabalho ruim, o ruim é ter que trabalhar” para “Todo trabalho é ruim e o ruim é ter que trabalhar”.
A minha ideia é ser funcionária pública até conseguir juntar dinheiro o bastante pra empreender. Estou adquirindo experiência e networking na área em que quero abrir negócio aos poucos, de outras formas. Uma coisa que facilita minha vida é que hoje em dia dá pra digitalizar boa parte da estrutura. Não substitui o trabalho humano, mas dá pra treinar bastante.
O que mais me irrita no funcionalismo público é a burocracia pra resolver um problema. A resposta pode ser óbvia e fácil de aplicar, mas preciso que meu superior saiba e autorize. Fora as pessoas que acham que qualquer probleminha é desculpa pra entregar um serviço mal feito. Mas acho que isso deve mudar logo… estou vendo alguns professores de federal sendo demitidos por processo administrativo às vésperas da aposentadoria, depois de acharem que podiam ficar empurrando com a barriga e fazendo absolutamente nada para sempre. Espero que aconteça com todos os maus funcionários públicos.
Eu espero que em algum momento funcionário público tenha que responder com provas de conhecimento e também tenha sua produtividade avaliada e deixe de ser estável se for mal em algum dos dois quesitos.
Poxa, tem alguma escolha profissional que não seja o subsolo do inferno?
Esses são os aspectos negativos (tudo na vida tem aspectos negativos). O ideal é escolher algo cujos aspectos positivos sejam muito bons para você e os negativos não te afetem tanto.
E outra: esses são os modelos que temos hoje, nada impede que as próximas gerações criem modelos novos.
“Tem que ter estômago para ver que seu salário chegou no teto e por isso você não pode ganhar mais ou crescer além disso, enquanto colegas da iniciativa privada ganham o dobro e estão constantemente aumentando seus rendimentos”.
O triste é ver diretores de empresas fiscalizadas aumentando seus rendimentos a partir do nosso trabalho de fiscalização, forjado em 20, 30, 40 anos de experiência (e muitas e muitas horas de trabalho, além de casamentos perdidos nos piores casos), em cima da qual não recebemos qualquer centavo a mais ao prestar esclarecimentos e tirar dúvidas desses executivos.
O pedacinho na castanha na bosta é que agora como tendência estão chegando a autorregulação e mesmo auditoria como complemento da fiscalização em alguns setores, por não dar conta do crescimento do mercado, o que faz com que ainda mais pessoas que ganham muito mais do que funcionários públicos se aproveitem do nosso conhecimento para fazer (mal) seu trabalho (ou mal fazer) e ainda assim receber das empresas fiscalizadas que são obrigadas a gastar para seguir a autorregulação (com selo de compliance sendo atribuído anualmente) ou contratar auditoria todo ano a partir de elementos e parâmetros estabelecidos pela fiscalização (por mais que seja faz de conta).
Aí muitos colegas, ao se aposentar, correm atrás do tempo perdido fornecendo consultoria. Só que não tão mais atualizada, pois não têm mais alcance às informações de que dispunham quando estavam na ativa. E nem tão atrativa, pois muita coisa é aprendida de graça ao ser fiscalizado.
Ser uma boa funcionária pública é frustrante.
Aquelas pessoas que só mamam na teta do Governo estão bem satisfeitas, mas quem efetivamente trabalha com empenho acaba com uma baita frustração.
Eu venho de um ambiente familiar onde sempre me foi vendido que passar em um concurso era a solução para todos os males, desde risco de demissão em meio a instabilidades econômicas até o problema de não ganhar bem em outros lugares. Fiquei anos correndo dessa narrativa, mas onde eu estava, bati em um teto de crescimento, e entendi que precisava me mexer se quisesse mais.
Decidi dar uma chance a um concurso, inclusive pela fama da instituição em questão quanto ao encarreiramento, e a realidade é que as coisas aqui são muito difíceis.
Difíceis no sentido de que nem sempre aquele que fizer mais será premiado com uma promoção, e sim o melhor posicionado no networking. Para muitos colegas, significou ficar anos presos em localidades no cu do Judas, sem possibilidade de sair por conta de regramentos obtusos relacionados a se transferir.
Empreender pra mim, tá fora de questão. Nada me garante que meus clientes seriam diferentes dos atuais clientes: gente que parece ter o discernimento de uma pedra, perguntando 3 ou mais vezes as mesmas coisas que já foram explicadas como quem explica algo para uma criança de 5 anos.
Eu penso que, se for pra sair daqui, que seja para sair do Brasil como um todo, tendo em vista que isso aqui tá indo pro caralho. Sair tem perrengue? Tem, mas aqui também tem, e ainda tem o perrengue de ser o Brasil
Concurso público já foi a melhor resposta, algumas décadas atrás.
Hoje, tudo depende do seu perfil. Tem que tentar encontrar algo cujos aspectos positivos te causem um grande impacto e os negativos pouco impacto.
Só um breve complemento: não sei se eu seria parâmetro, pois já rodei em vários tipos de trabalho (não só cargo, mas tipo), e pra mim trabalho é puramente meio pra um fim (remuneração) – eu fazendo-o bem feito e tendo as ferramentas necessárias para trabalhar já fico feliz. Seja vendendo, analisando mercado ou bolando estratégia de impulsionar mercado, me importo com o trabalho feito e se atinjo meu objetivo
Concordo com você, acho que gente que confunde seu trabalho com o que a pessoa é tem problema de saúde mental.
Destes aí, nunca fui concursado ou trabalhei com imagem (influencer/puta). E não discordo.
Ainda digo mais: mesmo depois de 2 falências e ser pobre pra um caralho, não trocaria meu sossego por remuneração alguma!
Se custa sua paz, é caro demais
Ainda assim, prefiro muito mais concurso público…