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Somir Surtado: A vez de falar.

| Somir | | 1 comentário em Somir Surtado: A vez de falar.

Continuando a série “Deslocado é o caralho, vocês que estão errados!”, a coluna de hoje se presta a explicar que existe uma diferença séria entre escutar o que outra pessoa está dizendo e apenas esperar pelo seu turno de falar. Enquanto a primeira alternativa pode gerar discussões e trocas de ideias valiosas, a segunda é praticamente a base de toda a comunicação humana nos dias de hoje. Quem fala demais dá bom dia a cavalo…

Para começo de conversa, não estou reclamando da comunicação em si, ou mesmo de gente que fala muito. Falar muito é uma coisa, falar demais é outra. Quem fala muito pode ter muito a dizer, quem fala demais está meramente preenchendo o silêncio. E antes que isso fique parecendo demais com filosofia barata de corrente de Facebook, vamos tentar ser práticos.

Tagarelar sobre um assunto sobre o qual você estudou e/ou vivenciou o bastante para desenvolver esse conteúdo pode até ser chato para o público errado, mas pelo menos serve a um dos propósitos básicos da comunicação: Dividir informações. Sem isso não teria evolução humana.

Agora, o que eu vejo demais nessa vida é gente cuspindo informações pobres e desconexas aos montes, sem o menor interesse de aprofundamento ou mesmo um mínimo de “vaidade intelectual” necessária para não expor ideias preguiçosas e mal acabadas fantasiadas como opiniões. Isso é preencher silêncio com qualquer coisa, e isso é um dos principais motivos pelos quais tanta gente nesse mundo parece não conseguir aprender mais PORRA NENHUMA depois de sair da escola. E olhe lá…

O meio onde a comunicação humana se desenvolve fica saturado sim. Estamos vivendo o pináculo de uma era de “junk info”, meios de comunicação e rodas de conversa cheias até o tampo de baboseira fútil, culto à pessoa e curiosidades. Se em doses bem administradas essas porcarias podem fazer bem para o “cardápio” do conhecimento humano, em excesso gera a sociedade que todo mundo adora detonar quando está se sentindo mais “intelectual”.

O hábito de falar demais não se refere apenas ao ato físico da fala, ou mesmo da escrita em temos de redes sociais… Falar demais é priorizar a postura ativa da comunicação mesmo sem fazer por merecer isso. Falar demais é se expressar sempre que dá na telha. Falar demais é perder a vergonha do ridículo e achar que sua opinião SEMPRE é importante numa discussão.

A dolorosa verdade é que NÃO, sua opinião sobre um assunto raramente traz algo de realmente novo à mesa e a não ser que você tenha se esforçado para colher fontes de informação interessantes e tenha pensado mais que meio segundo sobre ela. E eu não posso ser o único nesse mundo que sempre percebe quando alguém está apenas “marcando presença” numa discussão. É uma das regras não escritas da comunicação do dia-a-dia fingir que se interessa pelo o que os outros dizem apenas para receber de volta a gentileza.

E é justamente aí que as coisas saem errado. Não existe troca de ideias entre duas ou mais pessoas que apenas esperam sua chance de falar. Se nunca parou para prestar atenção nisso na vida real (SPOILER: A maioria das conversas são assim), pode abrir qualquer rede social ou blog movimentado por aí para ver como a comunicação entre pessoas parece girar sobre o mesmo ponto repetidamente.

Não é à toa que discussões costumam ser tão frustrantes e infrutíferas na média: Ninguém está escutando, apenas falando. Isso fica explícito e potencializado no formato da web. São inúmeras pessoas falando sobre o mesmo assunto, muito mais preocupadas em se “expressar” do que em chegar a algum lugar. As grandes questões da humanidade, aqueles assuntos dos quais “não se fala em festa”, ficam basicamente no mesmo ponto há séculos porque é pouquíssima gente disposta a ouvir que se presta a travá-las.

E não é exagero, se você começar a prestar atenção nas discussões alheias, vai começar a perceber algo que sempre me deixa fascinado: A guerra da concordância. É bem mais comum do que se imagina os casos de pessoas discutindo e brigando enquanto expressam a MESMA opinião. Na ânsia de se expressar logo, a pessoa não consegue perceber que palavras diferentes podem ser concatenadas em frases que expressam exatamente a mesma coisa. Se não acredita em mim, procure de forma mais ativa esse tipo de situação nas suas discussões habituais.

Existe muito lixo no meio da comunicação entre pessoas. E quando ele começa a soterrar os momentos onde uma conexão honesta e enriquecedora entre duas mentes aparece, tudo começa a ficar com mesmo cheiro rançoso de estagnação e mediocridade. Se você não se esforçar para escutar e não tiver VERGONHA de falar merda, vai ficar repetindo sempre as mesmas coisas para as mesmas pessoas.

Neste ponto eu poderia dizer que também não é para virar uma pessoa introvertida, mas antes, um pequeno desvio: Não tem nenhum problema ser mais introvertido. É uma forma válida de tratar sua relação com o mundo. Essa história de que todo mundo precisa ser muito sociável e se dar com todo mundo para vencer na vida e ser feliz é uma bobagem empurrada goela abaixo por empresários em busca de uma fórmula de sucesso mágica.

Essa convenção de integração, de trabalho em equipe e personalidades mais extrovertidas como receita de sucesso profissional não é a única forma de resolver as coisas. Introvertidos e extrovertidos, cada um com suas habilidades, tiveram seus papéis em transformar um bando de macacos pelados em um bando de sedentários em frente a telas iluminadas.

Nem todas as ideias precisam vir de comunicação frequente e união de cabeças. Aliás, muitas das melhores que essa espécie já teve vieram de pessoas que gostavam mesmo é de ficar quietas em seus cantos e pensar com calma. O processo criativo humano não é receita de bolo. Mas como departamentos de marketing adoram uma resposta rápida, parece que agora só tem valor quem é expansivo e comunicativo. Balela. Sem um “estofo intelectual” adequado, uma pessoa dessas não passa de uma tagarela genérica.

A pessoa tem mil contatos, centenas de colegas, perfis e seguidores em todas as redes sociais, mas nada demais a dizer. Grandes. Merdas. A diferenciação entre introversão e extroversão não é apenas uma questão quantitativa… Alguém que se comunica com menos pessoas, mas consegue absorver e propagar conhecimento acaba sendo muito mais capaz de entender a mente humana do que alguém que só… fala demais.

E como é difícil trazer à tona visões e opiniões variadas quando se conversa com muitas pessoas individualmente, o risco do “ser social” virar um disco riscado é muito grande. A internet entrou nessa equação para somar um fator de incentivo à conversa vazia: A possibilidade de repetir as mesmas coisas para pessoas diferentes. Praticamente sem limites.

Não que eu goste de glorificar o passado, mas num mundo mais chato, antes da Era da Comunicação, as pessoas acabavam obrigadas a falar coisas mais profundas ou calar a boca depois de doses cavalares de futilidade. Agora basta logar em outra rede social e recomeçar o processo de esvaziamento cultural como se nada. Um loop de mediocridade.

Embora a repetição seja uma ferramenta válida de comunicação, ela não pode ser a única. Se você considera repetir o argumento de outra pessoa com outras palavras como forma válida de avançar o assunto, pense de novo. Se você acha que repetir a mesma coisa seguidas vezes para alguém com quem se discute vai levar o assunto a algum lugar, eu tenho más notícias para você.

Não é só porque é fácil sair falando por aí sua opinião sobre TUDO que isso vai ser positivo para você. Várias delas vão ser rasas e influenciadas por fontes de informação contaminadas. E para não lidar com essa verdade incômoda, agora está virando crime sacanear gente que se expressa mal e faz coisas toscas. QUALQUER babaca pode pegar uma webcam e começar a cuspir asneiras sobre o que acha ou deixa de achar sobre um assunto aleatório e ser visto por milhares, talvez milhões de pessoas.

Gente sem talento ou sem vontade de ser boa no que faz acaba protegida pela patrulha do politicamente correto porque “tem direito de se expressar”. O direito de se expressar não se discute, mas o direito de não ser sacaneado por falar ou fazer algo ridículo não existe. E bacana que é o mesmo povo que grita censura quando é criticado por expressar algo cretino que acha lindo censura de verdade como o que acontece com humoristas e peças publicitárias hoje em dia.

As pessoas parecem estar perdendo qualquer resquício de vergonha de falar o que vem a cabeça. E isso é terrível. A mente humana tem um componente aleatório poderoso… Nem tudo o que surge tem função e/ou relevância no mundo real, nem mesmo para quem está falando. E quando mais você polui o ambiente com essa verborragia aleatória, menos informações importantes podem ser trocadas. Pensar antes de falar ou escrever é uma arte caindo no esquecimento.

Posto isso…

Caros leitores do desfavor: O texto de hoje é a minha forma de comunicar que o que vem a seguir não é pessoal. É uma ideia do que a RID significa que eu me sinto na obrigação de dividir com vocês antes de anunciar as medidas que pretendo tomar em caráter totalitarista e intolerante.

Não teremos comentários nesta ou nas próximas postagens. Por um prazo não muito longo, mas ainda indeterminado. Depois de ler os comentários feitos na postagem de quarta-feira, centenas deles sobre uma babaquice incrível como astrologia, chegamos num momento onde é ESSENCIAL colocar a casa em ordem. Foi vergonhoso. Vocês (ou pelo menos vários de vocês) estão fora de controle.

Bacana que vocês se sintam à vontade para escrever e passar as tardes por aqui, mas se for esse o caminho que o desfavor vai seguir, ou saio eu ou saem os comentários. Como um bom ditador nunca considera a opção de abrir mão do poder, a corda vai estourar nos comentários.

Outros blogs estariam comemorando esse surto de popularidade, mas aqui a coisa é diferente. Ou a gente é um ponto de salvação nessa internet tomada por gente escrevendo qualquer coisa sem pensar, ou só fingimos que somos diferentes. Depois daquele momento terrível da postagem de quarta, não tinha nenhuma diferença entre o desfavor e um desses sites de “notinhas e fotos engraçadas” do texto para baixo.

Aquilo foi absurdo e NÃO pode passar batido.

O Facebook não é aqui. Não gostou? Pensa um pouco antes de responder.

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