Desfavor explica: A teoria da evolução.

ATENÇÃO: ASSUNTO MUITO INTERESSANTE.

Todos os leitores que não pulam meus textos para ler apenas os da Sally (algo em torno de 4%) sabem que eu vivo batendo na tecla de como somos produto da evolução e muitos dos nossos comportamentos são herdados de nossos antepassados mais primais. Adoro esse assunto.

Aproveitando o (vindouro) aniversário de 150 anos da publicação de “A origem das espécies” por Charles Darwin, resolvi me ater ao assunto nessa semana. Não sei nem se vou falar alguma novidade hoje, mas com certeza eu vou me divertir escrevendo isso. (Ainda não sei definir se nerdice é herdada.)

Mas vamos à evolução. Não aquela julgada no desfile de carnaval, mas também digna de nota.

CHARLES DARWIN

Antes de falar da teoria, vamos falar de Darwin. Se estivesse vivo hoje, teria completado 200 anos no dia 12 de Fevereiro. Filho de uma família abastada e elitizada culturalmente, nosso pequeno Charlie dava sinais logo cedo que se tornaria um dos grandes nerds da história da humanidade. Tarado por colecionar plantas, insetos e animais durante seu crescimento, Darwin teria seguido a carreira de chefe dos CSI caso não tivesse sido um estudante de Medicina tão ruim. (Considerando que a medicina da época consistia em serrar, quebrar e aplicar sangue-sugas, até que não foi tanta viadagem alegar que aquilo era muito brutal.)

Achando que o rapaz não servia para nada, o pai dele o colocou no curso de Artes. (Faz sentido.) Só que naqueles tempos, o curso de Artes formava clérigos. (A trama se complica, mas ainda faz sentido.) Darwin empurrou o curso com a barriga enquanto aproveitava o ambiente universitário para aprender sobre várias outros assuntos, tais como taxidermia, história natural, botânica e principalmente sobre como manter costeletas imponentes.


As costeletas evoluem para uma barba.

Formado com excelentes notas em Teologia, Darwin resolveu dar uma enrolada na Igreja e estudar um pouco mais antes de pedir a ordenação que tinha direito. Fez bem, depois de alguns contatos com outros cientistas, conseguiu ser indicado por seu tutor para fazer uma viagem de estudos pelo mundo a bordo do navio HMS Beagle. Além de lidar com os constantes enjôos e sua saúde frágil, Darwin ainda tinha que controlar os ânimos do capitão bipolar da embarcação. (Capitão que se suicidou alguns anos depois da viagem… Deve ter sido uma viagem bem divertida.)

Durante quase cinco anos, o Beagle navegou pelo mundo afora, aportando nas mais diversas paisagens conhecidas na época. Mas a parte mais famosa de sua viagem foi justamente aqui na América do Sul. E foi onde ele fez as melhores observações de sua carreira:

1– O Rio de Janeiro é um lugar horrível;
2– A humanidade não é tão superior aos outros animais como se pensava;
3– Espécies variavam de acordo com as condições do local onde moravam.

Criou-se a falsa impressão que Darwin tivesse gritado “Eureka” nas Ilhas Galápagos e sacado toda a Teoria da Evolução numa tacada só. Metódico como era, apenas fez o seu trabalho de recolher e catalogar a maior quantidade possível de espécies que encontrava pelo caminho.

Voltando da viagem Darwin encontrou reconhecimento da comunidade científica e um paitrocínio que garantiria a continuidade de seus estudos por toda a vida. Mas sua saúde já estava seriamente comprometida, provavelmente por alguma doença contraída nos trópicos.

Depois de casar com sua prima, Emma, (o que provavelmente fez para manter seus genes intactos) Charles Darwin sossegou com suas viagens e começou a “mastigar” o conhecimento adquirido em campo.

Atentem: Darwin era muito religioso. A maioria absoluta da comunidade científica também era. Quanto mais ele ia percebendo como sua teoria batia de frente com os conceitos Criacionistas, mais ele visualizava a confusão que ela causaria a partir da sua divulgação. Ele precisou ver outro cientista chegando nas mesmas conclusões e tomar MUITA pressão de alguns colegas para largar de enrolação e escrever logo a Origem das Espécies.

Assim como a maioria das teorias revolucionárias que fazem sentido, a que Darwin propunha foi ridicularizada e criticada pela comunidade reli… científica.


Retrógrado, mas muito boa!

Darwin era inteligente, mas era meio banana. Outras pessoas fizeram o papel de defender a teoria em público. Se não fossem eles, é provável que você nem estivesse usando um computador agora. (Explico isso com mais calma no final do texto.)

Gostaria de agradecer a Thomas Huxley, Joseph Hooker, Charles Lyell e Asa Gray por não deixarem o nerd estragar tudo.

Depois de vários problemas de saúde, Darwin faleceu em 19 de Abril de 1882 e recebeu uma das maiores honras que um cientista inglês pode receber: Ser enterrado na abadia de Westminster, mesmo local onde jaz Isaac Newton.

P.S.: Tem gente que gosta de dizer que Darwin renegou sua teoria no leito de morte. Pode até ser verdade, mas seria estranho ignorar o trabalho de uma vida toda numa frase.

TEORIA DA EVOLUÇÃO

Qual a grande sacada do Darwin? Ele percebeu que o ambiente determinava as características dos seres que nele viviam. Claro, ninguém era tão retardado a ponto de não perceber que um peixe precisava de água ou que um urso polar não viveria num deserto.

Mas Darwin (seguindo a linha de raciocínio de outros antes dele) mata a jogada quando coloca no papel que os seres adaptados PRECISARAM ser adaptados para estar onde estão. Todos os seres vivos descendem do mesmo antepassado: A primeira forma de vida.

Cada vez que ela PRECISAVA se adaptar a um ambiente novo, criava minúsculas variações. E essas variações, por sua vez, criavam mais variações enquanto povoavam o planeta pela primeira vez. Esse processo demorou BILHÕES de anos para ser completado. E sim, isso é MUITO mais tempo do que podemos conceber.

E o que diabos é a teoria da evolução? Aposto que a maioria das pessoas que lêem esse blog tem uma boa noção sobre o assunto, mas mesmo assim nunca é demais passar a versão do desfavor.

Não gosto muito de citações, mas vou abrir uma exceção para uma boa explicação:

“A evolução resulta da sobrevivência não-aleatória de variações aleatórias em estruturas replicadoras.” – Richard Dawkins

Tão boa que eu vou ter que explicar melhor!

Os seres vivos se reproduzem. É condição básica e obrigatória para continuar existindo como espécie. Organismos minúsculos se dividem, plantas espalham suas sementes, animais entram no cio, humanos dizem que a camisinha é desconfortável… De um jeito ou de outro, nós que estamos vivos precisamos criar “cópias” nossas para garantir que vamos ter alguém para perpetuar a espécie e para nos colocar num asilo quando começarmos a discutir com personagens de novela.

E a reprodução é mais complicada do que parece. (Pelo menos quando não há álcool envolvido.) Não é qualquer um que consegue passar seus genes para frente. (Novamente, excluindo o papel do álcool.)

E isso é bem fácil de exemplificar:

– Você, mulher, imagine que depois de um hecatombe nuclear, só você e o Belo sobreviveram.


Belo?

(E se você for homem, basta imaginar a Preta Gil e NENHUMA cerveja à vista.)

Para se reproduzir, o ser precisa ter alguma qualidade. Ou seja, somos todos estruturas replicadoras porque passamos nossos genes para frente. E a nossa sobrevivência não é fruto do acaso, e sim da adaptação de nossos antepassados ao mundo que nos cerca. Precisa estar vivo e minimamente saudável para ter uma conta bancária atraente.

Foi numa dessas que nós, os Homo Sapiens, acabamos com a raça dos Neanderthais! Sim, eles não são antepassados, eles eram outra espécie, a primeira que extinguimos. Aproveitando a deixa: Nenhum humano descende de macacos. A teoria da evolução não diz isso. Ela diz que humanos e macacos são variações de um ancestral comum.

Deixei a parte de variações aleatórias para o final. Se você não dormiu até aqui, vai ficar tentado(a) se eu começar com a parte científica da história. Portanto, vou fazer mais uma das minhas costumeiras analogias insanas:

Imagine um campo de futebol. Agora imagine o zagueiro mais barra-pesada que você já viu na vida… Tonhão Tonelada, 2 metros de altura, incansável com seus reflexos de aço e detentor de uma ficha criminal mais extensa do que a bíblia, vestindo a camisa 3 do Ambiente Hostil F.C.

Se passar por Tonhão, chega-se na área e faz-se o gol. Se não passar, bom, Tonhão Tonelada não gosta muito da idéia de tentarem passar por ele…

Agora a coisa fica maluca: Imaginem uma fila de infinitos atacantes tentando passar por Tonhão, um por vez. Cada um que tenta tem que decidir na hora como vai driblar o zagueiro, sem ter muita idéia do que outros fizeram antes. Alguns tentam trombá-lo, alguns tentam jogar a bola por cima, alguns tentam correr mais do que ele…

Tonhão para 99% deles, mas tem sempre um ou outro que acaba passando, afinal, é um grupo infinito de atacantes. É praticamente impossível aprender com os acertos desses sortudos, eles passam e vão embora.

Os atacantes não conseguem prestar atenção nos pontos fracos do zagueiro. Do ponto de vista de quem está tentando passar por Tonhão, tudo parece aleatório. Do ponto de vista de quem já passou, existe um padrão.

Tonhão é a seleção natural. Os atacantes são as espécies. Dificilmente uma aprende com a outra, mas as que conseguem passar ensinam para seus filhos o que fazer. E os filhos desses atacantes vão se adaptando para passar pelo Tonhão toda vez que precisarem.

As espécies vivas hoje em dia são uma fração infinitesimal de todas as espécies que já existiram no mundo. A vida só é possível porque essa loucura de ficar mudando o tempo todo era a única estratégia aceitável para viver num planeta com tantas mudanças como a Terra.

A evolução não é uma mágica. A evolução é a ÚNICA forma de continuarmos vivos.

Mantendo o exemplo do futebol: O Pelé da evolução são as baratas. Tonhão até hoje nem imagina o que aconteceu quando elas passaram por ele. E vai ter que melhorar muito se quiser pará-las algum dia.

A humanidade é o Maradona. Deixou o Tonhão sentado no chão todas as vezes que tentou passar por ele. Mas é bem capaz de se matar por ser inconsequente.

CONCLUSÃO

A teoria da evolução pode ter vários furos, mas é de longe a melhor hipótese possível para explicar a diversidade da vida. Além disso, ela teve um papel INCRÍVEL na evolução da humanidade.

Foi uma das maiores rebeldias da ciência contra a religião. Ela fazia (e faz) tanto sentido que nem a tática terroristas da Igreja conseguiu calar o avanço ideológico que ela representa. Depois de vários séculos de comportamento passivo-agressivo em relação às visões seculares da religião, alguém tocou o “foda-se” e disse que não ia mudar nada em suas idéias para ficar mais palatável para o clero.

E isso, meus caros leitores, não tem preço. Liberdade para discordar é condição essencial para passar pelo Tonhão da ignorância.

It’s evolution, baby!

VISÃO ALTERNATIVA: Para agradar a todos, incluímos aqui a versão Criacionista sobre o desenvolvimento da vida no planeta Terra.

Deus: “Abra-Cadabra!”

*puff*

FIM.

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Comments (15)

  • Anonima, todas as teorias religiosas são baseadas numa premissa: “Se eu não receber uma recompensa muito boa depois de passar a vida toda me fodendo para pagar os luxos dos outros, vou me sentir muito sacaneado.”

    Caxias, as variações na minha analogia são as diferentes formas de tentar passar pelo Tonhão. Quanto mais experiência de antepassados que já conseguiram, maior a chance de acertar.

    O texto ficaria muito maior se eu fosse identificando cada parte desse processo. O desfavor explica prima pela simplicidade. (Eu não…)

    Mas, obrigado pelo elogio.

    Drama Queen, foram 4 páginas!
    Mesmo limite da Sally, sua troll…

  • Maria sem vergonha

    Somir o que eu preciso ler pra escrever sobre esse tema tão bem quanto você?A Sally falou que vocês não dão o peixe,mas ensinam pescar…então…

  • *Vou começar elogiando o tema… Infelizmente muitos de nós não demos atenção devia às aulas de Biologia durante o Ensino Médio e depois ficamos fazendo perguntas estúpidas do tipo: De onde viemos? Qual o objetivo da vida? Para deixar os nossos bem-pagos psicólogos ocupados.

    Cada vez que ela PRECISAVA se adaptar a um ambiente novo, criava minúsculas variações. E essas variações, por sua vez, criavam mais variações enquanto povoavam o planeta pela primeira vez. Esse processo demorou BILHÕES de anos para ser completado. E sim, isso é MUITO mais tempo do que podemos conceber.

    *”Criar variações” acaba sendo meio contra a teoria da seleção natural, mas você se esforça pra explicar mais abaixo e dá um exemplo bem legal usando o Tonhão! Essa contradição é afirmada amis abaixo com a memorável e “simplificada” frase de Darwin:
    “A evolução resulta da sobrevivência não-aleatória de variações aleatórias em estruturas replicadoras.”

    *E que se explica pela analogia que segue:
    Tonhão é a seleção natural. Os atacantes são as espécies. Dificilmente uma aprende com a outra, mas as que conseguem passar ensinam para seus filhos o que fazer. E os filhos desses atacantes vão se adaptando para passar pelo Tonhão toda vez que precisarem.

    *Somir, você faz um golasso ao fazer a seguinte afirmação:
    Nenhum humano descende de macacos
    *Não que eu realmente não duvide que alguns realmente sejam macacos depilados, mas isso é assunto pra depois (Né LindamÁr!?).

    Apesar de algumas contradições e uma boa enrolada na hora de desenvolver a teoria: parabéns pelo post Somir!

  • Se numa catástrofe só sobrasse eu e um barango, a humanidade estaria fodida, porque comigo homem feioso não tem jogo nem depois dumas cervejas! Ah…e sua versão criacionista tá muito simplesinha, fio. Nem todas teorias religiosas são de estorinhas como a da bíblia. Algumas tem tanta lógica ou mais do que a teoria da evolução. Abra sua mente, seu nerd! kkkkkkk

  • Verônicah Julio

    Realmente prefiro os posts da Sally, mas o desfavor explica de hoje foi bom, gostei muito!

    E concordo com Drama Queen: se só existisse o Belo, também deixaria a raça acabar!

  • Até que o desfavor explica de hoje foi bonzinho, mas o número de páginas do Somir também deveria ser limitado.

    E ah, se só existisse o Belo, eu deixaria a raça acabar.

  • Sensacional a estória do Tonhão Tonelada…

    Vestibulandos, novamente, estudem por aqui…e fica aqui a sugestão de fazer um desfavor vestibular…

    Suellen

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