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Ele disse, ela disse: Todos por um.

| Desfavor | | 33 comentários em Ele disse, ela disse: Todos por um.

Embriofilia?As questões reprodutivas continuam em alta no desfavor. Vivemos numa era onde não se precisa mais nem de sexo para se fazer um filho. Quanto mais um casal (tradicional) para criar essa criança.

Com o aumento de mães (e até mesmo pais) decidindo criar seus filhos sozinhos, surge uma discussão onde Sally e Somir divergem: O resultado dessa criação.

Tema de hoje: Produção independente faz mal para a criança?

SOMIR

Não. Por si só não é motivo para gerar problemas na vida desse filho.

Atenção: Não estamos discutindo se deveria ser permitido ou não. Direitos estão numa esfera BEM acima de opiniões pessoais. Estamos falando sobre o papel dessa escolha no resultado da criação.

Vamos começar pela idéia que a criança sente profundamente a falta de um pai. Um bebê nasce sem a idéia clara que vai ter DOIS pais. O instinto diz para ele chorar e procurar um peito o mais rápido possível. Achando esse peito e achando leite, a próxima etapa é definir que aquela coisa quente que apóia sua fonte de alimentação é importante.

É muito “bonitinho” achar que o bebê sabe exatamente quem é a sua mãe por instinto. Mas a verdade é que basta enfiar outra teta “carregada” na cara dele que está tudo em paz. Pode ser a mãe ou qualquer outra mulher com leite. Pra ele o que vale é ficar vivo.

Com o passar do tempo o recém-nascido vai se desenvolvendo e formando sua relação com os pais. Não existe essa “mágica” de reconhecimento inato. Se os pais forem relativamente parecidos com um filho adotado na mais tenra infância, esse filho só vai perceber isso se avisado por outras pessoas.

Aprendemos a entender o conceito do que é uma família através da nossa família. O ser humano é capaz de se adaptar a situações muito mais específicas do que qualquer outra espécie. E esse é um dos motivos pelos quais nós nos tornamos o que somos hoje em dia. Crescer da forma menos tradicional é quase sentença de morte para todas as espécies, menos para a nossa. Bicho precisa de família tradicional porque dificilmente vai se adaptar, gente não…

Dependemos mesmo é de fatores bem mais alinhados com o nosso ramo diferenciado na evolução:

Grandes coisas que fulaninho ou fulaninha não vão vivenciar a experiência de uma família baseada em um casal de pais. Estão achando que vivemos numa ilha deserta? Não vai faltar modelo masculino ou feminino para ninguém. Somos seres sociais, oras! O que nos leva ao próximo ponto:

Outra argumentação vazia é a de que a criança vai perceber que é diferente das outras assim que começar a ir para a escola. Quer dizer que basta ter pai e mãe para ser igual a todo mundo? Não somos peixes ou algo do gênero para sermos basicamente iguais uns aos outros. Não importa o quão parecidas tenham sido suas famílias, duas crianças serão diferentes e perceberão essa diferença. Se nem mesmo irmãos gêmeos pensam igual, não vai ser uma semelhança cosmética como “elenco familiar” que vai evitar a sensação (benéfica) de se perceber como alguém diferenciado.

Não é como se fôssemos evitar o choque de realidades entre crianças criadas por famílias diferentes.

Esse tipo de argumentação “impacto na vida da criança” já foi muito utilizado enquanto ainda se discutia o divórcio na sociedade. Não se criou uma geração de sociopatas e depressivos depois da liberação (social, não só a legal) da dissolução de casamentos.

No final das contas era melhor mesmo que cada um dos pais fosse para o seu lado do que forçar a criança a viver num ambiente de hostilidades. A família tradicional sofreu um baque, mas não a qualidade de vida da humanidade.

Aliás, estamos nos livrando da idéia de núcleo familiar instintivo/religioso pouco a pouco durante nossa evolução social. O povo adora dizer que a família tradicional está se deteriorando, mas não se lembra que vivemos na melhor época da história, PRINCIPALMENTE no que tange aos direitos humanos. Ainda falhamos muito nisso, mas não se iludam: NUNCA se respeitou tanto os direitos das pessoas como hoje em dia.

Se nossa evolução social está nos dizendo que não fazia diferença se mamãe lavava as cuecas do papai enquanto ele trabalhava fora, está na hora de aceitar que não faz diferença também se temos duas genitálias diferentes fazendo os papéis de pais.

Não é isso que vai impactar na vida da criança. Ela precisa ser educada e ter um bom começo para viver sua vida de forma digna. Posso até estar ofendendo alguém (na verdade eu estou torcendo por isso), mas uma mãe solteira rica tende a dar chances muito maiores de sucesso na vida de seu filho do que uma família tradicional pobre.

Estabilidade financeira tem um papel decisivo. Estabilidade emocional e desenvolvimento intelectual também. E são duas coisas que dependem de exemplos adultos de qualidade. Independentemente de onde venham. Uma pessoa só pode providenciar esse ambiente saudável.

Uma mãe solteira que ensina o filho a pensar de forma crítica já fez mais pela vida dele do que um milhão de casais que discutem novela na mesa de jantar fazem normalmente. Não é o elenco desse filme que faz diferença, é a qualidade da história.

Casais tradicionais, produções independentes, pais do mesmo sexo… seja lá o que for, o que vale no final das contas é criar DIREITO. Nos adaptamos a praticamente qualquer coisa a partir disso.

Assim como fazer merda ao criar um filho não é monopólio dos casais tradicionais, uma boa criação também não é. Lógica simples.

Para dizer que preferia ser produção independente para não ter sido chamado de “camisinha furada” sua infância toda, ou mesmo para reclamar que deveríamos falar mais de sexo e menos do seu resultado: somir@desfavor.com

SALLY

Por uma série de fatores que não cabe aqui dissecar, está cada vez mais difícil encontrar um parceiro e constituir uma família em qualquer modelo que se deseje de família. Existem duas opções: tentar, tenta e tentar, mesmo quebrando a cara sistematicamente (minha opção) ou pegar um atalho, um caminho mais fácil que não te obriga a ralar tanto em um primeiro momento: produção independente. Sim, pegar o esperma de um estranho e fazer um filho com ele. Vai desculpar, mais minha cabecinha é meio atrasada para esse tipo de coisa. Acho isso aberrante, parece que a pessoa quer um brinquedo e não uma família. Digo mais: acho que esta escolha gera prejuízos para a criança também. Não que esta criança não possa acabar sendo feliz ou dando certo na vida, mas com certeza em algum ponto sai prejudicada.

A pergunta de hoje é: “Produção independente faz mal para a criança?” Faz. Se vale a pena ou não, bem, isso é questão de avaliação pessoal, mas com certeza uma criança que nasce sem pai já está no prejuízo, esse tipo de coisa deixa marcas e conseqüências. Ou alguém vai negar que existe uma perda inestimável em nascer sem pai? Nem mesmo eu que semanalmente meto o malho em homem tenho a coragem de dizer que um pai é prescindível. Como se responde para uma criança que pergunta quem é seu pai um “Não sei, seu pai é um anônimo que doou esperma para um laboratório”. Não se trata apenas da ausência física do pai (que existe aos montes por aí mesmo sem inseminação) e sim do direito de um dia saber quem é seu pai, de onde você veio. Desculpa aí, mas a mulher que escolhe isso é meio filha da puta ao quadrado, egoísta e demente. Nem a Xuxa (referencial para os predicados citados) foi demente o suficiente de fazer isso!

Com uma inseminação artificial você não nega apenas o direito a um pai para este filho, você nega também o direito a toda a família paterna: avó, avô, primos, tios… Você também nega a possibilidade de cura para várias doenças onde o pai pode ser um possível doador de alguma coisa. Você nega a esperança de um dia, quem sabe, vir a conhecer um pai. Você nega a possibilidade de prevenção de uma série de doenças por não saber nada da árvore genealógica da família paterna. E, claro, você nega o convívio com um pai no dia a dia. “Mas Sally, tanta gente faz filho em pai que não presta, pai ausente, pai escroto…”. Sim, e não deveria. Tão escroto quanto a inseminação artificial. Uma coisa não excluí a outra, ambas são nocivas para uma criança.

E agora vou começar a comprar briga com alguns leitores. Por melhor que seja uma mãe, ela nunca vai suprir o papel de um pai. NUNCA. Desculpem as mães solteiras, mas vocês não podem achar que conseguirão ser mãe e pai. Se o seu marido morreu e você criou seus três filhos sozinha, parabéns, não se sinta criticada. Você não sabia que isso ia acontecer, não tinha como saber. Mas ao fazer uma inseminação com esperma sabe-se lá de quem, você SABE que está negando uma série de coisas para seu filho, e o faz mesmo assim, porque quer ter filhos para SE satisfazer, sem pensar no quanto esta situação pode ser ruim para ele, ou pior, tendo a arrogância de achar que pode suprir tudo que vai faltar a seu filho. Neste caso, você tinha outras opções, mas escolheu o caminho mais rápido às custas de privar seu filho de algo muito, muito importante. Não só a falta de um pai faz mal à criança como ser criada por uma mãe que faz esse tipo de escolha também faz mal à criança!

Daí vocês podem citar pessoas que cresceram sem pai e são muito felizes e bem sucedidas. Ok, pode acontecer de, no final das contas, a pessoa lidar bem e não sofrer maiores consequências, mas que é um fardo mais pesado de se carregar, isso é. O sofrimento é maior, o desamparo é maior. Além disso, garanto que essas pessoas sabiam quem era o pai ou ao menos sabiam que se investigassem poderiam acabar descobrindo. É muito diferente de um caso onde você tem que explicar para uma criança que ela nunca vai poder saber quem é o pai.

Realiza uma criancinha na escola, fazendo seus deveres, seus trabalhos escolares, e em um deles, sobre família, não sabendo preencher o nome do pai, da avó paterna, do avô paterno etc, etc. Imagina o nó que isso dá na cabeça de uma criança. Quando a criança não tem pai por uma fatalidade que independe da vontade da mãe, vá lá, mas quando a criança nasce para não ter pai com tudo planejado é de uma escrotidão sem fim. Não dá nem para imaginar as inúmeras situações onde uma criança vai sentir dolorosamente a falta nem digo do pai, mas de poder saber quem seria seu pai! O direito a ter um pai, ainda que ausente, ainda que imbecil, ainda que morto é fundamental.

Atentem para o fato de que eu não estou dizendo que uma criança nascida e criada nestas condições vai ser um fracassado, um criminoso ou um perdido na vida. Apenas estou dizendo que não ter um pai e não poder ter sequer a esperança de conhecê-lo um dia é PREJUDICIAL para a criança. Da mesma forma que ter um pai escroto também é prejudicial. Se vocês não acham que a falta de um pai decente faz mal para uma criança, então acho que virei autista e estou vivendo na Sallylândia, porque na minha cabeça não pairam dúvidas que crescer sem ter pai é prejudicial para uma criança.

Condenar uma criança a viver sem um pai ciente de que está fazendo-o me parece de um egoísmo terrível. Será que nunca passou pela cabeça das pessoas que alguns de nós simplesmente não tem que ter filhos? Que colocar crianças no mundo em algumas condições não vale a pena? O que me revolta é que algumas mulheres fazem parecer como se não tivessem outra escolha. Ora, existe escolha sim! Nem que você tenha um filho por inseminação com um amigo, com um conhecido, enfim, com alguém que você possa apontar para a criança e dizer: “Este é seu pai”, que possa estar presente na vida dele. Existem outras mil formas de se ter um filho sem ter um marido e ainda assim não negar o direito a um pai a esta criança. A pessoa que escolhe inseminação artificial É MEIO ESQUISITA, é meio incapaz de estabelecer vínculos, é meio egoísta.

Também pode acontecer do pai optar pela inseminação artificial. É mais raro, porque requer uma barriga de aluguel, mas é possível. Quem foi que fez isso? MICHAEL JACKSON. Vejam o tipo de pessoa que escolhe algo assim. Alguém tem alguma dúvida que os filhos dele foram extremamente prejudicados? Aliás, agora ele está morto e os filhos estão aí, sem direito a saber quem é a mãe. Legal, né? Não faz mal nenhum para a criança, né? BACANA, né? Sem mais.

Para dizer que não sabia que eu tinha esse lado família, para dizer que colocar uma criança neste mundo mesmo com pai e mãe faz mal a ela e para dizer que acha que os filhos do Michael Jackson devem ser super normais: sally@desfavor.com

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