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Somir Surtado: WikiLeaks.

| Somir | | 9 comentários em Somir Surtado: WikiLeaks.

VAZA!Escala de nerdice: Segredo.

Somir Surtado, mas pode chamar de Desfavor Explica. O tema tem nuances nerds (nuances?) e o texto está cheio de opiniões. Opiniões que eu divulgo aqui de livre e espontânea sober… vontade!

WIKIOKÊ?

Só para fingir que sou didático: “Wiki” no sentido de enciclopédia virtual, à lá Wikipedia, “Leaks” do inglês vazamentos… WikiLeaks, como o próprio nome diz, se propõe a catalogar vazamentos de informações privilegiadas de várias fontes oficiais, principalmente do governo americano.

O site existe há um bom tempo, desde 2006. Mas não era algo acessível para o público em geral… Lembro-me da sensação de descoberta de achar o site perdido em redes “escondidas” da internet há um bom tempo atrás. Era mais divertido achar o site do que propriamente ler seu conteúdo. Alguns documentos oficiais de governos pelo mundo, mas nada de provas que o Pé-Grande ou o Bilu existiam. Não me entendam mal, tinha MUITA coisa lá dentro, mas nada que chocasse o mundo.

As coisas mudaram muito nos últimos meses. O reduto de nerds e revolucionários cresceu e se desenvolveu com a divulgação maciça de documentos sobre as invasões americanas em território iraquiano e afegão. Os “Relatórios de Guerra”, oriundos dos próprios soldados, detalhavam o dia-a-dia da ocupação e a quantidade assustadora de civis mortos nas operações ianques. Percebendo a oportunidade de aparecer mesmo, a WikiLeaks veio para a grande rede dar a cara à tapa com um vídeo sobre um helicóptero americano “sentando o dedo” em jornalistas e crianças que estavam no meio de uma zona de guerra iraquiana.

Cá entre nós: Não achei bonito o que os militares americanos fizeram, mas Prêmio Darwin para os jornalistas (que nem eram lá muito jornalistas, eram freelancers locais) que estavam andando com insurgentes armados e vergonha do cretino que levou os filhos numa van toda fechada até o epicentro de um ataque aéreo DEPOIS de saber que estavam atirando.

Só que o site tratou todo o assunto de forma extremamente maniqueísta. Americano é invasor sim senhor e essa guerra toda é uma palhaçada explorada até as últimas consequências lucrativas, mas quem perde a capacidade de analisar fatos que depõem contra sua conclusão começa a entregar o uso da informação como ferramenta de manipulação. A idéia era universalizar o acesso à informação, não colocar significados nela. (E sem nhé-nhé-nhé, eu escrevo com clara intenção manipulativa…)

Ok, imprensa imparcial é utopia, mas exploração sentimental de imagens é um sinal de alerta. (Oi, Fantástico!)

A WikiLeaks estava sob os holofotes. E com isso o seu criador, antes apenas um nome de usuário na tela, também.

ELEFANTE NA SALA

A divulgação do material deixou muita gente puta da vida. E como a WikiLeaks é baseada em anonimato de suas fontes, foi o seu fundador que tratou de receber todo o carinho e atenção merecidas. Julian Assange, australiano de nascença e despatriado atualmente, é o único rosto reconhecível nesse mar de informações vazadas pela rede.

E não é à toa: Saca só a figurinha…

Durante muito tempo todos os assuntos relacionados com a WikiLeaks acabavam passando pelo escrutínio impiedoso de sua vida pessoal. Essa história de liberdade de informação funciona nos dois sentidos.

A mídia, sedenta por humanizar as matérias sobre um assunto importante, caiu matando em cima de qualquer pessoa que teve contato com ele.

Alguns de seus antigos companheiros de trabalho o consideram um tirano teimoso e intratável, que só faz as coisas do jeito que quer, quando quer (E desde quando isso é demérito?). Surgiram também boatos sobre sua conturbada vida sexual, num esquema “tapas e beijos” sem a parte dos “beijos”. O impressionante é que isso valeu como matéria por um bom tempo. Pensar… dói… falar… sobre… pessoas…

Logo após o lançamento das informações sobre as guerras do Iraque e do Afeganistão, Julian tornou-se persona non-grata em virtualmente todos os países do mundo. Nem mesmo na Suécia ele teve paz, sendo acusado de estupro e agressão por duas mulheres e tendo sua prisão decretada. Não sei dizer se ele realmente aprontou uma dessas, mas após ser protegido pelo Partido Pirata Sueco (Sério, eles tem um partido pirata por lá! Quero lançar um aqui…), teve a ordem de prisão revogada e pode sair do país.

A questão é: A mídia passou tanto tempo obcecada por Assange que o material divulgado por seu site perdeu muito do seu impacto (Momento conspiração: COINCIDÊNCIA?). Hoje em dia é uma espécie de foragido internacional, detestado por diversos governos mundiais, principalmente o americano. Mas parecia que as coisas iam esfriar, finalmente…

CABLEGATE

Até que Assange conseguiu mais um trunfo. Um que está estampado em tudo quanto é mídia atual: O vazamento de mensagens confidenciais oriundas das mais diversas embaixadas americanas pelo globo. Por mais que chamem Assange de hacker (chamam qualquer um que abre o CMD de hacker hoje em dia…), não foi ele que invadiu o sistema americano e roubou as informações. Essas informações foram repassadas para a WikiLeaks por alguém muito puto de dentro do sistema de informação americano. Não se tem informações sobre quem fez o quê (o sistema é anônimo até o último byte de cabelo), mas já pipocaram relatos sobre um funcionário de alto escalão do governo americano sendo preso e investigado por baixar e transmitir informações pelo sistema oficial.

Bacana que o sistema foi unificado depois dos atentados de 11/09 para integrar e tornar mais segura a comunicação entre a diplomacia americana. Estavam apenas tornando tudo mais conveniente para um vazamento…

Assange começou o estardalhaço: A WikiLeaks fez do lançamento das informações um evento antes mesmo de lançá-las. Você pode até imaginar que foi algo estúpido, considerando todos os interesses envolvidos ali.

Mas o australiano tomou precauções: Lançou todos os arquivos na internet ANTES da divulgação, criptografados. Muita gente baixou esse arquivo aparentemente inutilizável, mas foi isso que ficou como garantia de divulgação mesmo se algo acontecesse com ele. A chave seria liberada publicamente se Assange sumisse ou “acordasse morto”.

Não tinha como escapar. Os EUA tiveram que se antecipar e “cantar” todas as informações para as partes envolvidas antes da divulgação. Meio como contar que chifrou antes do parceiro descobrir… Adoro esse tipo de sinceridade: “Eu estava aprontando, mas agora que você vai descobrir, resolvi ser honesto! Tudo bem, né?”.

E agora que começaram a ser divulgados os arquivos… O que surgiu?

NÃÃÃÃÃOOOOOO? JURA?

Os diplomatas americanos versam opiniões muito menos politicamente corretas quando tem a certeza da impunidade. Os políticos de outros países fazem mais ou menos o que se imaginava deles…

Pode até parecer que eu estou fazendo pouco do assunto… E ESTOU! Eu sei que só foram divulgados alguns poucos documentos, mas eu também sei como funciona a exibição de um portfólio… O primeiro vazamento deveria ser um dos mais bombásticos. É dessa forma que você gera atenção do público que quer atingir. E não venham com essa de que a WikiLeaks não está agindo de forma “marketeira” nesse processo. O que Assange fez avisando que ia soltar os arquivos se chama “teaser” em publicidade.

A forma como os “relatórios de guerra” foram lançados também teve forte apelo publicitário. O pessoal sabe o que está fazendo nesse setor. E é justamente por isso que eu duvido que algo de muito mais comprometedor do que já saiu apareça nas próximas “parcelas” da divulgação das mensagens das embaixadas americanas.

Eles soltaram o que julgavam ser o melhor começo para o processo. E até agora descobrimos que os EUA tentam espionar até a mãe (SPOILER: Todos os governos fazem isso quando tem a chance.), que noções comuns sobre alguns líderes mundiais são repetidas por eles (A Cristina Kirchner é louca, o Chávez é um fanfarrão, Berlusconi é um babaca… Nada de novo no fronte.), que vários governantes desse mundo dizem uma coisa em público e fazem outra…

Exemplo? O governo tupiniquim adora desdenhar publicamente dos EUA, mas faz praticamente tudo o que eles querem a portas fechadas. O documento mais “valioso” dessa primeira leva para os brasileiros é uma reclamação ianque sobre a forma sem vergonha que o Brasil lida com o terrorismo. Como se quisesse manter a pose de revolucionário latino ao mesmo tempo que dá o seu jeitinho para prender quem preocupa os americanos.

Tudo bem que faz diferença ter dados concretos para validar algumas desconfianças, mas o grosso da divulgação é…

FOFOCA!

Alguns comportamentos são globais. Povinho bunda fazendo pose para criticar os outros pelo o que também faz é um dos mais recorrentes. A verdade deveria ser liberdade, e não punição.

Por mais que o corporativismo nerd me deixe balançado, eu não consigo enxergar essa última jogada da WikiLeaks com bons olhos. O que você acharia de ter informações que divulgou em particular espalhadas para o mundo todo? Vejam bem: Os diplomatas não são agentes de inteligência no sentido estrito da palavra. Já viram os babacas que ganham esse postos por aqui? Por lá não deve ser muito diferente. Suas opiniões são muitas vezes tão profundas quanto uma fofoca na esquina.

Não se está quebrando os arquivos secretos do Pentágono, está se expondo sem nenhum critério informações levantadas por “leigos e civis” instruídos a tratar os assuntos sobre os quais se propõe a falar como se numa conversa informal.

É claro que se espera um mínimo de decoro de uma figura pública (no sentido de poder público), mas não se pode esperar que essa pessoa vá manter o mesmo discursinho moderado quando tem liberdade de dizer o que pensa. Eu enxergo a situação como o roubo de um diário… Vazou muita coisa que não adiciona nada às discussões da humanidade. E é isso que é contraproducente no caso. Soa como fofoca.

O vazamento dos relatórios de guerra foi muito mais importante e justificável. Foi a prova que o governo americano mentia descaradamente sobre as suas guerras no deserto. O assunto perdeu força por causa do foco em Assange, mas também porque a forma que as informações foram tratadas pela WikiLeaks davam margem à motivação política por trás daquilo. E isso enfraquece o papel da verdade. O fato vira subordinado da opinião. A opinião encontra adversários muito mais poderosos.

Uma entidade que SÓ É POSSÍVEL pelo anonimato está agindo contra o anonimato se acha que saciar a curiosidade do povo médio está acima do mérito das informações que divulga. A cada dia que passa eu acredito mais e mais que a WikiLeaks virou entretenimento, o ego de Assange parece estar alimentando essa última atitude do site. Sucesso a qualquer custo.

Ou tem um motivo MUITO bom, ou É invasão de privacidade. Fofoca não é motivo, voyeurismo não é motivo, esse complexozinho de vira-lata latino que odeia americano não é motivo.

TOMARA que me provem errado, mas não acho que teremos informações nas próximas levas que justifiquem essa atitude. Até agora, NADA. E mesmo que surja alguma, não desculpa as outras. Poderia ter lançado apenas o que faz uma denúncia real.

Posso até levar pedrada, mas levo com orgulho: O POVO NÃO TEM DIREITO DE SABER TUDO O QUE QUISER. Neguinho acha que só deve defender a sua privacidade, nunca a dos outros.

Para dizer que o seu último vazamento também não cheirava muito bem, para dizer que adora BBB e achou tudo muito válido, ou mesmo para dizer que não esperava isso de mim: somir@desfavor.com

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