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Sally Surtada: Conheceu assim.

| Sally | | 52 comentários em Sally Surtada: Conheceu assim.

Começou bem...“Você me conheceu assim”. Frase odiosa, repetida por tantas vezes que acabou virando uma desculpa socialmente aceitável. Não apenas ela como suas derivações: “Ela me conhceu assim, não posso fazer nada” ou ainda “Eu já fazia isso quando a gente se conheceu, não vou mudar”. Sério, a vontade que me dá é da dar um murro na boca de quem usa essa frase como desculpa. Acho ofensivo.

Quer dizer então que em um relacionamento o critério para se definir se faz ou deixa de fazer alguma coisa é a anterioridade? Se já fazia na data em que conheceu a pessoa ganha o sagrado direito de fazer para sempre? Bacana. Daí você, Amiga Calcinha, pode virar pro Zé Ruela que fala isso e dizer “Eu fazia sexo com outras pessoas quando a gente se conheceu, você me conheceu assim”. Manucu. Não falo de mudar traços de personalidade e caráter, da essência da pessoa, que não costuma mudar. Falo das pequenas coisas que podem ser modificadas sem mexer na essência.

As pessoas mudam quando se comprometem em um relacionamento sério. Não falo de uma coisa bipolar, de mudança de personalidade. Me refiro a uma mudança de postura. Roupas, grau de brincadeiras que se permite a amigos, programas que costuma fazer e até mesmo a foto de fundo de tela do computador. Uns mudam mais, outros mudam menos, mas não venham me dizer que ninguém muda quando entra em um relacionamento sério. Infelizmente o pequeno cérebro masculino, do tamanho de um caroço de uva, parece não perceber que esta é uma desculpa esfarrapada e continuam recitando esta bosta cada vez que os advertimos sobre uma conduta inapropriada: “Você me conheceu assim!”.

O absurdo é tanto que dá vontade de fazer o que eu fiz uma vez quando ouvi isso pela primeira vez: botar as mãos na cintura e gritar “Te conheci assim? Então faz o seguinte, VAI SE FODER”. Porque quando a pessoa é tão estúpida a ponto de achar que uma merda dessas é um argumento válido, ou pior, TE acha tão estúpida a ponto de pensar que você vai engolir essa merda, não há diálogo possível. Existe um limiar de tosquice que se cruzado, torna ineficaz qualquer argumento racional.

Sinceramente não sei se eles sabem que é um argumento tosco, inverídico e infeliz ou se não percebem pela total falta de raciocínio. Tal qual chimpanzés e orangotangos, eles observam os machos da mesma espécie adotando determinado comportamento e, se este for bem sucedido, o repetem. Acho que é por aí. Foram tantos anos usando esse argumento imbecilóide que virou de aceitação obrigatória.

Engraçado que na prática eles mesmos se contradizem e dão provas que mesmo tendo conhecido de um jeito, com o advento de um relacionamento sério algumas mudanças são necessárias. Vai dizer que quando você sai de forma descompromissada com um Zé Ruela qualquer ele não adora quando você aparece em um encontro com uma saia bem curta ou uma blusa bem decotada? Ele acha óóóótemo. Agora começa a namorar este mesmo Zé Buceta e me diz se ele continua achando bacaninha sua micro-saia ou seu decote “veja meu umbigo”!

Eu já passei pelo ridículo de sair com um animalzinho desses com uma roupitcha bem justa e curta e ter a roupa muito elogiada a noite toda (“você fica linda nessa roupa”ou “esse vestido é lindo”) e depois de começar a namorar caí no erro de usar o vestido novamente. Eu, que era recepcionada com um comentário sobre como estava linda com esse vestido, passei a ser recebida com um “QUE PORRA É ESSA QUE VOCÊ ESTÁ USANDO?”. Perguntei se ele não achava o vestido bonito e o vestido, que era lindo meses atrás, virou um “NÃO, CLARO QUE NÃO, É HORRÍVEL”.

O que um ser humano (homem) espírito de porco, mesquinho, bélico e intolerante faz? Bate o pé e grita: “Você me conheceu assim!”. O que um ser humano (mulher) maduro, que tem consciência de que para fazer um relacionamento dar certo tem que ceder em algumas coisas, coerente faz? Pensa. Negocia, se der. Avalia a importância daquilo em sua vida e se não for lhe trazer grande sofrimento, cede.

Muito fácil querer namorar mantendo a vida de solteiro. Ter os privilégios de um namoro sem abrir mão de quase nenhum privilégio da vida de solteiro. VOCÊ ME CONHECEU ASSIM É O CARALHO, porque pessoas sensatas mudam, amadurecem, se aprimoram. Ninguém é obrigado a entubar por anos e anos a mesma conduta só porque quando conheceu o Zé Buceta ele praticava determinado hábito nefasto. Não quer mudar? Ok, as pessoas tem o sagrado direito de não querer mudar, mas não use esse argumento de bosta de dizer “Não vou parar porque você me conheceu assim”. Sabe, o que mais chateia não é a mentira em si, e sim o pouco crédito que dão para a nossa inteligência. Vocês ao menos PENSAM no que estão dizendo?

Geralmente é nesses impasses que nasce um relacionamento neurótico. O Zé Ruela faz algo totalmente incompatível com um comportamento de um adulto comprometida, a parceira reclama, com razão, e o Zé Ruela se recusa a dialogar, explicar a importância daquilo ou tentar ceder parcialmente. Ele quer acabar com a discussão imediatamente, ele não quer nem ao menos discutir, porque homem é UM CU com argumentação. Daí ele mata a conversa estilo ACME, jogando uma bigorna em cima: “Sinto muito, você me conheceu assim”. IDIOTAS!

Em alguns casos eu tenho até pena. Porque tem uns cuecas que tem tanta incapacidade de colocar os pensamentos em ordem que evitam uma discussão a qualquer preço. Até que são espertinhos, perceberam que quando discutem sempre pioram sua situação pois não sabem o que vai irritar mais ainda sua parceira e não sabem expressar o que sentem, então, muitas vezes, mesmo tendo razão, saem oficialmente como os errados graças aos nossos cérebros femininos mil vezes mais astutos e argumentativos. Nesse caso, e só nesse caso, eu entendo e perdôo.

Mas nos demais, quando é falta de paciência para conversar, quando é dois pesos e duas medidas, quando é hipocrisia, pedrada neles! Ora, vê se eu vou me cagar toda nas calças e pedir para minha mãe me limpar dizendo “Qual é a surpresa, Mãe? Você me conheceu assim, sem saber cagar na privada!”. Espera-se que pessoas normais AMADUREÇAM, evoluam. A regra não é a imutabilidade nem a involução, então, SIM, AMIGA CALCINHA, É VÁLIDO esperar por algumas mudanças. Não engula o “você me conheceu assim” porque pode apostar que ele não gostaria que você se porte do mesmo jeito como ele te conheceu.

Neste ponto, temos um impasse. Dependendo da solução que o casal dará, o resultado será um relacionamento neurótico. A mulher, lado sensato da relação, desaprova determinada conduta, hábito ou escolha do Zé Ruela (lado irracional, porco e escroto da relação). O Zé Ruela não cede alegando o hediondo “Você me conheceu assim!”. A mulher, que coordena e conduz a relação (porque mesmo que eles saibam fazê-lo, não se dão ao trabalho) está diante de uma encruzilhada: entuba o “você me conheceu assim” mesmo sabendo láááá no fundo que é um argumento inválido, ou avalia o incômodo que aquela conduta lhe causa e este for de grande porte, dá um pé na bunda do imbecil.

E é aí que a maior parte das mulheres erram. Não por submissão ou por amor e sim por pensar, mesmo que por um segundo, que aquele animalzinho à sua frente será capaz de raciocinar, ser coerentre e chegar a um consenso. Não. Ele não vai mover uma palha. Ele vai soltar o “Não posso fazer nada, você me conheceu assim”, virar as costas e continuar agindo como sempre agiu. Não espere melhora, não espere reflexão, não espere NADA. Se quer que ele te ouça com atenção pegue uma chave e ameace arranhar o carro dele, porque se for depender do amor que ele sente por você e da vontade de salvar um relacionamento, é mais fácil ele acabar dormindo no meio da conversa. Homens são assim. Se isto não te agrada, comece a cogitar bissexualidade.

Nessas horas cabe à mulher tomar uma decisão. Homem nunca toma decisão nenhuma em relacionamento, a menos que a coisa esteja muito feia. Talvez se de fato você arranhar o carro dele ele tome uma decisão (de te encher de porrada, quem sabe). Ou se danificar a TV, o video-game, o computador ou colar uma Hello Kitty no controle remoto. Ahhh… o controle remoto! Certa vez escrevi “propriedade de Sally Somir” com um cotonete e acetona no controle remoto (preto) da Mega-TV do Somir. Ele chorou de raiva. É bacana, não sai mais. Bons tempos… Voltando ao assunto, se você não danificar nenhum eletrônico ou veículo automotor, ele ficará inerte. Cabe a você não engolir o “você me conheceu assim!”.

Não engolir é pouco! Tem que VOMITAR o “Você me conheceu assim” na cara dele! Eu aceito gente que se recusa a crescer (namorei com o Somir), eu aceito gente que tem medo de mudar (namorei com o Somir) eu aceito gente infantil (namorei com o Somir), o que eu não aceito é que me chamem de idiota. Quer continuar fazendo aquela merda que te irrita? Pois então que apresente um bom argumento racional do PORQUE manter esta conduta e porque isto não deve ser considerado ofensivo e de COMO o sofrimento que esta conduta causa pode ser diminuido ou minimizado. Pegar o meu sofrimento, jogar na lixeira e dizer “Você me conheceu assim”(SAP: “Se fode aí”) merece sim um belo de um pé na bunda. Não, pé na bunda é pouco. Merece um chute no cu mesmo.

O problema é que o maldito “Você me conheceu assim” é como Big Mac: não é dos melhores, é nocivo, faz mal, mas tanta gente é adepta que você fica até constrangida de dizer um “não”. Se você bater no peito e soltar um “Não, não aceito isso como argumento, eu mereço uma explicação melhor do que essa, vamos conversar sobre o assunto e tentar chegar a um consenso” você automaticamente vai virar uma maluca, histérica, controladora, sufocadora, chata, patroa, insegura e maluca novamente, só para reforçar. Porque é isso que eles fazem quando não nos portamos de uma forma cômoda para eles: desvalorizam nossos pensamentos e sentimentos para que nos sintamos mal de sustentar nossa opinião. Muito triste usar uma qualidade (se importar com o que a pessoa amada pensa de você) para tentar manipulá-la. Homens são baixos a esse ponto. Se ele te chamar de maluca, pule para este texto.

Caso um Cueca tente empurrar o absurdo argumento “Você me conheceu assim”, não deixe. Se ele quiser te convencer que você não está sendo irracional, não deixe. Se ele quiser te convencer que você é chata, maluca e/ou histérica, não deixe. É como as crianças que são obrigadas a interromper a brincadeira pela mãe para tomar banho e gritam “Eu não gosto mais de você!” só porque foram contrariadas. Se ele quiser fazer parecer que seu pedido não é importante ou é uma coisa pequena, não deixe. E se ele insistir que você vai ter que aceitá-lo exatamente como ele era quando começaram o relacionamento, corra como se não houvesse amanhã, porque provavelmente você vai acabar com um cinquentão com um conversível e uma prancha de surf debaixo do braço que tira foto fazendo Hang Loose e faz guitarra imaginária na pista de dança. Só um babaca tem orgulho de não mudar.

Não estou dizendo que os homens tem que mudar quando as mulheres pedem. Estou dizendo que, se não querem mudar, que apresentem os reais argumentos, e não uma tentativa infantil de “cala a boca” como “Você me conheceu assim, por isso não vou mudar”.

Para dizer que eu sou maluca, histérica, mal amada, mal comida etc, para dizer que se me encontrar na rua me enche de porrada ou ainda para começar o boato que homem que diz “você me conheceu assim” tem pau pequeno: sally@desfavor.com

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