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Ex-Fã-Clube do João Kléber!

| Somir | | 32 comentários em Ex-Fã-Clube do João Kléber!

VERSÁTIL!

OBRIGADO, JOÃO KLÉBER! A sua repugnância foi mesmo a gota d’água. O desfavor volta ao normal depois de um acordo conseguido a duras penas: Semana que vem é a Semana do Descobrimento, semana temática no ano de 1500. E o melhor: 100% LIVRE DE PLANTÕES! Na segunda-feira posterior, os leitores decidem o futuro dos Plantões. Eu acho uma bobagem deixar qualquer decisão na mão de vocês, mas Sally fez questão absoluta (TECLA SAP: Tem certeza absoluta que passar uma semana puxando o saco de vocês vai se pagar…).

Apresentador, humorista e acima de tudo, comunicador. O legado de João Kléber pode ser resumido a uma palavra: VERSATILIDADE.

Sem se preocupar com as amarras do politicamente correto, passeia livremente entre o sublime e o popularesco, sempre com a mesma dedicação e qualidade. João Ferreira Filho, nascido em 1957 na cidade de São Paulo, começou sua carreira midiática aos 18 anos de idade, fazendo imitações no rádio.

O talento inquestionável chamou a atenção da maior emissora de TV do país. A Rede Globo contratou seus serviços por quase vinte anos, onde foi roteirista e ator de diversos programas e quadros humorísticos. Tal era seu potencial que foi escolhido como substituto natural de lendas como Chico Anysio e Chacrinha, chegando a apresentar os dois shows por um período.

Mas João podia e queria mais. Percebendo que a vênus platinada estava subutilizando seus talentos, tomou uma corajosa decisão: Seguiu carreira solo como humorista em shows de stand-up. Visionário até demais, chegou neste mercado muito antes de sua popularização. Sem difusão suficiente para seu talento, nosso ídolo foi corajoso mais uma vez.

Abraçando a recém-criada Rede TV!, surgida das cinzas da TV Manchete e ainda mal das pernas, João Kléber foi responsável pelo primeiro grande “hit” da emissora. O legendário “Te Vi Na Tevê”. O mais impressionante aqui foi a forma como ele percebeu os erros primários de sua nova casa na busca pela audiência.

Para quem não se lembra, a Rede TV! começou com uma proposta mais elitizada, intelectual. Tentando trazer um pouco do padrão de qualidade dos canais fechados para o grande público. Séries premiadas, documentários e outros menos cotados ocupavam boa parte da programação.

Mas o povo brasileiro queria mais. Queria VERSATILIDADE. Não fosse a injeção de ânimo na cambaleante audiência da emissora gerada pelo seu programa de variedades com forte apelo popular, a Rede TV! de hoje não teria pérolas como Pânico na TV! e Superpop… Foi aquela contribuição menos elitizada de João que formou o canal como ele é hoje. Afinal, as TVs são feitas APENAS para o seu público.

E como aqui nós concordamos demais com essa ideia, foi fácil simpatizar com João Kléber. Mas vamos falar um pouco mais sobre esse programa antológico: O Te Vi Na Tevê. A começar pelo título, brilhante, que exprime exatamente a alma da atração. João queria trazer o telespectador para dentro daquele contexto. Se o público se vê espelhado na telinha, o público tem o que realmente deseja.

Num programa de VARIEDADES, sem essa preocupação elitista estúpida com CONTEÚDO, João equilibrava convidados especiais, matérias da mais alta relevância e é claro, as nossas queridas pegadinhas.

Quem nunca riu com as reações frequentemente violentas dos populares interpelados pelas ruas? João Kléber não queria saber de sutileza, ele, como diria minha CARA companheira de fã-clube, enfiava o dedo e rasgava. Queria mostrar para o Brasil quem era o verdadeiro popular. Poucos compreenderam a magistral ironia da situação: Ao mesmo tempo que mostrava um quadro supostamente de baixo nível, com pessoas se estapeando e se humilhando nas ruas, fazia um deboche daquela situação.

Sempre cortando as cenas com seu hilário bordão: “Páááára! Páááára! Páááára!” (pré-reforma ortográfica), João queria passar uma mensagem. João queria que entendêssemos que algo estava errado ali. Que precisávamos tomar uma atitude e não ceder à tara primal pela baixaria. João nos dava uma escolha!

Veja, Brasil, veja o nível que chegamos. Aqui sabemos que quando se exibe um conteúdo de baixo nível com intenção de deboche, só pode ser porque o idealizador é uma pessoa brilhante e antenada. Tem como não se identificar?

Mas nem tudo foi sucesso em sua passagem pela Rede TV! O seu quadro mais famoso, o mais VERSÁTIL, foi justamente aquele que se tornou brilhante demais. O teste de fidelidade. Pessoas desconfiadas de seus cônjuges os levavam até os estúdios do programa, onde poderiam observar, muitas vezes ao vivo, como seus parceiros reagiriam ao assédio (pouco discreto) de pessoas extremamente mais atraentes que eles mesmos.

Ah, os momentos de tensão. João tentava parar as cenas o tempo todo, João praticamente implorava para os populares envolvidos pararem com tudo aquilo e deixassem para lá essa necessidade doentia de ver a pior parte da alma humana. Em vão, evidentemente.

Namoros e casamentos acabados, drama, violência, homens e mulheres em trajes sumários… Era o contraponto ideal para a programação insossa e elitizada do canal. Era a receita do sucesso finalmente surgindo para a Rede TV!

Mas o sucesso não é conhecido pela sua estabilidade. Nem mesmo pela sua justiça. Uma tragédia pessoal acomete João Kléber. Um dos modelos/manequins/acompanhantes que tentavam os populares em seu programa quebrou a quarta parede e foi tentar a mulher dele. Dessa vez não adiantou pedir para parar.

A fama havia cobrado seu preço. João largou sua esposa (a única atitude respeitável). Sobrecarregado pela ironia, ele cambaleou. Sua carreira parecia fadada ao fracasso. Outras emissoras começavam a disputar de igual para igual, e nem mesmo sua VERSATILIDADE foi capaz de criar novos quadros tão interessantes quanto os anteriores. Depois do Teste de Fidelidade, não havia mais para onde ir.

Isso se João fosse uma pessoa comum. Sem emprego, mulher ou fama, ele decidiu recomeçar em outro lugar. Um onde a programação ainda não tivesse sido afetada por tanta VERSATILIDADE. João Kléber se mudou para Portugal e recuperou sua fama reeditando o teste de fidelidade numa TV local. Todos caem, mas nem todos se levantam.

Tanto lá como cá, as frequentes acusações de armação em seus quadros mantém João Kléber como um dos reis da polêmica em língua portuguesa. Evidente que por aqui não estamos nem um pouco preocupados com as implicações de ser tudo armado por atores e atrizes. Afinal, era um deboche. Fazia parte do jogo tratar o assunto como algo sério enquanto sabia rir de si mesmo. Ele sempre nos quis fazer pensar sobre o assunto.

Provando que estava mesmo de volta ao mercado, foi convidado para participar do nosso reality show predileto: A Fazenda. Não me importa que ele já tenha sido eliminado, a vitória de João já estava decretada no minuto que botou os pés no confinamento. Durante semanas, ele nos mostrou um pouco mais da PESSOA João Kléber. Provando definitivamente que estava apenas sendo VERSÁTIL mostrando quadros de baixaria na TV, sua personalidade refinada entrou em choque direto com a coleção de sub-humanos presentes por lá.

Tomado pela solidariedade, tentou se aproximar de vários deles, mas sabia muito bem que teria dificuldades de relacionamento se se apresentasse feito a pessoa complexa que realmente é. Exemplo emblemático foi sua tentativa de sedução de Joana Machado. Com a sensibilidade necessária para perceber que ela era extremamente carente e insegura, portanto só se expressava através de sua atratividade sexual, ele fez a única coisa possível: Se declarou.

Adiantava mencionar livros que leu ou discutir filosofia? Por mais que ele saiba fazer isso, não é assim que se relaciona com a ralé da sociedade. E pode ter certeza que fazemos o mesmo por aqui: Toda vez que presenteamos o público com conteúdo de baixo nível, estamos demonstrando nossa condescendência. Estamos entendendo o que vocês são realmente capazes de compreender e tentando a comunicação. Estamos sendo um pouquinho mais… João Kléber.

João estendeu sua mão. Joana titubeou, mas mesmo após a saída dele, ainda considera aceitar esse relacionamento. Com certeza é alguém que consegue deixar sua marca. João Kléber ENTENDE as pessoas. Ele é fascinado por elas. Sua carreira toda é uma grande experiência ANTROPOLÓGICA. Jamais se deixem enganar pela suposta veia popularesca que demonstra, tem muito mais ali do que as aparências supõem.

É por essa e por tantas outras que somos agora o fã-clube oficial dele. Identificação. E já começamos MUITO BEM. Adivinha quem JÁ está na primeira página de resultados do Google para quem pesquisa sobre João Kléber?

Só nos resta esperar que essa nova fase do blog traga MUITAS pessoas parecidas com a gente. O Plantão da Fazenda continua diário, como vocês perceberam, afinal, queremos mostrar até o final o impacto de João na vida das pessoas.

PÁÁÁÁRA! PÁÁÁÁRA! PÁÁÁÁRA!

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