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Desfavor Explica: Descarga.

| Sally | | 188 comentários em Desfavor Explica: Descarga.

Vocês sabem que o nosso charme é falar sobre tudo, né? Isso implica, de tempos em tempos, em temas ignóbeis. A República Impopular do Desfavor é democrática nos temas (só nos temas). Depois de falar em leis na semana passada, hoje me sinto no direito de entrar em um tema que pode ser mais superficial, mas considero de vital importância. Não deboche do tema de hoje, um dia esta postagem pode te poupar de um grande constrangimento. Desfavor Explica: como fazer a merda ir embora quando se dá a descarga e ela insiste em ficar.

Se você acha que isso não é um problema real, você deve cagar feito um cabra: em bolinhas. Os profissionais, os que cagam um toletão respeitável, vira e mexe se deparam com esta dificuldade: a descarga apenas sacoleja a merda, mas ir embora que é bom, nada. Fica aquele submarino marrom inerte te olhando. A situação é especialmente dramática quando isto ocorre fora de casa, na casa de pessoas que não queremos que vejam nossa merda. Muita calma nessa hora, respire fundo e leia estas linhas de sabedoria. Seus dias de cortar tolete em um momento de desespero com o cabo da escova de dente do dono do banheiro acabaram.

Achismo é ignorância. Vocês merecem mais. Então eu decidi fazer experimentos para constatar a eficácia das táticas que irei propor para auxiliar o cocô a encontrar seu caminho. Gostaria de destacar que todos os testes foram realizados com churros. Isso mesmo, fui até a esquina de casa e comprei vinte churros, depois joguei um por um no meu vaso sanitário para testar minhas teses. Se alguém tiver o telefone de um bom encanador, por favor me mande, é só uma questão de tempo até eu precisar. Tudo em nome da ciência. Apresento agora os resultados da minha pesquisa pioneira.

Primeiro gostaria de dizer que, apesar de não existirem estatísticas sobre esta questão crucial da civilização moderna, creio eu, Sally Somir, que o número de empacamentos de toletes vem aumentando ao longo dos anos. Se alguém lembrar do grau de dificuldade para despachar um tolete hoje e há dez anos atrás, por favor, me avise. Tudo por culpa dos eco-chatos-sustentáveis. Porque usina nuclear ok, avião e carro poluindo ok, mas uma descarga eficiente é afronta. Até o ano de 2003 uma descarga consumia entre 12 e 15 litros de água, mas, algum cu de passarinho decidiu assinar um acordo com os fabricantes de privadas no Brasil reduzindo a descarga a míseros 6 litros de água. Então, já partimos de uma dificuldade extra: quantidade de água questionável. O mundo ficará mais limpo, mas sua casa ficará mais suja.

Diante desta constatação de pãodurismo com a quantidade de água na descarga, pensei que talvez este pudesse ser o problema e decidi testar se um acréscimo de água poderia ajudar. Joguei um churro, dei a descarga. O churro apenas rodava, ao final da descarga, ele continuava ali. Novamente dei a descarga, só que desta vez auxiliando com um jato de água partido de um chuveirinho cosplay de bidê. Sucesso, o churro rodou, rodou e foi embora. Portanto, uma fonte extra de água é uma opção. Se não houver chuveirinho, procure recipientes dentro do banheiro que possam ser enchidos de água e jogue no momento da descarga para complementar o trabalho.

Pode ser que a água do chuveirinho e adjacências não seja insuficiente. Nesse caso, se houver disponibilidade, você pode complementar a descarga com um balde de água. Atenção: existe uma técnica. O balde deve ser jogado no momento em que a descarga é acionada e não deve ser despejado nas proximidades do vaso. Você deve erguer o balde na altura do seu peito e ir despejando a água aos poucos para máxima eficiência. Afaste-se do vaso, os respingos são inevitáveis.

Porém, a realidade é dura. Todos nós sabemos que muitas vezes um tolete é maior que um churro, seja em diâmetro, seja em comprimento. E aqui cabe fazer uma distinção fundamental: grossos x compridos. Se você cagou aquele tolete rabo de macaco, que é tão comprido que fica igual a um iceberg boiando para fora do vaso, o tratamento deve ser um. Se você cagou um tolete nem tão comprido, mas grosso o suficiente para parecer uma lata de coca-cola, o tratamento é outro. Amarrei um churro na ponta do outro e um churro ao lado do outro e parti para mais os testes.

O rabo de macaco foi infernal. Não ia embora por nada. Um alerta: nessas horas a pessoa se desespera para esconder a obra barroca e acaba jogando um monte de papel higiênico por cima, na esperança que não vejam. Daí o próximo que for usar o banheiro levanta a tampa do vaso e se depara com aquela “noiva” boiando. Não façam isso, não disfarça porra nenhuma e todo mundo percebe o que aconteceu. Excesso de papel higiênico só prejudica a situação. No caso do rabo de macaco, se você tiver condições de esperar uns cinco a dez minutos, ele tende a afundar sozinho um pouco mais, o que pode bastar para que ele encontre seu caminho. Mas, se não der para esperar ou esperar não funcionar, minha sugestão é que se jogue água quente ou fervendo, que favorecerá a quebra do tolete em dois. Se puder ser água fervendo com soda cáustica, melhor ainda. Se não houver água quente nem soda cáustica no banheiro e você não puder sair para buscar, passe para a dica seguinte.

No caso do tolete grosso, só a química te socorre. O ideal dentro tudo que foi testado é o detergente. Mas, se você não tiver condições de se esgueirar para pegar um detergente, fuce o armário do banheiro em questão. Procure por diabo verde, soda cáustica, água sanitária e outras substâncias corrosivas. Cuidado porque a água sanitária deve ser despejada em uma quantidade generosa, praticamente um litro. Ela dissolve matéria orgânica, mas pode demorar um pouco para fazer efeito. Tome um banho para ganhar tempo. Em último caso, até uma Coca-Cola pode te ajudar.

Não tem nada químico no armário do banheiro e não tem condições de sair para procurar? Apele para shampoo, sabonete líquido (cuidado com a quantidade por causa da espuma) ou qualquer coisa química, até mesmo perfume. Não tem NADA? Calma, um cidadão da República Impopular do Desfavor nunca fica desamparado. Vamos usar a física a nosso favor.

Você vai fazer o seguinte: encontrar algo que tampe o buraco da privada: uma folha de jornal aberto, uma toalha, o tapete do chão do banheiro… qualquer coisa, desde que vede por completo o buraco. Eu testei com um jornal velho. Você levanta a tampa do assento, coloca uma camada grossa de jornal, abaixa a tampa fixando a folha de modo a tampar todo o buraco e depois abaixa a tampa do vaso. Pronto? Agora você FUCKIN´SENTA na tampa para vedar completamente a entrada de ar e dá a descarga. Mas tem que sentar, para lacrar essa porra a vácuo! É física pura, minha gente, quando você dá a descarga, normalmente parte do ar sai por cima da privada. Não mais, porque a saída está lacrada, então o ar será obrigado a migrar cano abaixo, exercendo uma pressão extra, empurrando sua criança marrom. A sucção da privada vai aumentar. Mas atenção: se ficar um mísero espacinho aberto, a pressão vai fazer a água subir em você. Seja cauteloso.

Olha, por mais cu de portal que uma pessoa seja, não tem criatura que não seja sugada com essa tática. Só para garantir, amarrei quatro churros juntos e mandei ver. Sucesso. Mas, como eu disse, tem que vedar a entrada de ar, se não a água volta estilo gêiser. Se quiser, você pode ficar de pé na privada, assim se a água voltar ela não vai direto na sua cara, como aconteceu comigo, quando estava sentada. Na dúvida, tenha uma toalha próxima ao corpo para não correr o risco de tomar um banho de merda.

Outra modalidade de tolete que pode te causar problemas é o tolete patê, aquele que pinta a porcelana. Dependendo da viscosidade, pode dar vinte descargas que o vaso continua sujo. Se for aquela diarréia explosiva então, o vaso ficar igual a um dálmata. Esta desgraça costuma acontecer com relativa freqüência em um modelo nefasto de vaso sanitário conhecido como vaso sanitário “concha”, aquele modelo onde a bosta não cai na água, ela cai na cerâmica e só depois passa por um mini tobogã e cai no buraco. Quem criou esse modelo de vaso (inventado na Alemanha) é filho da puta porco de merda. Tem a vantagem de não tomar água de privada nas bandas quando a bosta cai, mas puta merda, não é funcional, é nojento.

Se você pintou a porcelana, saiba que não há necessidade de pegar um bolo de papel higiênico, sentar e começar a esfregar. Você é melhor do que isso, dignidade é nosso maior bem, devemos preservá-lo. Observe nas proximidades se existe um chuverinho. Pode ser ao lado do vaso ou pode ser dentro da ducha. Uns jatos bem direcionados devem limpar o estrago. Não havendo chuveirinho, procure por um recipiente que se preste a esguichar, coloque água nele e direcione o esguicho. Não tem? Jogue condicionador de cabelo na área afetada e dê a descarga novamente, o patê escorregará privada abaixo. E se quiser evitar água na bunda, jogue bastante papel higiênico no vaso antes de cagar, se o tolete bater primeiro no papel (que deve estar seco na parte de cima), não vai esguichar água na sua bunda. A maior parte das infecções são transmitidas pela água que bate na bunda e não pela tábua do vaso.

No meio de um experimento me deparei com uma situação peculiar: o tolete Jason. Você pensa que se livrou dele, mas ele volta para te dar um último susto. Você dá a descarga, ele desaparece, mas assim que a descarga termina, ele meio que dá uma ré e volta, ainda que parcialmente. No caso do tolete Jason, como ele já está com metade do corpo para fora da privada, um belo bolo de papel para promover um arrastão na próxima descarga é bem vindo. Ele só precisa de um último empurrão. Mas deve ser um bolo compacto, nada de jogar tiras de papel aberto. Faz um bolinho prensado com as mãos, joga e dá a descarga.

Um evento que pode te assustar é se deparar com “cabeludão”. É um cocô que não foi embora e foi deixado ali por horas, talvez dias. Ele assusta pelo seu aspecto, costuma ficar bastante inchado e com aparência cabeluda. Se encontrar um assim e não for seu, faça logo um escândalo para elidir a culpa. Porém se o cabeludão for seu, pode dar a descarga sem medo, o cabeludão é feio mas é inofensivo. Já absorveu tanto líquido que está molinho, vai descer fácil. Não se apavore, não comece a jogar produtos químicos. Apenas dê a descarga e observe ele se desfazendo.

Vejamos agora dificuldades de ordem técnica. Você cagou um cocozinho do bem, normal, praticamente um cocô Dreher: desce macio e reanima. Só que por algum motivo, não há água para dar a descarga. Você aperta o botão e nada acontece. Você sente sua alma escorrendo pelo pé. Vamos lá. Se ao apertar o botão você o sentir especialmente frouxo, sem oferecer qualquer resistência, é possível que a falha seja mecânica, da privada. Abre a tampa do reservatório e procura o que está errado. Normalmente é um mero enganche, uma presilha fora do lugar. Pode meter a mão, a água que está ali, é a mesma água da pia. Se não conseguir consertar, puxa tudo até a descarga acionar, lava as mãos e vai embora.

Porém se a falta de água decorrer de deficiência no abastecimento, temos um problema grave. Se você tiver um Deus, reze. Se você for ateu, como a gente, é hora de atitudes drásticas. Retirar a bosta manualmente da privada não é uma opção, sobretudo depois que ouvi uma história escabrosa de uma pessoa que teria feito isso em um motel, jogado a bosta pela janela e quando foi embora viu a bosta estatelada em cima do carro do seu parceiro. Sim, a janela do banheiro desembocava na garagem. Se controle, você é melhor do que isso. Sejamos criativos. Tirar a merda do vaso não é uma opção, ou ao menos não deveria ser.

Se puder sair do banheiro e tiver tempo para manobras, use o líquido que encontrar: jarra de água da geladeira (melhor ficar com sede do que com fama de cagão), garrafas de refrigerante etc. Se não tiver esta liberdade de ir e vir, a solução vai ter que ser em uma vibe meio MacGyver. Se você tiver estômago, pode empurrar o tolete com ajuda de qualquer instrumento (a parte traseira de frascos de shampoo, por exemplo) para dentro do buraco de saída do vaso. É como jogar sinuca, só que mais nojento. Ele provavelmente não vai embora, mas o menos ficará oculto. Se tudo mais falhar, deixe um bilhete se despedindo da pessoa, vá embora e nunca mais volte.

Tenha sempre em mente que ficar despejando produtos químicos na privada é uma solução emergencial que deve ser utilizada em último caso, pois sua prática habitual pode causar prejuízos à estrutura do encanamento. É um recurso esporádico para salvar sua dignidade. Não faça disso um hábito. E se você é um cu de portal contumaz, talvez devesse pensar com carinho na hipótese de andar com um frasquinho pequeno daqueles destinados a transportar shampoo em viagem cheio de soda cáustica ou coisa do tipo. Dignidade em primeiro lugar.

Para dizer que você e eu temos conceitos muito diferentes sobre o que significa “dignidade”, para dizer que isso nunca te aconteceu e depois postar um caso de forma anônima ou ainda para reclamar do nível como se você fosse muito intelectualizado: sally@desfavor.com

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