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Ele disse, ela disse: O mensageiro.

| Desfavor | | 56 comentários em Ele disse, ela disse: O mensageiro.

Muito embora Sally e Somir tenham visões parecidas sobre perdoar traição num relacionamento, há uma útil (para a coluna) discordância sobre que diferença faz se fica-se sabendo da traição pela pessoa ou por terceiros. Diferença positiva, que fique registrado. E os impopulares estão convidados a expor suas opiniões, com a maior fidelidade possível.

Tema de hoje: Faz diferença saber da traição por quem te traiu?

SOMIR

Faz. Normalmente eu começaria explicando porque ser mais racional numa hora dessas é melhor para uma pessoa, mas estou cada vez mais inclinado a aceitar que a maioria das pessoas gosta de viver nesse supervalorizado carrossel hormonal da passionalidade.

Se por um acaso você que está lendo compartilha da visão de que ser escravo de sentimentos é atraso de vida, podemos nos entender nesta argumentação. Se não é o caso, pelo menos dê uma chance, garanto que você não tem nada a perder.

Não dá para tapar o sol com a peneira e dizer que para grande parte das pessoas uma traição num relacionamento amoroso não é bem dolorosa. Com a presunção de fidelidade andam juntas ideias de valor próprio e até mesmo de justiça “universal”. Terrível ser passado para trás, claro. Mas uma das coisas mais importantes dessa vida é saber a hora de parar.

É humano se sentir mal depois de uma traição, mas é masoquismo ficar alimentando esse sofrimento além do necessário. Quando a merda está feita, está feita. A pessoa não pode mais te destrair. A partir do momento que se sabe do fato, sobra apenas sua reação.

Tem gente que perdoa e continua na relação. Tem gente que perdoa e se afasta. Tem gente que não perdoa, mas continua dando murro em ponta de faca… E tem aquelas pessoas que mesmo com muita vontade de ceder, não perdoam e não reatam. Eu parto do ponto de vista de quem não vai considerar mais a relação viável depois disso.

E mesmo assim, acredito que faz diferença saber pela própria pessoa. Se ela vai usar isso para se sentir melhor com ela mesma, já foge do meu controle, e sinceramente, do meu interesse. As pessoas se auto-perdoam com muita facilidade, nem acredito que dê para punir muito mais a pessoa depois de se separar. Quer dizer, não sem SE punir junto. Ex-namorados e namoradas doentes da cabeça estão aí para provar que dá para infernizar a vida de alguém se você usar seu auto-respeito como moeda de troca…

Não me faz diferença alguma se a pessoa que eu não quero mais na minha vida vai sofrer mais ou menos. E nem é questão de ser um “ser de luz”, é a falta de diferença prática que isso fará na minha vida. Talvez seja até melhor que ela se sinta leve e livre para continuar a vida dela, menor a chance de ficar me pentelhando depois. Querer distância é um compromisso que deve-se levar a sério. Acho vergonhoso ficar preocupado com o sofrimento de alguém que não deveria mais fazer diferença para você.

E se você pretende argumentar que não tem sangue de barata, já entenda que eu não estou considerando a frieza como passividade, e sim como caminho para se reerguer mais rápido e atender aos interesses próprios da melhor maneira. Ficar encanado com ex que te traiu é buscar sofrimento. Burrice.

Pois bem. Faz diferença positiva saber da traição por quem traiu porque isso te permite fechar melhor esse capítulo da sua vida. Como você vai seguir a partir daí pode variar, mas a vantagem de ter o assunto fechado com a confissão é que fica mais simples dar os próximos passos.

Novamente, vou pela minha reação: Término imediato e irreversível da relação.

Tem gente que MESMO diante de provas contundentes sobre sua culpa, continua se dizendo inocente. Isso é uma merda se você gostava muito da pessoa… Eu pelo menos tenho uma tendência de acreditar no limite da insanidade no que uma pessoa muito querida me diz. É a questão da chance ínfima de ser verdade mesmo, e como eu gostaria de receber o mesmo tratamento se fosse falsamente acusado.

Como já está muito bem estabelecido que a traição ocorreu, o suficiente para que eu queira terminar, se a pessoa não se confessar, eu vou ficar eternamente com aquela sensação da “chance ínfima” na cabeça. Não é para acabar com sua vida, mas, porra, não faz bem.

Além disso, se a pessoa não teve nem a coragem de te contar a merda que fez, deve ter considerar otário ou incapaz de lidar com a verdade. Duas presunções que eu detestaria descobrir que a mulher que estava comigo tinha de mim. Contar a verdade não perdoa o fato, mas a merda já está feita. Que pelo menos a pessoa tenha o mínimo de respeito de reconhecer o erro e validar que eu não estava completamente louco de escolhê-la em primeiro lugar.

Saber apenas por terceiros (ou por si mesmo) te isola de uma parte importante do processo de “cura”: A compreensão. Não no sentido hippie de achar bonito e aceitar numa boa, digo compreensão do verbo compreender mesmo. Se a pessoa te conta a traição, pode te contar suas motivações. Isso não serve apenas num perdão, serve também para que você possa perceber o que deu errado, se tem como evitar futuramente, ou se foi algo que você jamais poderia controlar. Até porque essas coisas podem te deixar paranóico em relações futuras.

É besteira achar que existem métodos para encontrar alguém que jamais te trairá, mas dá para entender melhor como levar uma relação que minimize esse risco. Se soltou demais, se prendeu demais, se deixou de perceber problemas óbvios na outra pessoa… Conhecimento é poder. Não fuja dele.

E para ser honesto, uma mulher que me conhecesse bem estaria mesmo me fazendo uma boa ação me contando sobre a traição. Me permitir terminar tudo e seguir em frente buscando melhores oportunidades não parece algo tão ruim assim. Relações começam e terminam, e pra mim nenhuma vale mais do que ter a fidelidade (num sentido bem mais amplo do que apenas fazer sexo com outra pessoa) da parceira. Acho muito possível que eu não guarde rancor nenhum dela, pelo simples fato de me “livrar” dela mesma.

Não, não posso garantir que a pessoa fez isso por algum motivo mais nobre do que tentar conter danos de uma cagada prestes a estourar publicamente, mas, novamente: Ela já não vale mais esse tipo de preocupação. Vale o que me for mais conveniente.

É ruim, é dolorido, mas a vida continua. E para a vida que continua, faz diferença sim saber pela pessoa sobre a traição.

Para me chamar de corno manso, para dizer que sem drama sua vida não faz sentido, ou mesmo para reclamar que acha absurdo que alguém não tente jogar toda a culpa nas costas dos outros sempre que pode: somir@desfavor.com

SALLY

O discurso padrão é que faz diferença se a pessoa que te traiu decidir te contar. Por algum motivo que eu desconheço as pessoas acreditam que quem trai e conta merece mais o perdão do que quem trai e esconde. Eu não concordo. Não me faz a menor diferença a forma como a informação chegou até mim, quem me traiu vai catar coquinho, sentirei a exata mesma raiva da pessoa que fez uma coisa dessas comigo e o relacionamento estará igualmente terminado.

As pessoas no geral partem de uma premissa com a qual eu não concordo: quem conta se arrependeu. Daí chegam a um resultado do qual eu igualmente discordo: quem se arrepende merece perdão. Um pedido de desculpa acaba sendo usado como chantagem barata para forçar o outro a te desculpar. Cria-se uma obrigatoriedade em aceitar este pedido de desculpas e quem não o aceita, que é a vítima da história, passa automaticamente a ser o vilão.

Vamos ser sinceros aqui? Quem, em sã consciência, trai alguém que ama e voluntariamente conta para a pessoa, mesmo tendo a certeza de que essa pessoa nunca teria como descobrir? Não existe, né? Ou contou por não se aguentar de culpa (ou seja, pensando em si, para se sentir melhor) ou por ter medo de ser descoberto (motivo igualmente egoísta). Isso por si só já desvaloriza o contar.

Se a pessoa está com a consciência pesada e quer contar… PRA QUE, gente? Pra que uma porra dessas? Porque vai sujeitar a pessoa amada a um sofrimento desse tamanho? Só para aliviar a consciência? Grandes merda contar. Poderia ter poupado a pessoa de uma dor terrível. Vai despejar uma tonelada de merda na cabeça do outro para se sentir melhor? Ora vejam. Seu escroto que fez isso: amargue sua culpa sem imputar sofrimento ao outro!

O mais comum é que a pessoa conte quando traiu de uma forma ostensiva, onde todo mundo ficou sabendo e aquilo certamente vai chegar aos ouvidos do seu parceiro. E, convenhamos, quem trai desta forma ostensiva, é muito babaca. Depois de fazer algo desta magnitude, francamente, tanto faz contar ou não contar, a humilhação do parceiro vai ser enorme.

A pessoa diz que se preocupa com o parceiro e tal, mas, a hora de mostrar preocupação não é depois de fazer a merda, é antes. É muita cara de pau de alguém que trai querer demonstrar preocupação e querer aliviar o peso que está sentindo na sua consciência. Saber por terceiros é pior socialmente, mas a cagada é tão grande, que contar ou não contar não faria diferença prática alguma para mim no que diz respeito às minhas atitudes e em como eu me sentiria sobre quem me traiu.

Acho que o que eu quero dizer é que contar é sempre desamor. Se você conta mesmo tendo a certeza que a pessoa nunca ia descobrir, a sujeita a um tremendo sofrimento desnecessário, pois não acrescenta nada contando. Se você conta quando havia um risco da pessoa descobrir, seu gesto perde o valor e você só está tentando salvar a sua pele e conseguir uma probabilidade maior de perdão. Vamos ser sinceros? Se a pessoa fosse realmente tão legal e preocupada com o outro, ela não trairia.

Contar ou não contar me parece indiferente para o resultado final. A motivação é escrota, logo o ato não é nobre. Quem trai vai para a mesma vala na minha opinião: contando, não contando, se arrependendo, não se arrependendo… Não faz a menor diferença. O desejo de ver o cu da pessoa pegando fogo e sendo apagado com um tamanco é onipresente em mim. Eu sei, não é nobre da minha parte, mas eu acho traição tão baixo que fico tomada pela revolta.

Pedidos de desculpas são muito eficientes para coisas que fazemos sem querer, sem saber que iríamos magoar a pessoa ou ao menos sem ter a exata dimensão de quanta mágoa iríamos causar. Traição magoa pra caralho, via de regra. Todo mundo sabe disso. Então, contar e vir se desculpar depois de trair me parece quase que deboche.

A menos que tenha tropeçado e caído de boca em outra pessoa, melhor enfiar sua sinceridade e suas desculpas no cu. Na hora de trair não se pensou em ética, não é mesmo? Porque depois de consumar uma das maiores faltas de ética que um relacionamento comporta a pessoa é acometida de um surto ético e vai te contar? Vai tomar no cu. Queria ser ético o fosse antes e não traísse.

Suponha que alguém em quem você confia e tem intimidade entra na sua casa e mata seu animal de estimação, sabendo o quanto você o ama. Suponha que horas, dias ou meses depois essa pessoa vira e diz “Desculpa, eu matei o seu cachorro, eu _____________” (complete com a desculpa dada no caso de traição, tipo “eu estava bêbado não sabia o que estava fazendo” ou “aconteceu” ou “na hora eu não pensei” ou “estava muito puto com você” etc).Você perdoa essa pessoa por ter matado seu animal de estimação, só porque ela te contou? Você acha que contar faz alguma diferença diante de um ato tão grave? E se você não perdoa o que fazem com um fuckin´cachorro, porque merdas perdoaria quando a sacanagem é COM VOCÊ?

Vai desculpar mas esse povinho que faz merda tamanho GG e depois vem em busca de consciência tranqüila às custas do sofrimento alheio tem mais é que se foder. Quem conta sobre traição não é ético, não é herói, não merece aplausos.

Quem é ético, herói e merece aplausos é quem não trai. Ninguém é obrigado a dar paz de espírito a uma pessoa filha da puta que te apunhalou pelas costas e te humilhou só porque ela resolveu confessar o que fez. Chega dessa merda! Chega dessa imposição social de achar que confissão apaga erro! Quem pensa assim está recompensando mau caratismo seguido de cara de pau.

Traiu? Beleza. Sofra. Sofra muito. Não venha até mim buscar absolvição parcial para o sofrimento. Não venha querer parecer menos pior do que é. Não venha esperando um “ok, pelo menos você me contou”. Nada disso, é um Bosta com B maiúsculo por ter traído e nada do que faça depois vai atenuar isso.

Para pagar de burro e depreender que um posicionamento assim só pode advir de um trauma ligado à traição, para pagar de otário e concordar com o Somir, aplacando parcialmente a culpa de quem trai ou ainda para me mandar rever os meus conceitos porque fidelidade é muito anos 90: sally@desfavor.com

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