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Des Cult: Séries (Parte 1)

| Somir | | 93 comentários em Des Cult: Séries (Parte 1)

Assim como eu, a maioria dos impopulares não tem por hábito acompanhar a mediocridade das telenovelas brasileiras. A alternativa mais comum para esse tipo de história em capítulos acaba sendo as séries, principalmente as americanas. Hoje eu falo de cinco delas, as quais eu acompanho, estão em produção ainda e tenho opinião formada. Futuramente eu ou Sally poderemos escrever mais sobre isso, porque com certeza não são só essas que valem a pena.

BOARDWALK EMPIRE (HBO)

Não se assuste com o papinho de “aclamada pela crítica”, a série que conta a história do contrabandista/mafioso Nucky Thompson na Atlanta do começo do século passado passa longe de ser chata. A trama revolve ao redor da “Lei Seca” instaurada nos EUA naquela época, e as pessoas que enriqueceram com isso.

Além da produção fodástica (Martin Scorcese) e o trabalho extremamente competente de toda equipe técnica, o roteiro também se destaca. Dá para acompanhar a história pelas personagens e suas interações, mas é no conceito geral que a coisa realmente fica brilhante: Quando as leis ignoram a sociedade, a sociedade ignora as leis (à lá Sally). A Lei Seca americana é um marco histórico de legislação burra… Nada mais fez do que fomentou e financiou a máfia até sua queda. Talvez essa vertente “liberal” presente na política deles ainda seja ranço dessa intervenção desastrada do Estado. Traumatizou.

É um barato ver como corruptos, tais quais a personagem principal, interpretada pelo anti-galã Steve Buscemi, são os que mais comemoram a passagem da proibição. Comércio de bebidas desregulado e fora-da-lei? Isso é uma fábrica de dinheiro. Quando o povão começa a buscar culpados, sempre tem os espertos que se aproveitam da situação. A história da série é uma adaptação “livre” da história real de vários mafiosos famosos durante aquela época.

Ainda tem várias cutucadas (algumas nem tão sutis) em religião, moralismo e na noção cretina de que a vida era melhor no passado. Os anos 20 eram brutais e imperdoáveis perto dos dias atuais. Vale a pena pela viagem ao passado, é muito bem feito mesmo. Os produtores pesquisaram pra cacete e isso aparece.

Bônus para quem gosta de mulher: Paz de la Huerta pelada capítulo sim, capítulo sim. Tem uns pintos também, para quem gosta disso. É série da HBO.

GAME OF THRONES (HBO)

É nerd. É BEM nerd. Não vou negar ou dourar a pílula. Mas puta que pariu, não é tipo Senhor dos Anéis (viu, Sally?). A história da série é baseada nos livros “As Crônicas do Gelo e Fogo” de George R. R. Martin, e cada temporada corresponde mais ou menos a um dos livros. Eu li o primeiro deles e não foge tanto. A boa notícia é que são (ou deverão ser, se o autor não morrer antes…) sete livros, e se não faltar orçamento, podemos ter sete temporadas.

E eu menciono orçamento porque a produção da série não é coisa de iniciante. Cidadão (ou cidadã) pode até achar o conceito de fantasia medieval uma coisa chata, mas não dá para negar que é muito bem feito. O escritor dos livros é um dos produtores da série, o que nesse caso é um ponto positivo (o universo saiu da cabeça dele…). Não vou escrever muito sobre a história pensando em quem ainda não viu, primeiro porque é um balaio de gato com setecentos reinos interagindo entre si, e depois porque essa convenção social de não matar algumas personagens centrais passa longe de valer com o Sr. Martin.

O grande diferencial de Game of Thrones é dar uma cara mais adulta ao universo de fantasia com espadas. Não só a série não se envergonha de mostrar qualquer cena de violência ou sexo, como os temas passam muito pela podridão do ser humano sem oferecer muita redenção. Apesar de algumas forçadas de barra ocasionais, entenda que a série se encaixa no espectro de “Low Fantasy”, o que quer dizer que não tem magos lutando com dragões, elfos, anões e essa caralhada toda.

Quer dizer, anão tem. Mas é a melhor personagem da série, sério. Assista e comprove… Game of Thrones é sobre as personagens num cenário e não sobre o cenário como a maioria do gênero de fantasia medieval. As motivações são bem maiores que ser “do bem” ou “do mal”. É fantasia, mas é mais verdade nua, crua e sangrando que a maioria das outras séries.

Mas é nerd.

THE WALKING DEAD (FOX)

O apelo também é nerd. The Walking Dead se passa num mundo infestado por zumbis, e segue à risca vários clichês do gênero: A praga vem sem explicação, a sociedade desaba em pouco tempo, tem que atirar na cabeça para matar, se for mordido vira um… O cenário de futuro apocalíptico com zumbis não é exatamente um sopro de criatividade, mas a história, baseada em quadrinhos homônimos, é uma das melhores nesse ramo. Se não vai inovar, pelo menos faça direito.

E aqui, um porém: A HQ é excelente. A série, menos. O fio central da história não é exatamente mudado, mas o desenrolar da trama é bem mais arrastado na adaptação para a TV. Algumas personagens ganharam mais espaço, outras perderam, coisas de adaptação mesmo.

A proposta da história é acompanhar um grupo de sobreviventes nesse mundo todo fodido. E os temas abordados sempre passam pelas escolhas moralmente complicadas que quem vive numa situação crítica tem que fazer. O protagonista é um policial que estava em coma durante o começo da epidemia zumbi, e por uma sorte “conveniente” sobrevive para procurar sua família. Novamente: A história não reinventa a roda, mas é bem amarrada e competente (um pouco menos na TV).

Se você, assim como eu, ficou orfão de uma série apocalíptica depois que cancelaram Jericho (era ruim, mas era bom, entendem?), The Walking Dead supre a carência. Já aviso: Vai enrolar um pouco no meio da primeira e durante boa parte da segunda temporada, mas parece que já encontraram o ritmo de novo agora na terceira. Tem grande audiência, então o risco de ser cancelada é menor.

E se a primeira cena do protagonista policial metendo uma bala na cabeça de uma criança zumbi não te cativar, não sei mais o que te dizer. Violência nota dez!

DEXTER (FX)

Já está na sétima temporada, já não tem o mesmo impacto que as primeiras, mas, puta que pariu, se você ainda não viu, veja. Dexter segue a vida de um serial killer “do bem”, que mata “apenas” outros serial killers. As aspas já denotam que não estamos falando exatamente de um mocinho. Dexter Morgan trabalha na polícia de Miami como especialista em análise de sangue, e nas horas vagas caça e mata de forma bem ritualística quem preenche o perfil de merecedor segundo um código de conduta bem particular.

A estrutura da série é bem básica, os capítulos costumam valer sozinhos, tipo CSIs da vida, mas nos arcos da temporada é onde o roteiro se destaca. Cada temporada tem um tema, e todos os temas tem ligação com o complexo de Pinóquio do psicopata Dexter: Além de mentir o tempo todo, ainda nutre um desejo poderoso de virar um menino de verdade. O bacana é a visão “externa” da sociedade humana. Dexter quer se integrar, mas as pessoas, na média, são muito babacas e incoerentes para quem quer racionalizar uma forma de interagir com elas.

Família, religião, amor… todos esses temas carregados de sentimentalismo barato são esmiuçados por um deslocado, e isso é uma diversão para quem consegue se identificar com esse estranhamento. Pode ser meio incômodo se pegar enxergando as coisas de forma tão parecida com um psicopata, mas é impressionante o número de vezes que ele vai na veia (trocadilho semi-intencional).

BURN NOTICE (FOX)

Olha… é uma mistura de Miami Vice com McGuyver. É meio brega, é meio forçada… Mas é muito boa dentro de sua proposta. Burn Notice segue a vida do ex-espião Michael Western, que foi queimado (demitido) pela CIA sob circunstâncias escusas.

Não tem análise ácida sobre a sociedade, não é pesada, não é nem muito verossímil boa parte das vezes. As personagens são artificiais “novela” tipo aquelas séries de menina que a Sally gosta, mas tem uma mistura muito bacana de ação e humor, com dicas “valiosas” sobre espionagem de alto nível. Michael Western consegue montar uma bomba com um chiclete mastigado e um chinelo furado, sabe mil artes marciais diferentes, atira como um atirador de elite, conhece e entende sobre quase tudo… Bem personagem exagerada dessas séries. Mas nem tudo é festa: Ele está sempre quebrado, tem uma mãe chata e chantagista hilária, uma ex-namorada treinada em ainda mais artes marciais, sem contar uma conspiração gigante e confusa por trás de sua demissão.

Os episódios também funcionam sozinhos, e os arcos de temporada não são lá grandes coisas. O bacana é a parte McGuyver: Michael sempre faz um monólogo explicando suas estratégias ninja de espião, desde o uso de equipamentos até a estratégia da guerra física e/ou psicológica com seus adversários. Algumas forçadas, outras bem interessantes. Quem aprendeu medicina com House aprende a ser espião com Michael…

E para garantir a qualidade (duvidosa), o melhor amigo de Michael e companheiro de aventuras é ninguém menos que Bruce Campbell. Sim, o fuckin’ Ash aparece em quase todos os episódios, canastrão como sempre.

Estão perdendo um pouco a mão nos últimos episódios, tentando fazer a série mais complexa do que deveria ser, mas as primeiras temporadas valem muito a pena. O bom é que nem precisa ver em sequência.

Nem só de sucessos de crítica vive um gosto televisivo!

Para dizer que se eu estava com preguiça de escrever era só ter dito, para reclamar do meu gosto superior, ou mesmo para fazer o que eu quero mesmo e indicar/discutir mais séries: somir@desfavor.com


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