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Desfavor Explica: Candomblé.

| Sally | | 280 comentários em Desfavor Explica: Candomblé.

Para quem não sabe, meu ateísmo nasceu comigo e continua firme e forte. Desgosto da maior parte das religiões por achar que elas fazem mais mal do que bem às pessoas e por enquanto só tiro duas desse saco: uma delas foi o budismo, que já foi tema de Desfavor Explica, e a outra será tratada hoje. Quando um ateu tira o chapéu e diz “Ok, isso faz mais bem do que mal” vale a pena respeitar. E é isso que esta religião merece: respeito. Quem não é ignorante e se dá ao trabalho de estudar um pouquinho suas origens percebe a força e o valor que ela tem. Desarmem-se dos preconceitos e leiam com boa vontade. Desfavor explica: Candomblé.

Todas as religiões de origem africana nos parecem semelhantes, por causa da nossa ignorância, no sentido de desconhecimento. Pois é, não são. Muito pelo contrário, são bem diferentes entre si. Pretendo falar de várias em outras oportunidades, mas por hora, vou tentar resumir um pouquinho sobre o Candomblé. Não sou profunda conhecedora, muito pelo contrário, mera curiosa que se esforçou para buscar as verdades desta religião na fonte. Caso me equivoque, por favor me corrijam. É muito difícil aprender sobre Candomblé, pois não existe uma “bíblia” ou quaisquer escritos sagrados. Ela é passada de boca, apenas para poucos que se dedicam ferrenhamente a ela. Pessoas que aprenderam a ser desconfiadas para sobreviver. Pessoas que sabem que são socialmente mal vistas por um grande grupo ignorante. Espero ajudar a melhorar esse quadro com o pouco que aprendi.

O Candomblé foi trazido ao Brasil com os escravos africanos. É uma história muito triste, sofrida e revoltante, onde, como sempre, há o dedo cruel e tirano do Catolicismo. Os escravos que eram “capturados” (vendidos, presos ou o termo que queiram) na África e trazidos ao Brasil eram obrigados a se converter ao catolicismo “para salvar suas almas”, afinal, a Igreja Católica é a dona da verdade absoluta e quem não acredita no que eles mandam vai para o quinto dos infernos. Imagina um ser humano acorrentado, tratado da pior forma possível, se vendo obrigado a aderir à religião alheia sob pena das mais impensáveis torturas. Você não se converteria? Eu me converteria dez vezes! Mas eles não, é um povo de tanto valor, tão forte, tão seguro, que não se converteram, apesar de tudo. Tiveram foças para, mesmo nesta situação absurdamente cruel, levar adiante suas crenças. Alguns até faziam de conta que se convertiam mas toda semana faziam o ritual deles, enganando o idiota homem branco, fazendo-o pensar que se tratava de uma mera festinha mundana, como se fosse um pagodinho nagô. Tiveram foças para, mesmo nesta situação absurdamente cruel, levar adiante suas crenças.

Pois não era. As festas de candomblé tem como pano de fundo o batuque de um instrumento chamado “atabaque”. Cantar e dançar é uma forma de evocar os Orixás, as divindades desta religião. Então, nos cornos de seus “donos”, os negros se mantinham firmes e fortes com sua religião, apesar das ameaças, apesar de estarem em um lugar estranho com o qual não tinham identidade cultural, apesar de estar em posição de sujeição. Como tudo tinha que ser feito sem que os brancos saibam do que se tratava, não podia ser documentado. Não havia escritos sobre a ordem dos rituais, as formas de proceder, as normas da religião. Tudo se manteve vivo no boca a boca. Quantos povos podem dizer isso? Quantos povos conseguiram fazer sobreviver com força uma religião que tentou ser esmagada por outra religião dominante, cujos rituais tem riqueza de detalhes por séculos apenas no boca a boca? Acredito que poucos, é preciso muita coragem e dedicação para isso e, acreditando você ou não, esse feito tem um valor enorme. Do alto do meu ateísmo, eu aplaudo de pé.

Assim como eu, outro ateu também aplaudiu de pé o Candomblé. O antropólogo francês Pierre Fatumbi Verger, ateu de carteirinha, que começou a estudar o Candomblé e ficou tão fascinado, mas tão fascinado que dedicou boa parte da sua vida a escrever sobre o assunto. É dele um dos melhores livros que eu já li sobre Candomblé, chamado “Orixás”, para quem quiser conhecer melhor o assunto, eu recomendo. A paixão dele pelo Candomblé foi de tal tamanho que ele chegou a fazer todo o ritual para estar apto a receber um Orixá, explicado em detalhes nas próximas páginas. Continuou ateu, não acreditava na religião em si, mas acreditava nos benefícios que ela poderia trazer para seus praticantes. E de fato esses benefícios existem. Uma religião que não tem pecado, que não tem inferno, que não tem o conceito do diabo. Uma forma de terapia através de um transe, que por ser inexplicável, gera medo e é demonizado. O ser humano e seu eterno medo de desconhecido, que patético.

Como eu disse, no Candomblé se cultuam Orixás. Ao contrário do que muita gente pensa, um Orixá não é sinônimo de alguém que já esteve vivo e morreu, Orixá não é gente morta. Gente morta está mais para Umbanda (Pomba Gira, Preto Velho e cia). Orixás não são e nunca foram seres humanos. Orixás são forças, são energias, que normalmente se materializam como fenômenos da natureza: ventos, águas, trovão, etc. É energia que existe no mundo e pode ser canalizada para um ser humano através de determinado ritual. Existem lendas para cada um deles, histórias que os humanizam na tentativa de torna-los mais compreensíveis e próximos. É muito comum que os próprios adeptos se refiram a eles de forma humanizada: “Iansã gosta de vermelho” ou “Iansã não come carneiro”, mas é mera força de expressão, Iansã é a força dos ventos e não uma pessoa que morreu e está voltando para se comunicar. Sabe Esopo? É bom paralelo. Sapos, escorpiões e raposas não falam, mas em suas fábulas Esopo os fez falar para transmitir às pessoas uma lição. É por aí.

Os Orixás tem diversas classificações, se dividem em subtipos e demandariam uma explicação complexa demais que nem eu saberia fazer e nem caberia aqui. Vou citar os mais populares só para vocês terem uma ideia: Exu (que não se confunde com os mortos da Umbanda “exu-caveira”, “exu-tranca-rua”), Ogum, Oxóssi, Ossain, Obá, Oranian, Xangô, Iansã, Oxum, Obá, Iemanjá, Ifá, Obaluaê, Nanã e Oxalá. Cada um tem suas histórias, suas características, suas afinidades e suas “repulsas”, se é que se podem usar esses termos. Cada um corresponde a um fenômeno da natureza, a um determinado tipo de energia que, através de cantos, rituais e transe hipnótico podem ser canalizadas para o corpo de uma pessoa. Os Orixás podem se comunicar com os seres humanos e até mesmo ajuda-los, embora não sejam tão “falantes” como as entidades da Umbanda (que batem papo como se estivessem em uma mesa de bar), é possível que se comuniquem quando estão “incorporados” em pessoas. Só tem um detalhe: eles não falam em português, eles falam em ioruba. É recomendável que alguém apto a traduzir esteja por perto. Através de oferendas é possível se harmonizar com eles, pedir ajuda ou agradecer.

Todos nós somos “regidos” não por um, mas por dois Orixás (ao menos no Candomblé da forma como se conhece no Brasil). Após pedir um zilhão de perdões pela comparação, feita apenas para fins pedagógicos, eu me permito dizer que funciona mais ou menos como um horóscopo: você tem um Orixá que funcionaria como seu signo (características predominantes, tendências, orientações) e um segundo Orixá que funcionaria como seu ascendente (influencia, mas de forma mais branda, secundária). Para saber qual é esse Orixá é preciso que um Pai ou uma Mãe de Santo jogue búzios para você, a fim de que ele se manifeste de alguma forma. Para que serve saber o seu Orixá? Bem, são energias com as quais você tem afinidade e existem coisas (pequenas coisas) que você pode fazer ou deixar de fazer para se harmonizar melhor e para que as coisas fluam de uma maneira mais favorável na sua vida. Não se preocupe, nenhuma exigência bizarra é feita, coisas como casar virgem, não usar camisinha e não usar contraceptivo não existem no Candomblé. Não há culpa, não há pecado. São pequenas coisas mesmo.

Sim, existe um “Deus supremo” no Candomblé, chamado de Olodumaré (ou Olorum, longa controvérsia…). Mas não é nada que deva ser cultuado, nem compreendido, nem mesmo pensado. É algo tão acima da capacidade humana que nem se tenta começar a explicar. É inacessível e indiferente às preces dos seres humanos. Está fora de sua compreensão. Quem quiser alguma coisa, tratar com os Orixás, pois eles foram designados para interagir com seres humanos. Não perturbem Olodumaré (ou Olorum), ele está cagando e andando para vocês. Nós não conseguiríamos nem ao menos entender o que é e como funciona, mesmo que alguém explicasse. Talvez por isso o Candomblé não seja muito popular, ele não dá muita moral para o ser humano. Somos cocozinho ignorante que o Deus supremo ignora. Não é todo mundo que lida bem com isso, as pessoas são carentes e gostam de se sentir super especiais.

Uma das coisas que me chamou a atenção no Candomblé é a dedicação de seus praticantes. Lá não tem dessa babaquice de se dizer membro da religião mas não fazer porra nenhuma, como o clássico “católico não praticante”. Para ser membro você tem que arregaçar as mangas e ralar pra cacete. Tem que ajudar em tudo que lhe for designado, não naquilo que você quer. Funciona como uma grande família onde são todos irmãos e cada um tem uma função específica atribuída pelos Orixás. E tem que cumprir. E dá trabalho. E toma tempo. E se você não cumprir, existem consequências, não pela mão do homem, mas pelo próprio Orixá. Ou está dentro, ou está fora. E só fica dentro quem se beneficia muito com aquilo, porque vou te contar, como eles ralam… Quem está dentro é sacerdote e tem obrigações, mesmo que não “receba” um Orixá. Sacerdotes não são apenas as pessoas que “recebem” o Orixá em seus corpos (Elegum), todo mundo tem uma função e é necessária a cooperação de todos para que a coisa funcione. Quem recebe não é “mais” do que os outros. Não que admiradores não sejam bem vindos, fui muito bem recebida em todos os locais que frequentei, eles abrem as portas e tratam com carinho, mas eu não posso dizer que sou do Candomblé. Não sou. Sou apenas uma admiradora. Se quiser ser, terei que passar por um longo processo que vai demandar muita dedicação.

É isso mesmo, não é só chegar, curtir e sair “recebendo” Orixá. Para que a pessoa esteja apta a receber um Orixá ela precisa ter passado por um longo ritual chamado “feitura”, que, cá entre nós, só faz quem tem muita dedicação, porque é de arrepiar os cabelos. Um ritual que, em princípio, você só pode fazer depois que o Orixá acha que você está pronto, ou seja, pode demorar. Após este ritual, ainda tem que esperar sete anos (uma espécie de “período de aprendizado”) para só depois ganhar um “cargo oficial” naquela casa. Como se fosse um bebê, que precisa crescer para saber o que vai ser da vida. Na “feitura”, você “faz” a pessoa em um ritual que implica em deixa-la trancada em um quartinho sem luxo algum (eu diria até sem conforto, tipo penico para cagar, sabe?) onde ela tem a cabeça raspada, cortes pelo corpo (inclusive um corte consideravelmente grande no topo da cabeça, onde é colocado um emplastro preparado com ervas), é jogado sangue de animais, a pessoa tem que beber sangue diretamente do animal e muitas outras coisas que quem está lá apenas de curioso certamente não vai fazer. Adoraria narrar em detalhes todos os rituais da “feitura”, mas não vai caber aqui.

Então, para ser Elegum, precisa do seguinte: primeiro a pessoa tem que ter a aptidão de receber (nem todos tem), segundo o Orixá tem que dizer que ela está pronta para a feitura, terceiro, tem que fazer a feitura nesse longo processo complicado. Até pode acontecer que pessoas com aptidão para receber mas que ainda não foram “feitas” incorporem um Orixá, mas neste caso, a pessoa não está preparada para lidar com a força daquela energia e apenas desmaia. É o que chamam “bolar com o santo”. Diante da complexidade do ritual, vocês podem presumir que não é qualquer um que decide abraçar a religião. Não tem “curioso” do lado de dentro do Candomblé, apenas gente que quer estar ali.

Certeza que a atenção de vocês está voltada para a questão do sacrifício de animais. Muita gente tem horror a isso. Até mesmo os adeptos da Umbanda criticam o sacrifício de animais. O que eu vou falar aqui não vai entrar na cabeça de muita gente, porque há todo um trabalho histórico para vilanizar este ritual, mas eu vou tentar mesmo assim, porque se UMA pessoa mudar de ideia já vai ter valido a pena. Vamos lá. Sim, no Candomblé há sacrifício de animais. Mas isso não significa que necessariamente ele seja feito para provocar o mal em alguém, pode se fazer o mal de diversas formas, inclusive sem matar animais. O animal é uma oferenda aos Orixás, que se alimentam da sua energia e existem dezenas de religiões que trabalham com oferendas. E esse animal que é sacrificado em um ritual que de cruel não tem nada (corte seco no pescoço, certamente muito mais humano que a forma como abateram a vaca que você jantou ontem) e TUDO nele é aproveitado. O Orixá se alimenta da energia desse animal e depois ele é preparado e servido como alimento para todas as pessoas que trabalharam naquele ritual e até mesmo para forasteiros como eu que foram assistir a uma festa. A pele é usada para forrar atabaque ou adornar paredes, os ossos para indumentária, enfim, TUDO é aproveitado. Vai me desculpar mas eu acho isso menos grave do que animais em matadouro.

Sem contar que a forma como se mata o animal (e as próprias restrições alimentares) é praticamente idêntica à forma como judeus procedem quando preparam sua comida. A diferença? Quando um rabino mata um animal desta forma, o alimento é kosher. Quando um sacerdote do Candomblé mata um animal desta forma, o alimento é um ato cruel, do demônio, perigoso, magia negra, para fazer o mal, perigoso e reprovável. Coerência mandou lembranças. O que acontece é que por sua história, o Candomblé cresceu marginalizado, associado a negros e pobres e isso fez que que paire sobre ele preconceito. Sem contar o belo trabalho de minar a concorrência que a igreja católica fez, com o marketing negativo do seu “rival”, convencendo a todos que era algo maligno, satânico, se valendo do fato do ser humano naturalmente já ter medo do desconhecido e do inexplicável. Mas, como nós somos seres pensantes, não precisamos engolir essa babaquice. Podemos tentar aprender mais sobre o assunto, estudar e ver que não é nada disso. Muito pelo contrário. Quem é satânico é quem encobre pedofilia ou quem manda que pessoas não usem camisinha mesmo com um vírus mortal sexualmente transmissível solto por aí. Reflitam.

Voltando ao sacrifício de animais: o animal que está sendo morto alimenta seres humanos, só porque quando ele morre tem uns fulanos cantando, ou declamando ou qualquer outro ritual isso não vira uma monstruosidade. E puta que me pariu, como cozinham bem! Como é gostosa a comida preparada nesses rituais. Comida depende muito da energia de quem cozinha, isso até mesmo um oriental vai te confirmar (porque você acha que só existe sushiman?). E são pessoas que preparam tudo com o maior cuidado, amor e devoção. Fica uma delícia. Eu, pessoa problemática com comida por causa de um tumor no intestino que me deixou trocentas sequelas, comi DE TUDO e não passei mal, até mesmo coisas que notadamente sabia que me faziam mal. Então, abram suas cabeças. Desde que o mundo é mundo a igreja católica lança campanhas para demonizar o que a ameaça e foi justamente isso que fez com o Candomblé. Quando percebeu a força e a disposição dos escravos em manter suas tradições e percebeu que havia gente aderindo, tratou de espalhar muito bem espalhado que isso era coisa do demo. Pegou, pegou com tantas outras ignorância estilo “manga com leite faz mal” pegaram se forem repetidas várias vezes. Mas já passou da hora de acabar com essa palhaçada. Matar bicho que vai alimentar pessoas não é absurdo, absurdo é neguinho tomar chazinho alucinógeno e cometer homicídio. Estão batendo na religião errada! Matar bicho é feio mesmo se for para comer? E estuprar menininhos é o que? E tomar 10% do salário da pessoa é o que? Me poupem… Está na hora das pessoas começarem a pensar e formar seu juízo de valor com suas próprias cabeças em vez de engolir opiniões prontas.

E já que mergulhei de cabeça na opinião e no relato pessoal, vou falar um pouco mais da minha impressão. Longe de mim a pretensão de ser dona da verdade, vou apenas narrar o que eu senti. Ao entrar em um terreiro, se você não estiver influenciado pela propaganda negativa que outras religiões fazem, dá para sentir que energia é outra. Muito mais limpa, muito mais serena do que em uma igreja católica ou evangélica na minha opinião. As pessoas cooperam sem aquela hierarquia formal. São todos muito humanos, se ajudam, se respeitam. Não há promiscuidade, vulgaridade nem maldade. Apenas muita dedicação e trabalho duro. São pessoas que sabem que serão socialmente mal vistas por aquilo e ainda assim, sentem que o benefício é tamanho que pagam o preço de serem discriminadas. É uma forma de terapia muito saudável.

Os rituais que presenciei me tiraram qualquer dúvida que eu pudesse ter sobre eventual fingimento. Pode acontecer? Deve acontecer, afinal, tem estelionatário em todos os cantos. Mas tem gente que não está fingindo. Eu acredito necessariamente que seja o Orixá tal incorporando na pessoa? Não. Não sei explicar, pode ser que seja a pessoa sugestionada, em transe, ou pode ser que de fato seja o Orixá. Eu não preciso de explicação, eu posso deixar essa questão em aberto. O que eu afirmo é: O QUE EU VI NÃO FOI FINGIMENTO. Ao som de músicas específicas para induzir esse “transe” tocadas no atabaque (existem músicas específicas para chamada cara Orixá) os Eleguns vão desfalecendo aos poucos e os Orixás vão “entrando”. O momento em que o Orixá se aproxima e incorpora no Elegum pode ser bastante violento de acordo com o Orixá. Eu vi pessoas fazendo movimentos corporais dos quais eu sabia que elas não eram capazes “de cara limpa”. Então, não fode. Ateísmo sim, burrice não. Tem alguma coisa aí, o que é eu não me atrevo a explicar porque nós seres humanos somos um cocô ignorante. Prefiro ter a maturidade de aprender a viver com questões em aberto a dizer que não acredito em nada mesmo vendo a coisa acontecer debaixo do meu nariz. O fato de não desacreditar por completo não me faz automaticamente acreditar em todo o pacote dessa religião.

E se apesar de tudo você não encontrou motivos para respeitar o Candomblé, eu vou apelar: uma religião que o catolicismo tentou sufocar durante séculos e sobreviveu, uma religião que faz evangélico se cagar nas calças de medo, uma religião que exige pra caralho dos seus adeptos e mesmo assim bomba, uma religião que mesmo marginalizada e discriminada ao extremo sobrevive forte deve trazer algo de bom a quem a pratica, não é mesmo? Conheço pessoas cultas, educadas, esclarecidas que são adeptas do Candomblé. Para mim, adeptos do Candomblé já ganham meu respeito por terem essa coragem de mergulhar de cabeça em uma religião que é tão detonada por todos. Adoro os excluídos, os demonizados. Em uma sociedade CAGADA como a nossa, onde gente lê “Cinquenta tons de cinza”, vota no Tiririca e assiste novela da Globo, é um puta mérito ser exceção, se destacar da massa. Sem contar que ultimamente meu critério para selecionar o que eu respeito tem sido por exclusão: se evangélico gosta eu quero distância, se evangélico abomina deve ser bom. Sim, eu cheguei a esse ponto de asco de evangélico.

Se você quer saber um pouco mais sobre Candomblé mas não tem tempo para ler o livro que eu recomendei no começo do texto (são quase 300 páginas e são páginas enormes), te recomendo “Ogum, o rei de muitas faces e outras histórias dos Orixás” (Lídia Chaib e Elizabeth Rodrigues), que é um livro escrito para apresentar o Candomblé para crianças. Muito simples e didático. Tem um guia dizendo as principais características de cada Orixá, o que ele “gosta” e o que “não gosta” (humanização para fins didáticos) e histórias sobre seu passado. Uma curiosidade: Orixás tem uma espécie de “alergia espiritual” chamada “quizila” ou “ewó”. Algo que não podem entrar em contato pois lhes faz muito mal, física e espiritualmente. Os filhos de Iansã tem quizila com lagartixas, por exemplo. Da próxima vez que alguém ridicularizar seu medo de lagartixa, não diga que é medo, diga que Iansã tem quizila de lagartixa: a pessoa vai se cagar de medo e não te ridiculariza mais.

RESPEITEM O CANDOMBLÉ E SEUS ADEPTOS, eles merecem muito mais respeito do que uns e outros de hipócritas que se dizem religiosos mas nem ao menos seguem os preceitos de sua religião e se acham superiores. Eu respeito. Eu admiro. Eu tiro meu chapéu e me ressinto de ter sido criada em um lar ateu, coisa que não me permite mergulhar de cabeça no Candomblé e me beneficiar de todo o bem estar que ele gera a seus adeptos, sem aquela alienação e emburrecimento que as religiões tradicionais costumam gerar.

Eu queria falar mais, muito mais: principais terreiros, principais mães de santo, detalhes dos rituais, arquétipos de cada Orixá e muitas, MUITAS outras coisas, mas já ultrapassei em duas páginas o meu limite e vou ter que parar por aqui. Mas podemos continuar a conversa nos comentários. Ao Candomblé e a seus sacerdotes, meu respeito, minha admiração e minha boa vontade em sempre prestar ajuda naquilo que estiver ao meu alcance e que minha ignorância não impedir. Cada um contribuí com o que pode. Espero que depois deste texto ao menos uma pessoa perceba a palhaçada que é a demonização do Candomblé. Pensem com suas próprias cabeças em vez de abraçar conceitos prontos.

Ah sim… já ia esquecendo: Eparrei Oya!

Para tentar me desmerecer dizendo que eu sou “macumbeira” como se isso fosse ofensa, para vir fazer um discurso preconceituoso e burro demonizando o Candomblé e levar o maior fora que você já levou na vida ou ainda para perguntar ao Somir como foi que ele deixou esta postagem acontecer: sally@desfavor.com

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