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Des Contos: [confidencial]

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Arquivo 0923-001-C | Nível 5

Classe: Cinza B.

Conteúdo: Arquivo digital de áudio com o conteúdo de 1 (uma) fita cassete gravada (supostamente) em 12/09/1992 por [confidencial] no Centro de Pesquisa [confidencial]. Original destruído por ordem de [confidencial]. O relatório pericial pode ser encontrado no arquivo 0923-001-C/P0012 (Nível 7).

Descrição: Conversas entre [confidencial], funcionário do Centro de Pesquisa [confidencial] e o elemento “João Henrique Carvalho”, apelidado de “J.H.” nas gravações.

Status: Coleção Incompleta | Não disputado | Fechado

Transcrição da fita:

J.H.: Ok… não sei quanto tempo vamos ter dessa vez. Está gravando?

TÉCNICO: Sim, comece dizendo seu nome e de onde você está falando.

J.H.: Meu nome é João Henrique Carvalho e embora eu não saiba muito bem onde estou, tenho certeza que não estou no planeta Terra.

TÉCNICO: Algum ponto de referência reconhecível?

J.H.: Não que eu tenha visto. Importante! Diga para meu irmão que eu estou vivo e bem… Faz o que quiser com essas informações, mas manda uma cópia dessa fita para ele, por favor!

TÉCNICO: Ok, J.H., pode contar o que me contou na transmissão passada. De preferência desde o começo.

J.H.: Certo… Eu lembro de estar fazendo o caminho entre [confidencial] e [confidencial], finalzinho da madrugada, deviam ser umas cinco, cinco e pouco… Estava dirigindo, a estrada bem vazia. Foi quando eu percebi uma luz vinda de cima. Na hora eu até achei que já estava amanhecendo. Só que a luz foi ficando mais forte, mais forte…

Juro que a próxima coisa que eu consigo lembrar é de estar deitado, pelado, dentro de um tubo que parecia feito de vidro. Fora uma iluminação amarelada fraquinha vinda de trás da minha cabeça, não dava para ver mais muita coisa. Era muito apertado para se mexer, mas eu confesso que mal tentei… estava meio dopado. Braços e pernas pareciam pesar uma tonelada, e fora isso, eu não estava me sentindo mal. Não estava gelado ou desconfortável.

Não sei se passou um minuto ou uma hora comigo nesse estado, mas eu lembro claramente de ver algo muito estranho… Estava vendo pouco por causa da iluminação, mas deu para perceber que de repente tudo ficou mais… difícil explicar… mais comprido. Foi meio que um flash, mas por um segundo parecia que o meu pé estava a quilômetros de distância da minha cabeça. Eu apaguei de novo logo depois disso.

Quando eu recobrei a consciência de novo, ainda estava me sentindo meio grogue, estava difícil abrir os olhos por causa de uma luz muito forte apontada direto para a minha cara. Olhando um pouco de lado eu percebi que não estava sozinho ali, via alguns vultos me circundando. Minha visão estava bem embaçada, e aquela maldita luz não estava ajudando…

Bom, tentei mexer os braços e as pernas, mas eles pareciam presos. Fui ficando nervoso, o meu corpo começou a responder melhor… Fui fazendo força para me soltar, comecei a me debater e até tentei gritar, mas a voz mal saía… Aliás, verdade… eu praticamente não escutava barulho algum. Eles quase não fazem barulho…

TÉCNICO: J.H., mantém as coisas na ordem que facilita a documentação.

J.H.: Ah, tá bom. Bom, como eu ia dizendo, tentei gritar algumas vezes até que a voz saiu. Soltei um berro, nada com nada, sabe? Só um berro de desespero. Os vultos começaram a se mexer muito mais rápido, até que um chegou bem perto e colocou uma espécie de máscara em mim. Sabe aquelas de inalação? Começou a bater um sono incontrolável. Nesse meio tempo deu para ver um, meio borrado, mas bem melhor do que antes. Ele tinha uma cabeça bem grande, era meio cor de pele, mas mais acinzentado. Bom, seja lá o que colocaram lá, eu dormi.

E quando eu acordei de novo, não estava mais amarrado. Mas continuava pelado… Estava deitado em cima de um colchonete ou algo parecido… No meio de um sala quadrada com paredes brancas. O chão parecia meio metálico, mas não era frio. Não era muito grande, no máximo uns três metros de ponta a ponta. Logo que eu acordei eu fiquei sentado no chão, posição fetal, ainda bem assustado. Sei lá, acho que por uma hora ou mais…

Foi quando apareceu um símbolo na parede branca. Apareceu, do nada. Era uma seta vermelha apontando para o chão. Olhei para aquela direção e em questão de segundos apareceu uma abertura na parede e deslizou um prato com umas frutas. Não vi mão nenhuma empurrando, só entrou. Quando começou a fechar a abertura, eu resolvi me mexer… ainda meio sem graça por estar pelado. Comecei a me levantar e tentei fazer algum contato.

Mas minha voz não saía. Era muito estranho, eu sentia que estava falando normalmente, mas não fazia som. Andei em direção das frutas, com uma mão na frente e outra atrás… tentei bater na parede, que por sinal parecia ser feita de vidro. Mas quase não fazia barulho… eu escutava só umas pancadas abafadas dos meus próprios punhos e mais nada.

Só sei que eu fiquei naquela sala pelo o que pareceu uma eternidade. Aquele silêncio maldito, algumas frutas que eu não tive coragem de comer e minha bunda de fora. Nessa altura do campeonato eu já desconfiava do que estava acontecendo, mas ainda parecia loucura demais para ser verdade. Uma hora eu desisti de fazer barulho e chamar atenção, resolvi deitar no colchonete e esperar. Acabei caindo no sono…

Quando acordei de novo, o prato não estava mais lá. Passaram-se alguns minutos e a seta apareceu de novo. Mais um prato com frutas. A fome já estava pesada demais para ficar desconfiado. Não me arrependi não, estava uma delícia! Melhor maçã, banana e mamão que eu comi na minha vida. Sério, era perfeito! Tanto que quando apareceu a seta de novo, eu estava até animado… Só que dessa vez veio só uma banana e uns trecos estranhos. Aliás, estranhos nada… a gente reconhece ração quando vê ração. Fiquei puto! Joguei aquela porcaria na parede, pela falta de palavrões para usar sem a minha voz.

Bom, para encurtar… devo ter passado uma semana naquela sala. No terceiro dia eu já estava encarando a ração. Não era muito boa, mas matava a fome. Não ia mencionar por achar meio demais, mas já que você é cientista, melhor falar: Quando eu tinha vontade de me aliviar, fazia no canto da sala. Depois que eu terminava, abria um buraco no chão e limpava tudo num passe de mágica. Nem cheiro ficava…

Já estava pirando ali, tentando falar sozinho e perdendo a vergonha de fazer qualquer coisa. Às vezes ficava rolando no chão, de um lado para o outro, fingia que estava jogando bola… Coisa de maluco, sabe? Não sei se isso motivou o que aconteceu depois, mas no dia que eu estava mais doido aconteceu algo….

Uma das paredes começou a ficar transparente. E de outro lado… Do outro lado uma das mulheres mais lindas que eu já vi na minha vida, dentro de uma sala parecida com a minha. Em bom português… uma gostosa do caralho! Hmm… melhor editar essa parte fora depois… Bom, era uma morena alta, peituda, cinturinha fina, bundona… Perfeita, sabe? Totalmente nua! Fiquei tão embasbacado com aquela mulher que o reflexo de ficar com vergonha até atrasou um pouco. Botei as mãos na frente dos… documentos.

Só que ela não. Ela me olhou de cima a baixo… Vale dizer que eu não sou lá grandes coisas. Magrelo, sem postura, narigão… Olha, não é nem falsa modéstia, eu sou feio. Até minha ex-namorada dizia isso. Então… ela me olhou… me olhou… cara de curiosa mesmo. Eu fui ficando sem graça. Mas de repente ela parou, fez uma cara de desdém e foi indo em direção a parede oposta. Uma espécie de porta se abriu e ela saiu.

Fiquei sem entender nada. Quer dizer, nada além de que ela não gostou muito do que viu. Só que quando abriu aquela porta para ela, eu pude ver de relance que ela estava saindo para um lugar iluminado com grama e árvores. Isso diminuiu o impacto quando no dia seguinte todas as paredes ficaram transparentes…

Eu estava no meio de uma área verde, e ao redor da minha sala, mais umas vinte ou trinta pessoas. Pessoas mesmo… Aquela morena era uma delas. Todo mundo pelado feito eu, mas isso não me deixou menos desinibido… Todo mundo… TODO MUNDO parecia modelo! Homens e mulheres de todas as raças, elas todas deliciosas, eles todos… simpáticos… ah, porra, vou ser honesto: Eram os homens mais bonitos que eu tinha visto na minha vida. Não gosto de homem, mas tem que saber reconhecer, né? Todos altos, inclusive as mulheres. Tinha umas duas grávidas, uma com um barrigão de quem está quase dando a luz.

Eu estava olhando para eles, mas eles pareciam não estar olhando para mim. Quando percebi isso, fiz algo do qual não me orgulho quando uma delas, japonesa, se abaixou para colher umas flores bem na minha frente. Já estava me sentindo meio bicho mesmo.

Isso aconteceu por mais uma semana. Fiquei nessa de voyeur o tempo todo. Só que um dia eu estava… me aliviando… quando todos eles olharam para mim, ao mesmo tempo. Se vergonha matasse… Um dos homens apontou para mim e deu para perceber que começou a rir, mesmo não ouvindo nada de onde estava. Os outros também começaram a rir. Fiquei roxo, puxei o colchonete para cima de mim e fiquei escondido no canto. A parede ficou branca de novo. E eu fiquei feliz por ela não ficar transparente mais durante aquele dia, aliás, estava torcendo para nunca mais ficar.

Só que no dia seguinte, aconteceu algo pior. Ela ficou transparente, e uma porta se abriu. Todos se voltaram para mim, novamente. Alguns risos das mulheres, algumas olhadas feias dos homens. Vacilei por alguns minutos, mas finalmente tomei coragem de sair. Foi uma delícia pisar em grama, tem coisa que você só valoriza depois de ficar sem, né? O lugar era bonito, tinha umas redes amarradas nas árvores, várias delas carregadas de frutas. Ninguém sequer se aproximou de mim no começo, parecia que eu era radioativo. Se eu levantasse a cabeça para tentar qualquer contato visual, os homens fechavam a cara e faziam sinais ameaçadores.

Quando eu finalmente tentei me aproximar daquela morena, dois deles, um ruivo e um negão, correram na minha direção e começaram a me encher de porrada. Nunca que eu conseguiria brigar de volta, os caras eram tanques! Curioso que ninguém fazia barulho. Um flash de luz cegou minha visão e eu estava de volta a minha sala. Não estava com dor, mas estava com as marcas de ter apanhado.

Bom, depois daquele dia eu nunca mais vi os outros. Uma pena, porque não é demais reforçar como aquelas mulheres eram bonitas… apanhava de novo só para poder ver mais delas. Quer dizer, eu cheguei a ver a morena mais uma vez, pela parede da minha sala. Abriu até uma porta, mas ela me olhou de cima a baixo de novo e se encolheu no canto da sala dela. Tentei me aproximar, mas ela fez uma cara de brava… A porta fechou antes de eu tentar alguma coisa a mais.

Mas desde o dia que eu apanhei daqueles dois, as coisas mudaram. Minha sala ficou BEM maior, o colchonete virou uma cama bem confortável, tem uma área com grama e plantas… até uma árvore! Ainda como um pouco de ração, mas colocam muitas comidas diferentes, boas mesmo. Não parece muito com comida normal, mas a gente se acostuma fácil. Estou até encorpando de tão bem que eu como!

Há uns dois dias, as paredes da minha sala ficaram transparentes, mas o que estava lá fora não eram outras pessoas. Eram… aliens? Não sei direito, mas tinham aquela cabeçona e pele meio acinzentada do que vi quando cheguei. Alguns grandes, outros menores… devem ser crianças. Eles são diferentes da gente, mas não chega a assustar não. Me acostumei rápido.

Toda vez que fica transparente, parece que tem mais deles me olhando. Eles parecem adorar quando eu aceno ou faço alguma besteira como pular ou rolar…

TÉCNICO: J. H., Estamos ficando sem espaço para gravar. Diga como você está se comunicando com a gente.

J.H.: Estava comendo uma espécie de doce que sempre me dão durante as tardes quando senti minha cabeça ficando mais leve. Só lembro de acordar sentado numa cadeira numa sala diferente. Na minha frente estava essa… geringonça… eu comecei a mexer em alguns símbolos estranhos flutuando por sobre essa máquina e te encontrei. Aliás, só percebi que minha voz tinha voltado depois de tentar te responder.

TÉCNICO: J.H., você pode descrever essa máquina?

J.H.: Ela fica sobre uma mesa, é tipo um computador, mas parece totalmente holográfico. Aliás, agora que você perguntou, tem umas letras das nossas embaixo de um símbolo. Parece um logo… As letras são [confidencial]…

TÉCNICO: [confidencial]

J.H.: Isso! Você sabe o que é?

TÉCNICO: J.H., eu preciso cancelar essa transmissão agora.

J.H.: Não … (inaudível)

Fim da transcrição.

Para [confidencial], para [confidencial], ou mesmo para [confidencial]: somir@desfavor.com

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