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Desfavor Explica: Bomba atômica.

| Somir | | 23 comentários em Desfavor Explica: Bomba atômica.

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Faz tempo que eu não escrevia uma dessas… Mesmo com o (predito) esfriamento das tensões nucleares vindas da Coreia do Norte, as armas nucleares são um tema excelente seja qual for o momento. Poucas coisas nessa trajetória humana de descobertas científicas são ao mesmo tão brilhantes e estúpidas como uma bomba atômica. Diferentemente dos comentários, o texto de hoje vai bombar!

NO CENTRO DE TUDO

Não posso começar o assunto sem falar da energia nuclear, afinal, sem essa força incrível “escondida” dentro de todos os átomos, nada disso seria possível. De forma simples e objetiva, a força nuclear é a que mantém o núcleo do átomo unido (energia… nuclear… oras!). E quando eu digo unido, bota unido nisso! Considerando que átomos são basicamente “espaço vazio”, o que não falta é lugar para onde escapar. Se este ponto “.” fosse o núcleo de um átomo, os elétrons estariam girando mais ou menos a uns 50 metros de distância!

A força que segura o núcleo unido é a mais forte de todas. Precisa de um evento GRANDE para separar suas partes. E quando isso acontece, a energia liberada é gigantesca. Uma reação nuclear libera milhões de vezes mais energia que uma reação química (como a da gasolina). Não é à toa que tanto se corre atrás da produção de energia a partir dessa fonte. E como eu não sou ecochato ou detesto tecnologia, acho o máximo que tentem “domá-la”, custe o que custar.

Mas não nos atentemos a opiniões (corretas, mas opiniões mesmo assim), estou expondo informações: As duas formas de conseguir essa energia são a fissão e a fusão. Se você entende de semântica, já sacou a diferença, mas eu vou garantir mesmo assim: Fissão é separar o núcleo do átomo, fusão é juntar núcleos.

Como a natureza é sábia, usa primariamente a forma mais eficiente e “lucrativa” de produzir energia nuclear: A fusão. Esse é o processo que faz funcionar as estrelas, que combinam elementos simples como hidrogênio e hélio em outros mais complexos, liberando mais energia do que gasta para executar o processo. Não, não hackearam o sistema: Estrelas gastam seu combustível até acabar esse processo de liberação de energia.

Nota: É por isso que dizem que somos poeira de estrelas. Sem elas a natureza não tem a menor necessidade de trabalhar com elementos mais complexos que hidrogênio e hélio. E se dependêssemos só desses dois, não estaríamos aqui. Tudo mais “pesado” do que isso FOI feito numa estrela e acabou caindo por esses lados.

Do outro lado, temos a fissão. Ela até acontece naturalmente, mas é BEM mais rara. Existem poucos relatos de fissão espontânea, e basicamente apenas resultado de depósitos naturais de urânio encontrando condições “perfeitas” por puro acaso. E falando em urânio… vamos falar de urânio… (isso não deu muito certo).

INSTÁVEL

O urânio é um elemento problemático por natureza. É um amontoado de partículas fundamentais pesado e instável… Pense no urânio como um glutão que acaba de comer sozinho toda a comida do rodízio de uma churrascaria, bebendo alguns litros de cerveja e vinho barato no processo. Está na cara que não vai prestar.

Existem elementos ainda mais inchados na Tabela Periódica, mas entre os que se encontra na natureza, só o plutônio consegue ser mais gordo safado. A vantagem do urânio para a produção de energia (e bomba) nuclear é que ele faz a fissão naturalmente. Basta criar as condições certas e ele vomita para tudo quanto é lado.

E essa porca analogia com vômito é minha forma de explicar a radioatividade. Alguns elementos simplesmente não aguentam tanto “recheio”. O urânio é levemente radioativo em todas as formas que se encontra naturalmente, e vamos entender que “levemente” não é uma palavra bacana para se usar quando radioatividade se encontra com seres vivos como nós.

A vantagem é que na natureza sua concentração é muito baixa, até porque é um saco até mesmo para o Universo produzir muito dele. A coisa engrossa quando se junta muito dele num mesmo lugar. Por questões de saúde (a única coisa que Marie Curie não deveria servir como exemplo para as mulheres) e também, por questões “críticas”.

O urânio pode entrar numa reação em cadeia de fissão até mesmo em condições normais de temperatura e pressão. Evidente que não é comparável a uma bomba, porque é uma linha bem fina de potencial de destruição e ele rapidamente fica estável de novo. O nome desse momento onde o urânio resolve se separar e começa a emitir MUITA energia se chama “massa crítica”. Um monte de coisas pode influenciar no processo: temperatura, pressão, forma, peso… Muita gente já morreu em experimentos por causa da dose cavalar de radiação que o urânio libera sem aviso prévio.

Bônus: Quando falam de urânio enriquecido ou parcialmente enriquecido, estão falando da proporção entre urânio 238 (o mais bundão) e o 235 ou 233 (os mais ignorantes) na composição de um amontoado do material. De uma forma tosca: quanto menor o número no nome do urânio, mais propenso a entrar em massa crítica ele está. Os para usinas de energia normalmente tem entre 2 e 5% de concentração das variantes mais poderosas. Os de bombas podem chegar até a 85%.

Só que a brilhante curiosidade humana aliada à estupidez da guerra criou uma forma de gerar esse momento de massa crítica praticamente sem controle… O que nós conhecemos como bomba atômica.

COM FUSÃO

O Projeto Manhattan não é apenas uma parte da história de Watchmen. Foi a partir dos trabalhos dos cientistas envolvidos que se produziram as primeiras bombas atômicas. Bombas que logo depois foram jogadas nas cabeças de japoneses para fechar a Segunda Guerra Mundial com chave de urânio.

Apesar da complexidade, o conceito por trás da bomba atômica não poderia ser mais banal: Fazer o urânio alcançar massa crítica (como faz até sem intervenção humana). Fez isso? Bacana! A ideia básica está pronta. Falta só adicionar o potencial destrutivo ridiculamente desnecessário. As primeiras bombas atômicas se baseavam em fissão, o que é bem mortífero, mas não na escala esperada para quem quer dizimar populações e vitrificar o chão de cidades inteiras.

Por isso a ciência da bomba atômica avançou até conseguir incluir a fusão nuclear no processo. E como já tinha dito antes, a fusão é bem mais poderosa e eficiente. Como sem algo mais ou menos do tamanho do Sol não é prático começar uma reação de fusão “natural”, o truque das bombas modernas é usar a fissão do urânio para liberar energia suficiente para começar o processo mais poderoso.

E se você quer construir uma bomba dessas, sorria, é possível. Não é fácil, não é prático, a chance de você morrer no processo é gigantesca, mas… puta que pariu, é possível! O grande problema MESMO é conseguir os elementos necessários para a fissão e a fusão. Usa-se deutério e trítio tanto para iniciar a fissão como para alimentar a fusão. Os dois materiais são bem raros na natureza e costumam ser bem controlados.

Urânio, então… Sempre se vê o drama quando algum país compra o material. Mas suponhamos que você consiga deutério, trítio e urânio (ou plutônio, que também serve, caso seu fornecedor tenha em estoque no dia…). Aí basta pegar uma planta na internet, montar na ordem e ser o homem-bomba mais incrível da história!

De qualquer forma, o processo da explosão acontece em duas etapas: Primeiro uma explosão “tradicional” faz o urânio entrar em fissão. A energia absurda liberada é contida por uma cápsula anti-radiação até que o calor gerado transforme tudo em energia pura. Essa energia por sua vez causa a fusão do resto do combustível, e é a fusão que faz a coisa estourar de vez! Cada átomo que sofre a fusão libera energia suficiente para fazer o átomo ao lado se fundir também. Isso vai acontecendo em cadeia até que acabe o combustível.

E nessa brincadeira, a explosão central pode alcançar o potencial de MILHÕES de toneladas de dinamite. Sem contar a onda de choque e o efeito mais escroto de qualquer bomba atômica: A radiação. Ela pode avançar por muitos e muitos quilômetros, ser carregada por ventos e contaminar lençóis freáticos, fazendo Chernobyl parecer um peido radioativo em comparação. Claro, os efeitos não são tão duradouros como um reator vazando constantemente por décadas, mas bombas atômica matam em questão de horas ou dias gente que mal sentiu o calor da explosão inicial. É muita radiação.

Bônus: A maior bomba atômica já detonada se chamava Tsar Bomba, os soviéticos decidiram que seria uma ótima ideia produzir e detonar uma bomba mais de MIL vezes mais poderosa do que as que arrasaram Hiroshima e Nagasaki… juntas. 57 megatons! E olha que eles ainda deram uma “capada” nela, porque o projeto inicial previa 100 megatons. A explosão ocorreu numa ilha bem ao norte da Rússia, perto do círculo ártico. Foi tão apelativa que pode ser vista a mil quilômetros de distância e quebrou janelas na Finlândia!

Momento loser Universal: Mesmo assim, a Tsar Bomba emitiu menos de 1% da energia que o Sol emite em um segundo. Fusão ainda é coisa para os profissionais…

EXPLO… CONCLUSÃO

A bomba atômica é a peça de tecnologia que mais explica o ser humano. Sem querer me atrever demais a filosofadas (mas não resistindo), era quase que inevitável que um ser tão criativo e afeito a auto destruição concebesse algo assim. Armas que podem destruir a humanidade (porque o mundo vai cagar e andar mesmo se detonarmos todas) são de uma burrice e mesquinharia… brilhantes!

Digam o que quiserem, foram elas que acabaram com as grandes guerras no mundo… e são elas que garantem boa parte da incomum paz que a sociedade humana vivencia atualmente. Ao mesmo tempo que são uma das cagadas mais óbvias que qualquer civilização poderia conceber.

Fissão e fusão. A contradição gerando algo ainda maior. Por mim se chamaria bombas humanas…

Para dizer que gostou tanto do assunto que vai fazer a sua própria (se precisar de sugestão de alvos, só dizer), para dizer que eu fissionei seu interesse com as nerdices, ou mesmo para dizer que quer que as bombas se explodam: somir@desfavor.com

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