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Somir Surtado: Learn english.

| Somir | | 52 comentários em Somir Surtado: Learn english.

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Hoje acordei colonizado. Muito se fala sobre as benesses do aprendizado da língua inglesa para sua vida profissional, como se a língua de Shakespeare fosse mera ferramenta num mercado de trabalho cada vez mais exigente. Cidadão ou cidadã aprende mais ou menos, o suficiente para entender um eventual e-mail da matriz… e acha que já cobriu todas as vantagens de ter aprendido uma nova língua. Hoje em dia isso é se contentar com pouco… muito pouco.

O que eu vou escrever aqui vai formar espuma nas bocas dos comunistas de boutique que assolam esta terra, mas… Inglês fluente é a melhor base que existe para aumentar sua cultura. Nenhuma outra língua neste mundo te dá tantas oportunidades de aprendizado e entretenimento quanto a inglesa. Está mais do que na hora dessa nojentinha elite cultural tupiniquim aceitar que inglês não é só língua de futilidades e consumismo.

Há produção cultural de qualidade em virtualmente todas as línguas deste mundo, mas praticamente todas elas se traduzem muito bem em inglês. Evidente que existe uma vantagem de ler Machado de Assis em português e Nietzsche em alemão, muitas das sutilezas de línguas complexas como essas duas não funcionam perfeitamente em uma tão “prática” como a inglesa, mas por isso mesmo o material traduzido para inglês acaba tendo um ponto forte: Não dá para trocar uma sacada literária por outra tão fácil, tem que explicar “desenhando” muitas vezes.

Em línguas mais rebuscadas, os tradutores tem muita licença poética. Se isso por vezes consegue compensar o brilhantismo do original, também cria uma substituição que altera um pouco o conteúdo e os significados das palavras, frases e ideias da versão original. Não sei se chega a ser exatamente um elemento decisivo em prol do inglês, mas acho importante defender logo de cara que não existe um “emburrecimento obrigatório” de conteúdo original de outras línguas só porque a língua inglesa é um pouco mais literal. Compensa-se de outras formas.

Tem muita cultura de qualidade aguardando quem estiver disposto a domar o inglês na maioria de suas nuances e peculiaridades. A internet é responsável direta por essa explosão de relevância da língua, como as pessoas que falam inglês injetaram na rede boa parte do seu conteúdo atual, é de se esperar que o filé dessa produção intelectual humana disponível a um clique de distância esteja primariamente em inglês.

Honestamente: Você ainda não tem NOÇÃO do tamanho da internet se não conseguir ler inglês com naturalidade parecida com a que o faz na sua língua natal. Num exemplo simples, basta comparar o tamanho dos artigos da Wikipedia em português e inglês, a profundidade das informações e a tonelada de links a mais (exceção, é claro, para o conteúdo relevante apenas para um país ou língua).

Depender de tradução, legendas ou dublagem limita demais a quantidade de informações que você consegue absorver numa navegada qualquer. E eu não estou atirando no pé: Tem sim muita coisa interessante e bem feita em português, espanhol, francês e tantas outras línguas na rede, mas se for para comparar… Muito por isso eu fico incomodado quando tratam essa transformação do inglês em língua padrão da web como uma forma de colonização moderna. Não se trata apenas da língua natal de quem acessa, e sim da língua na qual a maior parte do conteúdo “substancioso” está.

Perdoem-me os puristas, mas tem mais história, cultura e conhecimento humano na internet do que fora dela atualmente. Recentemente um site independente chamado Internet Archive (que… pasmem, arquiva a internet) alcançou a marca de 10 petabytes de dados armazenados em seus servidores. Mais ou menos metade de toda a produção intelectual humana disponível… Para quem quiser acessar. Em apenas UM site. Não estou falando de postagens de Facebook, estou falando de manuais, livros e produção cultural com um padrão de qualidade mínimo em geral.

Qual vocês acham que a língua primária desse conteúdo? Não seria um problema se tudo estivesse em português, é uma língua tão boa (e em vários casos até melhor) quanto as outras. Mas o inglês chegou primeiro. Não é nem que a internet não gosta de outras línguas, é que boa parte do material está sendo divulgado e arquivado em inglês. Daria trabalho demais traduzir tudo para acomodar outras.

E olha que eu nem estou focando apenas em clássicos e conhecimento universal, estou falando também da grande produção de conteúdo específico e recente em língua inglesa. Desde manuais sobre linguagens de programação até shows de stand-up, tem MUITA coisa interessante pipocando diariamente na rede em inglês. E principalmente no caso de material original de países que falam essa língua, faz muita diferença entender significados, expressões e contextos.

O ideal seria aprender umas vinte línguas diferentes para mergulhar nessa orgia de informação que é o mundo moderno, mas se você tiver que concentrar esforços em apenas uma (além da sua natal), com certeza a mais recompensadora é a inglesa. Esse preconceito latino-americano contra o que vem do Tio Sam até tem suas raízes em escrotices que eles fizeram e fazem na sua sanha imperialista, mas é um exercício fútil de auto limitação intelectual.

Limitação que aumenta exponencialmente com o passar dos anos. Quanto mais tempo passa, mais material de qualidade é perdido por quem trata a língua inglesa como enfeite de currículo ou mesmo se recusa a aprendê-la. Não basta saber traduzir muitas palavras, tem que ficar fluente no MÍNIMO para ler. Fluência é ler em inglês direto, sem precisar ficar traduzindo mentalmente no meio do caminho. Se você ainda está preso nessa etapa, esforce-se para passar dela o mais rápido possível, porque você é um analfabeto funcional em inglês e vai aproveitar muito pouco desse imenso potencial de aprendizado.

Como muitos brasileiros parecem não dar a mínima para essa “qualificação intelectual da vida moderna”, não é incomum que estrangeiros (e não só os que nasceram onde se fala inglês) tenham grande preconceito contra quem se diz brasileiro na internet. Já bati nesse ponto inúmeras vezes, nem vou estender demais, mas o cerne da questão é que do ponto de vista deles, brasileiros parecem retardados. Normalmente não se comunicam de forma inteligível, e quando o fazem estão limitados por esse analfabetismo funcional do pouco domínio da língua inglesa. Reforça-se o estereótipo de macaquito.

Se não fosse tanta gente razoavelmente mais bem estudada perpetuando essa arrogância de que o brasileiro pode se virar muito bem apenas com a produção intelectual em português (do Brasil, porque quero ver ler “um parágrafo” do Saramago), talvez levasse-se mais a sério a NECESSIDADE de adicionar o inglês como língua fluente para as novas gerações. Esse protecionismo cultural só fere a liberdade de aprendizado das pessoas.

Esqueça a ideia de que indústria cultural “em inglês” é só hit musical de rádio e série de TV, é basicamente todo o conteúdo produzido no mundo, do mais chucro ao mais erudito, com tons e sensos de humor muito diferentes dos que se recebe apenas esperando material dublado. Vai depender de alguém achar um material lucrativo para o mercado brasileiro para consumir cultura? Evidente que vai vir muito mais porcaria do que qualidade, povão é povão em todos os cantos do mundo. O que vende mais por lá vem pra cá. Não é motivo para desdenhar da língua inglesa em geral.

Seria mais ou menos como um estrangeiro dizer que não vai aprender português porque não se interessa pelo o que estão dizendo num vídeo de funk qualquer. Nenhuma pessoa com mais de dois neurônios se interessa! Conteúdo fuleiro tem em todas as línguas. Jamais se paute por ele.

Deixemos os babacas do departamento pessoal das empresas se preocupar com a relevância da língua inglesa nas profissões. Aprender inglês vem com um ganho cultural imenso se você não resolver “enfiar dobrado” e só entender o básico. Aproveite essa oportunidade incrível da sociedade moderna… A era da informação está aí, talvez no seu auge, dando oportunidades de aperfeiçoamento intelectual e diversão (por que não?) para quem estiver disposto a correr atrás dela.

NADA vai te abrir tantas portas culturais quanto o domínio da língua inglesa. Manda um “fuck off!” para o próximo intelectualzinho que te disser que isso é coisa de colonizado e que a língua portuguesa é muito melhor. Estão usando verdades para contar uma mentira. É sim aceitar a colonização cultural, a língua portuguesa é sim belíssima, mas você não ganha porra nenhuma espezinhando o idioma mais útil nesses dias de internet.

E quando você finalmente entender o que pessoas brilhantes estão dizendo em inglês, vai perceber que há sim muita vida inteligente se comunicando dessa forma. E não adianta ficar só estudando gramática, te ajuda a parecer menos retardado falando e escrevendo, mas TEM que ler e ouvir muita coisa para descobrir como consumir esse monte de conteúdo faz diferença na vida sim. Desligue a legenda, escute o áudio original. Pesquise em inglês, leia sem tradução automática. Demora um pouco, mas funciona.

Não feche essa porta, ou você nunca vai entender porque fechar essa porta vai te limitar.

Para dizer que eu estou sendo pago pelos imperialistas, para dizer que otário sou eu que não sei baixar série dublada ou legendada, ou mesmo para dizer que a língua mais falada do mundo não é inglês (pense nisso com calma e perceba por que não é um argumento contra o ponto do meu texto): somir@desfavor.com

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