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Ele disse, ela disse: Englichi.

| Desfavor | | 30 comentários em Ele disse, ela disse: Englichi.

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Num mundo tão conectado, encontramos cada vez mais palavras estrangeiras misturadas à nossa comunicação diária. Sendo uma das línguas mais faladas no mundo, o inglês contribui com várias delas. Sally e Somir acham natural usar algumas palavras em inglês, mas na hora de pronunciá-las, suas opiniões soam muito diferente.

Tema de hoje: Para palavras em inglês do dia-a-dia, pronúncia correta em inglês ou abrasileirando?

SOMIR

Pronúncia correta. Por mais esnobe e/ou pedante que pareça. O erro alheio não pode ser desculpa automática para o próprio erro. Ou você se preocupa com o que está dizendo, ou você entra na vala comum de falar qualquer coisa e depender dos outros para ser entendido. Quem já leu outros textos meu sobre o assunto sabe muito bem que eu estou sendo coerente aqui.

Pode-se argumentar que ninguém tem obrigação de saber a pronúncia de uma palavra estrangeira. E com isso eu concordo. Não é feio não saber pronunciar uma palavra em inglês… Ei, não diria que é feio por definição mesmo não saber pronunciar uma em português. Pode ser mera limitação de quem não teve acesso a educação de mais qualidade (ou qualquer educação formal).

Não saber pronunciar é um argumento válido. Não QUERER pronunciar são outros quinhentos. É como saber a pronúncia correta de “problema” e continuar falando “pobrema” porque acha mais fácil. Inglês não é nossa língua natal (pelo menos para a maioria de nós), mas passa longe de ser trava língua. Se estivéssemos falando de alemão, grego, polonês, russo… A tara deles por encontros consonantais realmente exige um esforço extra de quem aprendeu a falar em português.

Mas, inglês? Sabendo que as vogais soam diferente (êi, i, ái, ôu, iú) e que é para “encaipirar” os erres, sobre pouca coisa realmente desafiadora na pronúncia. E com tanta influência de uma indústria cultural que adora a língua inglesa, difícil dizer que os sons são alienígenas, até mesmo para os brasileiros mais pobres.

E se você vai trabalhar com a ideia de que as pessoas acabam entendendo, é porque lida com pouca gente que sabe pronunciar. É difícil depreender o que uma pessoa está dizendo em outra língua se ela pronuncia errado. Eu vivo me confundindo com gente falando palavras em inglês do jeito que dá na telha delas. Pronúncia tem regra por um motivo: Para que outros entendam o que você está dizendo.

Abrasileirar nem sempre facilita o reconhecimento da palavra. Na verdade, cria OUTRA palavra, que tem que ser transformada de volta para a língua original dela, traduzida para a sua língua e só aí compreendida. Acham esnobe falar inglês com pronúncia certa? Então acham esnobe falar as coisas da forma mais simples. Se a expressão é estrangeira, ela entrou para o léxico popular no seu idioma original, oras! O abrasileiramento vem naturalmente pelo uso contínuo, não pela escolha de uma ou outra pessoa. Se vier um estrangeiro aqui dizer que a partir de hoje pronunciaremos “medalhão” como “medaliáo”, vocês achariam justo? Línguas são acordos tácitos (eu sei, eu sei… liberdade poética) entre povos inteiros. Não é escolha pessoal.

Se a pronúncia da palavra é uma, que se tenha um ótimo motivo para mudá-la. Ou tem regra, ou não tem. Vamos começar a cólócár ácéntôs ém cãdá vógál só pórquê déu nã télhã? É festa? Coisa de índio isso. Se sabe como falar, fale direito. Disso depende toda a comunicação humana.

E bacana como só cagam pronúncia de palavras mais incomuns… Já viu alguém pronunciar “you” como “iou” na vida real? E “love”? Acham um acento no “o” e esquecem o “e” do final por quê? Perguntas retóricas, já que quase todo mundo sabe como essas palavras devem soar e você paga de burro se fizer errado. Muito cômodo escolher quando vai pronunciar errado para não passar vergonha, não? Ter um padrão e saber o que está pronunciando não é ser esnobe.

Esnobe mesmo é entrar no time de Caetanos Velosos e Carlinhos Browns da vida, que acham lindo abrasileirar palavras que ninguém mais abrasileira só para aparecer e fazer pose. Como se mudar o som de uma palavra estrangeira fosse uma demonstração valorosa de resistência à influência da cultura estrangeira! Sugiro que você quebre a pronúncia de palavras em inglês vestindo uma camiseta do Che Guevara e fumando um baseado, para aumentar o efeito de rebeldia inútil contra o sistema.

Ah, e eu SEI que essa vai aparecer: Vão dizer que estrangeiro caga e anda para a pronúncia de nossas palavras. Isso é um mito que eu não aguento mais ler e ouvir por aí… Quem fala português fala uma das línguas mais complexas do mundo, inclusive foneticamente. Tem vários fonemas que são verdadeiros pesadelos para quem não cresceu ouvindo e tentando imitar. Ão, lha-lhe-lhi-lho-lhu e nha-nhe-nhi-nho-nhu? Não é brincadeira emitir esses sons de primeira.

Usemos o futebol como exemplo: Durante um tempo, o mundo todo estava doido por causa do Ronaldinho (o dentuço, não o travequeiro), ele tinha fãs fervorosos pelo mundo todo, gente que pegava a bandeira brasileira e vestia como se fosse sua (sim, a humanidade faz essas merdas). E nem mesmo esses estrangeiros, fãs doidos dele, conseguiam falar a porra do “inho” no final do seu nome. Era Ronaldino ou Ronaldiio, não saía mesmo o certo. Orgulhe-se: Você fala uma das línguas complicadas desse mundo.

Inglês é suficientemente simples nesse sentido para ser bem pronunciado na maior parte do mundo, português é meio que nem polonês: Uma coisa que só sai bonita mesmo com muito treino. O estrangeiro caga para o português da mesma forma que você caga para o russo. Não tem nada a ver com orgulho nacional ou desdém pelo Brasil, é dificuldade genuína de pronunciar. Quando um estrangeiro aprende a falar “caralho”, ele quase sempre se esbalda com a palavra… é uma conquista!

Se você sabe pronunciar uma palavra em inglês, não seja arrogante: Pronuncie. E claro, com bom senso… FBI não precisa virar Éf Bi Ái. Nem delete “delít”. Siglas e palavras que já existem nos dicionários da língua portuguesa é exagero.

Até porque abrasileirar palavras joga contra o aprendizado da língua inglesa. Enquanto você não entender a palavra mentalmente sem precisar traduzir, vai continuar apanhando. E eu já deixei claro por aqui o que acho sobre entender inglês.

Bônus:A resposta está no enunciado… pronúncia CORRETA. Sem mais.

Para dizer que eu sou colonizado, para dizer que fala como quiser e ninguém tem “haver” com isso, ou mesmo para me mandar à shit: somir@desfavor.com

SALLY

Como pronunciar as palavras em inglês no dia a dia: pronúncia correta em inglês ou abrasileirando?

Naquilo em que é possível abrasileirar sem que a palavra se torne incompreensível, sou favorável a abrasileirar. Um exemplo: quando eu falo do seriado Grey´s Anatomy, não uso o R americano e sim o R brasileiro. O mesmo quando cito o filme “Gremlins”, a pronúncia do GR é brasileira. Claro que eu não sou a favor de atrocidades, como foi o caso de um infeliz que queria me convencer que a pronúncia correte do filme “O Hobbit” era “o ROBÍTI”. Abrasileirar sim, estuprar uma palavra estrangeira não. Convenhamos, quem aqui pronuncia “The Beatles” com a pronúncia correta? Não preciso provar a ninguém que sei falar inglês. Alias, periga das pessoas nem entenderem o que você quer dizer se você pronunciar todas as palavras estrangeiras da forma correta.

Não vejo porque precisamos pronunciar a palavra exatamente como se pronuncia em outro idioma. Muitos sons e fonemas de outros idiomas simplesmente não existem no português (nada mais trágico que brasileiro dizendo “traje rojo”), não faz sentido ter a pretensão de querer pronunciar a palavra com se diz em outro país. Eles mesmos não fazem isso conosco. Vai nos EUA ou em qualquer país de língua inglesa e veja como eles pronunciam nomes de comidas ou marcas brasileiras!

Para quem não sabe, uma boa parte do nosso vocabulário vem de palavras abrasileiradas na marra. Por exemplo, o nome da letra W (“dáblio”) vem do abrasileiramento da pronúncia da letra em inglês: double u (pronuncia-se “dâbou iu”). Ou seja, nada de novo em abrasileirar pronúncia, está, inclusive, institucionalizado. É esnobe e desnecessário ficar pronunciando um nome em inglês como um americano o faria. O que importa é ser entendido nas suas falas.

Para você que pensou por um segundo em dar razão à Madame aqui de cima, pense bem para não correr o risco de ser hipócrita. Será mesmo que você não abrasilera palavras? Como você pronuncia Ralph Lauren? Para o Somir, que tem sotaque do interiorrrr é fácil falar o primeiro R como um americano, mas se você não fala porrrta, porrrrtão e porrrrteira, aposto que se sentiria ridículo e diz Ralph como quem diz Rato. O próprio The, que precede nomes famosos como “The Beatles” e “The Doors”, vai dizer que você pronuncia da forma correta? Provavelmente você fala “Dê” Beatles, como a maior parte das pessoas normais. E “Banana Republic”, vai dizer que você pronuncia “Beneeeena” como se faz nos EUA? E Facebook, você fala como tem que falar ou manda o clássico “Fêicibuqui” mesmo?

Por uma questão de coerência, quem prega a pronúncia exata de palavras em inglês deve ter a mesma preocupação em pronunciar qualquer palavra estrangeira da forma em que ela é pronunciada em seu país de origem. Isso implicaria em pronunciar corretamente “Christian Louboutin”, por exemplo (antes que me perguntem: http://www.youtube.com/watch?v=mANpM4kKwUw). Palavras árabes, alemãs e até mesmo russas deveriam ter sua fonética cuidadosamente estudada e corretamente pronunciada. Ou é apenas puxação de saco com a fonética inglesa? Com o resto do mundo pode abrasileirar?

A pronúncia tem que ser perfeita quando você está falando inglês, quando está falando em português, apenas citando uma palavra estrangeira, não vejo problema em abrasileirar, sempre lembrando que abrasileirar não é deixar palavra irreconhecível. Você está mencionando uma palavra estrangeiro no seu idioma, isso nem de longe de coloca na obrigação de usar a pronúncia originária. Não acho vergonha ignorar o S mudo de Starbuks e colocar um I na frente. Não acho errado nem humilhante dizer ALIEN em vez de pronunciar “Eilien”.

Aliás, porque tanta preocupação com a língua inglesa e quando chega na hora de falar espanhol não há qualquer acanhamento em dizer barbaridades como “Cueca-Cuela” e coisas do tipo? Porque o espanhol pode ser sucessivamente estuprado e o inglês deve ser minunciosamente considerado? Saber pronunciar inglês correto é mais status do que saber pronunciar palavras de outros idiomas da forma correta? Porque na minha concepção, quem é preciosista o é como um todo, não apenas em determinado idioma.

E convenhamos, a maior parte das pessoas não SABE pronunciar determinados sons de idiomas estrangeiros. Quando aquele fonema não existe no seu idioma, é extremamente difícil, quase impossível, pronunciá-lo bem. Acho mais digno admitir a limitação e falar na humildade, no abrasileiramento do que em um inglês mal falado. Não é questão de esforço, algumas pessoas simplesmente jamais conseguirão pronunciar determinados fonemas. Pegue um argentino e mande-o dizer “Cair no PÔÇO não PÓSSO” e observe ele repetir “cair no PÓÇO naum PÓSSO”. Não tem como mandar uma pessoa que não consegue executar determinada pronúncia fazê-lo, independe da sua vontade.

Acho até que fica feio e esnobe utilizar a pronúncia do país de origem quando a palavra está inserida em um contexto em português, é quase como colocar um nome inglês em uma criança com sobrenome tipicamente brasileiro: Michael Jackson da Silva, John Kennedy Moreira e por aí vai. Não parece compatível.

Babaquice ficar enfiando uma palavra com pronúncia estrangeira tal como se fala em outro país no meio de uma frase em português. Não o faço nem mesmo com palavras em espanhol, que é meu primeiro idioma e recomendo que você não faça: pode passar uma imagem meio arrogante.

Para comentar as atrocidades de pronúncias envolvendo marcas famosas, para dizer que é arrogante ou ainda para mandar um “who cares?” mal pronunciado: sally@desfavor.com

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