Desfavor Convidado: No Terreiro.
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O Somir se reserva ao direito de implicar com os textos e não publicá-los. Sally promete interceder por vocês.
Série Jornalismo Literário: No Terreiro.
Aos que ainda não sabem, eu sou jornalista e sempre tive um certo respeito pelo jornalismo Gonzo. O Gonzo é um estilo que mistura realidade com ficção e foi criado por Hunter S. Thompson ao ser contratado para escrever uma reportagem sobre uma corrida no deserto. Ao invés disso, ele ficou em Las Vegas e gastou todo o dinheiro que o jornal havia lhe dado em bebidas e drogas, além de ter fugido do hotel onde havia se hospedado após fazer uma enorme dívida. No final das contas, o que ele entregou ao jornal foi uma série de impressões pessoais desses dias malucos que passou na esbórnia e claro que o negócio foi um sucesso, tanto que pode ser visto até em filme (Medo e Delírio Direção: Terry Gilliam – 1998).
Pois bem, sempre que possível, eu realizarei reportagens com esse estilo mais pessoal e literário. Não chegarei aos extremos de Hunter, mas tomarei certas liberdades que beiram a ética jornalística para contar uma história sobre algum fato que pesquisarei. Para tanto, farei uma produção digna de jornalismo com pesquisas, entrevistas e tudo mais.
Um dos preceitos do jornalismo Gonzo é realizar entrevistas sem a necessidade da pessoa saber que está sendo entrevistada, mas isso pode acarretar em problemas judiciais. Nesses casos manterei o bom senso de preservar as fontes, divulgando apenas as iniciais de seus nomes ou criarei nomes fictícios. Quando o assunto não for polêmico ou quando minhas opiniões não forem agressivas o suficiente para gerar desconforto nos entrevistados, manterei seus nomes reais.
Caso alguém se interesse em conhecer mais sobre esse estilo, recomendo a revista Piauí, o site da Vice, as reportagens-quadrinhos de Joe Sacco ou as histórias escritas por Hunter que podem ser facilmente encontradas na internet. Boa leitura e vamos ao texto de hoje.
I
Sempre me interessei em pesquisar religiões, mas algumas me agradavam mais que outras, sendo que duas delas sempre me despertaram um interesse mais forte: o budismo e o espiritismo. De todas as religiões que pesquisei, essas duas foram as mais maleáveis com relação aos pensamentos de seus seguidores. Tanto que elas não se consideram como religião, mas sim como doutrinas espirituais para atingir níveis mais altos da existência.
Durante minhas pesquisas sobre o espiritismo, acabei me deparando com a Umbanda, uma religião jovem que nasceu em Niterói no RJ. Porém, sempre que eu resolvia visitar um terreiro, algo errado acabava acontecendo e isso me impedia de conhecer a religião. Comecei a pensar que isso era um aviso divino de que aquilo não era para mim, mas teimoso que sou continuei a busca mesmo assim.
Até que belo dia, pesquisando sobre a Umbanda, descobri que havia um terreiro a duas quadras da onde eu trabalho e que os trabalhos eram feitos às sextas-feiras a partir das 8 da noite. Eis que me surpreendo ao olhar para o calendário e perceber que aquele dia era sexta-feira. Não tive dúvida, fiquei no trabalho até mais tarde e fui conhecer o terreiro, que fica na Rua Meciaçu em um bairro de Campinas chamado Vila Ipê.
Caminhei por ruas escuras, mas encontrei o local com certa facilidade, já que podia ouvir os batuques de longe. Ao entrar, fui recebido com um sorriso pela Dona Sueli Galerani, que é a mãe do terreiro. Ela me perguntou se era minha primeira vez ali e ao responder que sim, ela me deu um ficha com senha para falar com um cacique quando meu número fosse chamado. Estranhei, pois não via nenhum indígena por ali, mas enfim.
Aguardei os trabalhos começarem e depois fiquei rodando o pequeno salão, que deve caber no máximo umas quarenta pessoas. Pequeno, porém acolhedor, pois perguntando para as pessoas que frequentavam ali há mais tempo, descobri que o terreiro havia nascido nos fundos da casa de Dona Sueli. Porém, o número de atendimentos foi aumentando e ela precisou ir para um lugar maior, encontrando ali o lugar ideal para o propósito da Umbanda.
Durante meus rodeios pelo lugar enquanto não chamavam meu número, por coincidência reencontrei uma antiga colega de trabalho, que conheci no meu primeiro emprego na área de jornalismo. Conversamos por um tempo e ela me explicou que era a segunda vez que estava indo lá, por indicação de um cinegrafista que havia aliviado suas dores graças às orações da casa. Enquanto isso, as pessoas lá na frente se contorciam e faziam barulhos estranhos, já que estavam incorporando os espíritos que iriam fazer o trabalho do dia.
Na casa funciona assim, os médiuns ficam separados por uma corrente e é dentro dela que ocorrem as orações iniciais e toda a parte de preparação dos trabalhos. Do outro lado da corrente, ficam as pessoas que aguardam pacientemente serem chamadas pelo seus números de ficha. Ao entrar na corrente, a pessoa deve pedir permissão e estar descalça para simbolizar respeito por aquele local sagrado. Quando chamaram meu número, juro que procurei o tal cacique novamente, mas fui levado até a Dona Sueli.
Nesse primeiro contato, me mantive o mais cético possível, pois não consegui acreditar que meia dúzia de batuques e cantoria seriam o suficiente para trazer espíritos incorporados. Ao questionar o cacique sobre isso, ele só me respondeu: “Você acredita em reencarnação?”. Respondi que não, então ele (ou ela) me olhou e retrucou: “Por que?”. “Não consigo acreditar que um mesmo espírito retorne várias vezes pra essa merda de mundo. Se o objetivo é evolução, mesmo a pessoa mais atrasada espiritualmente só passa aqui uma única vez e segue em frente”.
O cacique me olhou com mais interesse e me perguntou se já havia lido “O livro dos espíritos” de Allan Kardec, respondi que não (mas já havia lido, fiz isso apenas como teste para ver se ele percebia a minha mentira, mas não percebeu). Após isso ele me contou a história de Tupã: “Na minha tribo, Tupã é o Deus do trovão que com a ajuda de Jaci desce à Terra. Quando chega aqui, ele começa a criar os seres vivos, as florestas e coloca as estrelas uma a uma lá no céu. Tupã então criou a humanidade a partir de estátuas de argila e deu vida a elas com seu sopro divino. Depois disso foi embora, deixando o homem conviver com os espíritos do bem e do mal. Você é como um desses homens de argila, que vive no mundo rodeado de gente boa e de gente ruim , que chega aqui sem saber o quer e ainda duvida do que é ensinado aqui nessa casa, mas logo vai aprender que o caminho de Tupã é o único verdadeiro e certo”.
Ao final da consulta, ele me abraçou e nos despedimos cordialmente. Esperei minha colega ser atendida e fomos embora juntos. Ao caminharmos até o ponto de ônibus, expressei minha indignação com esse primeiro contato com a Umbanda, já que eu esperava uma espécie de espetáculo paranormal com espíritos fazendo poltergeist, lendo mentes e mostrando poderes que nós reles mortais não possuímos. Hoje sei que essa foi uma das maiores besteiras que já pensei na vida, mas até então eu era um reles ignorante na religião umbandista.
Mesmo assim, esqueci o assunto e pensei que nunca mais colocaria os pés novamente naquele terreiro. Um outro erro, já que dali algumas semanas um problema de saúde de minha afilhada de casamento mudaria para sempre minha forma de pensar sobre a fé, a justiça divina e até mesmo uma possível conversão umbandista.
Por enquanto a história acaba aqui, pois um bom jornalista literário nunca entrega toda a história de uma vez, já que é preciso deixar aquele gostinho de esperar pelo próximo capítulo. Sendo assim, além das coisas ocultistas que costumo escrever para o blog, sempre que possível enviarei também essas reportagens com impressões pessoais. Apesar de minha intenção ser o mais verídico possível, colocarei sim pitadas de ficção nessas histórias, então espero que tenham gostado e aguardem o próximo texto.
Paz Profunda a todos.
Chester Chenson
Nascida e criada no “catolicismo praticante”, sempre procurando o sentido desse Deus que ficava mandando seus filhos criados a sua imagem e semelhança pro céu ou pro inferno; o sentido desse pai que permitia tanto sofrimento no mundo, sem nunca encontrar resposta convincente – e quem procura sofre na busca – acabei concluindo com muitas muitas muitas lágrimas, baseada na ciência, a inexistência da religião que prega o catolicismo e no embalo entraram todas as outras mais de 1000 teorias religiosas, seus deuses e adeptos engraçados que cultuam o que lhes trazem vantagens, principalmente quando estão no fundo do poço.
Conclui que os deuses foram criados para aparar as arestas do homem, tirar de suas costas a responsabilidade dos seus atos, permitir que ele erre muito e sempre pois depois era só ir contar a alguém que transmite ao Big Boss que o perdoava.
Toda teoria religiosa tem uma pessoa que age como condutor que bisbilhota aqui e vai fofocar nas orelhas do Big Boss que passa a borracha e joga sob o tapete crimes de todas as espécies contra tudo e contra todos, e o autor do crime/pecado/má ação pode por a cabeça no travesseiro e dormir como criança bem alimentada e cheia de saúde.
Pera lá, e o céu e o inferno? Foi perdoado, peste? Agora pode continuar a fazer as suas cagadas homéricas e continua o seu ciclo pernicioso?
Nada feito. Não cola mais.
A partir de então, creio na ciência, na força dos elementos da natureza, na ética que enobrece, e, que o que ocorre entre a vida e a morte é definido apenas pelas nossas escolhas, entre elas está ser responsável pelos meus próprios atos, cada má escolha é uma lição para o resto da vida. Tropeçar na primeira pedra tudo bem, tropeçar nela de novo tem que comprar um par de óculos e não arrumar uma seita religiosa para seguir, porque a pedra continuará lá, cabe a mim desviar dela.
Agnóstica desde então comecei a ser mais feliz, não fazia mais perguntas nem para mim nem para ninguém,
Passei a aceitar a vida como ela é, sem espernear com curiosidade daquilo que ninguém jamais terá resposta.
Adoro as postagens do Chester! Acompanhei o Desmagia negra todinho e fiquei na espera de novos textos…tá aí mais um :D
fico feliz por isso, já que um longo projeto está sendo arquitetado e já foi brevemente discutido com o somir… creio que nas próximas semanas poderei revelar mais sobre este projeto…..
um abraço
Ficarei esperando ansiosamente! Abraços
Isso é fraude?
http://www1.folha.uol.com.br/bbc/2013/09/1349553-a-historia-do-milagre-que-convenceu-igreja-a-canonizar-joao-paulo-2.shtml
Não, não. É real. Deus se preocupou em salvar uma Nobody na FUCKIN´ COSTA RICA enquanto deixa centenas de crianças morrerem por dia de fome e violência. Não é maravilhoso esse Deus? Ele brinca de loteria humana e sorteia um aqui, outro ali para salvar… Misericordiosão!
Quando eu era espírita, tirei o que me interessava apenas. Fim da picada os espíritas acreditarem que sou viado porque em outras vidas pintei o caneco e agora tenho que penar para pagar minhas dívidas espirituais. afff!! Onde que o fato de eu gostar de homens é sinal de desordem espieitual? Atualmente estou na Umbanda, mas só vou ao terreiro em gira de exus, para falar com as Pombo Giras com as quais me identifico. Na primeira vez que conversei com uma, não apenas senti paz como também encontrei esperança e orientação para áreas da minha vida que não desatam. Não sei como ela sabia de fatos de minha infancia que guardo bem fundo em mim e não eram fatos genéricos não! Não apenas falou dos fatos, como me deu ajuda para buscar a solução. Muito diferente daquela imagem demoníaca ou sem evolução que tanto os espíritas quanto outras denominações religiosas insistem em propagar.
a orientação sexual é um lance que nenhuma religião ainda conseguiu respeitar 100%… existem algumas que aceitam mais…. outras que aceitam menos, mas 100%? nenhuma!
isso é uma pena, pois elas sempre falam sobre o amor puro e simples… o AMOR verdadeiro independe de sexo, cor de pele e vai além da humanidade…. o verdadeiro amor é pela criação divina e não por suas criaturas…. sendo assim, a homossexualidade faz parte da natureza, mesmo que a sociedade ainda não consiga aceitar isso…
um abraço
Chester, já cogitou visitar João de Deus e terapias psicológicas alternativas (espíritas)?
sim, inclusive já participei de terapias com os médicos do espaço (na linha de Bezerra de Menezes, Dr Fritz, etc.)… vi muita gente sendo curada por esses métodos, mas os próprios espíritas admitem que 90% do lance é convencer a mente da pessoa querer ser curada….
eles admitem também que a técnica deve ser acompanhada por médicos terrenos especialistas, curando assim o corpo e a alma daquele mal…
claro que em casos extremos eles largam mão de explicações sem pé nem cabeça para casos incuráveis, como “isso é um problema cármico” ou coisa que o valha…
isso é uma besteira…. o ser humano ainda não conhece todos os mistérios da vida, mas com pesquisa séria um dias esses problemas poderão ser resolvidos pela ciência…
a ciência é essencial para uma resposta quase que definitiva sobre um assunto, sendo que as religiões deveriam servir apenas para aliviar as amarguras psicológicas que todos nós sentimos sobre nossa existência…
um grande abraço
O único espírita que conheço é o meu cardiologista, mas ele não tem nada de metido. Uma vez perguntei pra ele se ele vê espíritos ou baixa entidades, ele falou que não é medium. Nem todo espírita se diz médium.
Já fui uma vez numa reunião de umbanda e achei que fosse ter show de baixa santo, mas foi até bem tranquilo.
O pessoal da umbanda é bacana, eu curto. Não curto o elitismo dos espíritas, que são “macumbeiros mais branquinhos”
Sally negona macumbeira
Quero cotas!
a maior parte dos espíritas que eu conheci eram pessoas sensatas, mas existem idiotas em todos os lugares e em todas religiões…. já fui em igrejas evangélicas que eram bem compreensivas e em lojas maçônicas que possuíam diversos preconceitos disfarçados…. o ideal é encontrar um lugar que te faça bem, que eleve sua auto estima e que te ajude a respeitar o próximo, mas isso até um psicólogo ou um grupo de auto ajuda podem fazer…
enfim, o importante é evitar os preconceitos e testar as diversas opções por si mesmo…
um abraço
Sou católico praticante mas sou completamente aberto a todas as idéias religiosas, mesmo as mais estapafúrdias. Não tento doutrinar ninguém, mas também não me deixo doutrinar para aderir a outras idéias que não aquelas às que me liguei e nas quais acredito (aliás, aderi ao catolicismo beeeeem velhoco na vida!): a maior prova é eu ter me tornado um visitante renitente do Desfavor, um dos lugares internéticos mais ateus que eu já vi na vida, sempre com ótimo humor e metendo o dedão sempre na ferida, onde os mais fanatiquinhos dão seus faniquitos (e quem disse que padres são santos? Longe disso, pra 90% deles, mas isso merece um texto!). E também não me incomodo quando a Sally ou o Somir desancam (qualquer) religião. Cada um pensa como quer, caramba! Se algo me deixa particularmente chateado, paro de ler e pronto! Afinal, EU que vim aqui, não é? Fico pau da vida quando aparecem os malucos/fanáticos/pirados tentado dar lição de moral, chamar “pro lado claro da vida” e o caralho a quatro!
Achei o máximo o texto do meu (aparente) conterrâneo (Campinas tá dominando geral aqui, eheh!). Vou aguardar o próximo capítulo!
Taí uma prova de fé: uma pessoa que não se dói com críticas à sua religião. Se a pessoa é segura e convicta, ela consegue conviver numa boa com críticas.
valeu Charles…. o pessoal do Desfavor está permitindo que meus ambiciosos projetos sejam publicados, mas vale lembrar que de domingo qualquer pessoa pode enviar seu texto para o Desfavor Convidado….
um grande abraço
Se eu tivesse que escolher uma religiao, iria cambar pro espiritismo ou pra umbanda. Crente e catolico, eca!
Eu acho espiritismo tão ruim quanto. Estimula a que as pessoas se fodam caladas e sem reclamar porque quanto mais você toma no cu melhor, pois mais resgata “karmas” do passado. O conceito de se foder hoje por algo que fez em uma vida passada e nem lembra é absurdamente injusto para mim. Sem contar que espíritas se acham super especiais, iluminados. Para mim não passa de gente carente com um pé na esquizofrenia que acha que tem mediunidade.
achei a umbanda um meio termo entre o candomblé, o espiritismo e o catolicismo…. é uma religião afro pintada de branco, mas pelo menos eles (aparentemente) conseguem reconhecer as falhas da própria religião, coisa que as outras não fazem e é o que mais me deixa com o pé atrás….
não existe religião perfeita, pois elas foram criadas pelo homem… a unica religião verdadeira é aquela que segue o seu coração para o bem e nada mais…
Você achou pintada de branco? Eu achava tão black… eu achava que os Kardecistas “Mesa Branca” eram os branquinhos!
o kardecismo é oficialmente branco, já que foi inventado pela elite européia…..
a umbanda é como um negro pintado de branco, já que juntou influências do candomblé com o catolicismo…
claro que esse sincretismo foi natural, mas todos os orixás são negros, em contrapartida de seus referentes católicos, que são todos brancos….
porém, isso não significa que exista preconceito racial na umbanda, sendo apenas um ponto de vista pessoal sobre as referencias de partida da religião…
um abraço
Tem um texto muito bom sobre a Umbanda que se chama “Entre a cruz e a encruzilhada”, retratando os dilemas de se tentar um sincretismo entre o Kardecismo e o Candomblé. Você consegue baixar no Google acadêmico.
obrigado pela dica!