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Ele disse, ela disse: Fala, desfavor!

| Desfavor | | 64 comentários em Ele disse, ela disse: Fala, desfavor!

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Semana Egocêntrica: Nesta semana só o desfavor interessa. Cinco anos com certeza rendem muito assunto. E se não gostar da ideia, até semana que vem!

O desfavor é feito de textos e comentários. Um processo de troca refinado por anos de discussões nem sempre agradáveis. Falamos muito, ouvimos muito. Sally e Somir entendem o valor disso, mas discordam sobre o que realmente faz a diferença no desenvolvimento tanto desta nação como deles mesmos. Os impopulares leem o texto e depois escrevem suas impressões.

Tema de hoje: O que mais te somou no desfavor: escrever ou ler?

SOMIR

Escrever. Ler as respostas que tivemos para os nossos textos, as conversas que se desenvolvem por aqui, os elogios e as críticas… tudo muito importante. Mas nada disso aqui seria possível se escrever nossas ideias não fosse o cerne da questão desde o começo do desfavor.

Não é de hoje que eu reclamo de gente mais interessada no som da própria voz do que qualquer outra coisa; já escrevi vários textos com essa proposta de valorizar o ato de ler e ouvir. Ei, eu já escrevi mais de um texto pedindo (com a educação que me é peculiar) para vocês escreverem menos bobagens nos comentários! Só que em todos esses casos eu me referia especificamente à verborragia compulsiva, a vontade de se expressar só por se expressar.

Escrever os textos do desfavor demanda um processo intelectual muito útil: o de pegar uma ideia flutuando na cabeça e desenvolvê-la o suficiente para ser compreensível para outro ser humano (mesmo que às vezes eu falhe nessa etapa). E melhor, com uma razoável responsabilidade pelo o que diz. Se escrever merda, o público que selecionamos à ferro e fogo nesse tempo todo vai acabar acusando mais cedo ou mais tarde. Não tem uma empresa com fins lucrativos para me cobrar no final de dia, mas ainda sim é uma saudável e bem-vinda pressão por resultados.

O desenvolver do texto já me ajudou a formar opiniões completamente opostas a da ideia inicial alguns parágrafos adentro. Aliás, várias das minhas famosas furadas aconteceram assim. Eu já mudei de opinião no meio de um texto por perceber incoerências! O processo de concatenar seus conhecimentos e opiniões num texto com pelo menos alguma obrigação de coerência é um ótimo exercício para o cérebro e por consequência para o que você pensa e acredita.

Para quem não costuma escrever ou falar em detalhes sobre suas ideias, eu recomendo MUITO adquirir o hábito. Existem muitas surpresas nesse caminho tortuoso entre a forma que o nosso cérebro organiza as ideias e a forma como elas aparecem quando se tenta comunicá-las para outras pessoas. Não tenho a menor vergonha de dizer que já perdi a conta das vezes que sabia o que queria falar mas não tinha a menor ideia do que gerava a opinião na minha cabeça. Estava lá, mas só fazia sentido depois de ir para o papel (ou tela). Ninguém aqui foi mais influenciado pelos meus textos do que eu mesmo. Basta desenvolver uma ideia que todas as relacionadas começam a se encaixar no quadro geral das coisas.

Esses cinco anos de desfavor ensinaram-me que ideias são seres vivos, precisam nascer e se desenvolver fora do “útero” da nossa mente. Algumas deles já nascem mortas, outras sofrem antes de encontrar esse destino cruel… Muitas crescem e ganham o mundo. Mas enquanto elas não estiverem aqui fora, você nunca vai saber. Ler é importante, mas escrever é o que te soma de verdade.

Não só para quem tem a “obrigação” de escrever todas as semanas e encarar o escrutínio de visitantes, mas também para quem assume uma posição mais reativa e pode escolher suas batalhas com mais tranquilidade. Os comentários nos somam porque vocês os escrevem, alguns com mais desenvoltura e eloquência, mas de toda a forma o importante é que aquela ideia não nos foi negada.

Cidadão pode ler o que bem entender e nunca desenvolver algo nem parecido com pensamento crítico. Ler não é garantia de nada, e não estou falando só de analfabetismo funcional dos brasileiros médios que de tempos em tempos nos infestam, estou falando de adquirir informação sem a intenção de utilizá-la. Grandes merdas ler nossas quatro páginas habituais mais uma centena de comentários se tudo o que o foi absorvido vai ficar em suspensão na sua cabeça junto com o que você comeu no almoço e as notícias do dia.

O comentário ou texto que você leu soma como referência de mente alheia, o comentário que você escreveu é sua maior chance de entender melhor as coisas. Mesmo que seja pela sua ótica, que aliás, é a única que você tem e vai ter enquanto estiver vivo. Não fosse pelos textos que escrevo, não seria capaz de apreciar de verdade quando um de vocês escreve algo interessante ou surpreendente (para mim).

Não sei se isso é mais óbvio que eu estou imaginando, mas acho muito importante dizer: você vai se surpreender com o que realmente pensa sobre as coisas se colocar isso no papel. Falo por experiência própria, cinco anos de vida não são suficientes para explicar a evolução incrível que eu percebi na minha visão de mundo desde que o desfavor começou. Escrever fez diferença, muita diferença.

E não, eu não tinha isso claro na minha cabeça antes de escrever o parágrafo anterior. Com certeza estava lá, mas precisei digitar para entender o tamanho dessa mudança. Aliás, ontem mesmo eu estava lendo os meus primeiros textos aqui e percebendo algumas diferenças consideráveis de estilo, abordagem e opiniões. Ficou flutuando sem destino na cabeça até agora. Ler é importante, escrever que é fundamental.

O que me leva a seguinte frase: Obrigado, impopulares. Obrigado não só por lerem o que eu escrevo, mas obrigado por eu escrever.

Não, eu não bati a cabeça e nem estou morrendo. Provavelmente vou editar fora o parágrafo anterior daqui uma semana e negar que isso aconteceu.

Para dizer que em minha homenagem nem leu o texto, para reclamar que o tema é confuso demais, ou mesmo para dizer que vai tirar print do texto (vou dizer que é PhotoCHOQUE): somir@desfavor.com

SALLY

O que mais somou nesses cinco anos de Desfavor: escrever ou ler? Ler, sem dúvidas. Escrever não me acrescenta nada, eu apenas passo para o computador algo que eu já sabia. Ler não, ler a opinião de vocês é uma novidade, um acréscimo, uma troca, na maior parte das vezes, muito enriquecedora. Acredito que o mesmo valha para os leitores: enriquece muito mais ler diversas opiniões do que dar a sua.

A razão de ser disso aqui é criar um espaço onde as pessoas possam dizer o que pensam. Aqui o leitor não precisa aderir ao lado A ou B, nessa polarização bizarra, ele pode dizer o que realmente pensa, mesmo que alguns pensamentos sejam do lado A e outro do lado B.

Não importa, quem está aqui pode dizer o que pensa. E esse é o grande diferencial: nosso leitor não precisa fazer tipo, ceder à hipocrisia social e nem ao menos se identificar. O foco não é quem ou o que você é e sim o que você PENSA. Pode ser gari, pode ser empresario, pode ser dona de casa ou pode ser mendigo: o importante é o que você pensa. Em um lugar onde o importante é o pensamento, sem dúvida alguma, a parte mais enriquecedora está justamente na variedade de opiniões.

Uma coisa que eu sempre repeti aqui e vou continuar repetindo: o forte do Desfavor não são os textos, é a discussão nos comentários. Na maior parte dos textos os comentários são muito mais interessantes e enriquecedores. Debates paralelos, troca de informações, troca de opiniões, piadas e informações confidenciais permeiam nossos comentários. É um tesouro escondido, que muitas vezes passa despercebido para quem acaba de chegar. É o cantinho onde cada um de nós tem a certeza de exercer seu sagrado direito de expressão e se reunir com pessoas que igualmente o farão. É a mesa de bar da era da internet.

É o refúgio contra a patrulha de opinião, que te obriga a aderir a pacotes preexistentes: você pode, ao mesmo tempo, ser a  favor do aborto e contra legalização das drogas ou ser contra o aborto e a favor da legalização das drogas. Não tem cartilha. E é a oportunidade de encontrar centenas de pessoas que tem a mesma filosofia de vida que você sem precisar ficar peneirando socialmente. Tem bem maior do que isso?

Muitas vezes o que um leitor fala em cinco linhas em um comentário ajuda muito mais a outro leitor do que aquilo que a gente gastou quatro páginas escrevendo. Muitas vezes todos nós chegamos a uma conclusão juntos, depois de muito argumentar, que nenhum de nós conseguiria chegar em separado. Essa troca não tem preço, é ela que acrescenta, é ela que realiza nossa “musculação cerebral” diária.

Sinceramente, eu não vislumbro como seria possível, sem o Desfavor, reunir tantas pessoas com uma cabeça tão parecida: pessoas que não querem o preto no branco, o nós x eles, a rivalidade política tipo Fla x Flu. Somos poucos, ao menos no Brasil, seria quase que inviável que nos encontrássemos ao vivo e a cores e formássemos um grupo tão coeso e comprometido que se comunica regularmente. Esse espaço dos comentários é nosso ponto de encontro diário é um tesouro, isso vale muito mais do que a opinião pura do Somir ou minha sobre algo. Isso vale muito mais do que a gente pode supor. Vale tanto que arrisco dizer que todos nós só sentiremos esse real valor se um dia este espaço por algum motivo se perder. Mas não se preocupem, no que depender da gente, ficaremos aqui por muito tempo.

Você consegue lembrar de algum outro blog onde um grupo seleto e pequeno de leitores batam ponto por anos debatendo e trocando ideias sobre os mais diversos assuntos? Porque é muito fácil reunir gente por tema: “pessoas que gostam de cães da raça Labrador”, “mulheres que gostam de maquiagem”, “pessoas que gostam de carro”. Difícil é reunir pessoas por MENTALIDADE, e puta merda, não sei como, mas a gente conseguiu isso aqui. O Impopular debate sobre hemorroidas, sobre política internacional, sobre chocolate ou sobre primeiros socorros. Não é o assunto que nos une, é a afinidade mental. Não somos padronizados, somos um balaio de gatos que temos apenas uma coisa em comum: valores parecidos. E justamente por sermos tão diferentes em outros aspectos, os comentários ficam tão ricos, pois mostram os mais diversos pontos de vista, as mais diversas realidades.

Como eu poderia ser tão egocêntrica de achar que o melhor disso aqui sou EU e minhas opiniões unilaterais se conseguimos esse ponto de encontro totalmente diferente do padrão de blogs no geral, onde pessoas com opiniões diferentes mas linhas de pensamento iguais coexistem rotineiramente? Mais: tem um clima familiar aqui, algo bem humano, difícil de se encontrar nos dias de hoje. Como somos poucos e somos sempre os mesmos, um se preocupa com o outro, quando um some todos perguntam se a pessoa está bem, quando um demonstra qualquer tipo de dificuldade outros se prontificam a ajudar. Tem leitor aqui muito mais amigo do que muito amigo que se diz meu amigo olho no olho. Se um dia você passar por um perrengue e quiser de alguma forma pedir ajuda nos nossos comentários ou por e-mail, pode ter a certeza que vai aparecer gente disposta a ajudar. Vocês são a família que nós escolhemos. Não é em qualquer lugar que se acha isso. Além da troca de informações, tem também troca de afeto.

Você conhece outro lugar onde se precisar, obtêm parecer de um profissional de graça, apenas porque pediu? Aqui tem. Somos uma rede de apoio, nos ajudamos.  Nossos dois leitores engenheiros explicam tudo com carinho para a gente quando prédio desaba, nosso leitor historiador responde a perguntas, nossos três leitores médicos esclarecem dúvidas e tantos outros que não teria espaço suficiente para citar.

Somos uma típica família: eventualmente discordamos e até discutimos, mas quando um dos nossos precisa, todo mundo se une. Com a vantagem de que não temos que almoçar juntos aos domingos. Não consigo ver nada mais importante do que isso. Um texto meu poderia estar em uma revista, em um jornal ou em um panfleto de rua, mas esse vínculo que criamos, essa troca nos comentários, não poderia ser conseguida de nenhuma outra forma.

Então, acho que posso afirmar com convicção que é muito mais gratificante o que estou vivenciando aqui no Desfavor do que qualquer rede social, onde aparece um monte de gente randômica e sem afinidade para discutir com você . Escrever por escrever, para desabafar, para tentar fazer minha parte por mais reflexão, eu posso fazer em qualquer lugar. Mas encontrar meus amigos queridos e conversar sobre os mais diversos assuntos, só aqui. Sim, nós nos conhecemos muito bem sem nos conhecer. É estranho, mas é isso.

Grandes merda texto meu! Texto qualquer pessoa minimamente alfabetizada faz! Mas este espaço de troca que criamos, isso sim é difícil de conseguir. Nós abrimos as portas cinco anos atrás, vocês migraram das nossas comunidades do Orkut e ficaram. Essa reunião de pessoas que compartilham o amor pelo conhecimento, a diversidade de pensamento e uma rede de apoio é o que temos de mais precioso. Lamento muito por quem não consegue se dar conta disso.

Para dizer que só agora tem a real dimensão do quanto é valioso este espaço, para dizer que somos cada vez menos pois muitos estão entrando no nós x eles ou ainda para dizer que só passa aqui pelos conselhos e que não nutre qualquer afeto por mim: sally@desfavor.com

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