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Ele disse, ela disse: Torcendo o nariz.

| Desfavor | | 46 comentários em Ele disse, ela disse: Torcendo o nariz.

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O ser humano em geral não é lá flor que se cheire. Principalmente quando as bactérias começam a se acumular e emanar seus odores característicos. Sally e Somir tapam o nariz e discutem mais uma vez o pior dos piores. Os impopulares ficam livres para empestear o ambiente…

Tema de hoje: O que é pior de aturar, gente com bafo ruim ou com cheiro forte de transpiração?

SOMIR

Bafo. Bafo podre não só é um cheiro mais desagradável como um potencializador de neuroses sociais. Atenção ao enunciado: A questão aqui é sobre o que mais incomoda em outras pessoas. É a sua reação ao cheiro pestilento alheio e toda aquela incômoda parte de interagir com quem está emanando aquela arma química…

Cecê passa longe de ser agradável, mas é difícil bater o sistema digestivo humano quando o assunto é ofender as narinas alheias. Pense em três cheiros horríveis vindos de um ser humano… Grandes chances de você ter nomeado pelo menos dois oriundos de lá. Cheiro de merda e cheiro de vômito são dois dos maiores assaltos ao nosso olfato possíveis. Pudera: digestão é um serviço que nosso corpo terceiriza para as bactérias. E bactérias estão cagando para o cheiro que produzem…

Os casos mais graves de mal hálito estão relacionados com mandar os gases produzidos pelas bactérias pelo “buraco errado”. Tem gente que tem bafo de merda, literalmente. Entre ter que sentir o cheiro de um sovaco e o de um cu, qual você prefere? E mesmo os casos mais leves, aqueles onde falta de higiene tem o papel mais decisivo… ainda sim é mais tenso que cheiro de sovaco! O lugar onde essas bactérias se juntam para “peidar” define muito sobre a gravidade do fedor. Se veio do começo, do meio ou do fim do sistema digestivo, pode apostar que o cheiro vem turbinado.

Até porque a natureza gosta de deixar algumas lições tatuadas nos nossos instintos. Cheiros “digestivos” nos repelem mais porque existem perigos para nossa saúde se não soubermos manter uma distância razoável desses subprodutos de nossa alimentação. Doenças andam de mãos dadas com esse tipo de cheiro… Agora, axila fedida? Seu nariz vai te dizer que é ruim por obrigação social, mas seu cérebro não vai ligar nenhum alarme primal por causa disso.

O grau de repulsa é bem diferente entre os exemplos deste texto. E é aí que o elemento social começa a pesar… Lidar com uma pessoa basicamente peidando na sua cara é extremamente mais complexo do que aquele cheiro azedo típico do sovaco. Se você não pode demonstrar nojo na hora, vai ser uma experiência desgastante encarar o baforento. Seu cérebro berrando “SAI DAQUI!” e sua cara tentando manter a pose? Desagradável em outro nível!

E as situações onde a pessoa baforenta interage com você tendem a ser bem mais íntimas e carregadas de minúcias do trato social cotidiano. O sovaquento normalmente invade os seus sentidos em situações onde o clima está um pouco mais “livre”. Gente que está visivelmente suada por praticar exercícios, esportes ou mesmo a que acaba de sair do trabalho… Mesmo que isso não deixe o cheiro mais aprazível, com certeza aumenta sua mobilidade para escapar dele. Ou mesmo te dá mais liberdade de avisar a pessoa!

Tem uma diferença brutal entre confrontar uma pessoa com um bafo horrível e uma com cheiro de suor. O bafo pode ser uma condição médica, algo que realmente fode com as interações sociais e a autoconfiança de uma pessoa. A pessoa suada está a um banho de distância de resolver suas objeções… Claro que tem gente com odor corporal bem mais acentuado que o habitual, mas normalmente elas percebem o problema e dão seu jeito de amenizá-lo.

A pessoa com bafo pode nem saber disso! Ainda mais se for um bafo transitório. Muito difícil reconhecer se está falando na língua dos urubus. Baforar na mão e cheirar só parece te confundir mais ainda. E quando você está encarando alguém com esse problema, começa todo aquele processo de decisão sob pressão entre contar ou não que o cheiro está te incomodando… Por um lado pode te livrar da provação momentânea, mas por outro pode chatear ou irritar quem está ouvindo.

A não ser que você seja uma metralhadora sincericida, isso gera um clima bem mais incômodo para a interação. E novamente, não podemos esquecer que a interação é essencial ao ponto deste texto: A pessoa com bafo que não fala com você não entra realmente na categoria de “gente que se atura”. Evidente que estamos falando exclusivamente sobre relações humanas onde o cheiro desagradável é bem evidente.

A tendência é que o bafo ruim te alcance com mais frequência numa dessas interações sociais. A não se que você esteja jogando basquete ou dentro de um ônibus lotado, grandes chances de que a pessoa com o cheiro forte de suor não fique jogando o cheiro na sua cara. Sabe como é, é meio estranho ficar com os braços levantados perto de alguém sem um bom motivo… Agora, falar com alguém? Chegar perto o suficiente para te bombardear com o bafo de onça não é nem um pouco estranho na maioria das ocasiões sociais.

Bafo tem preferência na fila de percepções sensoriais, seu nariz tende a pegar o cheiro o mais rápido que puder pelo “perigo” que o tipo de cheiro desencadeia no nosso cérebro. Sovaco até pode ficar escondido no meio do cheiro de desodorante ou perfume (sabe aquele cheiro agridoce confuso?), bafo faz questão de encontrar seu caminho até mesmo entre o “frescor” de um Halls preto. Prioridades, prioridades…

E sejamos honestos: Toda vez que você sente um bafo terrível, bate aquela insegurança sobre o próprio. Da mesma forma como você provavelmente aguentou a pancada sem falar nada, podem estar fazendo o mesmo com você! Bafo gera sequelas. Sovaco você funga discretamente fingindo que se espreguiça ou se alonga… Você sabe se está tudo em dia na hora. Bafo é sempre um risco.

E só um adendo de suma importância: Depois de tantos anos passeando pelos porões da internet, eu já vi ou já ouvi falar dos fetiches mais absurdos, nojentos e impensáveis. Tem material para fetichistas que se amarram até em cheiro de sovaco e peidos. Tem gente que come merda e vômito! Tem basicamente de tudo… MENOS… fetiche por bafo ruim. Se nem a internet tem coragem de transformar isso em fetiche, é porque a coisa é feia mesmo.

Para dizer que eu devo ter uma pizzaria nas axilas para defender o lado que defendi, para reclamar que o pior cheiro é o cheiro dos outros, ou mesmo para admitir que o último parágrafo foi bem convincente: somir@desfavor.com

SALLY

O que é pior: aturar uma pessoa com bafo ruim ou com cheiro forte de transpiração? Certamente ambos são nojentos, mas na minha opinião a transpiração é pior.

Começo pelo simples argumento de que uma pessoa com bafo não te incomoda se ficar de boca fechada e a uma certa distância de você. Já o cheiro de transpiração, conhecido popularmente como “cecê”, este sim é capaz de empestear um ambiente, independente do fato da pessoa estar de braços levantados. Aquela nhaca azedinho-doce parece que se impregna nas narinas e não sai, mesmo quando a pessoa vai embora. O cecê tem um “after taste”, ele fica no ar por um tempo, ao contrário do bafo, que fechou a boca ele acaba.

Também deve ser levado em conta que o fato de alguém ter mau hálito nem sempre é desleixo da pessoa, muitas vezes uma bactéria estomacal ou outros motivos de força maior sujeitam a pessoa a um bafo de bueiro. Já o temido cecê é desleixo mesmo, porque basta passar um desodorante adequado ao grau de azedume da pessoa que isso não acontece. Todos nós temos cecê se não usarmos desodorante, a regra é clara. E todos nós podemos evitá-lo. Mesmo que tenhamos que reforçar o desodorante uma ou duas vezes por dia, existem formas de evitar o maldito cecê, só depende do dono do sovaco. Assim como a liberdade, o sovaco inodoro cobra o preço da eterna vigilância.

Quem tem bafo ruim muitas vezes não se dá conta disso, mas quem tem cecê tem condições de verificar sua situação axilar. Aliás, não raro vemos pessoas fazendo aquele “auto-exame de odor”, ritual grotesco onde se levanta o braço, estende o pescoço tal qual uma tartaruga em direção à axila e dá uma cafungada, para verificar se está fedido. Não é bonito de se fazer em público, mas pode ser feito, na privacidade de um banheiro, por exemplo. O fato é que quem está fedendo a cecê tem como conferir sozinho, quem tem bafo muitas vezes depende da caridade de amigos para ser cientificado disso, coisa que nem sempre acontece. Eu, por exemplo, fico constrangida de falar.

O bafo pode ser mitigado, ainda que temporariamente, com uma escovada de dentes ou com uma balinha. Isso dá um alívio ao interlocutor, mesmo que passageiro. O cecê não, o cecê é maldito, é mais forte que xixi de gato, não tem como disfarçar, ou lava com água e sabão esfregando bem e depois coloca desodorante ou só vai piorar a situação. Digo isso porque tem uns infelizes que após o hediondo auto-exame de odor acham produtivo pegar aqueles desodorantes com cheiro bem forte, tipo Axe, e jogar por cima do cecê para disfarçar. Isso é quase o mesmo do que gente idiota que joga Bom Ar no banheiro depois de cagar, criando aquele mix de merda floral que ninguém aguenta. Sim, o cecê é mais difícil de disfarçar.

Também temos que levar em conta que bafo nem todo mundo tem, é um infortúnio que acomete alguns seres humanos em situações excepcionais (tártaro nos dentes, problemas estomacais, etc). Já cecê, Meus Queridos, como já dito, todo mundo tem. O ser humano é fedido por natureza, se não passar desodorante (principalmente no clima quente do Brasil) é questão de minutos ao sol até que o corpo comece a exalar aquele cheiro. Logo, por ser mais comum, mais recorrente, o cecê é pior. A probabilidade de se deparar com ele é enorme, ainda mais nesta época do ano. Vem chegando verão, um calor no coração… e na axila. Por caridade, usem um bom desodorante, não são todos que seguram o cheiro!

A problemática do bafo pode ser contornada de forma discreta, sem precisar dizer ao interlocutor que ele está com halitose. Pode-se, por exemplo, oferecer um café, oferecer um chiclete, oferecer qualquer coisa, na tentativa de minimizar o cheiro de cu de urubu que vem daquela boca sem que a pessoa perceba que está fedendo. Já o cecê não. Não tem como oferecer um desodorantezinho, assim, como quem não quer nada. No caso do cecê temos apenas que aguentar calados e lacrimejando.

Se você anda de transporte público vai se solidarizar com a pobre aqui: as pessoas não se seguram com a boca dentro do transporte público, se seguram COM O BRAÇO LEVANTADO. E se você, além de pobre (como eu), for de baixa estatura (como eu), sabe muito bem o que é ficar “cara a cara” com um sovaco fedido. É impressionante, o rosto de uma pessoa baixa fica estrategicamente na mesma linha da axila de uma pessoa um pouco mais alta. Dá vontade de andar com Baygon na bolsa e sair borrifando na sovaqueira alheia. A exposição massiva ao cecê no transporte público é um tema que merecia uma postagem só para ele.

Na pior das hipóteses, o bafo pode ser amenizado de forma unilateral: você prende a respiração quando o boca de bueiro falar com você. Se não for o Fidel Castro, que fala 14 horas sem parar, funciona razoavelmente bem. Já no cecê não tem esse recurso, porque o cecê é full time. O cecê é onipresente e onipotente. Se fosse onisciente poderia até ser cultuado. Não tem como fugir do cecê, pois ainda que você prenda a respiração em troca de alguns segundos de dignidade, haverá um efeito rebote: quando o ar acabar você vai inspirar profundamente em busca de mais e sentir as narinas queimando.

O bafo é puro, inconveniente de forma simples. O cecê vem com acessórios: não raro os sovacos são antiesteticamente cabeludos, suados e molhados. Existem sovacos que podem até pingar em você. O bafo é discreto, se a pessoa não abrir a boca, ela preserva sua dignidade. O cecê molha a camiseta, faz aquelas pizzas debaixo do braço. Sim, o cecê é traiçoeiro, ele te entrega à distância. Pior: o bafo não deixa provas contra você! Alguém disse que você tinha bafo? Vai ser sua palavra contra a da pessoa! O cecê deixa evidências irrefutáveis, basta uma cheiradinha na camiseta usada pela pessoa que você descobre quem era o fedido do local.

Mesmo que você seja um porco do caralho que levanta da cama, não escova os dentes e vai trabalhar com um bafo da morte, ainda assim existem mais manobras que te permitem escapar com um mínimo de dignidade. Vamos que alguém decida verbalizar que você tem um bafo desagradável: você sempre pode responder que está com um problema estomacal mas que já está se tratando. Contra o motivo de força maior, nada pode. Resta ao interlocutor enfiar o rabo entre as pernas e se calar. E o cecê? Se alguém te fala que você está com cecê, o que você pode responder? NADA. Talvez um “é que eu sou um porco sem vergonha e sem consideração que não passo o desodorante certo”. O cecê não admite motivo de força maior, sua dignidade simplesmente se esvai.

O bafo ruim vai embora com seu proprietário, o cecê pode deixar filhotes. Quem já teve o desprazer de receber gente fedida que se senta no sofá da sua casa com o braço no encosto e aquela axila xexelenta estuprando o tecido do sofá sabe muito bem do que eu estou falando. O cheiro FICA. Fica e não sai, nem com oração, nem com batuque. Tem que mandar estofar novamente o sofá. A situação do cecê é dramática.

Cecê é uma mazela social gravíssima e ignorada. Cecê arruina uma hora de almoço de um ser humano. Cecê arruina uma noite de sexo. Cecê arruina qualquer evento por onde passa. É mais do que hora de reconhecer a hediondez do cecê!

Para dizer que você prefere meus textos quando eu estou de bom humor, para se envergonhar por fazer auto-exame de odor ou ainda para dizer que pior mesmo é o peido: sally@desfavor.com

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