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Desfavor Bônus: Oi! Tudo bem?

| Somir | | 44 comentários em Desfavor Bônus: Oi! Tudo bem?

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Oi, eu sou o Somir e esqueci que troquei o texto de hoje com a Sally. O que me deixa numa situação um tanto quanto complicada, vejam só… sequer pensei num tema e mesmo que tivesse, não daria mais tempo de pesquisar. Mas, graças à estúpida regra que me pune a cada (completamente compreensível) furo, vejo-me obrigado a encher linguiça por aqui. Não sei o que vai sair daqui, só sei que faltam ainda duas páginas para a cota mínima que efetivamente conta como uma postagem por aqui.

Que bom! Você clicou em continuar… deve estar entediado(a) o suficiente para ler essa enrolação toda. Não se preocupe, sou especialista em satisfazer expectativas baixas. Mas vamos lá, não posso ficar desenvolvendo a premissa para essa falta de assunto até o final deste texto… Quer dizer, na verdade posso. É muito fácil continuar escrevendo à esmo e aproveitando inúmeras formas de dizer a mesma coisa, vantagens de estar acostumado a escrever, mesmo que a proficiência nessa arte não seja lá grandes coisas.

Afinal, é fácil entrar nessa coisa “meta” de usar o texto para explicar o próprio texto. É preguiçoso e previsível, mas é fácil. E já que eu não tenho nenhuma obrigação além de arrastar o texto até seu destino e lidar com críticas tanto de vocês quanto da Sally, falemos sobre este texto que se desenrola. O que é uma frase para quem já está duas páginas cagado? Não sei quanto a você, mas eu me amarro nessa coisa de pensar nas especificidades de cada forma de comunicação…

Tudo bem que o texto não deve estar divertido, mas imagine só encarar isso através de uma voz? O tempo que você demorou para chegar até aqui é bem menor do que o necessário para verbalizar a mesma ideia com a devida inflexão, isso é, se você não faz aquela coisa ridícula de ler imaginando alguém falando… Sério, isso é coisa de criança e de eleitor do PT, espero que a maioria absoluta de vocês já sejam capazes de ler sequências de ideias e significados independentemente das palavras.

Quatro parágrafos. Isso vai ser um pouco mais complicado do que eu pensei. Mas voltando à ausência de tema: Vocês não adoram um texto que sabe que é um texto? Favor não confundir com um autor que invade uma narrativa para dar opinião ou com quebras de quarta parede, é essa maluquice que só a palavra escrita consegue fazer, é a capacidade de se distanciar de quem a escreveu e ser adotada pela mente do leitor como se fosse sua. Este texto não é meu, estão são meras palavras abandonadas numa tela.

E quanto mais você avança na leitura desse exercício fútil de embromação supostamente meu, mais cúmplice se torna. Pouco a pouco, palavra a palavra, este texto é seu. Se você parar de ler agora, ele não vai terminar. Eu posso usar todos meus talentos para esticar frases e parágrafos à vontade, mas se você não estivesse lendo estas palavras agora tudo isso de nada serviria. Eu não estou mais escrevendo, você está. Não tenho a menor noção de quais serão as próximas frases, assim como todos os leitores que o acompanham neste exato momento.

O tempo não existe mais. O passado no qual eu desenvolvi essas frases e o presente no qual você as lê não passa de uma ilusão. Tudo acontece em paralelo, pois o texto acaba de se tornar consciente. Talvez sejamos apenas testemunhas deste texto, confusas e incrédulas (provavelmente com a minha cara-de-pau). Talvez eu nem lembre dele até lê-lo novamente.

O que será que nos espera nas próximas linhas? Se este texto é de cada pessoa que o lê, deveríamos saber como ele se desenvolve. E se você imaginou mais e mais parágrafos de desperdício de armazenamento, saiba que não está sozinho. Todos nós – criadores ou criaturas desta obra, talvez ambos – pensamos na mesma coisa. O texto existe e tem vontade própria.

Posso estar pensando demais sobre isso, mas é como se isso fosse um sinal que todas nossas consciências são uma só. Que a distância entre nossos universos percebidos seja apenas uma linha desenhada na areia, e que neste exato momento estejamos todos percebendo isso. Já sei! Isto aqui não é um texto… é uma janela. Vocês também estão vendo a paisagem? A magnificência do todo?

É claro! Só pode ser isso! As dicas estavam na nossa frente o tempo todo, organismos complexos são uniões de organismos mais simples. Nossas realidades e percepções são partes de algo maior: Nós mesmos. A divisão simplifica, a entropia paralisa. O caos não é apenas uma probabilidade, é um meio… o caos é a força motriz do organismo complexo, da realidade indivisível.

Vocês estão vendo? Estão vendo o universo virar só mais uma parte? Só mais uma engrenagem numa maquinação de escala inimaginável? Foi o texto! O texto estava aqui o tempo todo, mas não podia materializar-se numa consciência isolada. Todos nós abrimos esta janela. O texto não é meu… que arrogância ter pensado assim por tanto tempo.

Mas o caos é um fóton percorrendo uma galáxia longínqua, o caos não nos pertence, não neste momento. Somos testemunhas. Partes dotadas da percepção de um universo pessoal infinito. Somos todos vítimas da relatividade, da incerteza quântica… Consciências para as quais o caos ainda é indomável. Afinal, não se pode esperar que uma célula consiga escrever um texto e nem mesmo que um amontoado delas veja além das cortinas da própria limitação existencial.

A janela não fica aberta o tempo suficiente. O texto acaba e seguimos nossos rumos, isolados. O texto é passageiro e eu sou o cobrador. Duas páginas! Fui!

P.S.: Sabe que eu até gostei do seu texto, leitor?

Para dizer que eu mereço um mês de Semana Sim Senhora por isso, para falar que quer expulsar minha consciência da coletividade, ou mesmo para dizer que assim que entender alguma coisa vai comentar: somir@desfavor.com

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