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Sally Surtada: Melhor não falar…

| Sally | | 102 comentários em Sally Surtada: Melhor não falar…

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Existem frases que nunca devem ser ditas pelo simples fato de que nunca trazem nada de bom, muito pelo contrário. É indiferente se vocês, Cuecas, concordam ou não comigo, eu vou dar o conselho e pega quem quer, quem não quer joga no lixo e se dá ao luxo de achar que entende mais de mulher do que uma mulher. Algumas frases, que na verdade denotam atitudes, pouco importando o termo no qual são ditas, não devem ser ditas jamais. Magoam, pioram a situação, causam raiva, irritam. Você não consegue ver isso? Pois bem, não é porque você não vê que não é verdade. Quem avisa amigo é.

E antes que venham os pequeninos fetinhos anencefálicos que deveriam ter sido abortados mas não foram e cresceram virando adultos disfuncionais, me perguntar “Mas Sally, então você sugere que a gente minta?”, eu respondo: NÃO. Não é para mentir. É para você rever seus conceitos e nem ao menos pensar assim, pois pensar assim é medíocre, ridículo e desagradável. Parem de operar um auto-perdão no que diz respeito a essas frases/atitudes, pois concordando vocês ou não, gostando vocês ou não, a tendência é que elas causem dor, ressentimento e ódio. Ódio faz mal para os dentes.

“Esqueci de você” ou “Não lembrei de você”, não importa, o ato de deixar claro o esquecimento sem qualquer constrangimento ou pesar, dito de qualquer forma é indesejado. Talvez no seu pequenino único neurônio ofegante que se encontra em um canto de sua caixa craniana você não veja nada de mais em esquecer da sua parceira, mas é algo ruim, ofensivo e que magoa. Talvez esse cocô de cachorro que você tem dentro do crânio e insiste em achar que é um cérebro não te permita ver que estar atarefado no trabalho não justifica e não desculpa esquecer da sua parceira, em qualquer aspecto: esquecer um compromisso, esquecer de cumprir um combinado, esquecer de dar carinho.

É preciso que exista uma disponibilidade emocional X que se destina ao trabalho guardada em uma gaveta e outra disponibilidade emocional Y destinada à vida afetiva guardada em outra gaveta, de modo que um recurso não seja sugado do outro. Da mesma forma que um governo não usa toda a verba para uma única área e a divide em diversos setores como educação, saúdes e etc, sua disponibilidade emocional também deve ter cotas diluídas: família, amigos, parceira, trabalho e o que mais você quiser. Spoiler: Não dá para achar que pode dedicar 100% ao trabalho e ainda sobrar algo para as outras áreas. Simplesmente não é possível e a tentativa incessante e constantemente fracassada de fazer esse “maravilhoso” plano funcionar provoca mágoa por cima de mágoa.

Então, quem quiser ser um homem decente, daquele raro tipo que hoje a gente diz: “Fulana tem sorte, ela fisgou um partidão”, seja inteligente e me escute, mesmo sem concordar comigo: “Não pensei”, “Não lembrei” ou “Esqueci”, são palavras muito perigosas, que fatalmente denotam desinteresse. “Mas eu gosto dela, Sally!”. Não o bastante para reservar alguma disponibilidade emocional para ela, não o bastante para não esquecer. Ela merece um gostar melhor do que isso. Seu gostar é disfuncional, é insuficiente quando traduzido em atos. “Não lembrei de você” e similares são palavras que só devem ser ditas com muito pesar, com um visível arrependimento, com um olhar mortificado de quem está pronto para se retratar com alguma grande compensação. “Esqueci, ué, o que é que eu posso fazer?” é como Coca-Cola: faz mal para os ossos, principalmente os da face.

“Como é que eu podia saber?” denota atitude de não se responsabilizar pelos seus erros. Dar um caráter de inevitabilidade a uma bosta que você mesmo cagou é como o avestruz que enfia a cabeça em um buraco achado que assim está escondido. A previsibilidade do que quer que cause mágoa não é condição sinequa non (indispensável) para que o ato seja recriminável. Tá complexo, né? Tá, tá complexo. Vou tentar simplificar.

“Como é que eu podia saber que você ia ficar chateada” dá um ar de inevitabilidade a algo que não o é. Porque você poderia saber, para começo de conversa, se dando ao trabalho de perguntar. Não quer perguntar? Se dando ao trabalho de observar, se dando ao trabalho de conhecer. Se as mesmas horas por dia destinadas a sexo (tanto no fazer quanto no pensar) na cabeça de um homem fossem usadas para conhecer melhor a forma de pensar e os valores das parceiras, os casais seriam muito mais harmoniosos.

Então, desculpa, tinha como saber sim, bastava consultar antes de decidir o que quer que seja. Bastava comentar. Bastava conversar. Bastava sondar. Bastava qualquer coisa que não fosse uma decisão unilateral que afete duas pessoas.Não deu? Tentou e não deu? Apesar de todos os esforços não deu? Um pedido de desculpas então, em vez de uma odiosa frase no estilo “Mas como é que eu poderia saber?”. Pedir desculpas não é assinar confissão de culpa nem suja sua ficha criminal. Em vez de puxar um cabo de guerra emocional e ficar provando quem está certo, desculpe-se, não pelo ato, mas pelo simples fato de ter causado mágoa a uma pessoa, concordando ou não com os motivos. Os motivos podem ser questionáveis, mas a mágoa é real. Causar mágoa e não se desculpar faz o travesseiro amanhecer rasgado, palavra de mulher.

“Eu achei que dava”. Se esta frase ou qualquer outra no estilo está sendo dita, é porque não deu. O que quer que seja, deu errado. Achar que a putez será aplacada só porque não fez a merda de propósito é um misto de burrice com inocência. Obviamente não foi de propósito, mas existem outras coisas que tornam o ato reprovável além da vontade deliberada de obter aquele resultado. Por exemplo, a imprudência. Por exemplo o não ouvir os avisos alheios e ainda menosprezá-los. Por exemplo a teimosia. Eu posso ficar no “por exemplo” até amanhã, mas não vou, porque o ponto é: fez merda, mesmo que sem querer e tem culpa, mesmo que sem querer. Errou, mesmo que a merda tenha sido feita sem intenção. Errou por falta de cuidado, errou na escolha, errou por falta de zelo, errou por uma série de motivos que, “mesmo sem querer”, são reprováveis.

Então, guardem PARA A VIDA, PARA SEMPRE: quando estiverem falando com uma mulher, o argumento de ter sido sem querer adianta muito pouco. Não espere apagar a cagada com o álibi de ter feito sem querer, muito pelo contrário, isso te cobre mais ainda de merda. Se você achou que dava e não deu, além de tudo, você é burro ao nossos olhos. Fez sem querer e deu merda? Aceite uma parcela de responsabilidade e se desculpe. Procure reparar o dano causado. Procure aprender para não fazer novamente. Reconheça o ponto onde errou e mais importante: os mecanismos que pretende desenvolver para que isso não se repita. Só o Chaves se livra das merdas que faz dizendo que foi sem querer.

Espero que ninguém mais use essa frase, mas não custa citar: “Porque eu sou homem”. Olha… pode deixar de ser depois dessa frase. Se o chute encaixar bem encaixado, talvez as bolinhas voltem para dentro. A única situação na qual essa frase é aceitável é se a sua mulher te perguntar “Porque você tem pênis e eu tenho vagina?”. Fora isso, esta frase jamais pode ser utilizada. NUNCA. É uma frase coringa que tem o dom de piorar qualquer coisa que esteja sendo debatida. Mais: esta frase é tão poderosa que pode fazer voltar contra você não apenas a mulher com a qual você está argumentando, como todas as que estão no entorno, até mesmo desconhecidas. Se eu estou em um restaurante e ouço isso na mesa ao lado como argumento de qualquer conversa exceto da frase citada, começo jogando uma cadeira. Reprogramem suas mentes para nunca mais na vida pronunciar esta frase, porque é diploma de imbecilidade apresentar isso como um argumento.

Tem também a sensacional “Isso nunca me aconteceu antes”. Ou seja, conseguiu fazer sexo com TODO MUNDO, menos com a pessoa que está ouvindo isso. Como isso supostamente pode ajudar? Com tooooodas as outras mulheres houve uma ereção sem problemas só com você, COM VOCÊ, que isso aconteceu. Desculpa mas essa frase é para que o homem se sinta melhor e não a mulher e, convenhamos, nessa hora o mínimo que se pode fazer é não piorar a situação da mulher. Faz uma brincadeira, não fala nada, se joga no chão e finge uma convulsão. Qualquer coisa, mas essa frase não. Essa frase é escrota, é canalha, é passivo-agressiva e discretamente insinua que a culpa talvez esteja na mulher, o que é algo rude de se dizer, mesmo que a culpa esteja na mulher. Nós, mulheres éticas, temos um pacto silencioso de nunca contar broxada, mas hoje eu as convoco, Amigas Calcinhas, a quebrar esse pacto caso ouçam essa frase.

“É que eu estava bêbado”. Amigo Cueca, você dá o cu quando está bêbado? Não, né? Ninguém faz nada que realmente não queira por estar bêbado e insinuar o contrário é ofender a inteligência alheia. E, ainda que fizesse, porque escolheu beber sabendo que sob efeito do álcool poderia fazer coisas que magoassem sua parceira? Alguém colocou um funil na sua goela tipo Ganso do Patê e te obrigou a beber? Não, né? Então, estar bêbado não te exime de absolutamente nada, muito pelo contrário, em algum momento você fez uma escolha consciente de beber, de se arriscar a perder a mão e acabar ficando bêbado. Você optou por colocar em risco os sentimentos de outra pessoa. Melhor nunca trazer isso à tona, porque estar bêbado, para mulheres inteligentes e com autoestima, é agravante em vez de atenuante.

“Ela tem mais medo de você do que você dela”. Como se os sentimentos de uma barata, lagartixa, rato ou qualquer outro bicho nos fizessem alguma diferença. Ninguém se importa, eu cago para o que o bicho está sentindo, aliás, muito me admira que em um momento de angústia MEU a pessoa se coloque no lugar DO BICHO. No nosso lugar eles não se colocam nunca, mas no lugar de uma barata já vão se colocando logo na primeira vez que se deparam com ela. Se isso não é ofensivo, então eu não sei o que é. Mas além de ofensivo, é de uma burrice galopante, dá vontade de pegar, levar até a escola onde a pessoa estudou, invadir a aula de biologia com o filho da puta arrastado pela orelha, olhar para o professor e gritar: “BELA MERDA QUE VOCÊ ENSINOU!”

O medo não faz o animal necessariamente se virar e ir embora. Aliás, não raro, esses bichos ficam atordoados com o medo e acabam correndo para cima do próprio ser humano. Por sinal, nem mesmo sei precisar se essas porras enxergam e muito menos se sentem medo. Não nos interessa o sentimento do animal e certamente esse sentimento não é garantia de que ele não vá se aproximar, HUMANOS se portam assim quando tem medo, insetos não. Se o animal nos apavora, a coisa decente a fazer é mata-lo. MATÁ-LO, não coloca-lo para fora nem escondê-lo. MATÁ-LO, para que exista a certeza de que ele não retornará, para que não paire temor ou inquietação e para que não teremos que passar por aquele susto que é quase um mini-AVC ao dar de cara com ele novamente. “Mas o bicho não fez nada”. É Judiciário Animal? Viraram justos, de uma hora para a outra? Tem que ter um motivo além do nosso pavor para matar um inseto? Vão se foderem.

Existe também uma tendência a desmerecer aquilo com o que não se concorda, geralmente traduzida na sensacional frase “Não adianta ficar assim”. Como se o único e exclusivo motivo pelo qual uma mulher ficasse triste, chateada, puta ou raivosa fosse o fato de que aquilo vai lhe trazer um resultado positivo/produtivo. Sentimento não se escolhe, palavras sim. Muito provavelmente a pessoa ficou assim porque não conseguiu não ficar assim. “Vou chorar bastante, quem sabe assim meu cachorro ressuscita!” – Será que é isso que eles pensam? É ÓBVIO que não adianta ficar assim, se a pessoa está assim é porque não consegue fazer diferente, caralho!

Curioso essa frase vinda de quem chuta os móveis quando o time toma um gol do adversário, grita palavrão quando leva fechada no trânsito ou quer matar um colega de trabalho que o sacaneou. Em todos esses casos também não adianta nada se aborrecer, muito menos gritar com os jogadores de futebol e/ou o juiz pela televisão ou até mesmo com objetos inanimados: eles não vão ouvir. Mas nós, mulheres, entendemos que é um desabafo e que desabafos tem sua função. Seria agradável se os Hipócritas de Cueca percebessem que todo ser humano eventualmente “fica assim” mesmo sem adiantar nada. “Fica assim” porque não consegue ficar diferente. A legitimidade não está no resultado e sim no sentimento. E quem são vocês para mensurar que sentimento justifica este ou aquele grau de sofrimento? A coisa decente a fazer é legitimar (bem diferente de incentivar) e acolher a pessoa que está sofrendo, consolá-la, confortá-la com afeto e não com recriminação por “estar assim”.

Vai ter que ser feita uma Parte II, porque meu limite de páginas acabou e o limite da babaquice masculina é quase infinito. Aceito sugestões nos comentários de mais posturas traduzidas em frases que merecem pendurar o filho da puta no lustre – pelo saco.

Para me desmerecer enquanto pessoa na tentativa de invalidar meus argumentos, para me ridicularizar para manter sua fama de mau mas em off seguir meus conselhos e ver sua vida melhorar e chover mulher para você ou ainda para calar a boca porque não quer ser trucidado por uma horda de leitoras nervosas: sally@desfavor.com

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