Skip to main content

Colunas

Arquivos

Desfavor Explica: Primeiros Socorros – Estado de Choque

| Sally | | 31 comentários em Desfavor Explica: Primeiros Socorros – Estado de Choque

dex-ps-choque

O “Estado de Choque” (que não se confunde com estar em choque ou levar um choque) é uma desordem do sistema circulatório onde, em consequência de outro evento, o corpo não consegue fazer com que o sangue chegue nos órgãos e tecidos. Quando o sangue não chega, o oxigênio não chega, já que a função do sangue é transportar oxigênio para cada célula do nosso corpo. Quando o oxigênio não chega, as células vão morrendo, em uma espécie de efeito dominó, o corpo vai se “apagando”, as funções vitais vão se “desligando” até que o coração para de bater. Sim, estado de choque é algo grave.

Vários fatores podem desencadear o estado de choque e alguns deles nem ao menos são aparentemente graves. Conforme esses fatores que os desencadeiam o Choque pode ser divido em:

1) Choque Hipovolêmico: consiste na diminuição do volume sanguíneo. As causas mais comuns para a diminuição do volume sanguíneo são: perda de sangue (hemorragia, por exemplo), perda de plasma (muito comum em queimaduras), ou perda de fluidos, (vômitos e diarreia). Sim, uma simples diarreia pode induzir a um estado de choque.

2) Choque Cardiogênico: se origina de qualquer problema no coração que o impeça de bombear o sangue de forma adequada e fazê-lo chegar ao corpo todo

3) Choque Neurogênico: se origina de problemas no sistema nervoso, especificamente na área que controla a força e os batimentos cardíacos. Pode ser desencadeada por uma lesão na medula ou por medicamentos.

4) Choque Anafilático: Origina-se de alergias. Toda alergia é resultado de uma reação exagerada do seu sistema imunológio a uma suposta agressão. Então, quando o corpo inicia um processo alérgico, que em última instância não deixa de ser um processo inflamatório, libera uma substäncia chamada “histamina” para tentar conter esse processo alérgico. Ocorre que a histamina também causa vasodilatação e pode mexer com a harmonia circulatória do corpo, levando a um estado de choque.

5) Choque Séptico: Origina-se de infecções provocadas por bactérias. Para combater essas bactérias o sistema imunológico produz uma coisinha chamada “citocina”, que acaba por causar vasodilatação e comprometer a circulação se sangue dependendo da quantidade produzida.

Os sintomas mais comuns do estado de choque são: respiração mais rápida, curta e irregular, alterações nos batimentos cardíacos, que podem ser pedidos pelo pulso (ficam mais rápidos, irregulares e perdem a força), sudorese, palidez, náusea, vômito e em alguns casos desmaios. É comum que a pele da pessoa fique fria e pegajosa, com suor predominante na testa e na palma das mãos. Extremidades como orelhas, lábios e ponta dos dedos podem ficar arroxeados. A pessoa sente uma fraqueza generalizada e sensação de frio. Também pode ocorrer dilatação das pupilas e uma forte sensação de medo ou ansiedade. Visão turva, confusão mental e forte sensação de sede fecham o extenso rol de sintomas que podem indicar o Estado de Choque. No estágio inicial, os sintomas podem ser poucos e discretos, por exemplo, uma leve taquicardia e ansiedade. É preciso monitorar a pessoa e avaliar a progressão dos sintomas.

Quanto mais subirem os batimentos cardíacos, pior é a situação. Isso acontece porque o sangue não consegue chegar ao corpo todo, então o coração bombeia cada vez mais na tentativa desesperada de cumprir sua missão. O normal é um batimento cardíaco por minuto entre 60 e 100, acima disso já pode ser considerado um primeiro sinal. Para identificar o Estado de Choque é necessário levar em conta não apenas os sintomas, como também a ocorrência que levou a eles: a pessoa sofreu algum acidente? Tem problemas cardíacos? Bateu com a cabeça? Foi picada por um inseto? Procure descobrir a causa, pois dependendo dela os próprios sintomas podem variar.

Exceções e peculiaridades: no caso de estado de choque em função do sistema nervoso o pulso pode ficar lento em vez de acelerado e a pessoa pode apresentar pele seca e paralisia. No caso do choque por alergia, o choque anafilático, também temos algumas peculiaridades: pele avermelhada, partes do corpo inchadas e erupções na pele. No caso de choque por problemas cardíacos é comum que as veias do pescoço aumentem de tamanho.

Se você acha que uma pessoa está entrando em choque, a primeira providência é ligar solicitar socorro médico. Choque é uma coisa grave e pode matar, não perca tempo e chame socorro. Depois você deve deitar a vítima de costas (se foi seguro movê-la, claro, veja texto sobre lesões na coluna) pois esta posição facilita a circulação sanguínea, e afrouxar suas roupas. Não é inteligente deixar alguém com um problema circulatório com roupas que dificultem a circulação. Se for preciso, corte as roupas. Atenção para as áreas do pescoço, peito e cintura, que é onde normalmente as roupas apertam. Caso a pessoa esteja sangrando pela boca ou nariz, deite-a de lado para não correr o risco de sufocamento, preferencialmente apoiada sobre o lado esquerdo.

Depois você deve verificar se ela está perdendo sangue. Procure por alguma hemorragia aparente e tente estanca-la fazendo um torniquete no local. O corpo se vira bem em caso de perda de até 20% do volume sanguíneo, daí para frente a coisa começa a desandar. Observe a pessoa de perto, se houver parada cardiorrespiratória será necessário fazer RCP (ressuscitação cardiopulmonar), que estão nos textos 1 e 2 desta série. Se estivermos falando de choque anafilático, o cuidado com a respiração da vítima deve ser redobrado, pois não raro a alergia cria inchaços que aumentam e podem chegar a obstruir as vias respiratórias. Se a vítima estiver em um local público, vai ser inevitável aquela horda de populares sádicos/curiosos se aglomerando para ver o que aconteceu. Disperse os populares, a vítima precisa de ar para respirar.

Caso a vítima não apresente ferimentos na cabeça nem na coluna e seja possível movê-la sem riscos, é recomendável que ela seja deitada com a barriga para cima e que suas pernas sejam elevadas cerca de 30cm. Isso ajuda com que o sangue retorne para o coração e o cérebro, prioridades absolutas nesses momentos de estresse. Caso a vítima esteja acordada, em condições de engolir e você saiba que o socorro vai demorar para chegar, procure hidrata-la. Entenda-se por hidratação ÁGUA, água de coco ou isotônicos. Nada de chá, álcool ou café, que são diuréticos e só pioram a situação. Pequenos goles, de preferência. Pessoas com vômitos, convulsões, ferimentos abdominais ou cerebrais ou que possam precisar de cirurgia não devem beber líquidos. Difícil de saber… por isso se recomenda hidratar a pessoa só em caso de demora de atendimento médico.

Também é importante manter a vítima aquecida caso ela sinta frio ou apresente tremores. Pode reparar que em filmes e seriados uma das primeiras providências ao socorrer acidentados é cobri-los com um cobertor. Isso porque o estado de choque dificulta ou até impede que o corpo consiga gerar calor e a pessoa acaba morrendo de hipotermia, independente da temperatura ambiente. Se a pessoa estiver com roupas molhadas, tire. Procure isolá-la do chão e mantê-la aquecida. Em casos mais extremos se recomenda que uma ou duas pessoas se deitem junto à vítima, para aquecê-la. Mas atenção: não é para sair jogando cobertor em todo mundo, só se a vítima sentir frio. Se o corpo ainda está dando conta de manter sua temperatura e você vai e agasalha a vítima, sua temperatura corporal sobre além do normal e isso pode acabar atrapalhando, pois faz ela perder mais fluidos suando.

Mesmo que você não lembre dos detalhes deste texto, procure ter sempre em mente que o Estado de Choque é, em sua essência, um problema circulatório. Ele se resume ao fato do sangue não conseguir chegar em partes importantes do corpo, independente do motivo. Então, tente agir de forma a ajudar o sangue a circular. Esta é sua função se quer salvar a pessoa: faça com que seu corpo receba um suprimento mínimo de sangue. E se você paralisar completamente, ligue para a emergência novamente e peça instruções, eles vão te ajudar, passo a passo, por telefone, a fazer os procedimentos necessários na pessoa em Estado de Choque.

Se a pessoa se sentir melhor e quiser levantar e sair andando, NÃO DEIXE. Não se sabe o que causou o problema, então, até segunda ordem, a pessoa não deve fazer qualquer esforço que implique em um aumento dos batimentos cardíacos. Mantenha a pessoa imóvel até o socorro chegar.

Caso se tenha certeza de que se trata de choque anafilático, em situações extremas pode ser necessária uma injeção de adrenalina para reverter o quadro (papo técnico: injeção de epinefrina). Algumas pessoas com histórico alérgico andam com uma injeção destas na bolsa. O mais indicado, sobretudo para leigos, é injetar na coxa. Não gosta de injeção? Nem eu. Mas o que você “não gosta menos”, de aplicar uma injeção ou de ver uma pessoa morrer? Então, respire fundo e leia o próximo parágrafo até o final.

Se a pessoa tiver a injeção na bolsa, ela provavelmente estará montada, com um aplicador. Você vai tirar a tampa do aplicador (a ponta menor), segurar o aplicador como se fosse uma estaca, pelo meio, com a ponta pequena (aquela que você removeu a tampa) virada para baixo, vai remover a tampa de cima (tampa de ativação) e vai aproximar o aplicador da coxa da vítima, mais ou menos em uma linha média entre o joelho e o quadril. Você vai estocar a coxa dando um pequeno impulso (não é como se estivesse esfaqueando alguém, basta pressionar de forma firme) e a agulha deve entrar perpendicular à coxa, isto é, não deve estar deitada e sim reta. Segure a seringa nessa posição por cerca de dez segundos, que é o tempo que leva para a substância ser liberada, depois remova e massageie a área por mais dez segundos. Verifique a ponta do aplicador: há uma agulha visível? Perfeito, missão cumprida. Não há? Então a substância não foi aplicada, tente novamente, com mais firmeza.

Os agentes alergênicos mais comuns são: 1) comidas (nozes, amendoins, frutos do mar, sementes de girassol, trigo, leite, ovos e alguns peixes); 2) medicamentos (penicilina, aspirina e similares) ; 3) látex; 4) Picadas de insetos (em especial abelhas, vespas e formigas); 5) Exercícios físicos e 6) Transfusão de sangue. Isso mesmo, a atividade física pode causar uma espécie de “alergia”. É extremamente raro, mas acontece. Normalmente associado à ingestão prévia de algum alimento que também provoque alergia. É a chamada “anafilaxia induzida pelo exercício físico”. Em casos mais leves se traduz em vermelhidão e coceira depois do exercício e em casos mais graves pode provocar o Estado de Choque. Não custa lembrar que alergia não é algo matemático: HOJE você não tem, mas amanhã pode adquirir, então, nada de deixar de procurar um médico porque “nunca tive alergia a abelha”. Não teve, mas ao ser exposta mais uma vez, pode passar a ter. Está sentindo sinais de Estado de Choque? Procure um médico com urgência.

É possível reverter o quadro e salvar a vida de uma pessoa em choque, mas também é possível que ela fique com sequelas. Se alguns tecidos passaram tempo demais sem receber oxigênio, morrerão (papo técnico: isquemia) e esta morte não é reversível. Então, quanto antes a vítima receber cuidados médicos, maiores as chances de sair sem sequelas. Nada de “ vou esperar um pouco para ver se melhora” ou “não está piorando então não vou procurar um médico”.

O tempo é seu inimigo no Estado de Choque, assim como o é no caso de AVC. Uma dica que não é definitiva mas pode ajudar a argumentar com gente teimosa e ser a confirmação que faltava é a seguinte: pressione o dedo do pé da pessoa até a área ficar branca e depois solte. Se a cor demorar mais de 2 ou 3 segundos para voltar ao normal, grandes chances de que esteja ocorrendo algum problema circulatório que possa gerar ou já tenha gerado o Estado de Choque.

Em todos os casos, conversar e tranquilizar a vítima majora suas chances de sobrevivência. Quanto mais calma a vítima estiver, melhor para ela. Se você observar que mais de uma modalidade de choque pode estar ocorrendo ao mesmo tempo, tenha em mente que o caso é mais grave e que a vítima precisa de ainda mais atenção e urgência no socorro.

O tratamento para o Estado de Choque consiste basicamente em uma transfusão de uma solução líquida (papo técnico: Soro Ringer Lactato) que, por conter moléculas de grandes dimensões, conseguem reter líquidos dentro dos vasos. Choques por hemorragia são tratados com transfusão de sangue. Se este tratamento for realizado pouco tempo depois do início do Estado de Choque, não existirá qualquer sequela, porém, quando mais demorar, maiores serão as sequelas, pois os tecidos vão morrendo gradativamente pela falta de oxigênio.

Menção honrosa: Choque Térmico. Muita gente classifica erroneamente o choque térmico como uma modalidade do Estado de Choque. Não é, mas pode causar consequências graves também, então, não custa falar sobre ele. Mudanças bruscas de temperatura ambiente podem afetar os nervos faciais a ponto de causar sua paralisia (papo técnico: Paralisia de Bell). Por incrível que pareça, não é necessária uma mudança tão brusca de temperatura para gerar esse choque térmico, imprudências rotineiras como secar o cabelo com secador e depois abrir a geladeira muitas vezes bastam para desencadeá-la. A paralisia é irreversível e, não raro, as pessoas ficam com metade do rosto sem movimentos, muitas vezes sem sequer conseguir fechar o olho.

Para dizer que agora vai ficar com medo de sair do ar condicionado ou da calefação e ficar com a cara do Stallone, para dizer que choque por choque, achava mais interessante choque elétrico ou ainda para vir aqui me fazer perguntas como se eu fosse médica, porque você não consegue conceber que uma pessoa leiga possa estudar o suficiente para conseguir escrever este texto: sally@desfavor.com

Comentários (31)

Deixe um comentário para Sam Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado.