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Sally Surtada: Mulher é chata?

| Sally | | 56 comentários em Sally Surtada: Mulher é chata?

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“Mulher é chata”, “mulher enche o saco”, “mulher vive arrumando confusão”, “mulher cria caso por pouca coisa”. Adoro esses estigmas que vem sendo alimentados por gerações, colocando a mulher como “a chata” da relação. Pensar que existem mulheres que compram esse conceito! Será? SERÁ? SE-RÁ? Acho que não, hein?

Se olhar de perto, talvez você perceba que essa necessidade quase que patológica de estabelecer que mulher é “a chata” da relação é, na verdade, sintoma de que os homens são tão ou mais chatos do que ela. A diferença, Meus Queridos, é que mulheres costumam ser mais generosas, respeitando e tolerando as “chatices” masculinas, enquanto que os homens, via de regra, adoram apontar as nossas e reclamar delas. Eternas vítimas, esses rapazes, não é mesmo?

Vamos dar uma dissecada nas principais acusações-clichê que se fazem às mulheres, em termos gerais, e fazer os macaquinhos olharem para os próprios rabos? Mas vamos fazer exatamente como eles fazem com a gente, para ficar igual: botando um puta filtro de má vontade e presunção negativa SEMPRE. Vocês vão ver como assim, qualquer pessoa do universo fica muito chata. Principalmente os homens, que são sim tão ou mais chatos que as mulheres.

“Mulher enche o saco”. Provavelmente o homem comum concorde com esta afirmativa e saia citando diversos exemplos sobre como uma mulher pode encher o saco. Vem cá… Homem não enche o saco não? Vejamos… O que é um homem doente? Um homem doente enche o saco, seja pela ladainha que verbaliza, graças à incapacidade de lidar com o desconforto que a doença lhe gera (“nem fala comigo, não aguento mais, minha cabeça está explodindo, não consigo nem levantar da cama, apaga essa luz, tudo dói”), seja pela negação da doença (“Estou ótimo, não preciso ir para o hospital, esse sangramento pelo nariz, pelas orelhas e pelo olhos é perfeitamente normal, deixa de ser histérica”).

Observem quem é o Enchedor de Saco originário nos exemplos apresentados. De um lado um chorão/bundão/resmungão que reclama de tudo que você faça porque não banca o desconforto que está sentindo. Uma pessoa que perde a funcionalidade diante de um desconforto, se torna dependente de você e quando você tenta ajudar, reclama: “Olha a prgunta que você me faz! Não sei o que eu quero comer! Não consigo nem pensar no que eu quero comer! Estou passando mal, não está vendo?”. Quer dizer, a pessoa desconta o mal estar em quem está tentando ajudar. Quem é chato, quem tenta ajudar ou quem desconta em quem tenta ajudar?

Por outro lado, o sujeito da hemorragia é um tremendo chato, que obriga a mulher a adotar um papel meio que de mãe e estar sempre atenta à sua saúde, porque ele morre mas não vai ao médico. É chato delegar sua saúde para terceiros, cada um tem que se responsabilizar por seu próprio corpo. Mas ele o faz, em uma chantagem silenciosa: ou você presta muita atenção nele o tempo todo ou ele pode morrer. Ele fica agradecido por esse peso que tira das costas dele e coloca nas suas? NÃO. Ele reverte a situação imediatamente, fazendo parecer que a chata é a mulher que enche o saco para leva-lo ao médico.

“Mulher briga por qualquer coisa”. É… é sim, nós mulheres vivemos brigando por besteiras, tipo um sujeito que nos fechou no trânsito. O seguimos, o ameaçamos, o xingamos. Brigamos também se nosso time perde um gol, xingamos pessoas que não podem nos ouvir, desde um árbitro até um jogador de futebol. Também brigamos quando praticamos algum esporte e alguém esbarra na gente, ou melhor, vamos para o futebol já com uma mágoa pregressa devidamente desarquivada, prontas para acertar as contas em campo. Realmente, nós mulheres brigamos por qualquer coisa, deve ser insuportável conviver conosco.

E não é apenas o esbarrão que jamais fica impune, o mero olhar nos irrita: “Tá olhando o que?”. Como ousa olhar para outra pessoa, não é mesmo? Quem ele pensa que é para esbarrar em mim durante o jogo? Vou pisar na pena dele até quebrar! Nós mulheres também nos transtornamos quando alguém passa na frente da televisão, porque, como se atreve, interromper a visão daquele programa que estamos vendo! Precisa ir ao banheiro? Aguenta! Não podemos perder um frame do programa que gostamos, ainda que esse programa seja pessoas comentando outro programa que já acabou e que nós também vimos. Realmente, nós mulheres nos aborrecemos por pouca coisa – e há ironia nestes parágrafos, para quem não entendeu.

“Mulher não tem amiga, tem rival”. Olha… o que eu já vi de amigo de ex-namorado dando em cima de mim (às vezes até amigo de namorado) encheria uma bela lista. Será que homens são tão leais e amigos como pensam ser? Competem ostentando bens materiais ou competem contando outro tipo de vantagem com muita frequência. E essa “amizade verdadeira” da qual eles tanto se vangloriam, para mim não passa de um tapinha no ombro, de um camarada tomando chopp com outro, porque eles não se costumam se abrir com seus amigos.

Conversar sobre sentimentos, medos, fragilidades, pedir conselhos, nem pensar. Fácil manter uma amizade sem rusgas quando a superficialidade da relação é a de uma colher de chá. Alguém já viu amigos homens que se encontrem várias vezes por semana, como não é incomum de acontecer com mulheres? Provavelmente não, porque eles não se aguentam por muito tempo. E que passem horas conversando, falando sobre problemas, sentimentos, dúvidas e medos? Difícil. O que é amizade? Ajudar a carregar o sofá numa mudança? Acompanhar na putaria? Dar uma carona? Desculpa mas quem tem rival é homem, que o tempo todo parece fazer questão de se exibir PARA os amigos.

“Mulher tem dois pesos e duas medidas”, alguns dirão, alegando que mulheres querem gentilezamas pedem direitos iguais, como se o fato de ser gentil desigualasse alguma coisa. Será que mulheres tem dois pesos e duas medidas? SERÁ? Porque desde sempre mulheres escutam de homem, qualquer homem, independente de relacionamento, que eles acham lindíssima uma cena de sexo de mulher com mulher. Amigos com mais intimidade e menos bom senso podem chegar a externar o quanto gostariam de te ver fazendo sexo com Fulana.

Experimenta você, mulher, fazer o oposto. Experimenta dizer a um homem que você acha lindo, sexy, excitante ver dois HOMENS fazendo sexo. Agora experimenta dizer a ele que adoraria vê-lo fazendo sexo com Fulano. Mas bota um capacete antes, porque a reação pode não ser das melhores. No mínimo, ele vai te chamar de porca, nojenta e se ofender. Eles podem achar lindo mulher com mulher e propagar isso abertamente, mas se mulher diz que acha homem com homem lindo, senta que lá vem o piti! Quem tem dois pesos e duas medidas aqui?

“Mulher é falsa”. Me digam, o que é mais provável, uma mulher se recusar a ir a um jantar onde tem outra mulher que ela odeia (derivação: ir e ficar de cara amarrada) ou ir com a cara mais lavada do mundo e conversar com a dita cuja como se nada? E se fosse ao contrário, por um acaso o fato de odiar uma pessoa impede que o homem sente e interaja com naturalidade? ISSO se chama falsidade. Falar mal do carro do amigo pelas costas é falsidade. Falar mal da esposa do amigo pelas costas é falsidade. Falar mal de qualquer coisa de qualquer pessoa pelas costas e depois se portar normalmente com a pessoa é falsidade. Não sentir constrangimento de sentar na mesma mesa que uma pessoa que você detonou é falsidade.

Mas quando a mulher se recusa a jantar com alguém que não gosta, ela é rancorosa, vingativa, infantil. Não, não, meus queridos, ela é coerente. Não há como ganhar com esse tipo de mentalidade: se ela vai e conversa como se nada é falsa, se ela não vai é rancorosa. Já o homem, se vai ou se não vai é sociável, educado e sabe separar as coisas. É tudo questão de ponto de vista. Se alguém sentar para analisar o comportamos dos homens de muita má vontade, como eles fazem conosco e como eu estou fazendo aqui, vai chegar à conclusão que eles são muito chatos.

“Mulher não sabe ouvir críticas”, dirá um gordinho safado que ousou dizer para a esposa que ela estava engordando quando ele mesmo ostenta uma pochete de carne faz anos na barriga. Ah é? Chegue perto de um homem com pouco cabelo e diga “você está ficando careca”. Aproxime-se de um homem barrigudo e diga que barriga é brochante. Diga a um homem que sua roupa é inadequada para aquela ocasião (ou para a vida) e escute uma resposta defensiva do tipo: “é o meu estilo” ou “eu me visto com aquilo que me sinto confortável”. Vai uma mulher ser criticada por uma saia curta e dizer que isso é o estilo dela para vocês verem como o tempo fecha!

Diga a um homem que seu pênis poderia ser um pouquinho maior e veja como ele sabe ouvir críticas. Diga que seu desempenho na cama pode melhorar e escute um “se não está feliz então o que está fazendo comigo?”. Fala para um homem que ele não sobe na profissão porque está cometendo tal erro e escuta ele culpar algum “filho da puta” por não ter sido promovido. A culpa está sempre nos outros: a mulher é que é frígida, o patrão é que é um retardado, etc. As mulheres, muito pelo contrário, tendem a achar que a culpa está sempre nelas, até mesmo quando não está. Quem será que não sabe escutar uma crítica?

“Mulheres compram compulsivamente”. Homem não compra nada compulsivamente, isso não existe, certo? Esses icraps da Apple são todos, todos, todos artigos de primeira necessidade. Por isso os homens se aglomeram na porta da Apple Store na véspera do lançamento de cada iphone, porque é indispensável para uma existência digna! Acessórios para carro também, são questão de sobrevivência. Qualquer brinquedinho digital, qualquer camisa de seleção, qualquer aparelho de som ultra-potente são indispensáveis para uma existência digna. E ter o carro do ano mas morar em um conjugado e comer arroz com ovo é saber gerir suas finanças.

Homem nunca entra no vermelho no banco, não pede empréstimo, não se surpreende com uma conta de bar bem acima do esperado. Homem não compra por impulso uma TV de um zilhão de polegadas, um videogame ou jogos para videogame. Homem gasta boa parte da sua renda com bebida, com cigarro ou até mesmo com puta ou pornografia. Eles não tem compulsão por NENHUMA dessas coisas, mulheres é que são grandes pecadoras, porque uma vez por mês compraram um sapato. Um joinha para vocês!

“Mulher mente”. Como é do conhecimento de todos, jamais na história da humanidade um homem foi flagrado mentindo, com cueca no batom, com uma ligação perigosa no celular, com um e-mail comprometedor. Não. Homens são honestos. Honestões. Homem não mente que fez sexo com uma mulher, se ele não tiver feito, ele diz na roda de amigos que tentou e a mulher lhe deu um fora. E se fez, conta exatamente o que aconteceu: uma bimbada de dez minutos, virou e dormiu. Não exagera, não mente, não aumenta. Compromisso absoluto com a verdade, teu nome é homem.

Uma mulher eventualmente pode mentir para salvar sua pele, mas não é mitômana, não mente para se promover, para se mostrar e muito menos por medinho: “menti porque se não você ia brigar comigo”. Mas olha… Corta as bolas e dá pro cachorro comer, Meu Amigo, porque se você mente por medinho que briguem com você, você não é homem, é um banana! Quer brigar comigo briga, se eu achar que estou certa vou mandar à merda e foda-se o universo! Mas não, homem faz escondidinho, homem faz com medinho, homem se borra de cagaço da mãe ou mulher descobrir. MENTIROSOS E CUZÕES.

“Mulher é muito ciumenta”. Quem nesta bagaça que usa calcinha nunca ouviu mais de uma vez a maldita frase “Óóóó! Ele quer te comer, heeein? Ele quer te comer!”. Tem vezes que dá vontade de dizer: “Quem dera eu estivesse podendo tanto!”, mas a gente respira fundo e abstrai. TODO MUNDO parece querer nos comer, o que a meu ver é uma projeção do que o sujeito é – ele provavelmente deve querer comer todo mundo. O tempo fecha com saia curta, amigos são sempre vistos com desconfiança e, experimenta, só experimenta que ele encontre revista ou foto de homem pelado no seu computador. Quem é ciumento aqui?

Estes são alguns poucos exemplos que couberam no meu limite de quatro páginas, mas existem tantos outros… Eu as convido, Amigas Calcinhas, a ver o mundo masculino através das lentes da má-vontade, como eles fazem com a gente e mostrar como eles podem ser muuuuito chatos!

Para se emputecer porque não teve continuação da novela de ontem, para se retratar ao perceber que sempre julgou mulheres através da lente da má-vontade ou ainda para destilar aquelas ofensas habituais à minha pessoa: sally@desfavor.com

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