Skip to main content

Colunas

Arquivos

A fé nos une?

A fé nos une?

| Desfavor | | 84 comentários em A fé nos une?

Casar numa igreja ou em alguma cerimônia religiosa do tipo é um sonho recorrente nesse mundo. Tanta pessoas o tem que algumas delas até acabam se relacionando com ateus. Na hora de dizer o sim e todo o ritual ao redor dele, Sally e Somir discordam sobre a visão de quem deve ser levada em consideração. Os impopulares dão sua opinião, com ou sem cerimônia…

Tema de hoje: Na hora do casamento, quem deve ceder, o religioso ou o ateu?

SOMIR

O religioso! Está mais do que na hora das pessoas racionais pararem de ceder tanto. Não, nem todo ateu é essencialmente racional, mas pelo menos nesse ponto ele tem a posição mais lógica: se não crê em divindades, não faz o menor sentido querer sua bênção. Se o religioso quer seguir o ritual arbitrário dele, que o faça por conta própria! Sacanagem arrastar um ateu para essa palhaçada toda.

Casamento presume duas pessoas. E para duas pessoas conviverem é necessário que saibam ceder de acordo com o necessário. Entendo o ponto de que excesso de intransigência faz mal para o casal, mas em qualquer relação existem linhas de onde não se passa. A pessoa cede até o limite de sua tolerância, seja pela gravidade do que lhe é exigida, seja pela frequência com que é exigida… Quando um (ou os dois) elementos desse casal chega nessa linha de corte, precisamos de parâmetros para resolver a questão.

E é aqui que os terroristas não podem ganhar! Infelizmente o parâmetro mais comum para essas decisões é a infantilidade de cada elemento. Quem argumenta menos e chora/grita mais costuma ganhar… A pessoa mais racional acaba usando sua capacidade superior de compreensão, se coloca no lugar da outra e cede. O vencedor da disputa, por sua vez, não aprende nada com a situação.

Empatia é uma das capacidades mais nobres e racionais do ser humano. Precisa botar muito neurônio para trabalhar para conseguir criar um modelo de outra pessoa na sua cabeça e enxergar o mundo pelos olhos dela! O problema é que mesmo quem tem essa capacidade não percebe a importância dela, e por consequência acaba cobrando pouco em troca. A tendência é que pessoas com a nobreza de ceder acabem com crianças choronas e egoístas, que configuram imensa maioria da população. E por que eu estou falando em algo tão genérico sobre relacionamentos?

Simples: o ateu é capaz de entender o religioso, mas o religioso dificilmente consegue enxergar o mundo pela ótica do ateu. Ceder para o casamento religioso é recompensar a infantilidade de sua (seu) parceira(o). Percebam que essa discussão só EXISTE porque estamos num reduto de ateus… religiosos sequer considerariam a hipótese de ceder para o ateu nesse caso. Sério que vocês acham que alguém cujo sonho é casar com cerimônia religiosa pensa em alguma alternativa caso a outra pessoa não partilhe de sua crença em amigos imaginários?

O ateu não cede porque não se recompensa esse tipo de egoísmo e ignorância seletiva. O ateu não cede porque seu motivo para não querer a cerimônia religiosa é muito mais racional e estruturado do que o desejo de alguém de fazer uma “simpatia” brega e cara que não tem nenhum efeito prático além do prazer da conformidade. Foi mal, pessoa religiosa, mas seu sonho nem seu é, é pura imitação sem sentido.

E aqui eu entro no ponto da “precedência do não”. Se você não acha que chorar ou gritar configura argumentar, deve entender um dos melhores parâmetros para definir o que se fazer quando duas pessoas chegam naquela linha limite é considerar o “não”. Normalmente o desgostar é mais racional do que o gostar. Costumamos saber bem por que não queremos algo, mas muitas vezes vacilamos na hora de explicar por que queremos. Se envolve duas pessoas fazendo a mesma coisa e existe o interesse de conseguir o melhor resultado, quem não quer tem que levar vantagem.

Pense no seguinte: Uma pessoa do casal quer que os dois comecem a ter outros parceiros sexuais. A outra não. Quem você acha que tem que ter a opinião levada mais em conta? Um dos dois quer ter filhos, o outro não. E aí, é melhor ceder e cuidar de criança contra a vontade? O não tem a precedência quando são as duas pessoas que vão lidar com a consequência.

O único não verdadeiro na discussão de hoje é o do ateu. O religioso pode ter toda a festa (o VERDADEIRO sonho) sem nenhum charlatão oficiando a cerimônia, o ateu tem que encarar a encheção de saco e o CUSTO de pagar para ser enganado. Casamento religioso costuma ser caro pra caralho! Sem contar a série de rituais e burocracias “imaginárias” necessárias para completar o circo. Quem está com o cérebro em ponto-morto não se importa com todo esse entorno, mas quem SABE o golpe que é se sente ridículo entrando no clima. Imagina só financiar religião com seu dinheiro suado? Que horror!

Precisa se expor a essa situação bizarra? Estou indo por esse caminho porque é praticamente impossível que um ateu e uma pessoa muito religiosa resolvam casar, normalmente quem se junta com um descrente não tem o grau de retardamento mental necessário para acreditar cegamente em tudo que sua religião prega. Entre a vontade de quem sabe porque não quer e a de quem quer imitar o que viu na novela… sério que o ateu tem que ceder? Essa pessoa religiosa só quer a festa, essa é a verdade. Dê a festa para ela e o estelionatário recitando palavras sagradas vira elemento secundário.

E vejam bem, não estou dizendo que a pessoa religiosa é um ser humano horrível aqui… tomei bastante cuidado para compartimentar tudo nessa relação de ateu e religioso e a diferença entre as “empatias”. O religioso dificilmente vai saber o que o ateu cedeu de verdade. O ateu está só barrando um capricho específico. Se obedecer religião fosse realmente importante para as pessoas não haveria divórcio ou controle de natalidade. A verdade é que ninguém liga. Querem o confete. E confete não precisa vir com contribuição forçada para as religiões institucionalizadas que tanto fazem para atrasar a humanidade…

Ah sim, se você é ateu e não acha nada demais pagar com tempo e dinheiro para o manutenção das religiões, tudo bem! Não somos um clube mesmo. Mas não se esqueça que nessa discussão você é irrelevante… se não liga, não estaria cedendo nada, oras.

Para dizer que casar já é a pior cessão, para reclamar que seu sonho brega não é resultado direto de querer imitar o que viu na novela, ou mesmo para dizer que acha que eu falei de empatia puramente em tese: somir@desfavor.com


SALLY

Se um casal for composto por um religioso e um ateu e o religioso quiser celebrar o casamento com um ritual de sua religião, quem deve ceder?

O ateu deve ceder. E olha que eu estou para conhecer um ser humano mais ateu do que eu. Meu ponto de vista: se o ateu cede, nada acontece a não ser um ritual que, para ele, não tem qualquer significado, mas é extremamente importante para o outro. Se o religioso cede o que acontece é um sonho podado, um desejo que a pessoa acalenta desde a infância frustrado, um ritual de passagem que é muito importante para aquela pessoa perdido. Considerando o prejuízo que cada um dos lados sofrerá, me parece que quem sofre menos é o ateu ao ceder.

Daí você pode tentar argumentar e dizer que pode ser uma violência terrível para um ateu participar de uma cerimônia religiosa. Aí tem algo errado com o ateu. Quando você não acredita, não dá importância, nem mesmo para se opor. Seria o caso de se perguntar, se é algo tão aviltante para o ateu, por qual motivo escolheu casar com uma pessoa religiosa. Sim, porque dividir uma vida com uma pessoa religiosa implica em aceitar e respeitar sua religião. Se a religião incomoda tanto, melhor nem casar. Boa sorte quando os filhos chegarem e o assunto “batizado” vier à tona!

Se você REALMENTE não acredita em Deus, não se incomoda com isso. Pegar algo que você TEM CERTEZA que não existe e ficar antagonizando é contraditório. Se não existe, não existe! Eu dou zero importância para algo que não existe, ora! Estamos falando de vestir uma roupa determinada, andar, sorrir, repetir algumas palavras e tirar fotos. Isso é uma coisa que eu posso fazer pela pessoa que eu amo. Não me peçam para virar Hare Krishna porque não quero raspar o cabelo, não poder comer chocolate nem tomar café… isso eu não vou fazer, mas porra, uma cerimônia de uma noite eu posso bancar!

Assim como eu sempre critico quem não respeita meu ateísmo, estendo a crítica para quem não respeita a religião dos outros. Cada um faz o que quer e se o fato da pessoa participar daquela religião te é tão repulsivo a ponto de se recusar a participar de um ritual de uma noite, simplesmente não case com essa pessoa! Gente, escolham suas batalhas, porque vida a dois te dá motivo para brigar e se aborrecer O TEMPO TODO. Escolham suas batalhas, só puxem um cabo de guerra quando realmente valer à pena, como no caso dos sagrados café e chocolate. Ninguém deveria abrir mão de café e chocolate!

Começar uma vida a dois já nesse espírito não me parece bacana. Já começa criando um impasse, cagando um sonho da outra pessoa. Se já no primeiro passo para a convivência a dois se começa pisoteando em algo tão importante para o parceiro, sinal que vem problemas pela frente. Quem está prestes a casar com alguém religioso a ponto de não prescindir de cerimônias ou abstrai ou procura outro parceiro.

Por acaso não sabia que a pessoa era religiosa quando a conheceu? Por acaso não sabia que o sonho da pessoa era casar na igreja (ou onde quer que seja) quando engatou um relacionamento sério? Custa? Custa mesmo dar esse gosto para a pessoa? Tem que ser pau no cu e ficar de picuinha racionalizando o sonho de outra pessoa? Fé é irracional, no sentido que se adere a ela sem provas. Racionalizar fé é um ato de violência contra o outro. Se te incomoda tanto, procure um ateu como você.

Enfim, acho que a pessoa que supostamente aceita, respeita e admira um parceiro adepto de uma religião tem que saber que essa religião está no pacote para uma convivência harmônica. Eventualmente vai ter que participar de alguns rituais dessa religião, quando sua presença for indispensável para que o ritual se concretize, pois se não colaborar, está privando o outro do direito de exercer sua religião. Ou ama o suficiente para passar por cima e colaborar, ou não fica com uma pessoa religiosa se isso lhe provoca tanta repulsa.

Um ateu não deixa de ser ateu nem sofre qualquer tipo de exclusão por casar na igreja (basta não dar importância ao que não é importante, poxa!), já um católico verá seu casamento “não abençoado” por Deus se não fizer esse ritual. Se você gosta do seu parceiro e o respeita, não vai querer que a pessoa passe por esse sofrimento. Foda-se se você acha que o sofrimento se justifica ou não, ele é REAL, ainda que você não concorde com os motivos que lhe deram causa. Isso é o que as pessoas não entendem: por mais bobo que pareça o motivo, o sofrimento É REAL. E pode ser evitado.

Tem que ser meio babaca para não poupar seu parceiro desse sofrimento…

Para se ofender, para se ofender mais ainda ou ainda para dizer que eu não posso falar sobre o assunto porque nunca tive que passar por essa humilhação: sally@desfavor.com

Comentários (84)

Deixe um comentário para Lichia Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado.