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Poder mais.

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| Desfavor | | 51 comentários em Poder mais.

Hoje o desfavor acordou nerd. No mundo da ficção, poderes além das possibilidades humanas são representações de muitos de nossos desejos e fantasias cotidianas. Sally e Somir consideram quais deles mais os fariam felizes, os impopulares também.

Tema de hoje: Qual seria o melhor super poder para você?

SOMIR

Fator de cura. Acredito que até os menos nerds saibam um pouco sobre esse, um dos que o Wolverine tem. Na prática, o corpo de quem tem esse poder se regenera numa velocidade incrível e contra todas as probabilidades. Sobrando alguma coisa do corpo, ele se refaz.

É uma forma de imortalidade, já que a morte natural se dá pelo corpo perder a capacidade de se renovar (somos inteiramente refeitos de tempos em tempos). Fator de cura significa não envelhecer a partir do ponto da maturidade física, fator de cura significa corpo extremamente saudável e imune à qualquer doença. É como se houvesse um gabarito de como você deve ser e seu corpo pudesse retornar a ele em qualquer sinal de problema.

E também uma excelente apólice de seguro contra acidentes! Para a imensa maioria dos ferimentos que matariam uma pessoa comum, o fator de cura teria uma resposta. Tiro, porrada e bomba (a expressão é bacana, admito) incluídos. A gama de riscos que uma pessoa com fator de cura pode assumir é absurdamente maior. E querendo ou não, é do risco que surge a maioria das oportunidades.

Com exceção de algo que desintegraria seu corpo, todo o resto é contornável. E aqui entra algo importante: fator de cura te deixa muito próximo da imortalidade, mas sem te retirar a escolha de “fechar a conta” e ir embora. Imortalidade sob controle, por assim dizer. Não envelhecer é ter mais tempo para se dedicar ao que te faz feliz, é menos pressão por resultados e comprometimentos no seu tempo livre. Não morrer nunca seria uma prisão sem grades, mas morrer só quando quiser é o melhor dos dois mundos.

E como o fator de cura não te torna uma entidade alheia à existência humana, você ainda teria motivação suficiente para levantar a bunda da cadeira e conquistar o que deseja. Um pouco de fome (com ou sem aspas) ajuda a manter a vida interessante. O fator de cura te garantiria nos maiores apuros, mas não tiraria sua gana de viver.

E, cá entre nós… não se importar mais com ser saudável ajudaria bastante. Seja lá qual for o seu veneno, você vai aproveitá-lo sem culpa e sem efeitos colaterais. De um doce muito calórico à uma droga alucinógena venenosa, você pode só aproveitar o bônus e deixar seu corpo eliminar o ônus. Como é fator de cura, você ainda vai ter todas as sensações antes do poder entrar em funcionamento e desfazer a sua merda.

O problema da maioria das drogas é a história de recompensas reduzidas. Quanto mais você usa, menos sente o efeito delas. Se o seu corpo não se acostumar e não ficar envenenado com o abuso, é como se toda vez fosse a primeira vez (Nesse ponto de vista eu não gostaria de ser mulher com esse poder…). Não vou ser moralista: drogas são coisas muito prazerosas, a questão na vida real é que o preço que elas cobram não costuma valer a pena.

E outra, quer comer bacon em todas suas refeições por um ano? Vai nessa! O único limite para abuso de qualquer coisa seria sua própria vontade. O exemplo é exagerado de propósito: com a liberdade vem o refinamento. Boa parte de nossas compulsões são causadas pela culpa gerada entre o querer e o dever. O excesso tende a ficar chato com o tempo.

Sim, gastei alguns parágrafos dizendo que meu impulso auto-destrutivo se daria muito bem com o fator de cura, mas duvido muito que esteja sozinho nessa vontade de se tornar livre em relação aos próprios desejos. E do consumo ao… consumo: um corpo imune à doenças tornaria a vida sexual bem mais leve. Se o problema na outra pessoa for invisível (e inodoro, é claro!), bola pra frente!

E mesmo sem considerar o apelo hedonista do fator de cura, a liberdade de encarar a imensa maioria dos problemas da humanidade sem limites como tempo ou disposição permitira especialização e atenção para o que realmente te interessa. Quer virar neurocirurgião depois de se especializar em astronomia? Divirta-se! Quer aprender a tocar todos os instrumentos de uma orquestra completa? Nada o impede.

Pior: quer ir lutar numa guerra ou virar lutador de MMA? Pode também. E quando estiver enjoado, pode perseguir o sonho de virar enólogo. Enquanto você não se colocar numa situação de completa desintegração do corpo, o céu é o limite. Aliás, aqui vai uma parte interessante (pra mim): você seria o candidato ideal para qualquer missão espacial tripulada! E mesmo se seu corpo acabasse congelado no espaço, nada que alguns minutos no microondas não resolvam.

O que fecha o negócio para mim é que com o fato de cura o jogo da vida humana deixaria de ter contador de tempo e barra de vida. Sei que muita gente se dá melhor com as necessidades de manutenção inerentes ao corpo humano, mas duvido que só eu ache tudo isso chato demais. Um universo inteiro para explorar e a preocupação constante com a morte? Incrível que já tenhamos feito tanto com essa limitação.

Mas não se deixem enganar: fator de cura é excelente para quem não tem paciência para o corpo (eu), para quem o ama profundamente e para todos que se encaixem entre essas categorias. É o poder que mais faria bem para a humanidade: liberdade e segurança sem descuidar totalmente das consequências. O equilíbrio ideal.

O melhor de tudo é que esse deve ser o primeiro super poder que a humanidade vai implementar na realidade (mas sem as vantagens da “física dos quadrinhos”, é claro). Muito provavelmente não vai dar tempo para que eu usufrua dele, mas quem sabe dê para beliscar a versão de testes?

Para dizer que as pessoas não estão prontas para ter essa liberdade, para dizer que eu controlei bem a nerdice hoje, ou mesmo para dizer que o Wolverine não é feliz: somir@desfavor.com

SALLY

O lado nerd hoje está aflorado: Qual seria o melhor superpoder? Um superpoder que VOCÊ gostaria de ter (calma, não vamos dar poderes ao brasileiro médio).

Em um primeiro momento a preguiça me levou a pensar na telecinese, que, para quem não é nerd, significa mover objetos apenas com um comando mental. Para quem é nerd, significa Jean Grey. Mas talvez os muitos anos de transporte público tenham falado mais alto e meu escolhido acabou sendo o Teletransporte.

Com o poder da mente poder se desmaterializar e se rematerializar onde quiser deve ser algo fora de série. Piscou, está no trabalho. Melhor ainda: bateu aquela vontade de cagar? Se teletransporta para a sua casinha, para a sua privadinha bacana. Gente, olha o poder digno do Teletransporte! Cagar fora de casa nunca mais! Eu poderia fechar meu texto aqui, porque olha, se tem uma coisa que define LUXO na vida é poder cagar sempre em casa e poder tomar um banho depois e cagar. Mas tenho que preencher duas páginas, então lá vai.

Além disso, outras coisas menos importantes como conhecer o mundo inteiro, estar perto das pessoas amadas a qualquer hora e até mesmo escapar de acidentes não cairiam mal. O que eu vou fazer na hora do almoço de hoje? mmmm… Vou dar um pulinho no Vaticano, ver o teto da Capela Sistina que é minha obra de arte favorita para relaxar. Ou então vou dar uma caminhada por uma praia da Polinésia para pegar uma brisa. Ou quem sabe vou dar uma passadinha escondida pela casa do Rafael Pilha e ver o que ele está aprontando. São infinitas as possibilidades de lazer!

Você já parou para fazer as contas do quanto de TEMPO LIVRE você gasta em deslocamento? Sim, porque o que você gasta se deslocando é o seu tempo livre, quando você chega no trabalho esse tempo de deslocamento não é abatido da sua jornada. Faz a seguinte conta: quantas horas você dorme e quantas horas você cumpre jornada de trabalho. Soma. Depois diminuiu de 24 horas e veja quantas horas livres do seu dia você tem. Agora pega o tempo que você passa se deslocando e calcula quanto ele toma dessas horas livres. É assustador. Com o teletransporte você poderia reverter todo seu tempo livre para você, o que os americanos chamam de “me time”. Calcula ao longo dos dias, meses e anos o ganho que você não teria!

Além disso também se ganharia muito em qualidade de vida. Nunca mais cheirar peido em elevador, nunca mais andar em apertamentos como ônibus, trens, aviões e metrô. Nunca mais ser vítima de acidentes envolvendo esses transportes. Fora a vivência e a riqueza de poder conhecer o mundo todo, absorver coisas boas das mais diferentes culturas. Tudo bem que se o Brasileiro Médio fizer o mesmo uso do Teletransporte que fez da internet, todo mundo iria visitar o banheiro de atriz gostosa para vê-la tomar banho, mas estamos falando de um público qualificado, um público que leu faz 48h que não abortar uma criança com Síndrome de Down é imoral, sobreviveu e persistiu aqui.

Teletransporte acabaria com o sentimento de saudades, aquele sofrido. Porque saudades de quem a gente ama, a gente tem sempre, mas infelizmente temos que sair, trabalhar, realizar afazeres pessoais. Mas aquela saudade doída de ficar um tempão sem ver pessoas queridas acabaria. Da mesma forma acabaria aquela situação chata de ter que encontrar com gente pau no cu. Sabe quando você vê vindo na sua direção uma pessoa muito chata? Teletransporte é a solução. Puf! Some e reaparece em uma bela cantina italiana, para comer uma maravilhosa pasta caseira. Ex-namorado no mesmo evento que você? Puf! Some e aparece em um café em Paris. Tá ruim?

Não deixa de ser uma forma de majorar a expectativa de vida de uma pessoa. Ok, doenças continuariam matando, mas afinal, quem quer ser imortal? Eu não, ao menos não enquanto aqueles que eu amo forem mortais. Sofrido demais ver as pessoas que eu amo morrendo. Não, obrigada. Atropelamento, por exemplo, poderia ser evitado. Acidentes relacionados a meios de transporte também. Desabamentos, enchentes, terremotos… quase todos os fatores externos de morte poderiam ser contornados.

Nunca mais chegar atrasado a lugar nenhum. Nunca mais pegar trânsito. Nunca mais esperar ônibus. Nunca mais pegar chuva. Nunca mais ser assaltado. Escapar de ser vítima de todos os crimes possíveis, desde estupro até assassinato. Ter todo seu tempo livre destinado a você e não a deslocamento. Poder dormir até mais tarde. Poder chegar em casa mais cedo. Poder morar em qualquer lugar, porque em um piscar de olhos você chega onde quer. Gente, é muita vantagem, não troco nem por cagar ouro.

E se você ainda está na dúvida, lembre-se do argumento derradeiro, do grau máximo de conforto e dignidade que um ser humano pode alcançar em toda sua existência: o luxo de poder cagar em casa para sempre e ainda tomar um banho depois.

Para dizer que minhas prioridades são estranhas, para dizer que preferia cagar dinheiro ou ainda para tentar galhofar inventando um superpoder que te permite ter todos os superpoderes que você quiser: sally@desfavor.com


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